Peter Pan na dose certa não mata

Postado em 21 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius

A psicologia define do Complexo de Peter Pan como "uma compulsão em que homens e mulheres desejam manter-se sempre jovens e por essa razão se descuidam do papel adulto ou das responsabilidades, sem assumi-las". É raro encontrar alguém que nunca tenha experimentado esse sentimento, ainda que por um breve período, ou que pelo menos não conheça alguém que se encaixe nessa descrição.

Me permitam a licença poética aqui para dizer que isso tem um lado bom e um lado ruim, como aliás se dá com quase tudo - menos axé music e novelas de TV, que só tem lado ruim - e o lado bom disso é você não deixar sua mente envelhecer demais, ficar madura demais, chata demais.

As pessoas mudam, isso é inegável, mas pouca coisa incomoda mais do que reencontrar um amigo e ver que, por obra dos anos, ele se tornou um completo estranho. Vivi épocas que até hoje deixam uma saudade imensa, e é claro que estas épocas estão diretamente ligadas às pessoas que participaram delas comigo.


É fatal ir a certos lugares e me sentir como se estivesse numa máquina do tempo. Voltar a algum bar, alguma boate, alguma festa que já não ia há anos e encontrar tudo ali, como se o tempo tivesse parado. O mais bizarro entretanto é olhar os rostos e já não encontrar conhecidos, ainda que os que estejam ali pareçam apenas ter trocado de roupa com os antigos, continuando a agir igualzinho. Viagem, né? Muita.

Tem gente que eu até sinto saudade, mas juro que prefiro nem reencontrar, sabe porque? Porque é simplesmente frustrante - diria até deprimente - encontrar um amigo de infância e ver que ele se tornou um orgulhoso senhor de meia idade.

Não digo com isso que seria legal esbarrar com este mesmo amigo e ouvir dele algo como "E aí, cara, beleza? Vamos incendiar umas lixeiras sábado à noite?", como se ainda fossemos adolescentes entediados trancados num condomínio.

Um meio termo é legal. Nossos trabalhos, nossos problemas, nossas famílias formadas e até mesmo nossas crianças, não nos definem completamente. Ainda somos indivíduos, ainda somos os mesmos, só com um pouco mais de bagagem (e em alguns casos, alguns quilos também).

Não tem nada demais ir para um bar, beber, olhar as moças bonitas que passam e simplesmente viver o momento, a antiga amizade, reviver um pouco aquele perfume de novidade que nos embriagou no início da juventude. Os lugares estão ali, quase todos, as pessoas também, quase todas, por isso não custa fazer uma pausa no que nos tornamos e, num momento Peter Pan, voltar a ser um pouco o que já fomos.

Nossa vida real - alguns diriam normal - continuará ali nos esperando, junto com o tempo, que não perdoa.

6 Comentários:

Ana postou 21 de setembro de 2010 às 10:10

Marcus Vinicius. Crescer é muito difícil, mas alguém já disse que deixar pra trás as agonias da juventude é a melhor parte da vida. Eu ainda não consegui me desvencilhar do me complexo de Peter Pan. Apesar de ter 38 anos, um filho de 10 e ser casada há 20 ainda me sinto a mesma jovenzinha de sempre e as vezes me sinto mesmo é uma menina, de maria-chiquinha, seja por medo ou alegria.

Adejane postou 21 de setembro de 2010 às 10:12

também acredito que não faz mal reviver o passado de forma saudosista, mas sempre voltando à realidade seja ela qual for.

*-* postou 21 de setembro de 2010 às 10:13

Realmente é sempre bom reviver um pouco do" passado", apesar de ainda ter 16 anos as responsabilidades mudaram minha vida muitos amigos mudaram mais pra mim não há nada mais gostoso que sentir sensações ou ir até lugares que me lembram epocas passadas.

Ana postou 21 de setembro de 2010 às 10:56

"Voltar a algum bar, alguma boate, alguma festa que já não ia há anos e encontrar tudo ali, como se o tempo tivesse parado. O mais bizarro entretanto é olhar os rostos e já não encontrar conhecidos" - descreve uma experiência mto recente que eu tive. Foi bizarro.

A Arte de Pensar.com postou 21 de setembro de 2010 às 11:29

Não gosto muito de reencontrar velhos amigos, se o tempo se encarregou de nos separar e a vontade de se manter próximo foi despercebidamente deixada de lado...que se mantenha assim, como um tempo bom guardado na memória ou uma foto que se olha, mas que não ganha detaque num porta-retrato apenas volta para a caixa com tantos outros momentos registrados.
Todos os amigos e momentos continuam em mim, apenas com a diferença que hoje preciso pagar contas e lavar minhas roupas, mas a essência é a mesma e isso não me deixa mais ou menos triste, apenas mais senhora de mim!

Alexandre postou 21 de setembro de 2010 às 14:35

Como isso me traz lembranças!
E é verdade. Certas pessoas, é melhor nem encontrar. Os seus amigos que vivem em sua memória certas vezes são muito mais legais do que as pessoas que eles se tornaram realmente.
Mas aos 37 anos digo que nada melhor que seus amigos verdadeiros. Os amigos que fizemos quando não importava sua profissão, carro que dirigia ou nada meterial. Esses são e serão seus verdadeiros amigos.

 
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