Terno, gravata, insolação e abacaxi no pescoço

Postado em 11 de fev. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Justo nessa semana em que fui assistir uma cerimônia de entrega de carteiras de advogado, e pensei na total imbecilidade que é a exigência do uso de terno e gravata por parte dos advogados e outros profissionais que padecem com isso nesse clima brasileiro, apareceu uma reportagem em um grande jornal, contando que a OAB foi ao CNJ (Conselho Nacional da Justiça) pedir que fosse dispensado o uso da vestimenta pelo menos durante este verão senegalesco que atravessamos.

Achei curioso porque sempre pensei que essa obrigatoriedade do uso de terno (e até mesmo de calça comprida) num país tropical cheio de cidades (como é o caso do Rio) que só possuem duas estações, o "quente" e o "muito quente", é uma coisa sórdida, ridícula, tupiniquim, inútil, sub-desenvolvida e desumana.

Sei que vão me criticar por dizer isso, mas na minha opinião essa é uma atitude muito mais colonizada e de rendição cultural do que comer no McDonalds, por exemplo.
É o equivalente a passear pela rua com abacaxis na cabeça ou no pescoço, para criar aquele clima "Carmem Miranda" que todos os gringos esperam dos brasileiros quando vem pra cá.

Porque vejam bem, os países onde o uso dessa vestimenta é obrigatória (ou pelo menos onde essas camisas de força da moda surgiram), são países com climas mais amenos e sensações térmicas bem abaixo dos 50º que fizeram no Rio de Janeiro nestes Janeiro e Fevereiro 2010.

É uma estética inclusive totalmente contrária ao conforto que todo indivíduo merece para ir trabalhar, porque convenhamos, né? Por opção todo mundo estaria na praia, na serra ou no shopping passeando, então já que somos obrigados a ir trabalhar para, como dizia o mestre Nelson, garantir o leite do caçula e os sapatos da esposa, que pelo menos seja de forma a não adicionar um sofrimento extra nisso através de uma sauna portátil.

Acho que seria o mesmo que exigir por força de norma que as mulheres usassem salto alto. Sei que a moda "exige" isso delas informalmente, mas o terno e gravata não, tem lugares que o sujeito não entra se não estiver usando aquilo.

Não consigo deixar de lembrar daquelas pinturas de Debret, com escravos servindo os senhores usando jaquetões europeus em pleno verão tropical e também de policiais e funcionários públicos de alguns países mais esclarecidos, que tem durante o período de calor a opção de ir trabalhar até usando bermudas.


Afinal de contas, qual o problema? Porque na minha opinião a roupa não "define a pessoa" como o frescos da moda gostam de dizer, o que define a pessoa é ela mesma e seus atos e se usar terno significasse alguma ética, seriedade e respeitabilidade, político por exemplo não usaria.

Mas aí tem o outro lado também e que o Pablo_Peixoto me chamou a atenção muito bem, que é o fato de muita gente que usa terno faze-lo para demosntrar superioridade social, e usaria mesmo que estivéssemos torrando sob 60º de temperatura.

Até concordo com ele, tem gente que parece mesmo que passou m* no bigode e vive com aquela cara de nojo pra tudo, querendo ser superior o tempo todo. Bem, para estes, acho que o castigo de usar um terno é mais do que merecido.

Que se deixe então os demais pobres mortais, que não fazem a menor questão de parecerem superiores a ninguém e querem só passar um dia sem ter vontade de se enforcar com a gravata, livrem-se dessa exigência ridícula.

7 Comentários:

Frangoman postou 11 de fevereiro de 2010 às 05:54

E se tu perceber, numa mesma empresa, a mulherada semi-nua e de rasteirinhas.

Isabel postou 11 de fevereiro de 2010 às 07:58
Este comentário foi removido pelo autor.
Isabel postou 11 de fevereiro de 2010 às 08:05

Concordo com vc. Acho uma tortura os homens usarem terno num calor desses. Também acho ridículo a mulherada do Centro do Rio com aqueles saltos agulha agarrando no meio das pedras portuguesas, rsss. Mas elas se torturam porque querem. Salto não é sinônimo de elegância, pois tem modelos breguérrimos e abrutalhados. Com bom senso, pode-se usar uma sandália baixa e elegante. Quanto ao terno, não vejo problema nenhum em trocar por uma blusa social de botão e manga curta. Mas é a tal visão tupiniquim que vc se refere...
Beijos

Unknown postou 11 de fevereiro de 2010 às 08:06

É uma bobagem que realmente é mais pelo status,que as próprias empresas querem passar para seus clientes.Enquanto seus funcionários estão pedindo pra morrer logo,pra acabar com a agonia.
Um país de macaquinhos imitadores.

Histórias do Rio de Janeiro postou 11 de fevereiro de 2010 às 11:31

Concordo plenamente com suas observações e acrescento mais. Sou a favor de um papai noel vestido de óculos e cueca de praia, no máximo uma bermuda e regata, que até pode ser vermelha.
O brasileiro te mania de seguir o modismo, entretanto, só as banalidades são seguidas.

@sobrecomum postou 11 de fevereiro de 2010 às 11:32

Para o "pessual da moda" o terno já deveria ter sido aposentado faz tempo.

Mas o patrão acorda no ar condicionado, entra no seu carro com ar condicionado, entra na sua sala previamente resfriada e só percebe que ta calor na hora do almoço, isso quando não sai pra almoçar de carro tb.

Assim fica fácil pedir pros fundionários andarem de ônibus usando terno e gravata.

Unknown postou 11 de fevereiro de 2010 às 11:43

Putz, é uma total falta de bom senso exigir terno e gravata nesse inferno em que vivemos.
Aliás, concordo totalmente com a Isabel. Tem mulher que bota um mega-ultra-hiper salto e vai andar de busão. Aí chega na metade do caminho e tá andando toda encurvada pq já não aguenta mais a dor no pé.. Patético huahuahuahua!

 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo