Ex bom é ex morto?

Postado em 30 de abr. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Alguém já mencionou aquela combinação que alguns casais fazem de vez em quando? Um entra com o pé e o outro com a bunda? Pois é. Ninguém nasce, cresce e sai desse mundo sem passar por uma dessas, ninguém.

A pessoa pode ser bonita, sexy, bem sucedida, desejada por um monte de gente que a conhece, não importa, um dia, alguma hora, em algum lugar vai aparecer aquela outra pessoa que será o seu juízo final amoroso. Vai ser encantadora, apaixonante, vai até dar a entender que existe recíproca e, de repente, a sola do sapato estará atingindo os fundilhos da sua calça.

Não tem quem resista. Essa pessoa vai se tornar aquela que discursamos sobre ela quando bebemos, quando conhecemos alguém novo (como que para estabelecer um parâmetro) ou simplesmente quando vamos na macumba para "trazer a pessoa amada em 3 dias".

Não tem nada mais afrodisíaco do que rejeição. Transforma alguém "mais ou menos" em "uau!" em questão de minutos.

Tive um amigo na faculdade que era o que chamamos de pegador. Bonito, praticante de artes marciais, boa situação financeira, olhos cor de mel, um verdadeiro galã de cinema. Arrumava a mulher que quisesse, onde quisesse, na hora que quisesse.

Sério. Podíamos ir numa dessas boates onde até o suor das pessoas é cheiroso e as moças dão a impressão que são de plástico e não precisam satisfazer nenhuma necessidade fisiológica, dessas que a gente pede licença pra pedir licença e ainda fica com medo de receber um "não", sabem como é? Então, se esse meu amigo fosse numa boate dessas, certeza que pegaria alguém.

Esse era o nível do rapaz.

Até que um dia, pasmem, numa festa junina da faculdade, lá pelas 2:00 da madrugada a frequência não estava das melhores e o nosso herói apolíneo avistou uma mocinha com suas amigas num canto.

Ela não era nada demais. Morena, rosto normal, corpo igual a de outras 300, nem melhor e nem pior, a popular "sem graça". Tinha até umas orelhinhas de abano, mas não era feia. Ele resolveu que ia "ficar com ela". Mas o tom que usou avisando aquilo para nós foi algo próximo de um "vou ali fazer um favor para aquela menina e trocar minha saliva olímpica com a dela".

Foi lá, conversou, deu a clássica puxadinha pro canto e quando ia "finalizar" percebeu que uma das mãos da moça estava sobre seu peito, afastando-o e jogando a pá de cal com uma verdadeira criptonita verbal: "não".

Pera aí, como é que é? Não? Se a gente não acreditou, imagina ele. Foi algo como "pera aí, você está me dizendo não?!". E ela "É, não.".

Ele teve que perguntar "Porque?" e ela "Por nada, só não estou afim".

Sabem amor ao primeiro "toco"? Pois é. Aconteceu com ele. Subitamente ela passou a ser a mulher mais linda e desejável do mundo, ele queria porque queria. Saía e ficava pelos cantos, só falava nela, a muito custo arrumou o telefone, ligava, galanteava, chamava pra sair, quase que se oferecia pra comprar uma segunda chance e nada, a menina não queria mesmo, não era joguinho, não era estratégia, ela simplesmente achava que aquele grande prêmio não valia nem uma raspadinha.

"Cara, não me leve a mal, mas você é muito playboy, é muito metido e eu não gosto de homem assim".

"Mas então você está me dando o fora porque me acha bonito demais pra você?"

"Não, eu não te acho feio nem bonito, você é normal, é que eu não quero mesmo, não bateu, o que quer que eu faça?"

E nunca saiu disso, até que ele desistiu, só que nunca mais exibiu aquele ar de triunfo outra vez, tinha perdido uma e pra um time que ele considerava de "segunda divisão".

Com relacionamentos acontece o mesmo. Ninguém ama o outro da mesma forma que é amado, o amor não pressupõe equilíbrio. Existe a troca, amor por amor, mas a quantidade não está no contrato.

