Cinema, pipoca e guaraná

Postado em 20 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Hoje é sexta-feira e tal como eu, um monte de gente vai sair do trabalho e ir ao cinema, relaxar e se divertir naquelas salas refrigeradas que funcionam como uma espécie de cachaça pra fugirmos da encheção do dia a dia, com a vantagem de não sermos apanhados no bafômetro depois.

E sempre que vou ao cinema, me chama a atenção a ligação praticamente siamesa que a telona tem com as guloseimas. Quase todo mundo sente necessidade de levar/comprar algo pra comer ali.

Até eu mesmo já me peguei caindo nessa armadilha e comprando aqueles M&Ms de 10 reais que a bomboniere dos cinemas usam para se aproveitar da nossa gulodice e nos extorquir.

É, como diziam os antigos, "batata". O cara sai de casa, encontra a namorada, os dois vão jantar. Se empanturram seja lá do que for, comem uma boa sobremesa e lá vão para o cinema, ver a nova barbicha/cavanhaque/barbona do Brad Pitt. Dirigem-se para a bilheteria, escolhem lugares, chegam na ante-sala e voi lá, aquele cheirinho de pipoca começa a penetrar até pelos fundilhos.

Até rola uma resistência inicial, mas passados alguns minutos, o desfile de baldes de pipoca vai ficando insuportável. Sei que ainda não chegamos à perfeição dos americanos, que vendem baldes de pipoca de 1kg ou mais e copos de refrigerante capazes de afogar um neném, mas nossas porções estão ficando mais generosas com o tempo.

Acabamos sucumbindo e convencendo até nossa companhia de que ela também está afim de um daqueles "combos", que carinhosamente chamo de troféus do desperdício, afinal, quem consegue comer sozinho uma quantidade de pipocas que alimentaria uma família na Somália? É tanta pipoca e guaraná que faria inveja a uma missão de paz da ONU.

Sou da época do pipoqueiro na porta do cinema. Cinema de rua, diga-se de passagem. Hoje quase todos foram parar nos shoppings, fugindo dos ladrões, da sujeira, dos pedintes e do calor que dominam as calçadas (igual fez a "classe média"). E com essa migração para os shoppings, apareceram os tais "combos".

Tente comprar um singelo saquinho de pipocas numa bomboniere de cinema que te mostrarão diversas opções, nenhuma delas envolvendo um saquinho de pipocas. É um tal de "compre o mega-giga-combo-cetáceo e leve um squeeze da Xuxa".

Mas tudo bem, não adianta resistir e a gente acaba aderindo. Confesso entretanto que nunca consegui passar do "Combo Kids", que já é coisa de gente grande e contém calorias que jogam pela descarga um dia e meio de malhação. Chega a ser engraçado um barbado de mais de 30 chegar no caixa e pedir "Um Combo Kids, por favor". Sinto o olhar da mocinha procurar a criança à minha volta quase que instantaneamente.

"Um chocolate para acompanhar, Senhor?".

"Não, não preciso aumentar mais nenhum centímetro da circunferência da minha cintura, mas sou-lhe muito grato por tentar".

Acabou que passamos a associar cinema à comida e a fila para a sala de exibição demonstra isso. São Prestígios, Diplomatas, Toblerones, M&Ms, pipocas, refrigerantes, todos perfilados aguardando para assistir aqueles 20 ou 30 minutos de comerciais e traillers (no meu tempo não passava de 10 minutos e ainda assim levava vaia), já que dificilmente os acepipes conseguem chegar ao filme propriamente dito, todo mundo come tudo antes do filme começar.

Mas fica aquele cheiro de no ar, atiçando a vontade dos que resistiram bravamente até ali, e deixando esta incrível sensação, que é a dos atores e atrizes, independente do gênero de filme em que estejam, cheirarem todos a pipoca.

4 Comentários:

Anônimo postou 19 de março de 2010 às 10:29

O pior de tudo isso é a imundice que fica depois do filme. O desperdício chega a me dar vergonha como ser humano. E olha que, via de regra, os cinemas de shopping (e seus preços absurdos) estão, por exclusão, destinados a uma classe média,teoricamente "educada" (entendendo educação aqui como sinônimo de bons modos).

Anônimo postou 19 de março de 2010 às 10:41

Os tempos mudaram realmente... uma provável solução seria comer antes de ir ao cinema.

Marise postou 19 de março de 2010 às 11:13

Minha neta já diz: vovó , cinema sem pipoca é igual a ver filme em casa!
Não tem jeito. Cinema tem cheiro de pipoca e gostinho de guaraná.
Bom cinema a todos!

Isabel postou 19 de março de 2010 às 13:04

Acho que sou uma exceção, pois não costumo comer no cinema. Às vezes chega a ser desagradável o excesso de barulho de pacotes de biscoito, balas e chocolates na sala de projeção. Fora a imundície, como foi dito. Mas isso não é nada perto da falta de postura daqueles que se sentam nas poltronas com os pés sobre o banco da frente. Comida e cinema vão muito bem juntos, mas falta de educação não combina com nada.
Bjs

 
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