Ecletismo demais é dose

Postado em 14 de abr. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Eclético é quem não sabe diferenciar o bom do ruim.

Pronto, logo de início já compro a briga e complico minha vida pra explicar isso pra todo mundo que diz adorar desde churrasco gaúcho até ratazana ensopada, de Mozart à Calcinha Preta, de cinema cult à baile funk.

Note que em momento algum eu disse qual é o bom e qual é o ruim, afinal isso é muito pessoal, mas o que quero dizer é que são coisas diferentes demais para caber no mesmo conceito de "bom" e "ruim".

Gostar de Megadeath e Parangolé não combina, por mais malabarismos que o indivíduo queira fazer para explicar isso. A única explicação que eu aceito é "Parangolé é uma m*, mas é melhor pra pegar mulher em micareta do que Megadeath, que só homem batedor de cabeça curte".

Tudo bem, se sua explicação é essa eu fico quieto, mas isso não é ser eclético, é ser malandro (num sentido positivo).

O lado bom de se declarar "eclético" é que a pessoa não fica mal com ninguém. A menina está no meio de uma conversa com o seu "paquera" e ele pergunta o que ela acha dos Garotos Podres. Pra não dizer que acha aquilo um arroto musical, ela se diz "eclética" e pronto, não precisa dizer se gosta ou não e fica de bem com o rapaz.

O cara está na academia malhando e aquela gostosona chega do lado dele cantarolando a música do 50 Cent que toca no som ambiente e dizendo "essa música é muito boa, né?". O que ele vai responder? "Não, é uma merda"? E sepultar ali os 0,001% de chance que tem de conseguir qualquer coisa com ela?

Nada! Ele diz "É, boa mesmo" e pronto. Não importa se o amigo dele que está do lado depois vai questionar o fato dele só ouvir Surf Music o dia inteiro e não ter um único disco de rap, porque ele dirá "que nada, sou eclético!".

Mas existem os sinceros, é claro. Pessoas que realmente gostam de filme da Xuxa e do Truffaut. Note, é direito de qualquer um achar que Xuxa é bom. Direito igual achar que o diretor francês é excelente. Mas encaixar esses dois no mesmo gosto, perdão, pra mim é falta de gosto.

Como explicar que uma ida ao Outback seguida de uma boate com música eletrônica possa proporcionar a uma pessoa o mesmo prazer que um mocotó de botequim seguido de um pagode?

Uma coisa é ser easy going e se divertir independente de onde estiver, extraindo da situação o melhor que puder. Mas isso é bem diferente de dizer que gosta igualmente de tudo. Não creio que seja possível.

Pra ilustrar melhor isso, vou contar uma história que de tão bizarra nem parece real, mas é. Uma vez, pra pregar uma peça num amigo, misturei um corante amarelo e um pouco de whisky (só pra dar o cheiro) numa cachaça e disse a ele que era Johnnie Walker.

Eu esperava que ele cuspisse aquilo, fulo da vida, e me perguntasse que sacanagem era aquela, mas sabe o que aconteceu? Meu camarada, apreciador de diversas modalidades etílicas, bebeu tudo com uma talagada só e ainda sentenciou "muito bom mesmo!".

Pois é, ele é "eclético" para bebidas.

11 Comentários:

Jônatas postou 14 de abril de 2010 às 09:04

Ótimo texto, há meses venho pensando tb sobre esta idéia do ecletismo, parece mais uma "ditadura do ser eclético".

Jaque postou 14 de abril de 2010 às 09:06

Bacana! Concordo em partes. Acho bem possível gostar de coisas bem variadas, mas o "ecletismo" costuma ser falta de gosto e personalidade mesmo ou a "diplomacia" disfarçada...

Sandro Santos postou 14 de abril de 2010 às 09:07

É!Legal. Mas acho que não concordo totalmente, se é que é possível concordar só em parte num caso desses. Estaria eu sendo muito eclético? Uma coisa tenho certeza: precisamos ser adaptáveis a uma série de coisas, senão perderemos algumas oportunidades legais, por causa de eventuais desacordos. Mas, cada um com sua opinião. Pode ser que, ali na frente, eu mude de opinião! Vai saber, né? Mas, acho que sou eclético, mesmo assim. Mas Xuxa e Calcinha Preta? Concordo contigo: é dose!!! Hahahaha
Belo texto, amigo!
Abrs
www.twitter.com/srlsantos

Rodrigo Scheer postou 14 de abril de 2010 às 10:34

Acredito que possamos gostar de musicas/filmes/etc com uma "variação" de até 50%, passando disso ou é puxar saco ou nao ter opinião!
@rodrigoscheer

