Vou te contar uma coisa, mas não se irrite

Postado em 29 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Podem repetir a vontade que "não adianta matar o mensageiro", porque ainda assim é dele que a gente fica com raiva dependendo do conteúdo da mensagem. Isso não é certo, isso está longe de ser racional, mas ainda assim acontece. Todo mundo tem a tendência de ficar com raiva de quem dá uma notícia ruim, quase transformando a pessoa numa personificação dessa notícia.

Quando a gente é incumbido de ser o mensageiro - seja por alguma m*rda que fizemos, seja porque o chefe mandou - tratamos logo de arrumar um subterfúgio para tentar afastar de nós a reação. Alguns já chegam falando "olha, vou te contar uma coisa mas não se irrite, tudo bem?".

Na boa, quando me dizem isso eu já começo a me irritar naquele exato momento. Porque já imagino logo algo como "matei o seu gato" ou então "sua namorada me deu mole".

Outros tratam de tirar o corpo fora: "tenho um recado pra você, mas saiba que eu não tenho nada com isso e não concordo". Depois de ouvir essa intodução podemos esperar o que? "A Ana Hickman disse que te acha lindo" ou "o chefe reclamou que você anda muito relaxado"?


Mas o pior mesmo é o recurso de dizer uma "boa" e uma "má notícia". Sempre que chegam com essa pra cima de mim eu já sei que vem bomba, porque a boa notícia nunca é boa o suficiente para apagar a impressão da má. Geralmente o que te dizem é "a boa notícia é que achamos o seu carro que foi roubado" aí você pergunta, ansioso, "mas e a má?" e respondem "a má é que está sem motor e cagaram dentro dele".

Tem como não ficar puto com um negócio desses?

Só que geralmente o responsável pelo que te irrita está longe ou então, no caso do seu chefe, é intocável e a reação natural é despejar a ira em cima do mensageiro. É como quando um frentista do posto de gasolina te avisa "ihhh, chefe, não aceitamos cartão de crédito depois das 22:00". O culpado é o dono do posto, o gerente, a administradora do cartão, mas quem ouve os desaforos invariavelmente é o rapaz de boné e macacão.

Ou quando chegamos num restaurante cheios de fome, pedimos a comida e depois de 20 minutos não trouxeram nem pãezinhos com manteiga. Talvez a padaria não tenha entregue os pães de manhã e o restaurante está sem, talvez o cozinheiro esteja no celular brigando com a esposa e por isso queimou seus bifes de filé, talvez o dono do restaurante seja incompetente e deixou o pobre garçon sozinho trabalhando depois que mandou outros quatro colegas dele embora, mas você não quer saber de nada disso.

Você está com fome, você está com raiva e quando o cara vem te pedir "desculpas pela demora" e avisar que "já está saindo" a única coisa que vem à sua cabeça é dizer alguma gracinha como "foram matar o boi?" ou então "se isso não chegar em 5 minutos, vocês podem enfiar o bife...". Na hora da raiva, acontecem duas coisas: você esquece que o culpado não é o garçon e que ele tem todo o poder do mundo de cuspir na sua comida antes de trazê-la para a sua mesa.

O único prazer que uma notícia irritante pode causar é quando alguém te contraria, se ferra e cabe a você o prazer de dizer a maior cretinice que já inventaram: "eu avisei". Terrível de escutar, mas muito boa de dizer.

Só não se espante com a reação.

4 Comentários:

Isabel postou 29 de setembro de 2010 às 11:16

É por essas e outras que nunca quis trabalhar com atendimento ao público. Mas faz parte do processo, o funcionário sabe que não tem culpa mas é ele quem vai ouvir as reclamações. E esse papo de "uma notícia boa e outra ruim" é dose! Como vc mesmo disse, a boa nunca é tão boa para compensar a ruim, ou então a ruim anula a boa, como no exemplo do carro (era melhor nem terem encontrado). Ótimo texto!
Beijos

Unknown postou 29 de setembro de 2010 às 12:19

Ótimo texto, como sempre!
Passa lá no meu bloguinho e dá uma olhada nas fotos da minha princesa que tá fazendo um aninho hoje, ela é tão lindinha...
http://ktralhas.blogspot.com/2010/09/um-ano.html

Abraços

Contriller postou 29 de setembro de 2010 às 15:10

Guardei este nos favoritos. muito muito bom mesmo, ótimo trabalho, cara :-)

108minutos postou 30 de setembro de 2010 às 17:25

"Em português é Garçom, com eme."
Ri demais na parte do carro roubado.
Muito bom.

 
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