Intensidades diferentes

Postado em 4 de ago. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Em qualquer relacionamento que se preze um sempre gostará mais do outro.

Não existe esse negócio de "balança" no amor. Se houvesse um método para medir a quantidade de sentimento, colocar num aparelho qualquer e depois determinar quantos sentimentrons uma pessoa sente pela outra, creio que não haveria uma quantidade simétrica em nenhum casal do mundo.

E a quantidade não é tudo, existe também a intensidade ou a forma como essa intensidade é demonstrada. Eu sou suspeito, porque sempre fui mais cool nos meus relacionamentos. Emotivo, carinhoso, apaixonado, sim, mas nunca fui intenso, com raríssimas exceções nas quais coloquei meu lado cantor-de-tango para fora. Mas abomino isso, de verdade.

A pessoa que se define como intensa e sente orgulho disso já me faz pensar que apronta barraco em portaria de prédio, que persegue taxi na chuva e que joga pedra em avião. Isso pra dizer o mínimo.

Mas o outro lado também incomoda. Tem quem seja blasé até demais, com aquele sangue frio que só corno de filme americano demonstra. Desses que mantém o maldito controle em qualquer situação. A mulher vira pro marido durante um almoço e diz "vamos ter nosso primeiro filho!" e a resposta dele é "pode me passar o sal?".

Ou então o casal faz um sexo selvagem, daqueles que o cara considera o melhor que já teve incluindo umas duas encarnações passadas e a Playboy da Claudia Egito, olha compenetrado pra ela e diz "eu te amo" e ela responde "Uhuuumm". Porra, "Uhum"?

Se bem de que "eu te amo" é aquele tipo de frase que merecia um tratamento semelhante à convite da maçonaria. Eu explico pra quem não entendeu a comparação: um maçon só vira maçon a convite de outro maçon, que o chama para se candidatar a participar. Mas para que a coisa não fique constrangedora e o cara seja convidado antes de ser "aprovado" pela loja maçônica, eles só fazem o "convite" quando já sabem que a pessoa será aprovada.

O "eu te amo" deveria ser tratado do mesmo jeito. A pessoa só deve dizer isso quando tiver a mínima idéia de que a outra vai responder com, pelo menos, um "eu também". Tanto por amor próprio, evitando assim ouvir algo como um um "porque?" quanto por consideração ao outro, que pode realmente não saber o que dizer.

Porque convenhamos, o outro lado dessa história também é terrível: você está assistindo um Palmeiras x Flamengo no Maracanã, com aquela gatinha com quem sai há 3 semanas. Estão naquela fase que ainda não é namoooooro mas já é um namoro. Seu time faz um gol, você comemora, bebe um gole de cerveja e pensa "tomara que ela esteja no clima de ir pro motel depois, porque quero tentar aquela posição que eu vi no Kama Sutra dos Super Heróis", ou seja, está pensando em sacanagem, aí ela vira pra você e diz "eu te amo".

Qual seria a resposta possível? Tipo, você gosta dela, você até acha que possa vir a amá-la, mas isso não vai acontecer em três semanas e 90 minutos de jogo, qual a resposta possível? "Mas já!?" ? Olha a situação que você colocou alguém. Talvez ele só tenha mesmo um "uhum" como resposta, porque não se responde uma declaração dessas como se fosse um "disponha" quando alguém te agradece.

"Eu te amo" não é um ato de cortesia.

E isso vale para tudo, para a frequência dos encontros, dos telefonemas, para o local dos beijos. Porque a média não é possível de ser encontrada nos hipotéticos sentímetrons, mas é facilmente atingida em ações que busquem um equilíbrio.

Imagina você no trabalho, o telefone toca e é a sua nova namorada. Ela pergunta "e aí? tudo bem?" e você responde "Tudo bem nos últimos 10 minutos em que não nos falamos...", ou então você está no cinema, doida pra ver o último filme do Woody Allen e ele quer ficar ali brincando de desentupidor de pia como se vocês tivessem 15 anos. A moça tenta ser educada e diz "vamos ver o filme, lindinho" e ele, irritadíssimo, pergunta "o que foi? prefere o Woody do que eu? você não me ama?". Ela vai dizer o que? "Sim, prefiro e não, desse jeito nunca vou te amar"?

Como podem ver, é tudo uma questão de intensidade, e de levar a garota pra dar uns amassos no cinema durante uma sessão de Transformers.

11 Comentários:

Flah Queiroz postou 4 de agosto de 2010 às 09:37

As coisas ficam bem mais fáceis quando a gente passa a ignorar balanças e medidas, e apenas ama. [Poético, né?]

Bom texto!

;)

Grace Kelly Cano postou 4 de agosto de 2010 às 09:44

"Se bem de que "eu te amo" é aquele tipo de frase que merecia um tratamento semelhante à convite da maçonaria."
..hehehe....adorei e acho uma proposta muito válida!
Texto coeso, tudo o que é demais faz mal...o de menos também, equilíbrio é sempre uma boa saída!

Carolina Pinheiro postou 4 de agosto de 2010 às 10:20

Tenho uma dificuldade enorme de dizer "eu te amo", e as vezes que eu disse não me dei muito bem, optei por ser mais fechada, mas isso tbm não é legal, é preciso demonstrar sentimentos. Muito bom texto =)

Fabiana Farias postou 4 de agosto de 2010 às 12:14

É um bom ponte de vista masculino sobre uma questão universal: os relacionamentos.

Tuka Siqueira postou 4 de agosto de 2010 às 21:03

Já dizia Humberto Gessinger "a medida de amar é amar sem medidas"

mvsmotta postou 4 de agosto de 2010 às 22:49

O Gessinger é meio "cantor de tango". Rsrsrs

Beijos!

Tuka Siqueira postou 4 de agosto de 2010 às 23:28

Tango combina bem comigo, sou passional e "intensa" (mas juro que não sou barraqueira!). Pra mim é muito difícil simplesmente deixar rolar pois crio muitas expectativas. Mas eu me controlo. Ou tento.
Adoro teus textos e teu ponto de vista.
Beijos

Anônimo postou 5 de agosto de 2010 às 03:47

Ouvir 'eu te amo' e perguntar 'porquê?' é a minha cara =s

Ju Whately postou 5 de agosto de 2010 às 11:12

Adorei!!!

E, assim como o "preconceito", o "eu te amo" tb já está banalizado. Uma pena...

Dryca Lys postou 5 de agosto de 2010 às 12:00

Infelizmente o preconceito esta arraigado dentro das pessoas. Será que é tão díficl tratar os outros como gostariamos de ser tratados.
Acho que não.
See ya.
Aparece nos meus blogs. :)

merry postou 6 de agosto de 2010 às 09:54

Acho muito estranho esse negócio de quem gosta mais ou menos.
Cada um gosta de um jeito e o lance do "eu te amo" tem que ser num momento do relacionamento em que se sente mesmo isso, como disse a Jubarulho, o eu te amo anda mesmo banalizado.
Antes não se ouvia o amigo(a) dizer e agora tem até comunidades "Amigos também dizem eu te amo", ahhh precisa disso?!??

 
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