O que dizer quando não se tem do que falar

Postado em 13 de abr. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Até alguém como eu, que consegue com relativa facilidade escrever todo santo dia, enfrenta essas secas de idéias de vez em quando.

Tentando resolver o problema, primeiro o pobre coitado abre todos os jornais que recebe em busca de algo que salte aos olhos, mas fica difícil escolher entre mais um escândalo político, mais um bandido posto nas ruas por algum juiz, mais um famoso casando/separando/pagando mico, mais algum gol ilegal do Flamengo validado ou o mais novo "projeto" da Preta Gil.

Falar sobre a inexistência de uma divisão direita/esquerda na política brasileira também é impossível, já que o assunto demanda a criatividade de alguém que consegue vender Amway e ser pastor da Igreja Universal ao mesmo tempo, caso contrário o leitor dorme no meio.

Saio às pressas em busca da primeira banca de jornal e compro um JB. Leio na manchete que o Rio de Janeiro ganhou 279 favelas com César Maia na prefeitura.

Alguns momentos de silêncio não são suficientes para entender porque isso só é noticiado agora, já que "César Maia" pra mim (e já faz tempo isso) é um nome que pode ser usado facilmente pra definir o conjunto de pragas que infernizam a cidade, como favelas, camelôs, flanelinhas, entregadores de panfletos e vereadores.

Ao invés de dizer que o Rio sofre com "favelas, camelôs, flanelinhas, entregadores de panfletos e vereadores" é mais fácil falar "O Rio não aguenta mais esse monte de César Maia".

Desisti das "velhas mídias" e fui pesquisar na blogosfera, quem sabe não encontraria ali algum assunto para reciclar e apresentar como meu. Rodei quase todos os sites que consegui lembrar (menos o Kibeloco, porque aí já seria re-re-reciclagem) e descobri que se criação de listas de "10 mais" e afins for incluído pela igreja como o oitavo pecado capital, 90% dos blogueiros vão estudar mídias sociais no inferno.

O Twitter não ajuda muito. Quem lê um pouco do que se passa por lá atualmente só vai conseguir comentar algo sobre o paredão estilo BBB que acontece entre Serra e Dilma (com o Lula querendo fazer o papel de Bial e público ao mesmo tempo) e aqueles formulários de perguntas e respostas de adolescentes, dizendo qual dos irmãos Jonas eles seriam ou se paquerar o primo na Missa de domingo é "feio".

Um assunto que talvez rendesse "pano pra manga" seria a polêmica envolvendo as tais pulseirinhas do sexo. Mas não me animo, juro. Sou da época em que pra fazer sexo precisávamos conhecer, beijar, conseguir encostar a mão em algum lugar "proibido" e aí sim, naturalmente, o sexo acontecia.

Esse negócio de perseguir meninas, arrancar uma pulseira de determinada cor para que ela seja "obrigada" a fazer o que a tal cor determina (preto é sexo, vermelho é beijo, rosa seria fazer um passo de dança do Rick Martin) pode até facilitar a vida dessa geração que parece ter nascido com um lado do cérebro faltando, mas não passa de uma brincadeira de salada mista que foi longe demais.

E enquanto peno para encontrar mais algumas frases, entra uma pessoa na minha sala perguntando como pode dizer que deseja "aproveitar uma oportunidade" numa carta para um cliente. Minha falta de idéias impediu até que eu desse a resposta cretina que com certeza daria em outro dia qualquer.

Um grande mestre já disse que todo escritor possui uns cinco ou seis assuntos recorrentes que utiliza sempre que lhe dá um branco, mas como não me considero um "escritor" e sim um "projeto de escritor", creio que esse contingente fica reduzido a uns dois ou três.

E dentre estes assuntos recorrentes, "não ter assunto" é convocação mais garantida do que a de algum cabeça-de-bagre para a seleção do Dunga. Por isso o assunto hoje foi assunto nenhum, e convenhamos, até que cheguei mais longe do que pensava quando comecei.

4 Comentários:

Eduardo C. postou 13 de abril de 2010 às 11:13

Pra quem não ia dizer nada, até que você disse bastante. Abraçøs

SukaTsu postou 13 de abril de 2010 às 12:34

Até sem assunto definido você consegue fazer render um bom texto.
Você pode não ser um escritor publicado, mas já é, sim, um escritor.
Bjks,
Suka

Susyanne Oliveira postou 13 de abril de 2010 às 12:37

Estou passando por um momento semelhante no trabalho.
Não consigo ter ideias e o pior é q cometo erros de vez em quando.
Espero que passe logo.
Do jeito que estou até escrever nos meus blogs se tornou tarefa dificil.

bj

Fany postou 13 de abril de 2010 às 19:54

Tem que ser muito brilhante pra conseguir se fazer um post desse mesmo quando não há o que postar. Parabéns ^^

 
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