Prefiro que me odeiem

Postado em 1 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Sabe aquele vizinho ou tio bonzinho, que trabalhou a vida inteira, ajudou a família, sempre foi honesto, prestativo, fiel à esposa e morreu pobre e sem ser reconhecido por ninguém até que o primeiro prego batesse no caixão? Pois é, ele é um cara muito legal pra contar histórias quando queremos impressionar alguma militante do Partido Verde que queremos pegar, dar algum exemplo para um filho ou mesmo para dizer que "não existem mais brasileiros assim", mas a realidade é que ninguém quer ser esse cara, talvez nem ele quisesse ser.

Muito melhor ser odiado, invejado e se dar bem, do que ser o bonzinho que só se ferra. Este, meus caros, é um axioma.

Senão, quem você preferiria ser? O Eike Batista, milionário vendendo investimentos futuros e praticamente careca - mas só casando com boazudas - ou aquele moço bonzinho dono da quitanda da esquina, que nos anos 70 recusou uma participação nas empresas do Antônio Ermírio de Moraes só para não trair seu amor pelos hortifrutigranjeiros e foi largado pela mulher que fugiu com um bombeiro 20 anos mais novo?

O bonzinho é aquele que geralmente ouve o "mas nós somos apenas amigos" ou então o clássico "você é bom demais pra mim". O bonzinho é aquele que ouve a garota por quem ele está apaixonado desde a oitava série chorar pela décima vez porque o pitboy por quem ela é apaixonada a traiu com sua prima gostosona pela décima vez, e ainda assim ela não consegue terminar com ele.

E o oposto do bonzinho é o canalha, o bon vivant ou simplesmente, o sortudo. Ele é o seu amigo que chega numa boate sozinho e nunca sai do mesmo jeito. Ele é o cara que pegava a menina mais bonita da sua rua, sendo que você morou em cinco cidades diferentes e sempre tinha um exemplar dele na vizinhança.

O canalha é aquele cara que incrivelmente tem charme, uma presença iluminada, um sujeito gente boa, cheio de conversa, que faz você até se sentir mal por ter raiva e inveja dele. Porque eis outro axioma: todo mundo fala mal da tal "inveja", mas pouca gente não adora quando é objeto dela.

O esperto nunca responde nada diretamente, com ele não tem "sim" e nem "não". Se uma mulher pergunta pra ele "você é casado?", ele responde "não, não sou casado", mas omite o fato de ter uma noiva, um apartamento comprado e o casamento marcado para dali a dois meses.

E pior, ele consegue pegar essa garota, comer essa garota e convencer essa garota que ser amante dele é um excelente negócio para ela.

Pode ser também aquele seu colega de faculdade que passava o tempo inteiro bebendo cerveja no boteco, colava nas provas, comia a namorada do colega da república, saía para jogar tênis enquanto você estava estudando, bebia como um gambá, ía para festas de terça até domingo e ainda assim conseguiu um baita estágio numa multinacional no dia seguinte da formatura.

Mas não pára por aí. Você, o bonzinho, encontra com ele em Copacabana em plena quarta-feira à tarde, de chinelo e bermuda e pensa, contente, "o fdp se ferrou, a multinacional descobriu que ele é um inútil e agora ele está desempregado, sendo sustentado pela mãe e só lhe resta ir jogar volei com os aposentados na praia".

E aí pergunta pra ele: "E aí, cara? Beleza?" e solta um maldoso "de férias?"

Ao que ele responde: "Nada, cara, eu arrumei aquele emprego depois da formatura, lembra? Pois é, a convenção da empresa naquele ano foi em Las Vegas e quando estava lá ganhei um milhão de dólares num caça-níqueis do cassino, agora só vivo de renda".

Viram? Dá ou não dá raiva?