@David_Nobrega postou 14 de abril de 2010 às 10:53

Eu me considero uma pessoa eclética, no mau sentido da coisa. Tipo, destesto de tudo um pouco. Beatles é pra lá de bom, mas fez muita porcaria tbm. Jack Daniel´s é meu visqui, ms não me ponha gelo que fica uma m%#@.
Mas existem siteuações que realmente não dá, tipo dizer que vc detesta Sex Pistols dentro de um show dos ratos de Porão. Inadmissível, mesmo...

josi postou 14 de abril de 2010 às 13:21

eu acho que o ecletismo é só mais um rótulo. tipo, 'o fulano disse que é eclético'. é como dizer que é pagodeiro, ou evangélico... whatever.

e concordo com que usa o ecletismo como malandragem, pra se dar bem e tals. pra dar uns beijos na gata, que mal tem?

maaaaas, pessoalmente, considero isso como uma falta de personalidade gigantesca. eu não acredito em quem diz que gosta de iron maiden e fundo de quintal. ou não conhece nem um nem outro, ou tá te xavecando. ponto.

Unknown postou 14 de abril de 2010 às 13:25

Muito bom o texto, acredito que vc seja um cara de "bom gosto" o que segundo seu texto nao significa que o seu bom seja melhor que o bom do outro. So nao concordo quando voce afirma que quem se diz ecletico nao gosta realmente de nada. Sempre ouvi muito Rock Classico, continuo gotando muito desse estilo, isso nao quer dizer que eu nao possa gostar de um bom sertanejo, uma Ivete Sangalo ou um Lenine. Tudo depende do momento, na minha opiniao e claro. Parabens pelo texto, sempre muito bem elaborado!

Mile Reis postou 14 de abril de 2010 às 13:30

KkKkk...
Post muito bacana.
Crescí ouvindo George Benson. Canto jazz desde adolescente, hoje tenho 25 anos. Sábado passado uma amiga me pediu que eu cantasse pagode (dos bem fulero, do tipo: ela é o morango aqui do nordeeeste...) em seu casamento.KkkK..para ñ decepcioná-la foi a resposta: "De boa..sou eclética!!"

@miureis

SukaTsu postou 14 de abril de 2010 às 17:49

No fundo as pessoas usam a palavra "eclético" sem conhecer o significado acadêmico da mesma.
E aí, dá no que dá: o que não falta é gente se classificando como eclético sem a menor noção do que é ser eclético...
Há muitos anos uns amigos meus detonaram uma garrafa de vodka polonesa legítima que a mãe de uma amiga trouxe de uma viagem à Europa, misturando com suco de laranja. Quando ela descobriu, quase infartou...
Mas mulher é o cão de lingerie, não é mesmo???
Um mês depois demos outra festa e tascamos álccol 90º na garrafa polaca e deixamos bem à mão, de propósito.
Os nossos amigos, conhecedores experientes de bebida de qualidade, resolveram tomar a vodka polonesa, desta vez sem aditivos... Secaram a garrafa e diziam a cada gole: Isso é que é vodka!!!

ANDRÉ RIBEIRO postou 18 de abril de 2010 às 08:44

Inicialmente, quero parabénizar pelo texto e acho fantástico a expressão de idéias e opinões, vivemos num mondo de contrastes constantes, diferenças... Sobre o tema ser eclético concordo em parte. Qualquer pessoa pode gostar de determinas coisas, ter algumas preferências não vá significar que ela não gosta. Concordo que quando gostamos demais de muitas coisas, nos remete a sensação que não temos o senso crítico e enfim, não gostamos realmente de nada. O que importa na minha opinião é termos uma análise crítica de tudo que vemos, ouvimos e gostamos. Ter um resultado para nossos gostos, não é simplesmente gostar por gostar. O bom do mundo é conviver com as diferenças. Independente do gosto de cada um, goste! Mas tenha em mente o bom senso. Eu acho dificil uma pessoa gostar tanto de rock e ao mesmo tempo amar forró brega do Pará. Ficar em cima do muro não dá, é uma questão de atitude e persnoalidade.

Abraço.

André.

Suzana postou 22 de abril de 2010 às 15:35

Por essas e outras que, quando me perguntam: "você é roqueira/metaleira/gótica/emo/from UK (até hj não sei identificar q p*rra é essa)/whatever?", eu respondo:
"Não, ouço o q me agrada na hora."
Claro, grande parte do q ouço é considerado rock, mas às vezes quero ouvir uma música mais pop, nada me impede.

Agora, realmente é f*da aqlas pessoas q, como vc falou, ouvem Megadeath e logo em seguida, Calcinha Preta.

 
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