O mundo colorido da internet

Postado em 13 de set. de 2009 / Por Marcus Vinicius

"Assim é se lhe parece".

Quem nunca ouviu esta frase? Não lembro quem a inventou e estou com preguiça de procurar agora, porque o autor da pérola não é o ponto, o ponto é a pérola em si. Bah, foi Pirandello. Satisfeitos? Vamos adiante.

A internet elevou ao máximo grau de realidade, uma subjetividade total. Esta característica de tudo mudar de acordo com o olhar de quem vê. Complicado? Já explico.

Em um dos meus textos eu falei que no "no Orkut todo mundo é feliz, no MSN todo mundo está ocupado, no Twitter todo mundo é intelectual e espirituoso", usei esta frase para ilustrar a felicidade forçada que as pessoas ostentam, mas existe muito mais por trás dela do que simplesmente isto.

Existe um forte sentimento de negação ou afirmação-forçada de uma realidade virtual.(OK, continuo complicando, vamos tentar melhorar).

Com a massificação da internet e com a segurança da distância da realidade que ela nos proporciona, podemos criar personagens que mais são nossos alter-egos inflados do que a expressão da realidade nua e crua.

O cara é feio mas tira umas fotos em ângulos que lhe favorecem e assim nasce um Don Juan do ParPerfeito. A fantasia só dura até o primeiro encontro, é claro (isso se chegar até ele), mas durante aquele curto período o pobre diabo vive tudo o que não consegue viver na tal "vida real".

A menina compra bolsas da Isabela Capeto no brechó, assalta o cartão de crédito da avó para comprar o ultimo casaquinho da moda e estupra a própria conta bancária para frequentar as boates dos "rich", ela sabe que isso tudo é uma ilusão, mas e daí? Vá até o seu Flickr, Fotolog ou álbum do Orkut e me diga se não encontra ali uma verdadeira Lolita Pille dos trópicos.

Ou o carinha que tira fotos com o Audi do tio e coloca no album "tirando onda com meu poÇante". Daí haja cachaça pra convencer a menina que ele chamou pra sair que aquele Fusca 72 com roda de magnésio é na verdade um A3. Até adesivinho da Audi tem colado!

Tem quem parcele viagem na CVC em 60 vezes mas tire uma onda tão grande que a gente até pensa em acreditar que trata-se de uma reencarnação de Marco Polo.

O que eu quero dizer é que é fácil, muito fácil fingir qualquer coisa na vida online. Depois que inventaram o Google e a Wikipédia, qualquer idiota pode participar de um grupo de discussão de filosofia sem fazer muito feio.

Basta saber procurar e saber desviar o assunto do ponto incômodo na hora certa. Eu mesmo já cansei de fazer isso despudoradamente, deixando o outro com aquela cara de tábua de chiqueiro em dia de distribuição de lavagem reforçada.

Isso para colocar alguns arrogantes no seu lugar é uma maravilha. O que você não pode é se iludir com a aparência de conhecimento recém-conquistada e achar que efetivamente sabe alguma coisa do assunto.

Após livrar-se do vexame online convém ler um bom livro sobre o assunto (ou vários bons livros sobre o assunto) para não ficar igual a mocinha do cartão de crédito da avó e bancar um Chesteron de Lojas Americanas.

Quem nunca conheceu alguém na net e de uma hora pra outra percebeu que todas as 109 fotos que a pessoa te enviou estão com a mesma roupa ou todas com ela olhando ao alto, meio de lado, com o perfil esquerdo em evidência? Fica aquela sensação que: 1) Ela só tem essa roupa 2) Se virar o lado direito veremos ferragens iguais as do Terminator.

É um dos problemas de só querer enviar fotos que lhe favorecem. Besteira, cedo ou tarde você vai ter que sair daquela pose mesmo.

Mas a carência aliada à insegurança explicam.

Assim como explicam o sujeito criar a própria relevância e acreditar tanto nisso, que acaba convencendo outros dela.

