O carteiro saiu para a entrega

Postado em 4 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Foi-se o tempo em que alguém ficava escondido atrás do muro que nem Jack, o Estripador, esperando pelo carteiro.

Pode parecer meio estranho, mas numa época distante as pessoas se conheciam e a partir daí trocavam telefones ou então mandavam cartas. Lembro que durante muito tempo troquei cartas com uma amiga que de Botafogo, distante uns 30 minutos de onde eu morava naquele tempo.

Frases como "tem msn?" ou "me adiciona no Facebook" ainda não tinham virado o novo "qual é o telefone do cachorrinho?" que se tornaram hoje em dia.

Soa até estranho dizer isso, mas já foi comum escrever "não" ao invés de  "naum", e coisas como "mlk", "blz", "fmz" ou "ri litrus" provavelmente seriam entendidos como outro idioma ou algum sintoma de atraso intelectual (o que aliás, não deixa de ser).

Creio até que se não fosse pelas correspondências profissionais, contas diversas e aquelas cartinhas com ameaças do SPC, os carteiros estariam passando por sérias dificuldades.

Até mesmo os desejados cartões postais viraram MMS (esses torpedos com foto).

E onde antes aparecia a Torre Eiffel única e iluminada, agora aparece a Torre Eiffel como pano de fundo para a Martinha, sua prima, que te enviou a foto por torpedo só fazer inveja.

Eu já estava prestes a mandar uma carta com votos de solidariedade para os Correios quando lembrei do comércio eletrônico.

Essa maravilha dos tempos modernos, que nos livrou de escadas rolantes, das filas no caixa e de vendedores tentando te empurrar um colchão de molas americano com tecnologia da NASA, quando você só entrou na loja enganado pensando que ali vendiam meias.


Conheço gente que não vai no shopping mais nem para comprar roupa. Agora basta entrar no site da loja, escolher modelo, cor, tamanho, passar o cartão e depois só ficar esperando a encomenda chegar em casa.

E aí é que, segundo diziam no tempo em que ainda se escreviam cartas, a porca torce o rabo.

A ansiedade pela chegada do carteiro foi substituída pelo botão F5 ou "Refresh" do sistema de rastreamento online sendo acionados freneticamente:

- E aí, novidades?

- Beleza, minha encomenda saiu de Manacapuru anteontem, já passou por Santarém, Teresina, Brasília, ontem visitou Juiz de Fora e parece que hoje está no centro de distribuição lá em Benfica...

- Sorte a sua, a minha parece que se apaixonou por Boston e está já lá há uma semana.

Mas apesar desses problemas, confesso que a sensação de abrir um embrulho que você comprou e está há dias esperando é muito boa. Recordo perfeitamente quando comprei meu iPod e a maravilha que foi abrir a caixa e encontrá-lo ali dentro, verde e com a inscrição "Rock and Roll all Night an Party Everyday", exatamente como eu queria.

Mas já pensou se ao invés disso viesse um cor-de-rosa, com a inscrição "Jamais te esquecerei Pedrão, beijos Joel"?

Tudo bem que você pode trocar, mas na hora é mais ou menos como levar gato por lebre, coisa que, se pensarmos bem, não acontece quando vemos algo que gostamos na rua, pegamos com as nossas mãos, examinamos e levamos para casa.

Quer dizer, até acontece, mas aí não seria uma compra, aí seria um namoro seguido de casamento.

6 Comentários:

Bruna postou 4 de abril de 2011 às 02:29

"Mas apesar desses problemas, confesso que a sensação de abrir um embrulho que você comprou e está há dias esperando é muito boa."

Verdade, sensação que dura para mim 10 segundos, quando toco o objeto tão esperado.

Roberta postou 4 de abril de 2011 às 10:59

A verdade é que eu morro de saudades de escrever e receber cartas, eu que fazia até poesias. Tenho uma caixa cheia delas, tem até meus bilhetes de sala de aula. As vezes, eu leio só para dar risadas e recordar daquela bela época! Nesse ponto, a tecnologia dificulta guardar as recordações. Ah, não tem tanta graça salvar uma conversa do msn, como se fazia com os bilhetinhos.

Bruno Cruz postou 4 de abril de 2011 às 13:28

Eu adorava mandar e receber cartas quando era criança. Hoje em dia a coisa mais pessoal que os correios entregam em casa são cartões de natal - e ainda olha lá, porque a grande maioria deles já vem pelo Orkut mesmo.

Enfim... viva a comodidade das compras online, que não só facilitam a nossa vida como também garantem o pão de cada dia na mesa dos carteiros!

Anônimo postou 4 de abril de 2011 às 14:39

Adorei o post. É a vida real nua e crua.

Gustavo Ca postou 4 de abril de 2011 às 16:49

Ganham-se algumas coisas, perdem-se outras. Mas considero um privilégio ter vivido essa época dos papéis, e agora estar vivendo a época das telas. Passar por essa transição. Ainda mais eu, que sou de uma geração cuja infância foi nos anos 90 (ô coisa boa!), acho que foi a última década antes do computador engolir tudo. Quer dizer, ter passado pelas sensações de uma época (mais artesanal, orgânica), e agora aproveitar as vantagens de outra (mais rápida, mais prática).

Anônimo postou 5 de abril de 2011 às 11:14

Parece que esse texto foi escrito pra mim, hehehehe. Eu compro mais roupas pela internet do que em lojas atualmente, e confesso que entro o tempo todo no site dos correios para rastrear minhas encomendas...

Isabel

 
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