Filhos, se não souber como tê-los, melhor nem fazê-los

Postado em 17 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Há um tempo eu morei num prédio que tinha assim, 387 apartamentos por andar. E nesse universo tão amplo, você encontra todo tipo de pessoa. Os aposentados, as gostosas que trabalham fora o dia inteiro, os solteirões, as mães separadas com sua prole, os estudantes, enfim, tem de tudo.

Nesse especificamente, quem mais chamava a minha atenção era um casal aparentemente normal com duas filhas na casa dos 7 ou 8 anos. Primeiro porque todos os apartamentos eram de quarto e sala e eu imaginava a logística (beliches, verticalização, aproveitamento japonês do espaço) para acomodar 4 pessoas num espaço de uns 40 metros, mas tudo bem, presídios e certas habitações populares tem bem menos do que 10 metros por pessoa.

Mas isso é apenas curiosidade. O que me impressionava e me preocupava era o resto.

E o "resto" era o comportamento dos pais das garotinhas, que 99% do tempo eu considerava abominável.

O sujeito nunca, reforce aí na sua mente o nunca porque era nunca mesmo, cumprimentava as pessoas. Seja na portaria, seja na garagem ou mesmo naqueles momentos desconfortáveis no elevador, qualquer um que virasse para aquele jumento sem ferraduras e desse um "bom dia" ou "boa noite" era solenemente ignorado.

A esposa já era menos arredia, porém igualmente bizarra. Usava elevador para descer do primeiro andar para o térreo (nem precisaria dizer que pra subir era a mesma coisa, né?) e apesar de falar com os vizinhos, trazia no semblante aquele astral de que sempre tinha acabado de dar uns sopapos em alguém ou que se não deu, ainda iria dar.

Ele era magro, ela era gorda que nem um bolo de noiva. E as meninas eram simplesmente encantadoras.

Sério, dessas garotinhas que qualquer um ia adorar ser pai e mimar, tanto que nem sei como puderam sair tão bonitas com a mistura de genes daqueles dois estrupícios.

No entanto, nunca vi um gesto de carinho sequer dos dois para com as filhas (e olha que eu encontrava com eles toda hora, porque viviam na portaria, na calçada, perambulando pelas áreas comuns).


Ele fazia grosserias inomináveis para elas na frente de qualquer um. Já o comportamento da mulher com as filhas pode ser resumido numa vez em que a assisti saindo do elevador na frente de uma delas e soltando a porta do elevador em cima da guria.

Mas porque contei tudo isso? Porque talvez para as duas meninas, os pais dela - que na minha opinião são dois pais de merda - sejam excelentes. Sabe como é, a realidade delas é essa. Se você anda de Fusca a vida inteira, vai pensar que o melhor carro do mundo é o Fusca, ainda mais se a "vida inteira" for só 8 ou 9 anos de idade.

Por mais filhos da puta que nossos pais sejam, por mais cretinos que aparentem ser para a vizinhança, eles nunca serão esse horror todo para nós. A menos que seus pais sejam da seita do Charles Manson ou algo parecido, no fundo, eles sempre terão alguma razão.

Pergunte isso para os parentes do Sarney. Todos dirão que ele é um santo.

Mas o comportamento meio agressivo, meio displicente daquele casal com suas duas filhas, me leva sempre a pensar: porque certas pessoas procriam? Ou melhor, porque é permitido que certas pessoas procriem?

Nós realizamos concursos públicos para qualquer cargo de meia tijela. Fazemos exame psicotécnico, físico, pesquisa de antecedentes.

Até para tirar uma carteira de motorista precisamos provar que sabemos que o sorvete é para ser levado à boca e não à testa, mas para multiplicar a espécie a coisa é literalmente uma farra, qualquer um entra.

E que ninguém venha com conversa mole de "direito", "generalização" ou "preconceito" pra cima de mim, porque nada pode ser mais importante do que gerar uma vida e criar um indivíduo, dando amor, educação, carinho e proteção.

Criar bem um filho é uma tarefa tão complexa que acho que até ser astronauta envolve menos responsabilidade do que isso.

Por isso acho que é melhor que as pessoas comecem a prestar mais atenção nessa questão, sei lá, dar um jeito de esterelizar os palermas, ou então mandar todos eles pro espaço.