Vejamos, outro dia falei aqui do egoblog. Nada a ver com menininhas que vão para a internet despejar os seus hormônios. Falo destes sujeitos que criam teorias sobre como enriquecer online, como ser isso, ser aquilo, tão profundas quanto os seus umbigos, mas que na base da repetição enfadonha e na maximização(maquiagem mesmo) de resultados acabam "convencendo" um monte de gente de que aquele cercadinho no quintal é uma tremenda de uma área vip.

Não é.

Temos um nichozinho bem ocupado, loteado por gente que se vende (bem) e que de certa forma engana patrocinadores com uma suposta "relevância". Já falei e repito: qual o maior público que um blog brasileiro tem? E o que isso representa no contingente total do mercado consumidor do país, ainda que somente da internet? Bem pouco, bem pouco mesmo.

Não falo aqui de blogs de gente que efetivamente ganha pra isso como o Noblat e o Reinaldo Azevedo. Estes são jornalistas conceituados que vieram trazer seu trabalho para a rede.

Falo destes que adoram mostrar cheques do adsense nos posts, deslumbrados com toda aquela riqueza e fazem livestream até de inauguração de lava-jato, se ganharem convite "VIP" pra isso.

"Fui convidado pra ir até Campos conhecer a fabricação dos parafusos que sustentam os carrinhos de mão das plataformas de petróleo. Campos não tem nada, os parafusos são parafusos e o buffet era modesto, mas sorry periferia, sou VIP por aqui".

Conheço uma senhorita que recepciona turistas na sua chegada ao porto do Rio de Janeiro. Ela não lhes fornece nada mais do que boas vindas, antes que pensem o contrário, mas é convidada VIP de quase todos os bons lugares da cidade.

Vocês precisam ver, é uma maravilha! Entra sem nem enfrentar fila! O que isso quer dizer? Nada talvez. Mas talvez queira dizer que não é preciso tanta "relevância" assim para conseguir umas boquinhas-livres por aí.

Podem até me chamar de invejoso por estar falando isso, mas compreendam, eu mal conheço essa gente! Entrei em contato com suas existências a partir de episódios no Twitter, aonde perseguem a @Twittess como verdadeiros Torquemadas.

Confesso que tenho com os Blogs uma relação egoistíssima. Nunca tive muita paciência para a "blogosfera", ainda que me utilize dela para comunicar-me com as pessoas. Sendo assim, até me espantei ao saber que certos perseguidores da Twittess estão aí fazem 2, 3 anos até mais.

Fico espantado com a capacidade que esses caras tem de falar da mesma coisa há tanto tempo e ainda assim encontrarem que leia aquela egotrip banhada a óleo de cozinha toda.

Não conhecia nenhum deles até entrar no Twitter, palavra de honra. Dessa forma, ainda não tive tempo de desenvolver sentimentos como "inveja" ou "rancor" ou mesmo "despeito".

Ainda estou atolado na perplexidade mesmo. Juro que não achei que a tal blogosfera fosse tão pródiga em criar tipinhos pernósticos e que consigam mergulhar tão fundo na insipiência dos seus umbigos. Só falam de si e terminam por alimentar sua própria (ir)relevância num ciclo sem fim.

E aí caio novamente no faz-de-conta do "Mundo Colorido da Internet" que citei no título. Aqui tem gente que se faz passar por bonito, por rico, viajado, inteligente e, porque não, relevante. Basta que tenha quem te escute (não precisa ser nem tanta gente assim) e disposição para variar sobre o mesmo tema de forma incansável.

Fica aquela fórmula já classica da "meritocracia blogueira": sou importante, porque meus amigos importantes dizem que eu sou. Eles são importantes porque eu, que tenho uma importância outorgada por eles, assim o digo.

Mais dois ou três posts no estilo "Eu, fulano e beltrano somos f*dões e um dia você chegará lá" e algumas piadas internas e pronto! Temos um nicho devidamente sindicalizado.

