Niterói: uma cidade em decomposição

Postado em 24 de ago. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Sou da época em que Niterói era considerada nada mais do que um dormitório do Rio de Janeiro, uma cidade patinho feio, bem ali ao lado da "Cidade Maravilhosa", meio esquecida, desprezada.

Mas o tempo passou e ela mostrou que poderia ser um bom lugar para viver. Foi embelezada, melhorou sua infra-estrutura e finalmente foi coroada como uma das 4 melhores cidades do Brasil, isso já na década de 1990.

Suas praias e sua gente bonita contribuíram para isso, mas infelizmente a cidade chega em 2010 longe de ser o paraíso que foi vendido pela propaganda oficial.

A Niterói de hoje definitivamente não é a mesma cidade aprazível do final século passado. Além do MAC (Museu de Arte Contemporânea), belíssima e exemplar obra de Oscar Niemeyer, tambem foi erguido ali um verdadeiro mar de prédios. Em Icaraí e Santa Rosa (zona nobre da cidade) então a coisa é ainda mais assustadora.

Cada pequena casa antiga ou vila deu lugar a prédios de 50, 100 e até 200 unidades habitacionais, como muito bem mostra o vídeo filmado e editado pelo niteroiense Pedro de Luna, disponível no You Tube. Onde antes viviam duas, três, quatro famílias, agora passaram a viver centenas. Empresas do ramo imobiliário e o poder público, patrocinadores de toda esta verticalização predatória, pouco ligam para as consequências que a população enfrenta.

Ações na justiça já tentaram impedir novas construções, mas a própria prefeitura contestou-as alegando queda na arrecadação caso os espigões parem de subir e, pasmem, um cidadão que nada mais é do que membro da diretoria da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário de Niterói foi nomeado pelo prefeito para a Coordenadoria de Planejamento Urbano, o que entregou as decisões sobre onde pode construir ou quem vai fiscalizar a especulação ao próprio setor imobiliário, maior beneficiário desta prática.

E enquanto a qualidade de vida na cidade é destroçada pelo inchaço populacional, as imobiliárias comemoram.

"Niterói é vitrine imobiliária do país!", comemora o site da Patrimóvel. Só esquece de avisar aos incautos dos problemas que ocorrem por trás da tal "vitrine". E não falo aqui de desabamentos no Morro do Bumba ou do caos em que a cidade se torna em caso de uma chuva mais forte, estou falando de coisas menos emergenciais, porém não menos urgentes, como o direito de ir e vir, transportes coletivos decentes, preservação do meio ambiente.

Numa cidade que não tem nem de longe a excelência na prestação de serviços que outras grandes cidades possuem - ainda lembro da "bronca" que levei do atendente de uma pizzaria em Niterói porque tentava pedir uma pizza pelo telefone às 15:00 e, segundo ele, "aquilo não é hora de comer pizza, pizza é só depois das 17:00" - e no entanto possui engarrafamentos de níveis paulistanos.

Seja sábado, domingo, de dia, de noite, a hora que for, o trânsito em Niterói é caótico, engarrafado, insuportável, agressivo. O calor também aumentou, com a cidade figurando diversas vezes nas temperaturas máximas do Grande Rio. Os serviços pioraram, estacionar é um inferno, o asfaltamento vive com problemas, a poluição das águas é uma ameaça real.

E nada é feito. Os prédios continuam a subir e a prefeitura ainda acredita que colocando canteiros de flores, pintando faixas de pedestres e fazendo marketing conseguirá tapar o sol com a peneira. Ledo engano. Só o que tapa o sol ali é a sombra dos prédios que colocam a cidade a perder para sempre, porque não se enganem: a degradação é permanente, irreversível.

Tudo isso transforma Niterói em pura propaganda enganosa, numa cidade vendida pelos seus governantes como se ainda fosse uma das melhores do Brasil para se viver, mas que no entanto se torna cada vez mais apenas uma foto desbotada daquilo que foi brevemente um dia.

Uma mera foto em decomposição.

2 Comentários:

Isabel postou 24 de agosto de 2010 às 12:02

Pois é, vc disse tudo. E situações caóticas como a que se viu recentemente nas barcas também são fruto dessa especulação imobiliária, já que a população aumenta mas a infraestrutura permanece a mesma (claro que não tiro a parcela de culpa das Barcas SA). Uma cidade sem metrô e com ruas apertadas vê crescer prédios e mais prédios em áreas já saturadas, e o pior é que a população continua idolatrando o principal responsável pela degradação de Niterói, que é o pilantra do Jorge Roberto Silveira. Uma pena que quando perceberem o erro, não tenha mais solução. Ou até tenha: se mudar.
Beijos

Anônimo postou 26 de agosto de 2010 às 14:32

Po cara! 15:00 horas é hora de comer pizza?
rs

 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo