Vote, pague, espere

Postado em 3 de set. de 2009 / Por Marcus Vinicius

"Vote, pague, espere". Estas três palavras bem poderiam estar grafadas no início da nossa Constituição. Elas basicamente definem o que é um "cidadão" na República Federativa do Brasil.

O poder público do nosso país encara o suposto cidadão primeiramente como um voto. Sim, um título de eleitor que tem o seu "direito obrigatório" de ir de 2 em 2 anos às urnas legitimar toda a basculheira que acontece nos mais diversos níveis de poder.

Somos importunados com mais um direito obrigatório: o de aturar propagandas gratuitas na TV. Assistimos um festival de bizarrices, de personagens caricatos, de ladravazes incorrigíveis, todos ali participando deste faz-de-conta democrático.

Faz-de-conta porque, no final, todos são os mesmos. Um que hoje é vereador amanhã será deputado. O Senador será prefeito, o prefeito será governador. É uma dança dos palácios, sempre habitados por gente que se acostumou a viver de sorver o dinheiro suado do cidadão.

Quando não sobra competência nem para serem eleitos pela maioria boçal que troca votos por tijolos, camisetas, latrinas (aliás, voto e latrina tem tudo a ver no Brasil), eles pedem aos que ainda tem voto para lhes arrumar uma boquinha.

E assim la nave va.

O segundo elemento na composição da pseudo-democracia brasileira é o econômico.

Alguém precisa sustentar essa cambada de pesos mortos dos gabinetes, casas legislativas, secretarias, ministérios. É um imenso contingente de inúteis, todos dedicados a sugar o que puderem dos cofres públicos, das formas mais criativas possíveis.

É preciso arranjar um monte de otários que trabalhem 4 meses por ano só para entregar este dinheiro nas mãos da quadrilha instalada da ocasião. Isso mesmo, "doamos" 4 meses de trabalho por ano jogados no lixo pagando impostos.

São verbas de gabinetes, cartões corporativos, assessorias, aspones (assistentes de p*rra nenhuma), amantes, filhos bastardos, viagens ao exterior, cotas de passagens diversas, jantares, convescotes, negociatas, malversações e, é claro, eles ainda precisam fazer um pé de meia para garantir o futuro das gerações vindouras (as de suas famílias, obviamente).

Aí entram os otários, nós.

IPVA, IPTU, IR, PIS, COFINS, ISS, IPI, CIDE e mais quantas letras e siglas você puder imaginar, todas elas muito bem resumidas na expressão: sorvedouro de dinheiro.

O cidadão, seja ele empregado na iniciativa privada, seja ele funcionário público concursado, seja empresário, tem um sócio e tanto pendurado na sua jugular: o "governo".

Entenda-se por "governo" todo o bando de inúteis mencionado acima. Pois é. Ele participa dos seus lucros com voracidade leonina e pouco se lixa para os seus prejuízos, ainda que tenha sido o culpado por muitos deles.

Seu carro bateu num buraco e você ficou sem rodas, pneus e final de semana? Azar o seu. Pague o conserto, porque o governo só presta para te cobrar o IPVA.

Ficou gripado e não tem plano de saúde? Problema de quem a não ser seu mesmo? Você só presta para pagar impostos variados e até outros que parecem o Jason do filme Sexta-Feira 13, como é a CMPF, que volta e meia ameaçam reaparecer. A fila de 6 horas e a consulta marcada para dali a um ano e meio não são problema do ministro ou do deputado. Problema seria se você sonegasse o imposto.

Sua empresa não pode contratar mais gente porque cada empregado custa o dobro por causa dos impostos que você tem que pagar? Ora! Pegue uma vassoura e varra o chão você mesmo. Vá entregar envelopes e aproveite a viagem para fazer visitas aos seus clientes, porque se contratar alguém "por fora", vem a fiscalização e te multa.

Estradas boas? Só com pedágio. Polícia nas ruas? Claro! Para fazer blitz e multar e rebocar quem não está com o IPVA em dia. Ladrões nos sinais? O que o prefeito tem a ver com isso? Se você ultrapassar para fugir do bandido o pardal te pega.

Funciona assim: você escolhe naquele momento por quem prefere ser roubado, se pelo ladrão que já está ali mesmo ou pelo ladrão sentado na prefeitura.

Exemplos não faltam, mas todos servem para o mesmo propósito: demonstrar a segunda face do "cidadão" na democracia das bananas do Brasil: o bolso.

Ele serve para ser cobrado, punido, multado.

Direitos? Bem, aí chego na terceira palavra: espere.

É o que se estimula o habitante do Patropi a fazer eternamente. "Somos o país do futuro", "somos um gigante adormecido"(diria comatoso, quase morto). E assim o tempo vai passando. E assim as computações gráficas da campanha eleitoral que mostram maravilhas futuras, viram as gambiarras e maquiagens da realidade.

E assim o tempo passa. Nosso povo, cada vez mais idiotizado pelo que é considerado "cultura" no Brasil, nossas escolas cada vez mais sucateadas, cada vez mais reduzidas a "distribuidoras de certificados".

Só o que importa são números para mostrar nas campanhas e propagandas oficiais. "5 milhões de alfabetizados!", "20% a mais de estudantes concluindo o ensino médio!", e por aí vai. Incrível que tudo só melhora nas estatísticas, no entanto nossa sociedade continua cada vez mais doente.

Violenta, brutalizada, ignorante, facilmente enganada pelos espertos e salvadores da pátria de ocasião.

Esse é o grande problema do Brasil: aqui sobra povo e falta cidadão.

O indivíduo é um voto para legitimar a farsa democrática, um bolso para sustentar a festa e "povo" para aguardar no seu lugar o momento de "dividir o bolo".

E o tempo passa e o "povo", estimulado pela burocracia e pela valorização do cinismo e do comodismo como valores pessoais segue esperando. Esperando pelo tal país do futuro que jamais chega, porque ele jaz natimorto aqui, no presente.

Pelo menos temos um litoral bem extenso, o que favorece que esta espera seja na beira da praia, com uma cadeirinha de sol.

Não falta vagabundo neste país pra tanto litoral e é melhor aproveitar enquanto o governo não pensa em taxar pelo uso das praias.

1 Comentário:

Drika Maraviglia postou 3 de setembro de 2009 às 11:12

Perfeito! Seu post está excelente!
Só repensando o que acontece nesse país é que conseguiremos uma sociedade mais justa.
Vamos espalhar essa ideia pelo Brasil e quem sabe, as pessoas começam a tomar consciência e aprendem a cobrar em qualidade de vida aquilo que pagam em impostos.
Continuar assim é que não dá! E antes que eu me esqueça: FORA SARNEY!
Abraços,
Drika

 
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