Mas nem sempre o lado que recebe o menor quinhão é o que sofre mais no fim. Quem é mais presente, mais carinhoso, mais amoroso, geralmente fará mais falta do que o que é mais distante.

Ninguém sente saudade das nossas ausências.

E nada pior num fim de relação do que encontrar o outro já bem, sem demonstrar a menor saudade de nós, resolvido, "em outra". Nós podemos até estar numa boa também, mas a idéia de que não fazemos tanta falta quanto achávamos é dolorosa.

O ressentido não se dói porque alguém está melhor do que ele, mas porque não está pior.

Daí a minha adaptação de uma frase muito popular que ouvimos toda hora, que "ex bom é ex morto", que eu acho de péssimo gosto. Não quero ninguém morto, quero todo mundo vivo. Primeiro porque seria dramático demais e segundo porque morto não sente falta de ninguém, a gente é que acaba sentindo.

Prefiro dizer que ex bom é bem vivo, de preferência embarangado e com alguém bem pior do que nós.

25 Comentários:

Larissa postou 30 de abril de 2010 às 08:02

adooorei, não há definição melhor "Prefiro dizer que ex bom é bem vivo, de preferência embarangado e com alguém bem pior do que nós."

cara, seu blog já está nos meus favoritos.

Renata Victal postou 30 de abril de 2010 às 08:04

Bacana o post. Mas, sinceramente, pra mim ex é ex e não to nem aí. E acho que isso vale até para o caso daquele ex que não sai da nossa cabeça, que nos faz chorar por meses, talvez anos, aquele que nos deixa triste toda virada de ano. Então, até pra este tipo de ex, não to nem aí. Se ele está embarangando, com uma melhor, pior... tanto faz. O fato é que ele não está mais comigo e isso deve ser suficiente para que eu não deseja mais nada pra ele, nem mesmo a morte.

Laís postou 30 de abril de 2010 às 08:08

Se ex fosse bom mesmo, tava com a gente! Mas a última frase sintetizou a minha opinião.

Laura postou 30 de abril de 2010 às 08:08

Muito bom o seu texto e eu concordo com quase tudo. Menos com a parte de que rejeição é afrodisíaco, pelo menos pra mim não é. ;)
Gosto muito do jeito que escreve.

Anônimo postou 30 de abril de 2010 às 08:12

Eu tenho uma teoria: Ex é pra sempre....praicamente um encosto....gostei do texto

denise postou 30 de abril de 2010 às 08:31

Nâo sei o que dizer...ainda to pensando!

Anônimo postou 30 de abril de 2010 às 08:38

gostei do texto. Me mostrou uma coisa que nunca quis pensar ... "que ng sente falta da nossa ausência" ... e no fim quem sofre mais não é o que gostava mais, mas talvez aquele que perdeu. O outro teve tempo para se acostumar com a sua ausência e ir para frente. Enquanto vc, dando como certo, parou, se assustou e chorou ...
mas passa ... e ex bom é ex longe ...

Lucia Valle postou 30 de abril de 2010 às 08:42

Motta, você arrasou, como sempre!! Quanta gente não se enquadra em pelo menos um desses exemplos? Valeu!
@LuciaValle

SukaTsu postou 30 de abril de 2010 às 08:47

O melhor mesmo é a parte do "ex bom é bem vivo, de preferência embarangado e com alguém bem pior do que nós."
Mas euzinha só considero ex mesmo depois que o dito cujo entra pro rol dos "definitivamente deletados da minha lembrança afetiva".
Ou seja, depois que euzinha não o amo mais, que é quando a esperança de um "vale a pena ver de novo" sai da grade de programação...
Texto delicioso...