Aí nos deparamos com essas situações tais quais a que muito bem falou o Gravz: A Twittess aparece na Folha, no Estadão, na MTV, na revista VIP, dá entrevista para a Playboy, mas é irrelevante. Relevante é a turma que aparece na NerdPix e nos PodCasts da Memêsfera.

Não dá pra comprar essa idéia. Mas se ainda assim você achar possível, tudo bem, deixo para você um abraço e muito prazer em falar contigo mais uma vez. E já que você acredita em quase tudo que te digam mesmo...

Eu posso assinar: Russel Crowe. :P

6 Comentários:

Kaísa Isabel postou 14 de setembro de 2009 às 07:14

E olhe que eu sou colorida.No sentido Faber castell mesmo, e sempre digo que só sou bonita online.
Mas ainda bem que alguém conseguiu explicar.Pois vamos combinar esta "vida online" é muito estranha,muito estranha
...

Anônimo postou 14 de setembro de 2009 às 08:24

Conheço uma moça que conheceu seu marido pela internet. Mandou sua foto mais feia e desarrumada e disse: "Isto é o pior que eu posso ficar". Foi tão inusitado que o cara se apaixonou... rs

Cristiane Sita

Anônimo postou 14 de setembro de 2009 às 09:05

Eu acho que a internet, nesse sentido, meio " acredite se quiser ". Tudo vai do que cada um busca na internet e que uso vai fazer dela tambem. Vender uma imagem utópica de si mesmo para mim não passa de masturbação mental. A vida é curta e a adrenalina de correr um risco real é impagável. Esse papo de " Prefiro uma mentira que me divirta a uma verdade que me entristeça " é um papo totalmente out. Rir das suas próprias bobagens não tem preço. Prefiro as pessoas que mostram sua cara.

JaqueHarumi postou 14 de setembro de 2009 às 11:44

Adorei a história do Anônimo! rs
É isso aí! Se a pessoa quiser mostrar suas fotos, q ela exiba tanto as bonitas e posadas, quanto as mais toscas, afinal um dia álbuns/blogs alheios divulgarão aquela foto q vc tanto detesta...
Se alguém tiver de gostar de vc, vai ser pelo que você é, não pelo que você se força a ser. Tudo q é forçado cansa a vc msm - e, na vida real, dura pouco.

Anônimo postou 14 de setembro de 2009 às 17:31

É por tudo isso que nos últimos dias eu apenas observo a vida alheia (online) é realmente estranha...mas não sei tenho respostas concretas para os meus atos online...mas enfim.

Na verdade não sei porque te sigo, nem porque leio seus posts e paro para pensar na sua opinião - às vezes grotesca mas sempre objetiva - que coisa...

Às vezes me identifico e às vezes tenho vontade de deletar e nunca mais ler...

Que coisa não?!

Beijos, até mais.

Márcia Chaves postou 14 de setembro de 2009 às 17:56

Concordo com o que vc disse, mas acho que essa história de representar alguém que não somos é muito mais antiga. O fato de (alguns anos atrás) começar a aparecer em sites de relacionamentos (ou exibicionismo) só tornou a coisa mais 'escancarada'. De repente tornou-se possível enganar mais pessoas ao mesmo tempo e isso gerou uma corrida desenfreada atrás da fama (seja ela de que tipo for). E é engraçado como a repetição de 'mantras'(sou importante; sou demais; fulano me deu RT; Beltrano falou meu nome; resolvi te seguir - fique feliz) fazem efeito em mentes pequenas!! Isso sem contar o fator 'humilhação': ZéMané é o F*dão. Não deixa passar nada em branco, solta logo um coice - bora seguir!!!! Essa é a parte triste da história, menino!!! A ignorância atraindo ignorantes e formando uma nova comunidade!! Sabe-se lá o que isso vai virar, mas nada bom, com certeza!
Agora... nada me tira da cabeça que uma determinada 'implicância' na twitterland nada mais é do que marketing!!!
Abs

 
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