11 Comentários:

Unknown postou 1 de outubro de 2010 às 10:47

Olhando as coisas assim, deste ponto de vista, sim, eu preferia ser ele. Mas não creio que ser bonzinho seja de todo ruim, é uma questão de consciência. Também discordo de que as mulheres preferem os canalhas, tudo bem, eles tem lá o seu charme, mas mulheres que se deixam enganar por esse tipo de homem, sofrem de baixa estima crônica e aguda.

Trabalhar honestamente, ser fiel e correto pode dar mais trabalho, mas a pessoa enriquece de todas as formas possíveis, espiritualmente, profissionalmente, tem relacionamentos duradouros e sadios e de quebra ainda ganha o seu dinheiro sem ter que se preocupar em não conseguir dormir à noite.

Abração

Anônimo postou 1 de outubro de 2010 às 11:10

Sinceramente não sei se preferiria ser ele., acho que levar a vida só em oba oba não nos trás felicidade completa.. apenas passageira. E também não nos trás uma experiência de vida boa. Se ele sempre foi assim., continuará sendo.. ganhando dinheiro e gastando tbm. Ser 'bonzinho' não é uma coisa por demais ruim.. tem lá as partes boas.

Acho que é mais interessante ter uma vida honesta e correta., e batalhar pelo que se almeja.

Maraguary postou 1 de outubro de 2010 às 12:05

Concordo não... Posso? O problema todo não é ser bonzinho, entende? (não né, senão não tava aí o assunto no blog!),o problema é ser sem graça e grudento, que não é de maneira alguma sinônimo de bonzinho! O problema é não ter vida própria e achar que pq é bonzinho a garota tem que ser sua escrava sentimental... Um cara legal é tudo o que nós mulheres, lindas e bem resolvidas queremos na vida, desde que o cara saiba ter bom humor, e saiba dosar a bondade aqui descrita! O lance é que vcs homens, acabam confundindo tudo. O canalha geralmente é auto-confiante, é gente boa, divertido, enturmado e cuida do corpo, já o referido "bonzinho" de que trata esse texto é aquele cara que tem a auto imagem no chinelo, é tímido, medroso e pra piorar não gosta de se cuidar. Que tal então praticar a bondade e reuní-la às qualidades (e somente às qualidades) dos canalhas? Tenho a mais absoluta certeza que este é o cara ideal! Nada se compara a estar ao lado de um homem educado, bem apresentado, bem humorado e que de quebra te chama de linda ao invés de "cachorra" (salvo em momentos íntimos que aí vale tudo!), te ama, mas não te sufoca. Está ao seu lado nas horas legais e te protege oferecendo um abraço quando teu mundo despenca (e nossa! Como o mundo feminino despenca, viu?)!!! Então, fica a dica para os meninos: mulher gosta sim de carinho e proteção, gosta de homem bonzinho, e não gosta de canalha não. Não se confundam porque o canalha "pega" várias, a não ser, é claro, que seu intuito seja somente "pegar" várias e não encontrar alguém legal pra ficar de verdade. Espero ter sido clara. Gosto do seu blog. Até mais ver!!

Elioenai Brasil postou 1 de outubro de 2010 às 13:45

Apesar dos preceitos morais postulados pela sociedade (e olha que eles viajaram por minha mente durante a leitura), no fundo não ligaríamos se muitos nos odiassem. Edgar Morin já dizia que deveríamos ser batizados de "homo sapiens demens" porque está em nosso DNA sermos canalhas de vez em quando. DEixar de ser politicamente coorreto de vez em quando não faz mal a ninguém. Que minhas filhas não leiam isto (risos).

