O desastre do Brasil é o brasileiro

Postado em 20 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Que ninguém me acuse de dizer que o Brasil é um país feio. Não seria louco de afirmar isso, mesmo porque conheço várias partes dele e acho cada uma delas linda de forma particular. Só que o Brasil é um país de cenários exuberantes, com paisagens de tirar o fôlego de qualquer um, e aí reside a minha diferença com a maioria dos brasileiros, que se acham herdeiros naturais de toda essa beleza.

Quando vejo algum cidadão daqui dizer  "meu país é lindo!", não posso deixar de concordar, mas ao mesmo tempo penso numa pergunta silenciosa "e o que você fez para ele ser bonito assim?". 99% dos cidadãos - caso fossem honestos- poderiam responder: nada.

Algumas cidades do mundo não são tão favorecidas pela natureza, no entanto as pessoas que ali viveram foram - ano a ano, década a década, século a século - construindo uma beleza "human made".

Prédios, pontes, ruas, monumentos, vão formando o que acaba se tornando uma linda cidade, fruto do que seus cidadãos criaram. Seja no meio de uma planície sem graça, seja no meio de um deserto inclemente, seja em locais onde o meio-ambiente é selvagem.



O Brasil não. Exceção à sua capital, Brasília - que alguns acham de mau gosto, mas eu acho bonita - o que existe aqui foi a natureza que criou ao seu modo. Se formos analisar friamente só o que o povo daqui construiu, encontraremos em sua absoluta maioria cidades abaixo da crítica.

Favelizadas, caóticas, ruas apertadas, calçadas estreitas, prédios gigantescos em formato de caixotes bem ao gosto da especulação imobiliária, rios poluídos, transportes sucateados, lixo espalhado. Vamos admitir: a obra do brasileiro não está a altura daquilo que ganhou de mão beijada.

O que o povo daqui fez foi simplesmente sabotar o que a natureza lhe deu de presente. Das águas da Baía de Guanabara, palco da chegada da corte portuguesa - e que já servia de penico para a população desde aquele tempo - até as dunas destruídas no Nordeste para abrigar condomínios de luxo (e gosto duvidoso), em cada município brasileiro veremos exemplos de como o povo que tanto se orgulha da beleza do "seu" país consegue atentar contra esta mesma beleza.

E não olhe pro sujeito ao lado com raiva, pensando "desgraçado, está destruindo tudo" ou comece a xingar os políticos, porque se você joga lixo no chão, você é outro responsável tal qual o cara aí do lado ou qualquer prefeitinho sem-vergonha que libere alvarás para a especulação imobiliária, permita a favelização em troca de votos ou não cuide dos rios de sua cidade.

Não sou ecochato, longe disso, mas acho que a evolução e o progresso podem - e devem - ser acompanhadas de bom gosto.

Todo país sofre com seus desastres naturais. O desastre do Brasil, até aqui, tem sido o brasileiro.

4 Comentários:

Verbalize postou 20 de setembro de 2010 às 11:09

Acreditamos que só com a educação de qualidade para todo o povo de classe baixa, o brasileiro não será um desastre para ele mesmo! Parabens pelo post!

Vanessa Lopes postou 20 de setembro de 2010 às 11:14

Acho as coisas que vc escreve muito legais. Bacana que comecei a ler pq vc começou a me seguir no twitter. Às vezes me parece ser uma pessoa bastante crítica, mas gosto muito de ler seus tweets.
Concordo com esse post em grande parte.
Abraço!

Aura Travagin postou 20 de setembro de 2010 às 11:22

Parabéns pelo blog, antes de qualquer coisa.
Seu post de hoje é inspirador. Sou curitibana e confesso que até pouco tempo tinha orgulho de dizer que a minha cidade sabia conciliar as dádivas naturais à urbanização. Hoje sei que era uma grande ilusão, basta dirigir alguns minutos em direção à periferia.
Quanto ao termo ecochato, não gosto dele. Acho que é uma questão de sermos realistas, isso sim.

Rocha Oliveira postou 20 de setembro de 2010 às 12:36

Conscientização e sustentabilidade é o que precisamos, frutos a um só tempo, e respectivamente, de brasileiros que pratiquem a cidadania em todo o seu alcance, e de um governo que prime por uma infraestrutura universalizadora e não mais unilateral.
De partidos, que deixando de lado o partidarismo retrógrado e desordeiro - contrário a tudo aquilo que dita a nossa bandeira -, integrem harmoniosamente o VERDE ao CINZA da inevitável e, muitas vezes, invasiva modernidade.
Parabéns pelo blog e pela postagem!
Por favor, visitem e comentem também:
http://partindo-do-absurdo.blogspot.com
http://reautopia.blogspot.com

 
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