A Síndrome da Criatura

Postado em 17 de ago. de 2010 / Por Marcus Vinicius

É um direito legítimo de um governante buscar sua reeleição. Sempre que a lei assim permitir e respeitados os limites da convivência democrática, a busca da manutenção de um projeto político - se for aliado a um projeto de país então é melhor ainda - não se configura em tendência autoritária e muito menos em salto rumo ao fracasso.

Mas é preciso, antes de tudo, que o tal governante saiba o que fazer com o poder em mãos, é preciso ter um plano. "Permanecer na cadeira" não é um plano. "Não mexer em time que está ganhando" também não é um plano. O passado serve como guia do futuro, mas não se pavimenta um metro de estrada com o asfalto que já foi derramado.

Essa situação passou a ser muito comum no Brasil após o advento da reeleição. O governante passa o primeiro mandato potencializando suas conquistas e dourando a pílula de seus fracassos, tudo na intenção de conseguir os desejados "mais quatro anos". Depois que consegue, vem o desastre. Não existe mais aquele grande prêmio ali adiante, já que uma terceira eleição consecutiva é vedada por lei, então ele simplesmente passa os dias esperando a morte chegar, realizando um governo de qualidade bem inferior ao que realizou anteriormente.

Mas existem os que governam razoavelmente bem em ambos os mandatos e ainda aqueles que precisam sair do cargo para disputas maiores antes do tempo - caso de prefeitos que concorrem ao governo e governadores que concorrem à presidência - deixando ali seu lugar-tenente.

Nesse caso as situações são bem parecidas: eles precisam garantir ao eleitorado que aquele substituto na verdade é uma imagem refletida deles mesmos. Eles precisam garantir a tão conhecida "transferência de votos" e transformar o que muitas vezes não passa de um estafermo em seu herdeiro político. E aí o potencial para desastres aumenta exponencialmente.

Isso acontece porque ainda que seja possível criar uma imagem à semelhança de um criador, o normal é que a criatura seja sempre inferior. Existem exceções, é claro, mas como o próprio nome já diz, não é o devemos esperar.

O que podemos esperar é que a incompetência e a indecisão naturais do títere façam ruir até mesmo a popularidade antes inabalável do titereiro, ou então que a criatura se rebele, corte as cordas e inicie uma luta fratricida no seio daquele grupo político

Não faltam exemplos - tanto da incompetência quanto da traição das criaturas - na política nacional e internacional.

Celso Pitta terminando de destroçar o nome já não menos destroçado de Maluf é um bom exemplo. Rosinha rebaixando Anthony Garotinho dos 15% de votos numa eleição presidencial em 2002 de volta para ser apenas um cacique regional de Campos (RJ) é outro. Cristina Kirchner abalando a popularidade do seu marido Néstor (que chegou a perder uma eleição na província de Buenos Aires para um empresário colombiano naturalizado chamado Francisco de Narváez) é um caso bem significativo. César Maia elegendo Luiz Paulo Conde prefeito do Rio de Janeiro e logo depois o grupo político de ambos rachando ao meio é outro exemplo clássico.

Tudo isso serve para provar que uma das maiores ruínas de um político é sua vaidade. A sensação de poder enfeitiça qualquer um, a saída deste mesmo poder pode ser traumática - dizem que na porta dos "ex" a grama cresce alta devido a falta de visitantes - e a tentação de manter este poder é imensa. Alguns tentam subverter as regras da democracia - como faz Hugo Chávez na Venezuela - outros procuram se manter no poder através dessas criaturas eleitorais,como faz agora Lula no Brasil.

E muitas vezes a falta de preparo, a falta de liderança e até mesmo a fadiga de material que qualquer grupo político sofre em anos de poder transforma essa experiência em desastre.

Isso quer dizer que pretendo fazer terrorismo eleitoral ou então que torço pelo fracasso de um eventual terceiro governo petista? Não, não mesmo. Isso quer dizer apenas que o mesmo passado que empurra alguns políticos a fazer campanha com os olhos no retrovisor, pretendendo "garantir a continuidade", também serve de advertência para o fato de que "continuidade" não é nada sem um plano e sem qualidade.

É preciso estar sempre atento à Síndrome da Criatura.

6 Comentários:

Anônimo postou 17 de agosto de 2010 às 07:59

Cara, de fato estas com a razão! Parabéns pelo texto, tipo, direto no reto rsrsrs

lully1970 postou 17 de agosto de 2010 às 08:30

adorei... concordo inteiramente com vc... ninguém em sã cosciência espera ou torce por governos medíocres só para ver o "circo pegar fogo". afinal, esse "circo" é o nosso país... se está como está , é por falta de consciência de nós do povo.

e quem ,porventura, torce para o brasil dar errado... por favor , a porta da rua é serventia da casa... vai morar nos quintos dos infernos...

Anônimo postou 17 de agosto de 2010 às 08:48

É uma espécie de "regra" eleitoral, achar que os eleitores são tão burros ao ponto de achar que continuísmo e continuidade são as mesmas coisas...Continuar com a bunda sentada na mesma cadeira não significa dar continuidade à nada do que tenha feito antes.

Anna Clara postou 17 de agosto de 2010 às 08:53

Bombou como sempre.Adorei.
Campanha pipocando ai no Brasil???
Rsrs...haja saco,hein?...
Bjks!

Ruth Steinas postou 17 de agosto de 2010 às 09:28

Pois é... hoje os políticos vivem e se alimentam de suas vaidades. Eles não querem melhorar o país, mas sim querem chegar ao poder, ao topo, e para isso vale tudo como abusar da ignorância do povo, comprar votos, promessas sem sentido... e o pior é que hoje em dia até plástica ajuda nessa corrida. Prova de que estão mais interessados em si mesmos do que no nosso país. O importante, para eles, é sentar na cadeira e não visualizar o futuro.

Beijo,

Kilson postou 17 de agosto de 2010 às 15:03

De uma coisa ninguém pode reclamar - Lula disse que acabaria co o desemprego...e acabou!



Com o DESEMPREGO DELE!!!

Parabéns pelo texto!

Abraços

 
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