Anônimo postou 30 de abril de 2010 às 08:51

Gostei do texto, acredito q o dificil mesmo é percebeber q não fazemos tanta falta quando achavamos =/ perceber q a pessoa sabe viver mto bem sem vc, e q esta convicto q não precisa e nnão volta com vc, aff meu ex é um carma... a questão da frase ex bom é morto, n seria morto literalmente, acho q sim morto em nossos pensamentos. desse jeito consiguiremos viver sem "carma"

Nanne postou 30 de abril de 2010 às 09:05

Adorei o Texto! É engraçado, quando a gente percebe que é realmente doloroso ver o seu ex com outra pessoa, depois de algum tempo, e saber que ele não sente mais saudades... Mas é ainda pior, (não para o EGO, é claro)é saber que seu EX não te esqueceu, e que vive de tentativas frustradas a nosso respeito! :)

Unknown postou 30 de abril de 2010 às 09:17

Muito lúcido o texto. Como sempre. Parabéns.

Luana postou 30 de abril de 2010 às 09:25

Adorei o post!
Antes, pra mim era - ex bom, é ex morto. Depois de ler esse ótimo texto, pra mim ex bom, é ex vivo, pra ver que eu to bem e ele, com uma baranguda, rs.

Você escreve muito bem! :)

Kash postou 30 de abril de 2010 às 09:37

Nunca comentei aqui,mas esse post de hoje me pediu.Concordo em gênero,número e degrau com o que tu disse.Tô numa situação assim,não sei de que lado,mas tô.E ex bom é ex vivo mesmo,vendo tudo acontecer.

Isabel postou 30 de abril de 2010 às 10:19

Ótimo texto, muito divertido!
A rejeição é difícil pra qualquer um. É como diz aquela música do Chico:
"Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais (...)
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você"

Isso é que mata, rsss
Beijos

Andreza Mota postou 30 de abril de 2010 às 10:28

simples - primor - convicto.
ah se todos soubessem escrever assim!
beijos.

silvania postou 30 de abril de 2010 às 11:05

Muito bom!!! Acabei de levar um belo chute, mas essa história de q ninguém sente falta do ausente é verdade! Agora a pessoa fica me ligando e eu, como estou muito satisfeita sem a pessoa,não atendo e faço qstão de mostrar q tou muito bem! hehhehe

@CarolNoRio postou 30 de abril de 2010 às 11:09

Excelente texto, pra variar.
Essa frase aqui é no mínimo espetacular: ''Ninguém sente saudade das nossas ausências.''
Agora eu prefiro ex bem longe.
Em outro país de preferência.
Acho muito bom não ver a pessoa, pelo menos por um tempo quando o término é doloroso.

Dayse Marques Torres postou 30 de abril de 2010 às 11:14

acho que foi um dos textos que mais gostei de ler, por estar passando por uma fase parecida de desapego ex bom é ex bem perto vendo a felicidade que perdeu !
@daysemarquest

Anônimo postou 30 de abril de 2010 às 11:16

Nossa que post bacana...
Gostei muito da frase: "Ninguém sente saudade das nossas ausências."
Parabéns!

Unknown postou 30 de abril de 2010 às 11:17

Otimo :o)

Unknown postou 30 de abril de 2010 às 12:38

Divertido de maneira direta e reta!! Adoro seus textos!!
Mto bons!!

josi postou 30 de abril de 2010 às 13:22

eu amei este texto! perfeito!

bjo!

Yaciara postou 1 de maio de 2010 às 17:42

Quando termina um relacionamento, para aumentar a minha auto-estima, desejo ardentemente que ele nunca, mas nunca arrume alguém como eu. hahaha. Pretensiosa, né? Acho que é uma maneira de não ficar tão pra baixo...rs

Adorei seu texto.

Julio Marin postou 2 de maio de 2010 às 08:40

Vi vc no twitter, pensei!!! Vou ver o que esse cara diz. Entrei no seu site e achei ótimo. Fui adentrando nas tuas páginas até chegar no blog. Disse tudo. Ex bom é vivo e embarangado. Isso mesmo.

Tive até pena do teu colega de faculdade. Mas sabe, acontece com todo mundo, mas com os meio sem graça (me considero) acontece mais. Soa até como um hino de liberdade ler uma história dessas.

Um grande abraço... Esteja convidado para conhecer o meu blog!

 
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