Férias

Postado em 28 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Meus queridos 12 leitores, a partir de hoje e até o dia 07 de Fevereiro, estarei tirando nem tão merecidas férias em alguma praia paradisíaca por ai.

Desejo a todos vocês que ficarão nos escritórios, engarrafamentos, metrôs lotados e nesse calorzinho "delicioso" do verão uma boa semana e que não me invejem, porque a depressão que vai me pegar na volta será sua maior vingança.


Por esta razão o blog não será atualizado pelos próximos dias, até o meu retorno, coisa que não acontece desde que eu comecei a escrever aqui, há mais de um ano.

Comerei um belo peixe frito, na beira de um mar azul em homenagem a todos vocês.

Espero encontrar todos bem na volta, quando terei bastante coisa para contar.

Um abraço!

Mediocridade com mediocridade se paga

Postado em 26 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

A história muda muito pouco: um sujeito acha tudo o que acontece na televisão, no mundo da música e no showbiz em geral um lixo, adota uma postura mais alternativa, underground, contestadora, mas basta entrar no mainstream, que só contribui para aumentar o monte de entulho.

Soa bastante indie isso, eu sei, mas são ossos do ofício de falar mal das coisas: uma hora, você se torna aquele chato que você sempre criticou porque não gostava de quase nada.

Quem lembra do Fausto Silva durante a sua fase no "Perdidos na Noite", vai me dar razão. O padrão global serviu para engordar a conta bancária dele (sem trocadilhos com a sua forma física, até mesmo porque ele andou emagrecendo), e fazer desaparecer como que por milagre toda a graça que ele já teve.

Só que o Faustão perdeu algo que tinha, existem aqueles que nem tem o que perder.

Alguém em sã consciência diria que têm algum valor esses atores coadjuvantes de novelas, apresentadores de programas de humor de quinta categoria, gênios do videolog alçados à condição de meninos prodígio, autores de livros de auto-ajuda, músicos de funk ou axé, e toda essa fauna da medíocridade artística brasileira?

No entanto existem pessoas talentosas nesse meio. Pessoas que também consideravam esse "Mundo de Caras" ridículo antes de entrar nele e que só mudaram de opinião às custas de jabás, contratos e muita bajulação.

Quantos cantores de axé com letras de duplo sentido, quantos funkeiros semi-analfabetos cantando na língua das "comunidades", quantos engraçadinhos fazendo esquetes iguais às dos engraçadinhos do outro canal, quantos modelos-atores-manequins-apresentadores, quantos ex-BBBs serão necessários para que alguém chegue e diga: não precisamos mais disso, chegou a hora de usar toda essa energia para produzir outra coisa, de preferência que preste.

Porque se tem algo que o mundo não precisa mais, são políticos, armas nucleares e artistas medíocres.

Mas a história pouco muda, quem sabe até não seria igual com você ou comigo? Uma vez assinado o primeiro contrato, todo mundo começa a parecer que saiu da mesma fábrica. É como a Barbie ou a Polly com seus acessórios.


O cara critica todo esse lixo muito propriamente, esses ídolos adolescentes, esses atores e atrizes que vivem interpretando a si mesmos, seja como uma freira italiana ou uma prostituta sueca, esse imenso mar de nada no qual bóia a "classe artística" brasileira, mas quando faz sucesso, passa a produzir coisas até piores do que as que estão aí.

E ai de quem falar mal. Será "inveja do sucesso". É como se aquela merda toda só não servisse quando os outros faziam.

Não vou mentir, sinto vários tipos de inveja, quem não sente? Só os mentirosos.

Mas invejo grandes fortunas, inteligências geniais, arroubos de coragem, belezas avassaladoras.

Não invejo desperdício de papel impresso, de acordes e notas musicais, de tempo na televisão. Sinto vergonha alheia, algum desprezo e uma boa dose de chateação por ver tanto barulho sendo feito por nada.

Porque no final, sobra o que? Você lembra da musa do verão de 2007? Ou do galã de "Malhação" de 2003? Lembra quem foi o apresentador daquele programa de viagem no Multishow ou no GNT em 1999?

Vou facilitar: você lembra os nomes de quantos BBBs do ano passado?

Parece até que foram feitos para serem esquecidos, mas esses ainda são os bons, porque cumprem seu ciclo de aparição-apogeu-sumiço em pouquíssimo espaço de tempo.

Pior mesmo, o que me causa arrepios, são os que fazem hora extra nos tais 15 minutos de fama.

Faça uma pose: vogue! (Ou o dia que o mundo da moda resolveu sacanear o resto do mundo. Ou vice-versa)

Postado em 24 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Carlo Armenfeld era um estilista muito famoso. Meio italiano, meio sueco, neto de judeus e com um bisavô comanche, ele era rico, poderoso, capa de todas as revistas de moda mais badaladas que existem, possuía lojas em Tóquio, Paris, Roma, Milão, New York, Rio de Janeiro, Ibiza e, claro, Duque de Caxias.