8 Comentários:

juliana postou 17 de janeiro de 2011 às 04:43

Lamentável a vida dessas duas crianças, mas como vc mesmo disse, nossos pais sempre serão os melhores[pelo menos na infância,opinião própria].
Ter um filho hoje envolve uma questão muito maior do que planejamento, a educação é que será nosso maior desafio.
Abs.Juliana

Tom souza postou 17 de janeiro de 2011 às 05:19

É isto mesmo que acontece hoje em dia pessoas estão cada vez mais fechadas para o mundo o que mostra no seu post, assim podemos dizer que este carinha pai das crianças é um egocêntrico... por exemplo, caso esteja num navio prestes a afundar, o egocêntrico, com certeza, tentará convencer a todos que ele deve ser o primeiro a entrar num bote salva vidas porque ele realmente só consegue enxergar suas próprias necessidades.

valew

@tomwiter

Isabel postou 17 de janeiro de 2011 às 09:54

Caramba, essa foto do cara na moto com os filhos me lembrou meu pai me levando pra escola com meus irmãos: era assim mesmo! E olha que eu sempre achei ele tão responsável, hehehe.
Beijos

Gustavo Ca postou 17 de janeiro de 2011 às 09:55

Eu já vi: mãe feia e pai feio com três filhas uma mais espetacularmente linda que a outra. Essa natureza..

Quanto a esses pais despreparados, não só como pais mas tbm como seres humanos, é triste mesmo. Tanto que quando vejo um adulto que sabe conversar com criança fico contente e alegra meu dia.

Vanessa C. postou 17 de janeiro de 2011 às 18:32

Olá,
Você escreveu muito acertadamente: " pais filhos da puta, que aparentam ser cretinos e quando crianças achamos que são ótimos. Com certeza falta de maturidade, de vivência para constatar o que é ser um bom e uma boa mãe. Infelizmente nem todos os pais amam seus filhos em primeiro lugar. Acho difícil alguém admitir que tem pais assim. É vergonhoso.
Abraços

Adriana Lima postou 18 de janeiro de 2011 às 05:02

Infelizmente, ao que parece, as pessoas mais conscientes da responsabilidade que é ser pai (ou mãe), são exatamente aquelas que optam por ter nenhum ou no máximo um filho. Já os que não estão nem aí, bem, esses provavelmente têm a famosa "escadinha" de filhos: meia dúzia de filhos com diferença de 1 ano entre eles. Eu tenho uma amiga que é meio "radical", mas eu concordo com a idéia dela: que todos os meninos, já com 11 ou 12 anos (que é mais ou menos a idade em que os hormônios começam a se manifestar), deveriam fazer vasectomia, assim não correriam o risco de engravidar ninguém. Se um dia, mais tarde, o cidadão quiser ter filhos, é só reverter a cirurgia. Simples assim.

Unknown postou 18 de janeiro de 2011 às 16:27

Os piores crimes são cometidos dentro de casa, tais como abuso de poder, indiferença, atitudes ambíguas e bizarras, falta de carinho, etc. Costumo dizer que o estupro acontece com frequência nas "melhores famílias", aquelas que não dão a importância devida aos seres que colocou no mundo.
Qualquer forma de abuso pode ser considerado estupro, não somente o sexual. Aposto que aquelas 2 criancinhas lindas e adoráveis estavam pedindo socorro.
Sou mãe de verdade, consciente e amorosa e somente depois dos 50 anos soube o quanto fui humilhada e não querida pelos meus pais, que até depois de mortos deserdaram-me nos 50%. É muito triste e lamentável as atitudes de seres que considero desumanos.
Perdoem meu desabafo.
Excelente crônica e é para ser repercutida.

Anônimo postou 29 de agosto de 2014 às 06:49

Marcus,
Gostaria de sugerir aos leitores do blog o livro "Nem todas as mães amam os filhos" (disponível impresso sob demanda no Clube de Autores www.clubedeautores.com.br e em e-book na Amazon). O livro trata exatamente do mesmo tema de sua crônica. É um relato pessoal de uma filha que, após sofrer espancamentos diários, tortura e difamação, descobre que sua mãe é uma psicopata e te que aprender a lidar com a situação.

 
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