A arte de insultar e elogiar

Postado em 5 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Você pode pensar sinceramente que basta ser um brutamontes sem papas na língua que saberá insultar alguém perfeitamente. Ou então que repetindo os nomes de partes do corpo feminino acompanhados de assobios e o som do ar passando entre os dentes estará elogiando, mas acredite, há alguma arte e ciência nisso.

Não é a toa que um filósofo do calibre de Arthur Schopenhauer escreveu um livro inteirinho ensinando a insultar (como ele era um tanto misantropo, ficou devendo um "A Arte de Elogiar"). Porque insultar, como já disse, não é pra qualquer um.

Você está lá com a sua namorada brigando, ela te dizendo umas verdades - isso é outra coisa intrigante, se verdade é essa maravilha toda, como pode ser usada como ameaça? "Você agora vai ouvir umas verdades!"? - falando sobre sua mania ridícula de colecionar brinquedos velhos, dizendo que você é um filhinho de mamãe, que não lava nem as próprias meias, que não sabe martelar um prego na parede, que não tem nem mesmo a pegada do ex-namorado dela e sua resposta é algo como "Sim, você está mais gorda!", finalmente respondendo uma pergunta que ela te fez há 12 dias durante um passeio no shopping, que na ocasião foi respondida com um "você está linda como sempre".

Sério? Isso é o melhor que você conseguiu pensar? Ela insultou sua masculinidade, sua maturidade e sua coleção de Playmobils e a resposta foi dizer que ela precisa de uma dieta?

Dependendo do insulto, ele depõe mais contra quem o proferiu do que contra o objeto dele. Por exemplo, um cara seu do escritório diz - utilizando até uma apresentação em Power Point - que você é um funcionário relapso, lento, incompetente e que não dá lucro para a empresa, você ouve tudo aquilo calado, ruminando a sua raiva, pensando consigo mesmo "ele não perde por esperar". Quando o cara desliga a caneta laser que usava para explicar o gráfico da sua incompetência, você pede a palavra e diz simplesmente: "e você é um corno filho da puta".

No trânsito, para o motorista de ônibus que te deu uma fechada, tudo bem. Pro seu amigo que te devolveu o box da segunda temporada de Friends faltando dois DVDs, aceitável. Mas no trabalho? Sabe o que acontece? Você se torna tudo aquilo que ele te disse e mais um "corno filho da puta", porque essas ofensas mal feitas acabam voltando pra quem fez.


Insultar com garbo e elegância requer uma dose de maquiavelismo digna dos escorpianos. Para insultar direito, não é obrigatório, mas ajuda se você fingir que nasceu 23 de Outubro a 21 de Novembro. Eis um bom exemplo:

Você está afim de uma garota que não te dá a menor bola, mas adora te provocar. Vocês passam horas no msn e ela responde todas as suas cantadas com piscadinhas de olho e risinhos supostamente receptivos, mas quando se encontram na rua, ela prefere dar uns beijos até no flanelinha da porta da boate do que em você.

Um dia pra te provocar, ela manda uma foto de biquini na praia, onde só aparece a bunda e um pedaço das coxas, acompanhada da frase "adivinha de quem é essa foto...".

Eu sei que seu impulso é dizer logo que é ela e proferir alguns elogios de pedreiro em seguida, mas aí você lembra do flanelinha e resolve insultar. Ao invés de perguntar, ofendido "pra que tá me mostrando isso se não faz nada?" diga simplesmente "é aquela sua prima gorda de Minas que você tanto fala?".

Acredite: você acabou de enfiar uma estaca no peito dela.

Um bom insulto não deve parecer insulto, ele precisa ser fantasiado de elogio. "Não é possível que alguém tão inteligente e talentoso como você tenha escrito aquele lixo que disseram que é seu", "Você sempre teve bom gosto, duvido que ouça Los Hermanos", "Suas pernas são lindas para alguém da sua idade", "Adoro a forma como você é centrado e maduro, meu ex-namorado era mais do tipo aventureiro, esportista, surpreendente, sabe?".

Já o elogio preferencialmente não deve vir acompanhado nem mesmo fantasiado de insulto. Não tem como impressionar alguém dizendo algo como "lindas suas gigantes orelhinhas de abano" ou "essa é a maior barriga que eu já vi no mundo, parabéns!".

Dizem que mulheres gostam que elogiem seus cabelos. Não sei se é verdade, mas pensando no tempo que algumas delas gastam cuidando deles e no tanto que isso representa no seu orçamento mensal, creio que deva funcionar. Mas nada de "tão belos seus cabelos ao vento...bla bla bla".

Hoje em dia a arte de elogiar ficou mais complexa. Você precisa ser engraçadinho sem ser palhaço, voluntarioso sem ser inconveniente, surpreendente sem ser bizarro, romântico sem ser piegas. É um trabalho e tanto.

Coisas como "me fode se eu estiver errado, mas você não quer me beijar?", "não acreditava em amor à primeira vista, mas quando te vi mudei de idéia", "nossa, que bunda, quer ir fazer cocô lá em casa?", "se você fosse um hamburger se chamaria x-princesa" ou então "lindo vestido, quer transar?", podem parecer uma boa idéia se você tiver exagerado na cola de sapateiro, mas não funcionam num mundo real e sem drogas, vai por mim.

Encontrar uma linda mulher e fazer aquele elogio que te diferencia de todos os demais homens do planeta, incluindo o Jude Law e o George Clooney, é algo dificílimo e fará certamente a diferença na sua vida sexual, tirando você do elenco de "O Último Americano Virgem" e te colocando em "Gigolô Americano".

O elogio perfeito é tão difícil (ou secreto) que até Schopenhauer preferiu falar apenas do insulto, talvez porque não soubesse como elogiar ou talvez porque não quisesse compartilhar o segredo com mais ninguém.

Se eu sei? Bem, talvez, mas você não acha que eu iria te contar, né?

5 Comentários:

@_joaopietro postou 5 de outubro de 2010 às 07:54

Muito bom, as cantadas então .. hahaha

Contriller postou 5 de outubro de 2010 às 09:06

Não que eu pense existir uma formula para um bom insulto ou elogio, creio que a ocasião também importa muito. É facil elogiar um desenhista que desenhe com certo grau de profissionalismo, por exemplo, mas elogiar um amador é uma coisa totalmente diferente. É preciso ser honesto e ao mesmo tempo insentivador. Enfim, enfim. bom poat. (:

Mariana Terra postou 5 de outubro de 2010 às 11:11

"Um bom insulto não deve parecer insulto, ele precisa ser fantasiado de elogio". Estou treinando um insulto assim há dias.. e esperando a oportunidade certa... hihihii..

Unknown postou 5 de outubro de 2010 às 11:24

Muito bom!Como uma fiel escorpiana , acho que você traduziu exatamente o que poucas pessoas têm o "feeling" de captar!Não que somos tão exigentes, mas temos preguiça de quem tem preguiça de pensar!e até Schopenhauer tentou fazer um elogio que, pra mim, particularmente, não fez efeito:
"A mulher é um efeito deslumbrante da natureza"
Se é que isso possa ser um elogio(vindo dele, vai saber... rss)

GABRIELLA BROM

mvsmotta postou 5 de outubro de 2010 às 12:07

Gabriella,

Escorpianas são a guerra e a paz juntas. São só para iniciados.

Beijos

 
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