Rosângela Monnerat postou 1 de outubro de 2010 às 14:26

Este papo é séééério! Não podemos nos resumir. Com certeza a bondade e a maldade se completam por aqui. AQUI. Grande!
Vide mundo, gente, consciência, qualquer segmento exposto da nossa realidade desperta.
Mas não quero filosofar, nem me prolongar demais. Apenas colaborar com o editor.
Se não for bonzinho, o que será?
Talvez um sujeito desassossegado. Palavra comprida e cheia de sussurros. Daqueles que a alma traz, ao encontro do ser que boceja qual noite sem fim.
Então, assim é o capeta? Um cara folgado de frente pro mar?
Não, este é o menos estressado. É o tal bon-vivant.
O encapetado é o cara no boteco soltando a palavra, buscando a garota com o olhar?
Não, este é chegado em mulher. O safado. O da melhor pegada.
Ah! Na contramão do bonzinho vem então o esperto, que ganhou a chance de engordar sua conta bancária na sede de ter sorte no azar?
Não, este é uma enorme exceção!
Então, quem é o maldito, que apaga o sujeito bonzinho da imensa preferência nacional?
O infeliz é o cara! A praga da vez. Aquele que se mal não fez, vai fazer. Basta deixá-lo ficar por mais tempo que o bem, em sua generosa expressão.
Não sei Marcus.
Acho que o mal não gosta de ninguém, de nada, e portanto não vai gostar também de muitas palavras. Principalmente aquelas que lembrem qualquer boa intenção.
Bj!

Ju Whately postou 1 de outubro de 2010 às 16:22

Nossa, mas o pessoal aqui leva tudo ao pé da letra, não?

Pode ser q eu esteja enganada, mas eu senti uma pitada de ironia! Além de um certo desabafo.

Quem nunca passou por uma situação em que vc pensa: "e o filho da puta ainda tem sorte!"?

Letícia Cunha postou 1 de outubro de 2010 às 18:43

Equilíbrio. Essa é a palavra. Ninguém precisa ser somente um "bonzinho", muito menos apenas um "odiado, invejado, que só se dá bem" (creio que a ideia é se dar bem como finalidade, independente de como agir pra chegar nisso). Vejo essas denominações como esteriótipos da sociedade, acho que ninguém consegue ser 100% de um jeito, estamos sempre passando por mudanças, profundas transformações e as atitudes podem variar. No entanto, não vejo problema em alguém ser bonzinho ou odiado, desde que esteja de bem consigo mesmo, que esteja feliz e não esteja fazendo mal aos outros, ao mundo ou a si mesmo, que viva a vida naturalmente, honestamente e contribua de alguma forma para a sociedade. Confesso, no fundo, to pensando que o melhor mesmo é ser o do meio, o meio-termo. Assim como geralmente na escola e na vida o que se dá melhor é o que sempre foi médio em tudo, ser médio no sentido do texto acredito que tambeém será o melhor jeito de viver.
Obs.: Parabéns pelos textos, adoro todos! :)

Juliana Grimaldi postou 1 de outubro de 2010 às 19:19

Vc tornou o bonzinho um idiota. rs.
Seria bom se tudo fosse assim, cm vc narra.
Já disse aqui mil vezes: gosto do jeito q vc escreve.
O único problema é q n concordo com boa parte. rsssss. Mas, o problema é meu e eu sei disso. rs.

Eu n quero ser o seu bonzinho, mas me considero boazinha na minha realidade. E, sabe, eu sou pq quero! :D

mvsmotta postou 1 de outubro de 2010 às 20:11

Ju,

Acertou na mosca.

Beijos

Kilson postou 2 de outubro de 2010 às 11:08

Como eu gostaria de discordar de vc!Infelizmente tenho que concordar com tudo. Sou o típico "bonzinho", o bom amigo e nada mais que isso. Já até tentei mudar, pois cada vez tenho mais certeza que é dos canalhas que as mulheres gostam. Todas as garotas que eu conheci e conheço até hoje, têm o mesmo discurso: "eu odeio homem canalha!", mas na verdade elas sempre trocam um cara legal, gente boa, inteligente, por um canalha e não importa o quanto eles façam, elas continuam e continuarão apaixonadas por eles. Quanto aos caras idiotas como eu, resta o consolo de ser o eterno bom e leal amigo.

Gisela Brum postou 2 de outubro de 2010 às 13:01

Seria o clássico "malandro é malandro e mané é mané"? Tristes constatações, mas que existem, existem.

 
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