Senhoras e Senhores, por favor, fiquem de pé

Postado em 26 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius

"Uma serra chamada esperança fez da mata uma oferta de paz e acolheu este povo de longe que chegou sem olhar para trás com o tronco viçoso do pinho altaneiro sobre os cereais foi subindo uma prece a Sant'Ana pela força de um braço capaz lá no alto a bandeira se inflama alcançando o horizonte sem fim de um herói exaltando a fama é a cidade de Paulo Frontin"

"Sou Goytacaz, sou Goytacaz até morrer, nosso lema é vencer, vencer, na vitória, na derrota, na alegria no amargor, sou Goytacaz sim senhor, sou Goytacaz por amor nossa camisa, Alvi-anil, tem suas cores destacadas na bandeira do Brasil, minha Campos te amo demais, por isso sou torcedor do Goytacaz, e no gramado, ninguém faz o que ele faz."

Achou bizarro um texto iniciado com os hinos do município de Paulo de Frontin - interior do Rio de Janeiro - e do Goytacaz - clube de futebol do interior do Rio de Janeiro, respectivamente? Imagine então minha reação ao ouvir esses dois hinos ao vivo e a cores, na voz de dois primorosos cantores de churrasquinho de esquina (churrascaria já seria demais).

Junto com a graça do Marcos Mion, pombo bebê, político honesto e os neurônios da Geisy Arruda, juro que pensava que ninguém também conseguiria provar a existência desses dois hinos, mesmo se quisesse. Mas aconteceu.

Uma noite de terça ou quarta-feira na gélida Nova Friburgo, algumas cervejas e copos de vinho a mais e um velho amigo, campista de peso e medida, resolveu cantar o hino do "Goyta". Na hora eu não sabia se ele estava inventando aquilo, criando letra e música naquele exato momento, mas depois conferi e descobri que existe pelo menos um brasileiro que sabe mesmo o hino do Goytacaz.

Anos mais tarde fui pendurar uma toalha na área de serviço e de uma janela distante pude ouvir um vizinho cantando algo que parecia uma antiga marchinha de carnaval (o ritmo era dele). Concluí no entanto que na época das velhas marchinhas os costumes ainda não permitiam que se colocasse a expressão "tronco viçoso" nem mesmo numa música carnavalesca, e entendi que era o hino de uma cidade.

Conto isso tudo porque certas situações conseguem fazer nossos parâmetros de vergonha alheia e desconforto terceirizado se ampliarem consideravelmente. Imagine que tirando a parte sentimental que uma lembrança da faculdade pode ter, um bar cheio de gente e um cara cantando o hino de um clube de futebol do interior em altos brados é algo que me faz voltar sentir o sangue subir para a testa.

Ele lá, completamente bêbado, entoando seu amor pelo Goytacaz e as pessoas em volta olhando com aquela cara de "WTF???". E eu tentando remediar, dizendo pros outros "ele bebeu um pouquinho...ele é campista...vamos embora pelo amor dos céus?".


O caso do vizinho é mais grave, porque ele é um desses fãs de rodinhas de violão. Não sei se vocês conhecem algum - é quase tão difícil não conhecer algum cantor de rodinha de violão quanto é difícil conhecer alguma gostosa da Playboy, e essa é uma das injustiças da vida - mas eles geralmente se acham Oswaldos Montenegros ou Rauls Seixas injustiçados pelo sucesso, como se os originais fazerem sucesso já não fosse injustiça suficiente.

Sendo assim, eles cantam alto. E cantam alto para platéias imaginárias. E como não se contentam com suas platéias imaginárias fazem questão de cantar alto para conquistar platéias compulsórias, como a velhinha da janela sobre a praça, como os vizinhos dos andares próximos e, porque não, as áreas de serviço que dão para as janelas dos seus banheiros.

Por isso, o mesmo vizinho que já me presenteou com dez versões diferentes de "Andança" e com interpretações meteóricas e bombásticas - dessas de atravessar a parede - de "Faroeste Caboclo" (que eu carinhosamente chamo de "O Hino dos Chatos") e "Eduardo e Mônica" (que carinhosamente chamo de "Os Progenitores dos Chatos"), me deu o prazer de conhecer o hino de Paulo de Frontin, cantado entre guinchos e agudos de Gal Costa.

Moral da história? Simples: rodinha de violão é um saco, não existe talento não reconhecido (na maioria das vezes ele é apenas irreconhecível), e se você for de Nhamundá, Cabrobó, Nhecolância ou torcedor do Kaburé, por favor, não precisa cantar os hinos, basta me dizer que eles existem que eu juro que acredito.

