Eu ainda prefiro o Axl Rose

Postado em 30 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Quando eu era criança os rádios de pilha tinham um acessório chamado "egoísta", que consistia basicamente de um único fone de ouvido que a pessoa colocava para ouvir as músicas sozinho.

Um pouco depois apareceu o Walkman, que já permitia que o cara gravasse suas músicas preferidas em fitas cassete. Estes já contavam com fones de ouvido duplos, tipo desses que um DJ usa e, em seguida, veio o Diskman que obrigava o sujeito a andar com um saco de pilhas de tanto que gastavam. Mais ou menos nessa época os fones começaram a diminuir, porque passou a ser "mico" usar aquelas duas orelhas gigantes na rua.

E enfim chegou o iPod e suas imitações. O fone cobiçado passou a ser o "in ear", um treco que vai enfiado (opa!) no canal (opa!) auditivo (ahhh, bem!) da pessoa.

Os fones agora voltaram a crescer, mas isso não importa, o que importa após essa extensa intrudução é como se comportam as pessoas quando usam um desses fones, ligados a qualquer um desses aparelhos.

A turma do "egoísta" era mais discreta, primeiro porque era em um ouvido só e depois porque programação de rádios AM não é lá algo muito animado, mas já padeciam de problema que dura até hoje, que é a surdez do fone de ouvido.


Você fala com a pessoa e ela responde um "QUE???", repete o que tinha pra dizer e ela e a resposta é "AHHH, PODE IR SIM!", detalhe: você tinha perguntado as horas. Isso pra não falar de quando é você que está usando o fone e começa a gritar sem perceber, até que o interlocutor passe a fazer aqueles gestos de "fala baixo", te fazendo tirar o fone às pressas, mas ainda a tempo de ouvir seu último urro, seguido do silêncio geral em torno. Sério, são segundos que podem durar bastante.

Aliada à surdez, tem a empolgação com a música que está tocando. Você está na calçada, voltando do trabalho e de repente começa a tocar aquela música que te lembra o primeiro beijo na sua primeira namorada. Você acha que ninguém te ouve, aliás, nem você se ouve e então pensa que está apenas balbuciando, mas com certeza aquela menina que parece que sorri para você está na verdade rindo de você, porque talvez seja a melhor imitação do Pato Donald cantando Elvis que ela já viu.

Outro caso sério é quando, dependendo do ritmo, você pensa que ninguém perceberá se acompanhá-lo com movimentos do corpo.  Em segundos você estará fazendo fazendo papel ridículo tocando guitarra no próprio antebraço e  inventando passinhos, virando a partir desse momento o "doido da academia" ou então o "doentinho do curso de espanhol".

Irritante também é o cara que apesar de usar fones acredita que aquela bolha sonora particular o protege de ser um mala. Nessa hora ele subverte toda a função do fone de ouvido que é restringir o alcance do que está tocando aos ouvidos de quem o utiliza e coloca o som no volume máximo, o que não permite que as pessoas ouçam claramente o que está tocando mas enche o ambiente próximo com aquele barulho que mistura uma frigideira e um pneu de carro furado, algo próximo de um "tsss tsss tsss tsss".

Mas o mais degradante certamente é quem se acha, ainda que inconscientemente, um artista injustiçado. Coloca rock'n'roll pra tocar, vai correr na praia e de repente, protegido da sua própria voz desafinada pelos fones, vira o Gene Simmons ou o Axl Rose,  repetindo todos os agudos e sons guturais que tem na música, cantando num palco imaginário para uma platéia formada por criancinhas assustadas, velhos preocupados com "o problema das drogas" e vira-latas que correm atrás de motos e malucos.

Na boa, grito por grito, ainda prefiro os do Axl Rose.

4 Comentários:

Lari Reis postou 30 de setembro de 2010 às 12:04

Grito por Grito, prefiro o Steven Tyler (??)
Enfim, já passei pelo mico de gritar musicas no onibus. Na epoca de escola ainda, numa dessas excursões que a gente é novo demais pra lembrar pra onde foi e porque foi.

Babiih Arkefeldt postou 30 de setembro de 2010 às 12:12

Como sempre único em seus comentários. Creio que todo mundo, ou pelo menos quase, já pagou o mico de cantar alto em um lugar público. Me incluo nesse todo, rs. Talvez um pouco de "bom senso" resolva. Mas enfim "grito por grito, ainda prefiro os do Axl Rose."

Mariana postou 30 de setembro de 2010 às 12:25

Na verdade as pessoas buscam hoje ficar cada uma no seu mundinho com seus fones de ouvido. Mas o pior mesmo é aquela pessoa que entra no ônibus ou andar pela rua com o som de funk bem alto tipo síndrome de pobre. Sofrível...

Adriano Trindade postou 1 de outubro de 2010 às 05:09

Mas a coisa evoluiu!
Se lembra do tempo do micro-system de deck duplo no ombro? A diferença é que, quando você começava á cantar, todo mundo sabia qual era a música que você estava acompanhando.

 
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