Mais um temporal pára o Rio de Janeiro

Postado em 6 de abr. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Hoje meu blog vai se render à conversa de elevador e falar do tempo. Como não está fazendo aquele calor iraquiano típico do Rio de Janeiro, falemos então da outra estação climática da cidade: a chuva.

Pra começar, no Rio só faz frio mesmo durante uns três dias e 12 horas por ano. No resto do tempo a cidade se divide entre o calor infernal e a chuva torrencial. Sabendo disso, todo carioca sabe que seu guarda-roupa precisa de menos agasalhos e mais galochas.

Quem vier morar no Rio de Janeiro deve ter em mente que de três coisas ele jamais escapará: suar feito um maratonista queniano mesmo que caminhe a passos de tartaruga, molhar seus pés nas águas fétidas de alguma enchente durante um temporal e ouvir a infame piadinha de "ver a Mangueira entrando" quando chega o Carnaval.

Se eu sei disso e certamente o prefeito da cidade (por prefeito entenda-se qualquer indivíduo que já ocupou ou ainda ocupará este cargo nos últimos e nos próximos 20 anos) também sabe.

Como no Rio o calor é tão inevitável quanto guardadores de automóveis e bailes funk, melhor então que o alcaide se preocupe com as chuvas. E não acho que a presença do prefeito na imprensa dizendo platitudes como "não tentem atravessar ruas alagadas" ou "não saiam de casa se o seu carro não for anfíbio" seja uma ação efetiva contra o caos que se instala.

Desde que Getúlio Vargas ouvia discos da Xuxa todo mundo sabe que a Praça da Bandeira alaga quando chove. Desde que a Praça da Bandeira existe ela é a principal via de ligação entre a Zona Norte da cidade e o Centro. Dessa forma, sempre que chove estas duas partes da cidade ficam isoladas uma da outra.

Não é possível que um país que tem a criatividade para produzir tantos mensalões e impostos diferentes não consiga imaginar uma solução viável para a Praça da Bandeira. Garanto que a população não se importaria caso essa solução fosse superfaturada tal qual a Cidade da Música do César Maia, que sozinho mandou na cidade por uns 17 anos e nada fez contra os problemas causados pelas chuvas.

Todo mundo sabe que bueiro entupido vira alagamento. Todo mundo sabe que casa construída em encosta de morro, bah vamos parar com esse "politicamente correto" e dizer favela mesmo, todo mundo sabe que as favelas desabam na cabeça dos próprios favelados quando chove, qualquer indivíduo com mais de 10 anos de idade conhece todos os pontos críticos em dias de chuva da cidade onde mora, e como é que um prefeito sabendo disso tudo, nada faz?

Digamos que a dinheirama que vai ser gasta para promover 15 dias de Jogos Olímpicos e construir estádios e arenas que depois virarão criadouro de mosquito da dengue fosse usada para algo um pouco mais útil como, por exemplo, garantir que os cidadãos não gastem 5 horas para voltar para seus lares caso chova mais de 30 minutos na cidade. Não seria mais inteligente?

Mas quem disse que político brasileiro é inteligente? Eles são é espertos, o que é bem diferente, ainda que pareça igual. São todos medalha de ouro em pilantragem.

Pelo menos uma obra eu já vejo concluída para a tal Olimpíada 2016: basta rezar para chover bastante que o Parque Aquático estará ali, prontinho para as competições de "fuga do engarrafamento", "salve-se quem puder" e "desafio à leptospirose".

8 Comentários:

Celinha postou 6 de abril de 2010 às 06:33

O pior é que quando passar a chuva, provavelmente, cessarão as cobranças aos administradores da cidade.

sophia jones postou 6 de abril de 2010 às 06:36

Político só fala de alagamento em dia de sol.
Só fala de lixo após faxina na rua. Só fala de deslisamento de morro em inauguração de conjunto habitacional.
Só fala em segurnaça quando inaugura nova frota de viaturas.
E só fala em obra quando tem Olimpíada, copa ou eleição.

E o povão continua manso como rebanho de cabras...

Ale postou 6 de abril de 2010 às 06:42

Excelente texto! Adoro o Rio mas uma coisa eu posso dizer como morador da cidade: o povo elege cada criatura e cada dia que passa o caos vai tomando conta da cidade!

Unknown postou 6 de abril de 2010 às 08:51

As obras para a olimpíada deverão amenizar o caos do RJ. Mas enquanto houver a roubalheira, desvio de verbas, superfaturamento de obras comuns à cidade "pseudo" maravilhosa, prefiro concordar inteiramente com o autor do post! Parabéns pelas palavras realistas! E ainda querem os bilhões do pré-sal que nem existem ainda!

Unknown postou 6 de abril de 2010 às 08:51

Aqui na minha cidade Natal RN, também não é diferente;choveu, parou tudo. Acabou a chuva (coisa óbvia) acabou-se a reclamação, protesto... Prefeito vai e vem, faz campanha e todo blábláblá de sempre e absolutamente NADA acontece. O povo tem o político que merece, a sujeira que entope o bueiro da própria rua que merece. Talvez esse post fique politicamente correto demais pra um caos politicamente favorável aos nossos representantes que invadem a mídia e simplesmente dizem que ''fiquemos em casa até a água baixar'' e assim contar com o INPE pra dar a boa notícia que ''a chuva já já vai passar''.

SukaTsu postou 6 de abril de 2010 às 09:14

Se você estivesse num reality show qualquer, seria tachado de grosso e mal-educado.
Eu prefiro te elogiar porque você é contundente.
Não li um texto seu em que não colocasse o dedo na ferida, sem anestésico.
Em tempos colloridos diria que você diz a verdade "duela a quien duela", sem medo e sem exageros.
Enfim, a culpa é coletiva.
O que estamos vendo é o resultado de "trabalhos de casa" não realizados.
O governador não tomou as providências cabíveis, o prefeito não fez as obras que deveria ter feito, o povo colaborou mantendo as vias públicas sujas e os bueiros entupidos e a natureza está dando o troco em todo mundo de uma só vez.
Aliás, a mãe natureza esse ano está impossível: está devolvendo com juros e correção monetária todas as agressões que vem sofrendo anos a fio pelo homem.
Mas a tarefa de casa mais mal-feita infelizmente continua sendo feita pelo eleitor na hora de escolher nossos governantes. E enquanto essa lição não for bem aprendida e melhor executada estaremos expostos a todo tipo de calamidade possível e imaginável...

Susyanne Oliveira postou 6 de abril de 2010 às 11:30

É isso Marcos Vinicius.
Eu imagino a cara das pessoas do tal comitê que elegeram essa cidade para ser sede das olimpiadas.
Se nada de muito urgente for feito, não sei não.
Esses governantes não são fáceis.

Abraço

gabriella postou 6 de abril de 2010 às 12:22

Ahhh, mas isso "precisa" acontecer de vez em quando mesmo...é apenas mais uma alternativa de desvio do dinheiro publico.Ora, se não fosse assim, não haveria abertura de créditos adicionais nem a instituição de empréstimos compulsórios.Tem que ter uma calamidade pública pra mudar um pouco o disco.Deixa eles roubarem em paz...

 
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