Não existe partido de direita no Brasil

Postado em 26 de abr. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Direita x Esquerda: velha e interminável disputa.

Historicamente esses termos surgiram durante a Revolução Francesa. O chamado "Terceiro Estado", alta e média burguesia e setores mais "populares", sentava-se à esquerda do rei, enquanto os aristocratas e o clero sentavam-se à direita.

Somente após a revolução e a queda da monarquia é que essa divisão passou a ser usada para separar girondinos (a burguesia, temerosa de uma radicalização da revolução) e jacobinos (que desejavam esse aprofundamento revolucionário).

Talvez essa filigrana histórica sirva para explicar o porque da minha opinião sobre não existir partidos de direita no Brasil. No final das contas são todos esquerdistas que temem quase como um xingamento a palavra "direita". Fazendo o papel da derrotada "monarquia" francesa, podemos perfeitamente encaixar a ditadura militar, aquele indesejável e longo período de estagnação política e intelectual.

Carlos Lacerda talvez tenha sido o último grande político a representar a tal "direita" na forma como vemos em vários países europeus e nos EUA.

Após a queda da ditadura e a ascensão da "Nova República", todo mundo no Brasil virou "de esquerda" ou como eles adoram dizer "progressistas". Não temos em nosso amplo leque partidário nada parecido com a divisão Democratas x Republicanos, Trabalhistas x Conservadores, Democratas-Cristãos x Sociais-Democratas.

Isso é estimulado pela postura de nossa mídia, que se arvora em satanizar qualquer proposta política que ouse chegar sequer nas cercanias do outro lado do corredor. Ninguém quer ser associado ao que é quase um palavrão, uma ofensa, "direitista!".

E devido a esta excrescência, o que sobra como "direita" no Brasil são políticos corruptos que abraçam um falso conservadorismo, com viés mais de "moral e bons costumes" e religioso ou então o "rouba mas faz".

Nada que chegue perto do que realmente representa a direita mundo afora, que é a defesa do estado não mínimo, mas concessor e fiscalizador, das liberdades individuais, do mérito, do anti-peleguismo, de um governo voltado para o cidadão médio e não para essa "sindicatocracia" da qual a esquerda se utiliza para criar novas elites e aparelhar o poder público.

No Brasil isso se manifesta na postura coitadista de todas as esferas de governo, na tolerância com o informal, com a desordem. O melhor exemplo é o Rio de Janeiro, desde sempre afeito às "esquerdas" e governado por suas mais diversas matizes. Uma cidade favelizada, tomada pelo informal e pelas pragas urbanas, porque desde sempre satanizou a remoção de favelas, o combate à camelotagem, a aplicação mínima das posturas municipais.

Remover favelas, combater vans e camelôs é "lacerdismo", é coisa de "direita". Vive-se então com o caos e o desconforto de uma das cidades mais problemáticas do país. Esquecem que o tal "lacerdismo" evitou que a Lagoa hoje fosse tomada por favelas em seu entorno e construiu o sistema que até hoje, sem quase ampliação alguma, leva a água potável que chega às torneiras de todos os cariocas.

A eleição presidencial deste ano é outra prova disso. Teremos três representantes da esquerda concorrendo à presidência. Uma, ex-petista com forte apelo à ecologia, ao combate contra o aquecimento global, defensora de políticas que qualquer membro do Partido Democrata americano defenderia.

Outra, uma ex-terrorista de esquerda, concorrendo por um partido que aparelhou o estado, ampliou o famigerado e coitadista sistema de cotas raciais, que defende o mais espúrio controle da imprensa, a baderna no campo do MST, o onguismo, o pobrismo, a "sindicatocracia".

E o terceiro candidato um homem que foi exilado político, presidente da UNE, membro de um partido formado pela ala mais "progressista" que existia no PMDB. Um partido que defende também políticas que estão longe de um direitismo clássico, diferindo do PT apenas na condução responsável do estado e das políticas economica, social e de infra-estrutura.

Por isso eu digo: não existe direita no Brasil.

Não existe quem represente pelo menos 1/3 do eleitorado brasileiro, que erroneamente dizem ser "anti-PT", mas que na verdade é "anti-esquerda" e vaga por aí, de eleição em eleição, à procura de quem mais se aproxime da postura que acredita ser a melhor para sua cidade, seu estado e para o país.

É um contingente razoável de pessoas que, qualquer dia desses, acaba fundando o MSP: Movimento dos Sem Partido.

8 Comentários:

Unknown postou 26 de abril de 2010 às 08:50

Um texo lúcido como há muito não se via. De fato. onde está a tão propalada e perigosa direita? Não existe!

