Vans, mosquitos, flanelinhas

Postado em 11 de set. de 2009 / Por Marcus Vinicius

Certamente quem mora no Rio de Janeiro acompanhou esta semana a polêmica da retirada de grande parte da frota de vans de circulação.

O governador resolveu fazer um edital e os vencedores receberam autorização para continuar circulando, com itinerários e pontos de parada determinados e os demais, que não participaram ou não atingiram as exigências, passaram à ilegalidade.

O que houve foi muita gritaria, manifestações, oportunistas dizendo que isso é pra "favorecer a Zona Sul" (como se promover a ordem não favorecesse a todos), e um trânsito um pouco menos caótico ao final do primeiro dia de implantação do novo sistema.

Não conheço mudança de paradigma que ocorra sem tensão e o paradigma do Rio de Janeiro é esse: a desordem urbana.

A um dia chamada Cidade Maravilhosa é infernizada por kombis, vans, camelôs, flanelinhas, moleques de rua, favelização. Tudo isso passou a fazer parte do cotidiano de quem mora no Rio, tanto que são pragas vistas como fato consumado, aquele popular "ah, mas é assim mesmo...".

É assim mesmo, mas não precisa continuar sendo.

Retirar as vans que promoviam caos é um bom começo, mas ainda é muito pouco. O Centro do Rio é imundo. Fezes de mendigos, trombadinhas, camelôs, estacionamento irregular, feiura por onde se olhe. Tudo isso precisa ser posto dentro dos limites da civilidade.

E pros que falam que na Zona Sul tudo é azul, aconselho-os a tentar estacionar seu carro em qualquer rua dos bairros desta região.

Se não for abordado por um marginal exigindo pagamento adiantado por um pedaço de terreno público, terá seu toca-fitas roubado por algum cheirador de cola sem-vergonha.

Pra quem desejar ir mais longe, pode ir até a Barra da Tijuca, templo dos new-rich-emergentes-detergentes. Você ali provavelmente não será importunado por flanelinhas, já que nem calçadas o bairro tem direito: na Barra tudo foi inventado pra ser feito de carro.

Provavelmente exista até sapataria drive-thru no bairro, mas não é sobre isso que quero falar.

O que quero dizer é: não pense que lá tudo é igual os EUA só por causa daquela Estátua da Liberdade fake e das loiras siliconadas. Não. Além de suburbanos que encheram o pote de dinheiro com suas lojas de material de construção, imobiliárias e empresas de quentinhas, a Barra e o Recreio também são infestados por mosquitos.

O atual inferno é vivido pelo pessoal do Recreio, mas a Barra também é privilegiada, com suas lagoas e rios podres.

Li nos jornais que além dos pagodes, axés e funks que os jogadores de futebol que vivem ali ouvem em casa, a outra "música" que ecoa ao final de tarde é o som dos estalos das raquetes elétricas matando mosquitos.

Não é um som pior do que a música de nossos "boleiros", mas com certeza o animalzinho que elas matam é.

E o que o poder público fala? Praticamente que a culpa disso tudo é do mosquito e que o mosquito não é sua jurisdição a menos que esteja provocando uma epidemia.

Ao que parece, a partir da milésima morte por dengue ou febre amarela é que o mosquito entra na alçada do governo.

Mas porque falei disto tudo? Simples: para mostrar que nossa Cidade Maravilhosa precisa de muito mais do que músicas e loas para merecer este título, ela precisa de ação.

É necessário que esta vontade política toda que limpou as ruas de vans e providencialmente ajudou os donos de empresas de ônibus, também limpe os flanelinhas, camelôs, moleques de rua e, porque não, os mosquitos.

Ou então que o governo distribua logo raquetes elétricas para todos e que permita utiliza-las para, pelo menos, abatermos os flanelinhas também.

2 Comentários:

Isabel postou 11 de setembro de 2009 às 11:48

Pois é, sempre odiei as vans. O problema é que os ônibus não são muito melhores, e não há linhas de ônibus para certos lugares. Assim, acabamos obrigados a andar nessas pragas. Quando falam em van, eu sempre lembro de um acidente na ponte Rio-Niterói, onde duas pessoas foram arremessadas de uma van direto pro mar. Agora, pior do que van, só flanelinha! Aff...

Marcella postou 11 de setembro de 2009 às 14:48

É impressionante como seu texto parece com textos escritos pelo historiadores descrevendo o estado da cidade do Rio de Janeiro antes de Pereira Passos.
Eu sempre achei Pereira Pereira Passos O CARA. As pessoas me rebatiam dizendo que tudo que ele fez, fez em cima dos pobres e criou outros problemas. É verdade isso, mas se hoje o Rio de Janeiro é conhecido como cidade maravilhosa devemos isso a ele, pois antes o apelidinho do Rio era "Porto Sujo".
Eu sinceramente concordo com o Eduardo Paes quando ele diz que as coisas no Rio estão tão erradas que as pessoas nem sabem mais o que é certo e o que é errado.
O que eu queria mesmo é que ele levasse esse choque de ordem até o final e o fizesse em todas as esferas. Mas acho dificil... pelo que conheço da familia Paes... vai fazer uma obrinha de maquiagem... fazer uns amigos novos pra ganhar um dinheirinho e continuar rico.

Ahhh... falei um monte!!! Adoro seu blog leio sempre que vc me lembra lá no twitter!!!!

Beijos

 
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