O Império Americano

Postado em 21 de set. de 2009 / Por Marcus Vinicius

Antes de mais nada aviso que este texto não falará mal dos EUA, pelo contrário, acredito que fale bem, principalmente porque admiro aquela grande nação do norte. Outra coisa é que não tenho pretensão de fazer uma análise historicamente impecável aqui.

Este aviso faz-se necessário porque não quero nenhum mala reclamando que sou um "colonizado puxando o saco dos estadunidenses" ou que esqueci alguma filigrana histórica.

Simpatizo e, repito, admiro os EUA não tanto pelas suas qualidades, que são muitas, mas muito mais pelos defeitos, muitos mais, dos que sempre se opuseram a eles no decorrer da história.

Não pestanejaria um milésimo de segundo se me perguntassem sob qual bandeira eu preferiria viver, se a dos americanos ou a da URSS, Cuba, Coréia do Norte, China, Venezuela, Irã, etc, etc.

Pensei em escrever isto ao assistir o filme "A Onda".

Não vou perder uma linha aqui falando sobre o filme especificamente, porque não é esse o assunto, falarei apenas da cena que me fez pensar tudo isso.

Num determinado momento os jovens que protagonizam o filme, todos alemães morando na Alemanha, organizam uma festa. Pois bem. A tal festa se dava às margens de um lago, numa espécie de "praia".

E o que é retratado nessa festa? Carros com som alto, jovens bebendo cerveja e festejando em torno de uma fogueira, bebedeiras, pegação, rock, tudo que você vê em um desses filmes para adolescentes americanos.

Se o espectador retirasse o som e assim parasse de ouvir o idioma alemão, poderia pensar que era uma cena de "Picardias Estudantis", "Porky's" ou "American Pie".

Porque digo isso? Porque o domínio cultural americano é tão forte e tão implacavelmente exercido, que até as nossas referências são intrinsecamente iguais às deles. Quando pensamos em festa, é nas festas de filmes americanos que pensamos.

Quando pensamos em shows de rock, em clipes musicais, filmes de ação, em tomar um café expresso, ir a uma rede de fast food, matar nossa sede, calçar sapatos, usar camisetas, pense no que quiser e as referências ligadas aos EUA estarão ali.

Longe de mim criticar isto. Estou apenas constatando.

O que me leva a segunda conclusão e razão principal de escrever isto: os EUA conseguiram de forma mais significante e perene, sem usar a força das armas para isso, o que quase todo grande império tentou usando toda a sua força disponível.

Qual o objetivo do conquistador? Impor sua forma de vida sobre o conquistado e transformar a maior vastidão de terras possíveis numa extensão de sua casa (não entro aqui no âmbito econômico da coisa, mas até se pensarmos neste sentido, veremos que eles também são bem sucedidos).

Um bom exemplo foi o Império Romano. Por onde passavam e conquistavam, erguiam foruns, arenas, avenidas, aquedutos e levavam a vida de Roma para aquele povo. A sua forma de vida se impunha. Assim foi com outros impérios, como o Otomano, Persa, etc.

Se olharmos por este lado, veremos que um americano que hoje viaje para o Brasil ou para a Russia, por exemplo, poderá comer no Mc Donald´s, beber café no Starbucks, comer um hot dog, tomar uma Budweiser, comprar um tênis Nike em qualquer grande loja, ler o USA Today do dia, comer um donut, comprar pasta de amendoim no supermercado, assistir os últimos lançamentos de Hollywood, ver seu seriado de TV preferido, se fazer entender através de seu idioma e até mesmo gírias do seu país, ou seja, por onde o americano for, poderá sentir-se em casa.

E tudo isso se deu através da exportação massiva de cultura. Veja, não estou aqui entrando no mérito da cultura ser boa ou má, estou apenas dizendo que através de filmes, música, seriados, enfim, costumes, os americanos conseguiram uma dominação muito mais vasta do que a de qualquer outro país que tenha conquistado terras através das armas e de uma forma muito mais duradoura.

Se o país hoje está em declínio econômico por conta de políticas equivocadas, isto não tem se refletido nesta dominação cultural, o que mostra de forma inequívoca que eles conseguiram algo que é ímpar na história.

Mesmo tendo noção dos problemas que isto causa e mesmo sabendo como brasileiro que poderíamos ter uma cultura menos influenciada por fatores externos, penso ser esta uma forma de "conquista" bem menos nociva e indesejável do que seria caso os comunas tivessem dominado o mundo.

O único ponto positivo seria se os comunas resolvessem socializar de vez e dessem direito a uma russa por cidadão, mas aí quem não ia ficar nada feliz seriam nossas meninas.

Imaginem a confusão que ia ser a gente tendo que aprender russo em cursinhos e andando de Trabant ou Lada por aí.

Sem contar que um Jack Daniel´s puro é bem mais gostoso do que Vodka e nem quero imaginar o que seria da vida sem Milk Shake ou a Kirsten Dunst, não necessariamente nesta ordem.

4 Comentários:

Tereza Geografia postou 21 de setembro de 2009 às 17:40

É a aculturação.

@GuiDietrich postou 21 de setembro de 2009 às 17:54

Muito interessante o texto. Tenho sim minhas críticas, mas acho legal falar disso em um mundo quase todo colonizado pela cultura americana. E nisso me incluo também. Eles nos trouxeram grandes benefícios, diria até pela humanidade. Mas é evidente que muitas vezes se apoiamos em uma cultura vazia, ao qual aprendemos com eles. Mas é logico, que como diz o ditado: NÃO CUSPA NO PRATO QUE JÁ COMEU. A única parte que discordo totalmente é o último paragrafo, mas isso é questão de gosto. Abraço e irei indicar.

Isabel postou 21 de setembro de 2009 às 19:34

Bom texto. Porém, essa aculturação tb é nociva, quando se homogeiniza os povos e suprime algumas particularidades que são ricas histórica e culturalmente. Mas é claro que é bem melhor uma uniformização espontânea do que uma imposta pela força.

Anônimo postou 23 de setembro de 2009 às 09:04

Isso é inevitável. Aconteceu com os EUA, assim como poderá um dia acontecer com outro país.

Este fenômeno também ocorre entre Sul e Norte do Brasil, entre Capital e Interior de um Estado e até mesmo entre diferentes zonas de uma cidade.

É sempre o pobre querendo ser igual ao rico...

 
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