Mediocridade com mediocridade se paga

Postado em 26 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius

A história muda muito pouco: um sujeito acha tudo o que acontece na televisão, no mundo da música e no showbiz em geral um lixo, adota uma postura mais alternativa, underground, contestadora, mas basta entrar no mainstream, que só contribui para aumentar o monte de entulho.

Soa bastante indie isso, eu sei, mas são ossos do ofício de falar mal das coisas: uma hora, você se torna aquele chato que você sempre criticou porque não gostava de quase nada.

Quem lembra do Fausto Silva durante a sua fase no "Perdidos na Noite", vai me dar razão. O padrão global serviu para engordar a conta bancária dele (sem trocadilhos com a sua forma física, até mesmo porque ele andou emagrecendo), e fazer desaparecer como que por milagre toda a graça que ele já teve.

Só que o Faustão perdeu algo que tinha, existem aqueles que nem tem o que perder.

Alguém em sã consciência diria que têm algum valor esses atores coadjuvantes de novelas, apresentadores de programas de humor de quinta categoria, gênios do videolog alçados à condição de meninos prodígio, autores de livros de auto-ajuda, músicos de funk ou axé, e toda essa fauna da medíocridade artística brasileira?

No entanto existem pessoas talentosas nesse meio. Pessoas que também consideravam esse "Mundo de Caras" ridículo antes de entrar nele e que só mudaram de opinião às custas de jabás, contratos e muita bajulação.

Quantos cantores de axé com letras de duplo sentido, quantos funkeiros semi-analfabetos cantando na língua das "comunidades", quantos engraçadinhos fazendo esquetes iguais às dos engraçadinhos do outro canal, quantos modelos-atores-manequins-apresentadores, quantos ex-BBBs serão necessários para que alguém chegue e diga: não precisamos mais disso, chegou a hora de usar toda essa energia para produzir outra coisa, de preferência que preste.

Porque se tem algo que o mundo não precisa mais, são políticos, armas nucleares e artistas medíocres.

Mas a história pouco muda, quem sabe até não seria igual com você ou comigo? Uma vez assinado o primeiro contrato, todo mundo começa a parecer que saiu da mesma fábrica. É como a Barbie ou a Polly com seus acessórios.


O cara critica todo esse lixo muito propriamente, esses ídolos adolescentes, esses atores e atrizes que vivem interpretando a si mesmos, seja como uma freira italiana ou uma prostituta sueca, esse imenso mar de nada no qual bóia a "classe artística" brasileira, mas quando faz sucesso, passa a produzir coisas até piores do que as que estão aí.

E ai de quem falar mal. Será "inveja do sucesso". É como se aquela merda toda só não servisse quando os outros faziam.

Não vou mentir, sinto vários tipos de inveja, quem não sente? Só os mentirosos.

Mas invejo grandes fortunas, inteligências geniais, arroubos de coragem, belezas avassaladoras.

Não invejo desperdício de papel impresso, de acordes e notas musicais, de tempo na televisão. Sinto vergonha alheia, algum desprezo e uma boa dose de chateação por ver tanto barulho sendo feito por nada.

Porque no final, sobra o que? Você lembra da musa do verão de 2007? Ou do galã de "Malhação" de 2003? Lembra quem foi o apresentador daquele programa de viagem no Multishow ou no GNT em 1999?

Vou facilitar: você lembra os nomes de quantos BBBs do ano passado?

Parece até que foram feitos para serem esquecidos, mas esses ainda são os bons, porque cumprem seu ciclo de aparição-apogeu-sumiço em pouquíssimo espaço de tempo.

Pior mesmo, o que me causa arrepios, são os que fazem hora extra nos tais 15 minutos de fama.

9 Comentários:

Ramon postou 26 de janeiro de 2011 às 08:45

Texto magnífico, você merece que mais leitores o vejam!!