9 Comentários:

mvsmotta postou 26 de outubro de 2010 às 11:04

Continuo achando Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica uma chatice só.

Ainda bem que - por enquanto - ainda não preciso me isolar do mundo para achar isso, né? Creio ainda ser um direito, sei lá, eu acho...

Abs

Lola postou 26 de outubro de 2010 às 11:10

hahahahaha O companheiro da moça aí de cima dormiu de calça jeans né?
Cara...pior do "Eduardo e Mônica" e "Faroeste Caboclo" é "Índios". Me dá ânsia só de lembrar da melodia e da letra! Argh!

Tô seguindo teu bloe e o linkei no meu!

Bjs

mvsmotta postou 26 de outubro de 2010 às 11:13

Lola,

No Brasil você pode defender o extermínio de filhotes de cachorro mas jamais pode falar mal de Renato Russo (alguém que aliás eu admiro várias letras e canções, menos essas que citei e mais algumas poucas), de Raul Seixas (tudo ruim, tudo chato) e outros lixos como "pagodinho" e "axé music".

Mas enquanto não nos mandarem para campos de concentração, continuarei dizendo o que penso.

Beijos

Anônimo postou 26 de outubro de 2010 às 11:15

Marcus: concordo:hinos de clubes desconhecidos, "faroeste caboclo" e "eduardo e mônica" ficam ainda mais chatos gritados por um bêbado, mas não se comparam à " a poluição e tortura sonora" q é ter uma vizinha fã de funk q acha normal o resto da rua ser obrigado a ouvir esse lixo.
Li

michele cruz postou 26 de outubro de 2010 às 12:19

me desculpem os fãs "xiitas", mas acho renato russo um pé no s***. chato demais, pior ainda quando cantado em rodinhas de violão, quando se torna insuportável. já brigaram comigo por eu ter essa opinião, mas gosto é gosto,ne??? o minimo q podemos fazer é respeitar os dos outros.

Maraguary postou 26 de outubro de 2010 às 12:40

Eheheh... o clima esquentou por aqui, hein? Vou confessar que, nascida e criada no "interiorrrr" do Espírito Santo, lá nas cidade de "Novenéis" (Nova Venécia), amo moda de viola e canto bem alto músicas antiquíssimas, daquelas que meu avô cantava nas rodas nas festas juninas da minha infância na fazenda (Arre!!! Saudade de tempos que não voltam mais!!!). Mas hoje em dia tenho vizinhos que acham funk proibidão o melhor que há em termos musicais... e também tenho outros que são religiosos e tocam suas músicas gospel (até que umas são bonitinhas...) em altos brados! Assim sendo, tenho desculpas de sobra pra desafinar meus "...e as águas a cantar, chuáááá, chuáaáá..." a vontade e no volume mais alto que minhas cordas vocais aguentarem! Quanto a Renato Russo só tenho a dizer que amo algumas de suas músicas e que odeio outras tantas, e acrescento que sua voz não era das melhores (acho a minha muito melhor, viu?). Já os hinos e afins só conheço o Nacional que era obrigada a cantar todos os dias no meu colégio de infância!!! Enfim, não me canso de repetir que seu blog é sensacional!!!Vir até aqui é sempre delicioso!!

Leticia postou 26 de outubro de 2010 às 13:09

Renato Russo reinventou no "róqui" a música chata que os festivais haviam sepultado. Ô-ô!

E é uma dessas uninimidades nacionais que, se você ousar falar, guenta a agressividade do povo adepto de um mundo melhor.

Excelente seu post!

Ju Whately postou 26 de outubro de 2010 às 16:59

Nossa! Mas dizer q não gosta de Renato Russo ou de festivais ou do q quer q seja é dizer q prefere DOPS? Que exageiro!

Renato Russo é chato mesmo, ué! Chato, chato e chato. Isso não quer dizer q ele não tenha conteúdo em suas letras!

Ao contrário de vc, Marcos, gosto de roda de violão, mas nem por isso considero seu mundinho limitado... É só um gosto, oras.

Mais uma vez, adoro seus textos! Fantásticos!

Isabel postou 27 de outubro de 2010 às 06:15

Nem brinca, tenho vontade de matar esse vizinho do texto, hahahaha.
Marcus, vc tem que moderar esses comentários, essa Maysa está meio descontrolada...
Beijos

 
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