Férias (de novo), por favor!

Postado em 22 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Não disponho de dados científicos, mas tenho quase certeza de que depois de quedas abruptas do mercado de ações, honra perdida por samurais e tédio em suecos endinheirados, a depressão pós-férias é uma das maiores causas de suicídio no mundo.

Férias são aquilo que nos mantém vivos nos demais 11 meses do ano. Numa realidade ideal, nos pagariam para trabalhar um mês e o restante nos dariam de folga, mas se a realidade fosse ideal não existiriam as guerras, a fome, a peste, as novelas da Globo, reality shows e nem livros do Paulo Coelho.

Elas servem para que recarreguemos nossas baterias, reavaliemos nossa rotina, arrumemos dívidas em dólares no cartão de crédito e também tiremos 3.789 fotos que nem nós mesmos vamos ver uma a uma.

Mas a verdade mesmo é que nunca precisamos tanto delas quanto no momento em que terminam.

Porque pense bem: você está no seu trabalho, admirando a bela visão de uma planilha de Excel, o cara da mesa ao lado assobiando um pagodinho que ouve no fone de ouvido, no seu email chega mais um Power Point enviado por aquele antigo colega de escola que pretende se candidatar a vereador e manda mensagens de incentivo com músicas do Oswaldo Montenegro de fundo cinco vezes ao dia.

O ar-condicionado ataca sua rinite, mas lá fora o calor é de quase 40º. Seu chefe está meio de mau humor e por isso mandou bloquear o msn, falta pouco para o meio-dia mas você sabe que o maior evento do seu almoço será conseguir pescar três camarões no bobó do restaurante a peso.

Já na volta do almoço aquela boazuda do jurídico passa por você tentando tirar um pedaço de carne do dente com uma folha de papel e aí que você tem certeza de que ela não pretende mesmo jamais te dar mole. A feiosa da recepção vem e te oferece uma Hall´s preta e, piscando o olho, diz que é uma "delícia beijar com essa bala na boca", depois passa o engraçadinho do DP avisando em tom de brincadeira que "vai cochilar embaixo da mesa pra desgastar a feijoada". Detalhe: ele faz essa mesma brincadeira contigo todos os dias há três anos.


Nesse momento o seu relógio toma um Lexotan e começa a contar os minutos como se fossem horas. A parte da tarde é um lixo pior do que a da manhã e a secretária do chefe lixando as unhas e passando acetona só não é mais deprimente do que a maravilhosa experiência de voltar para casa pegando metrô lotado e engarrafamento, para depois comer a sobra da pizza de anteontem e comprovar em campo que a programação da TV é um lixo.

Você dorme já assustado com o barulho que o despertador fará na manhã seguinte, despertador que se fosse honesto tocaria a marcha fúnebre ou então teria uma voz dizendo: "Que merda, hein, amigão...mas já que não tem jeito, vamos lá...".

Sai de casa atrasado, e o medo do esporro e do trabalho acumulando na mesa quase te faz acreditar que você realmente quer chegar logo no seu escritório. O metrô lotado, ônibus entupido ou engarrafamento infernal te levam para mais um dia igualzinho ao de ontem, isso é claro se tudo correr bem e você não tiver que fazer hora extra.

Tudo o que te mantém vivo durante essa verdadeira "prova do líder" são aqueles 30 dias em que você pode viver livre do peso excruciante da rotina. Você está olhando pela janela, pensando se pula ou se joga a gordinha do planejamento que já te perguntou quatro vezes sobre a mesma planilha só hoje, mas a visão destes 30 dias te salva.

E quando eles finalmente chegam, passam mais rápido do que aquela sua primeira transa, quando você finalmente conseguiu perder a virgindade encostado na lixeira da garagem do prédio da sua ex-namorada, a mesma que depois te traiu com um primo chamado Guido que morava em São Paulo.

Já no avião, voltando pra casa, você lembra do seu dia a dia, do pessoal do seu trabalho, das perguntinhas cretinas que vai ouvir como "e aí? animado pra começar tudo de novo?" e algo soa fundo na sua mente, tão alto quanto os saltos da vizinha do andar de cima que te acordam toda noite, religiosamente às 3:00 da manhã:

Você precisa de férias. De novo. Urgentemente.

9 Comentários:

Unknown postou 22 de outubro de 2010 às 11:25

Ri litros, maravilhoso! opkspoeks
Irei lhe enviar um despertador fiél a descrição do seu texto okepsokpeokspokepoks

Unknown postou 22 de outubro de 2010 às 11:28

Verdade, num mundo perfeito nos pagariam para trabalhar por 30 dias e tirar férias o resto do ano!!!

Ri muito, como sempre. Adoro seus posts.

Abraços

Bruno Cruz postou 22 de outubro de 2010 às 12:00

Muito bom!
Claro, eu poderia concordar mais se eu tirasse férias... porque trabalhar no negócio da família é troda!

mvsmotta postou 22 de outubro de 2010 às 12:02

Bruno,

Eu também trabalho em empresa de família. Meus 30 dias são tomados a conta-gotas, de pouquinho em pouquinho ao longo do ano.

Abs

Anônimo postou 22 de outubro de 2010 às 12:04

só de pensar que as ferias tem que acabar ja é uma tragedia.....

Gostei do assunto,afinal trabalhar,estudar e cair na rotina não presta!!!!

Unknown postou 22 de outubro de 2010 às 16:10

Isso já aconteceu comigo. Passei 33 dias viajando pela Europa, de avião, de trem, um conto de fadas. Quando cheguei ao aeroporto de Londres para voltar ao Brasil, comecei a chorar bem altão como se tivesse perdido alguém importante naquele momento.(Tipo o sonho acabou)O vôo era noturno, dormi profundamente e só acordei quando estava chegando no Rio de Janeiro.Minha irmã foi me buscar no aeroporto e me deixou na porta do trabalho. Peguei o cartão para bater o ponto, quer coisa mais deprimente? Ha,ha,ha,ha!

Maraguary postou 22 de outubro de 2010 às 16:43

HUAHAUHAUHAUHAUH!!!! Acabei de chegar de férias e preciso urgente de outras!!! Já quanto às minhas 8.629 fotos (sim, eu tiro muitas mais que vc!!), não só as vejo como também obrigo amigos e familiares a vê-las tb!! Fora que coloco 3.632 no orkut e dos 200 amigos, apenas 2 comentam (8 fotos)!! HUAHUAHAUHAUHAUH!!! MUITO BOM MESMO SEU BLOG!! DEMAIIISSS!!!!

mvsmotta postou 22 de outubro de 2010 às 18:14

Val,

Te entendo perfeitamente e tem mais: os ufanistas que me desculpem, mas chegar no Brasil com esse monte de favelas, ruas imundas e cidades caóticas só aumenta a depressão.

Maraguary,

Eu tiro tanta foto que depois nem lembro mais onde foi que tirei várias delas. Rsrsrs

Abraços

Lila postou 25 de outubro de 2010 às 11:36

Essa rede ai acabou comigo hoje!! plena segunda feira.

 
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