Ninon postou 26 de janeiro de 2011 às 09:05

Quero escrever esse comentário, mas realmente não sei se quero que seja publicado. Só quero ver se vc partilha da minha opinião, a respeito da mediocridade da fama:
Vc conhece alguém que, hj, goste da Xuxa? Eu não conheço. Todo mundo adora odiá-la. Mas vc já viu alguém que foi ao programa dela e lhe fez desfeita?? Basta vc ligar a TV no sábado de manhã, que vc verá "artistas" da nova geração, rasgando uma seda braba com a rainha dos baixinhos... e eu sou capaz de cortar minhas mãos de que antes da oportunidade, eram até capazes de estarem na comunidade "Eu ODEIO a XUXA!!" Todo o fabuloso elenco da Malhação, Restart, NXZero, e mais toda a gama de novos famosos que sinceramente, não conheço e não faço nenhuma questão de conhecer....
Só para constar, não sou hipócrita, tenho quase 30 anos e como a maioria das pessoas da minha idade, cresci assistindo Xuxa e não virei má pessoa, depravada por causa disso. As vezes, ainda escuto as primeiras músicas do Show da Xuxa e com algumas até me emociono. Essa é a minha verdade...

Anônimo postou 26 de janeiro de 2011 às 09:32

É Marcus você está certíssimo. Mas te digo que o povo tem os artistas, apresentadores, políticos que merece.
beijos

Rodrigo Santos postou 26 de janeiro de 2011 às 09:39

O triste disso tudo é que a sociedade está divida em dois grupos. Os que fazem a merda e os que são contra essa fabricação de merda.
Ou seja, provavelmente muitas pessoas irão ler esse texto. Todos irão concordar... mas tenho quase certeza de que só vai ser mais um discurso vão. E o motivo é que a tendência é piorar...
As sábias palavras, os pensamentos geniais, a inteligência, a reflexão e tudo o que é realmente importante tá sendo engolida por esse 'monstro cultural' que é alimentado todos os dias das piores formas possíveis.
Você inveja as grandes fortunas? Eu também...
Mas cai pra nós que todo esse lixo é causado pela busca da fama, e consequentemente o dinheiro.

Gil postou 26 de janeiro de 2011 às 20:00

Triste...mas, verdadeiro! Existe hoje uma completa inversão de valores, e a maior contribuição para isso, quem oferece é a televisão, que foi chegando de mansinho, ganhando espaço e minando os verdadeiros valores. E nós...infelizmente deixamos isto acontecer.
Chegou a hora de rever os conceitos.
Beijosss!

Gil postou 26 de janeiro de 2011 às 20:07

Triste...mas, verdadeiro. Existe hoje uma completa inversão de valores, e quem mais contribui para que isso aconteça é a televisão que foi chegando de mansinho, ganhando espaço, e minando

Unknown postou 27 de janeiro de 2011 às 08:57

Parece que os pensamentos mais importantes se ligam a longas distâncias, como um ímã.
Ontem, antes de dormir, apesar do choque anafilático que tive pela segunda vez em 11 anos, na volta do hospital, depois de 4 horas com Decadron na veia e Fenergan, ainda tive tempo de pensar na Bossa Nova, e como ela é, realmente uma música de elite: João Gilberto-O Pai, e seus sucessores ou acompanhantes, a magia de Vinícius e Tom Jobim, Badfen Powell, Chico, Vandré e tantos outros muito bons. Como nasci em 1953 e li aos 10 anos O Guarani, de José de Alencar e tinha a mente ávida por conhecimento, não para poder ser cult, mas por mim, pela minha sensibilidade artística.
Sim, assisti Perdidos na Noite, onde Fausto Silva desprezava a Globo e foi pra lá...Caras...Eca...
Sabe, Vinícius, eu não acho que tenho inveja das pessoas, realmente eu admiro tanto a beleza da arte, que só consigo apreciá-la.
Mesmo outras mulheres como A maravilhosa Grace Kelly.
Nunca quis fortunas, mas paz e civilização e ecologia.
Espero que você mantenha o dom e o foco para não ter somente seus "15 minutos de fama".
Bjs
Angela Vieira

shakunix postou 2 de fevereiro de 2011 às 23:18

Caro blogueiro, achei seu site por acaso buscando uma coisa e não pude deixar de ler vários posts, todos bastante interessantes. Este, entretanto, me chamou a atenção, pois é uma discussão muito corriqueira.