Sandro Vaia postou 26 de abril de 2010 às 10:36

Num país com um mínimo de civilidade política haveria espaço para partidos
liberal-democráticos que não temessem ser chamados de "direita".Evitaríamos assim aberrações conceituais como por exemplo um tipo como o deputado dr.Rosinha,do PT, dizendo no twitter que na questão do Mercosul Serra está "à direita de FHC". Esse tipo de estupidez política cria o maniqueismo analfabeto entre estereótipos de uma "esquerda" que representa todos os matizes da bondade humana e uma "direita" que personifica o atraso,o reacionarismo e a maldade.
Por isso,a sua análise é extremamente oportuna e lúcida.Afinal,entre Chavez e Berlusconi,é preciso que haja espaço para o equilíbrio da racionalidade política.

Anônimo postou 26 de abril de 2010 às 10:44

O Brasil é um país cuja maior parte da população é uma massa essencialmente direitista, sem nenhuma representação político-partidária. Trata-se de uma maioria varrida para baixo do tapete pelas minorias acéfalas militantes. E se são acéfalas, só podem ser de esquerda.

Paulo Roberto postou 26 de abril de 2010 às 10:44

Quem escreveu o texto??
Reinaldo Azevedo??

mvsmotta postou 26 de abril de 2010 às 10:47

Paulo,

Não sei se intencionalmente ou sem querer, mas você acabou de me elogiar.

Um abraço,

Marcus

Marise postou 26 de abril de 2010 às 12:22

O que eu posso dizer diante deste texto, que antes de qualquer coisa é bastante didático, para aqueles que não "entendem " esta visão dicotômica.
Cresci escutando, vivenciando e a exemplo dos meus pais, admirando Carlos Lacerda.
Calma! Eu era bem criancinha e claro bastante influenciada pelos meus pais.Mas não posso negar que quando consegui entender alguma coisinha, simplesmente adorava ouvi-lo discursar, com o dom da oratória que poucos tiveram e tem.( Justiça seja feita: Leonel Brizola também fazia das palvras o seu brinquedo).
Para não ficar muito extenso, só posso concordar com este trecho:"Esquecem que o tal "lacerdismo" evitou que a Lagoa hoje fosse tomada por favelas em seu entorno e construiu o sistema que até hoje, sem quase ampliação alguma, leva a água potável chega às torneiras de todos os cariocas."
Vivenciei esta obra, as inúmeras escolas, os viadutos sendo construídos e os projetos das linhas amarela, vermelha e demais cores..rsrsr no Governo Carlos Lacerda.
Nas mãos dele o caos não teria tomado conta da nossa cidade,. Creiam!

PoliPosition postou 26 de abril de 2010 às 13:28

Só pra lembrar: o partido considerado da "direita" no Brasil é o Partido da Social Democracia Brasileira, com assento na Internacional Socialista e seu candidato a presidente é da ala socialista. Lembrando ainda que o presidente da FIESP, é candidato ao governo de SP pelo partido SOCIALISTA. Pode?

Augusto postou 26 de abril de 2010 às 19:49

Fato é que, a população brasileira tende mais à esquerda. O Brasil é um país que não comporta 2 partidos de Direita, mal 1. O PSDB surge na tentativa de se copiar a centro-esquerda européia, mas falha e vira um partido que representa sim uma classe acuada que seria a classe média alta para cima. O DEM talvez absorva melhor o ideal da direita, propriedade privada, meritocracia, livre iniciativa, mas tromba na questão que sua representatividade só atinge setores conservadores e atrasados da sociedade, coronéis populistas, latifundiarios criminosos e outras setores pouco louvaveis. O PT não é um partido de esquerda classica, é centro-esquerda e uma de suas maiores vantagens é justamente essa, não fica no debate atrasado de certas esquerdas que ainda levantam a bandeira stalinista, maoista e afins. O PT é um partido da ideologia imediata, está ao lado de onde as demandas populares estão ora isso será mais a esquerda ora a centro-esquerda. O melhor a se fazer seria fundir PSDB e DEM já que esses dois principalmente caminham para o ostracismo ainda mais depois de tantos escandalos de corrupção figuram em segundo e terceiro perdendo apenas para o PMDB como partidos com mais escandalos de corrupção. Se a direita não se organiza não pode reclamar da esquerda bem mais organizada e com militância bem mais competente que esses cansados que figuram marchas Fora Lula na Av. Paulista desfilando figurinos da moda. Ta na hora da Direita de organizar e parar de coitadismo de que a esquerda é culpada da diminuta representatividade da direita.

 
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