O Brasil é um país paralelo

Postado em 16 de set. de 2009 / Por Marcus Vinicius

O brasileiro tem em si a mania da cópia.

Não tanto quanto os chineses, que copiam produtos do mundo inteiro para vender mais barato ou os paraguaios que vendem tudo igual ao original, pero no mucho.

Nossas cópias são menos tecnológicas e mais psicológicas. Adoramos uma versão brasileira de tudo.

A Legião Urbana é até hoje aclamada por muitos como "Os Smiths brasileiros", Roberto Carlos é nossa versão cambeta e brega do Elvis, o Jô Soares é o David Letterman cover. Arnaldo Baptista é o nosso Syd Barrett, São Paulo nossa Nova Iorque, Xuxa é a nossa Xuxa mesmo e por aí vai.

Poderia passar o dia aqui citando todas as versões brasileiras que existem pra quase tudo, mas elas são apenas o sintoma desse mal que nos aflige: parece que não nos bastamos.

A nova obsessão por aqui é encontrar aquele que seria o "Obama brasileiro". Já tentaram que fosse a Marina Silva, ainda tentarão com outros até a eleição. Parece uma necessidade de criar uma dimensão paralela aonde tudo tem que levar um carimbo verde e amarelo, pendurar um abacaxi na cabeça e copiar o que já existe.

O que falta realmente é um Brasil do Brasil. Acho que tirando o Chacrinha e as jabuticabas, pouca cousa que já fizemos por aqui não é uma cópia de algo que venha de fora.

Nada contra imitar quem é bem sucedido, não me entendam mal! Prefiro 200 cópias nacionais dos Smiths do que uma Tati Quebra-Barraco original.

Mas vejam vocês que estamos pleiteando a organização de uma Olimpíada no Rio de Janeiro em 2016. O Rio e o Brasil tem problemas e pragas urbanas de fazerem inveja a Calcutá, mas a maior preocupação dos nossos governantes é "impressionar as delegações estrangeiras".

Dão a entender que precisamos urgentemente fazer uma Londres brasileira no Rio de Janeiro para receber os gringos, ou uma Miami brasileira(se bem de que essa já tem uma, na Barra), uma Tokio brasileira, uma Viena brasileira.

Os serviços de transporte, a pavimentação das ruas, o mobiliário urbano, o cuidado com as praças e demais espaços públicos, tudo terá que ser melhorado às pressas para receber os visitantes.

Percebem aí a ironia da coisa? Nós, que moramos aqui, que bancamos a festa toda, nós, os brasileiros brasileiros, podemos conviver com qualquer coisa. Ônibus caindo aos pedaços, trânsito caótico, vans, flanelinhas, ruas esburacadas, praças mal cuidadas.

O Brasil brasileiro feito pro brasileiro brasileiro é totalmente do "Paraguai". O Brasil bom, aquele Brasil feito pros visitantes, este é literalmente pra inglês ver, o brasileiro brasileiro só comparece com o seu dinheiro pra financia-lo.

E aí ao brasileiro brasileiro só resta torcer para que algo mais do que maquiagem que se vai com a primeira chuva do verão sobre para ele do que for feito. Que não somente joguem perfume em rios poluidos, recolham mendigos e escondam embaixo do tapete, pintem barracos de favela com cal, façam um rodízio de automóveis pro trânsito não incomodar a ilustre população flutuante dos Jogos Olímpicos.

Esperemos que o brasileiro brasileiro mereça também um pouco de "mimo" e que não roubem até as lâmpadas dos estádios e arenas ao final das competições.

Senão, assim que acaba a festa do Brasil dos visitantes, sobra pro cidadão o Brasil brasileiro de sempre, e voltam os mendigos, o lixo, as vans, o caos, enfim, tudo aquilo que o governo brasileiro acha que o brasileiro brasileiro merece, mas o estrangeiro não.

5 Comentários:

Anônimo postou 17 de setembro de 2009 às 10:13

Essa é a parte aguda da maquiagem pra inglês ver. Vale lembrar a parte crônica: forró falso imitando cabaré estrangeiro, sertanejo imitando country americano, funk sãopaulonovayorkino funkando a gente - pra falar dos que dão logo ânsia de vômito. http://robertocarloscosta.worpress.com

Cristiane Larsen Rocha postou 17 de setembro de 2009 às 10:31

Puxa, isso me aflige tanto... As crianças da Candelária não tiveram tanto destaque quanto os gringos...

Somos ainda uma provincia...

Compramos bugigangas todos os dias, só pra ficarmos com os artistas... Pra que? Em favor de quem o consumo desenfreado?

E a educação nas escolas públicas? Por que nossas crianças e adultos precisam ser incosciêntes?

As máquinas podem muito bem substituir o trabalho humano mais pesado, por que então ainda pessoas são escravizadas pelo sistema financeiro?????

Só Freud explicar essa necessidade que alguns homens possuem, em perpetuar a insanidade da realização material. A religião universalista diz que essa atitude trouxe para o mundo três grandes males: DOENÇA, MISÉRIA e CONFLITO.

Não sei como poderemos resolver isso, mas como você citou o Chacrinha, citarei uma frase que meu avô, que hoje teria 135 anos, sempre dizia: "Quem não se comunica se 'estrumbica'"

Renato Rostás postou 17 de setembro de 2009 às 13:42

Estava com muita vontade de escrever um comentário, daqueles bem comentados, mas digo só uma coisa, "O mundo acabou. Só, ainda, não deu pauta no Jornal Nacional."

Rafaela Cotta postou 17 de setembro de 2009 às 13:48

Brasil está parecendo com Cuba. Os brasileiros se ferram, e só quem tem luxo são os visitantes os turistas. Isso não passa de uma máscara vergonhosa... Ao invés do governantes se preocuparem com a sua população, querem se exibir pros outros. Com o dinheiro que eles ganham de impostos é fácil.

Parabéns pelo post! Bjs.

Babi postou 17 de setembro de 2009 às 15:35

Nosso problema é que ainda temos aquele olhar deslumbrado para tudo o que é estrangeiro. Um dia éramos índios e nos encantaram com espelhos, hoje somos "cosmopolitas" e veneramos qualquer buginganga etiquetada com um Made In USA.
No fim, é isso... E continuaremos maquiando a cidade para prestar toda honrarias aos deuses que chegam do mar...
Patético.

 
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