Outro dia, uma amiga quem tenho agregada no Yahoo Respostas, postou uma pergunta sobre o BBB e eu fui "dar uma espiadinha", desculpe-me o trocadilho, onde constatei que praticamente ninguém a respondeu, apenas escreviam para dizer que BBB é para gente medíocre, burra, para dizer que ela faça outra coisa da vida.

Antes de continuar, gostaria que você imaginasse uma fila de brasileiros diante de um MP3 player gigante com um único botão de passar música e tocando Chico Buarque. Quantos em 10 você acha que passariam a faixa? Eu acredito que uns 9 e meio. No entanto, metade das pessoas ou mais quando vai falar do seu gosto musical cita Chico Buarque (que eu particularmente acho um saco). Ou quiçá Djavan, Maria Rita. Ninguém fala que é fã do Parangolé. Nós vivemos numa sociedade que vive de aparência. Um penteado da moda por 200 reais ou uma calça jeans rasgada e desbotada com etiqueta conhecida por 600 reais não são caros.

Há pessoas que afirmam que o Big Brother faz sucesso no Brasil porque nossa educação é precária. Mas o Big Brother faz sucesso no mundo todo, principalmente na Inglaterra, onde não se pode criticar muito neste quesito.

Acho que cada um pode extrair coisas boas e ruims de tudo que exista sendo bom ou ruim. Tem gente que ve o Big Brother para invejar os participantes, tem gente que ve para falar mal deles e do Bial, outros para ver bundas e alguém acha um bom exercício de psicologia. Tem gente que usa o Orkut (outro alvo fácil de críticas) para se relacionar com amigos conhecidos, tem gente que usa para bisbilhotar a vida alheia ou adicionar várias pessoas com quem quer se dar bem. Aliás, esse exemplo pode-se ampliar para toda internet e seus bons e maus usos.

Dessa forma, não importa em que lata venha, é a pessoa que vai decidir o que está dentro. Por isso eu desisti de tentar mudar o mundo ou de pelo menos acreditar nisso. Somos animais com instintos, potencialmente infiéis, buscando sempre o melhor negócio, a melhor posição frente aos opositores. A cultura e educação (domagem) podem até limitar-nos, mas não segura uma espécie de 6 bilhões de exemplares.

E que dizer de quem prove essa diversidade de mediocridade? É como diz o vendedor de DVDs piratas: "se eu não fizer outro faz, então melhor eu fazer, né?" Há mercado, não podemos culpar-los. Os BBBs podiam estar matando, podiam estar roubando, mas não, estão ali eliminando o tédio de milhões de pessoas que não tem nada melhor para fazer. Temos a sorte que a TV tem um botão de desliga!

O grande problema é que o que pode não ser medíocre para nós, pode ser para outras pessoas. Fala sério, você gosta de futebol, não é? Para algumas pessoas é só "um monte de homem correndo atrás de uma bola" e para essas pessoas pode não haver diferença para "um monte de homens correndo atrás de uma bunda na piscina do BBB". E nem adianta invocar o sagrado espírito esportivo. Já perdi a conta de quantas vezes me criticaram por eu gostar de automobilismo.

shakunix postou 2 de fevereiro de 2011 às 23:18

Mas por isso mesmo, agora sou muito mais zen. Não acho mais que vivemos numa sociedade enferma. Acredito sim que seja importante brigarmos por cultura, educação, saúde, boas práticas na política, controle rígido da violência, principalmente contra mulheres e crianças (controle sim, pois como disse, não acredito em mudança dos nossos instintos) etc. Mas lutar por uma culturização em massa é utópico, mesmo em séculos (lembra da Inglaterra).

O mais legal de isso tudo é que cada um de nós pode escolher o que esperar da vida. Você deve ficar feliz em ter leitores que apreciam o que você escreve. Tem gente que se realiza da mesma maneira tomando uma pinga no bar. Cada um pode ser o melhor no seu próprio mundo.

Parabéns pelo blog. Eu favoritei, mas ainda não me acostumei a usar algum serviço de feed. Por acaso você tem uma página no Facebook que integre automaticamente seus blogs do RSS? Se não tiver pense em criar uma, é a maneira mais prática para muitas pessoas preguiçosas como eu de acompanhar os blogs.

 
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