Ele havia chegado ao ápice de todo estilista com sua marca: ser pirateado na China e vendido em todas as feirinhas de subúrbio que se prezem. Só aí ele teve certeza de que atingira a excelência.

Um dia, no auge da glória, entediado durante mais um desfile de biquinis no Fashion Rio - essa embaixada da moda e da futilidade encravada como uma unha no pé rachado do subdesenvolvimento - Carlo teve uma idéia: iria sacanear todo mundo.

Porque não? Ele já tinha vestido a Madonna, já tinha desenhado uma saia de espigas de milho para a Lady Gaga, já havia criado um vestido de noiva para alguma princesa de segundo escalão das monarquias remanescentes da Europa e, claro, já tinha vestido algumas atrizes na entrega do Oscar.

Precisava inovar e entendeu que a sacanagem seria sua inovação.

Pra começar resolveu só contratar modelos gordas. Mas entenda, não valia considerar gordas pessoas com aparência de que não são viciadas em heroína e se alimentam fazendo fotossíntese, ele queria algo mais pra rodízio de pizza mesmo. Começou a expor suas roupas entre culotes, celulites e estrias.

Só que ainda assim as pessoas poderiam fazer ajustes e diminuir aqueles manequins 40, 42, 46 para tamanhos mais afeitos ao mundo da moda, como, sei lá, 32, 33. Decidiu então desenhar roupas bregas.

Ombreiras, pochetes, calças bag. Tudo voltava com força total, tal qual um surto de gripe espanhola.


Mas isso se restringia apenas às passarelas e Carlo queria mais. Começou a plantar notas em colunas sociais e revistas "fashion" dando conta de que agora só era "in" quem comesse feito um porco.

Batatas fritas, bacon, sorvetes, filés gigantescos acompanhados de bastante molho de gorgonzola, quanto mais gordice você fizesse à mesa, mais estaria em sintonia com Milão, Paris, Tóquio, bla, bla, bla.

Tomar sopa fazendo barulho e comer frango com as mãos então era coisa assim, só pra uma Gisele Bundchen, que a esta altura estaria gordíssima, pesando, sei lá, uns 63 quilos.

A cartada final se deu quando Carlo, usando sua influência de grande anunciante, convenceu editores de revistas semanais a publicarem entrevistas fajutas com alguns médicos dizendo que bom mesmo era se alimentar com sódio, açúcar, gordura trans e todos os tipos de carboidratos possíveis.

Os doutores discorriam alegremente sobre as benesses do creme de chantilly, da pasta de amendoim e da picanha mal passada com gordura.

As pessoas mal podiam acreditar no que acontecia. Tudo aquilo que antes "não podia", agora não só era permitido como ainda por cima passara a ser cool. Bobs no cabelo, sungas de crochê, pulseirinhas hippie e até as sandálias Croc conseguiram sua redenção.

Tudo corria conforme ele tinha pensado quando decidiu que iria sacanear o mundo, só faltava escolher a data onde anunciaria aquele 1º de Abril de Itu.

E Carlo só teve a certeza de que sua obra estava completa quando, passeando pelos camarins de um de seus desfiles de moda,, onde apresentaria sua nova coleção de calças saruel-corsário, viu uma modelo escondida num canto, morrendo de medo de ser pega.

Ela comia nervosa uma folha de alface, engolindo tudo de uma vez antes que alguém a pegasse com a boca na botija e sua fama escorresse pelo ralo.

Rio 40 Graus - Se até a música sobre essa temperatura é ruim, imagine o resto

Postado em 21 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Basta um feriado, um dia de calor, um monte de gente na praia e a oportunidade de fazer um passeio pela Orla, que estereótipos, mazelas e pragas urbanas aparecem para mostrar que os brasileiros ergueram algo que pode até ser muito próximo de uma civilização, mas não é.

Sei que a princípio uma afirmação assim pode chocar e parecer exagerada, afinal, não vivemos naqueles países da África onde pessoas moram em casas que mais parecem tocas construídas por guaxinins ou esquilos, onde doenças se propagam no vento e a fome e a indigência são quase políticas governamentais, mas como a própria constatação inicial já deixa claro, não somos africanos, então isso não é desculpa.

O show de horrores começou nas imediações do calçadão, onde flanelinhas se ameaçavam com uma barra de ferro pelo direito de achacar motoristas. Lindo, né? Mas não tão lindo quando a tatuagem com o símbolo da Porshe na bunda de uma garota de programa, que era alisada nervosamente por um gringo em plena luz do dia, talvez constrangendo os transeuntes mais chegados ao pudor, se é que ainda é permitido se constranger com alguma coisa nessa "era da tolerância".

Só quem não parecia nem um pouco constrangida era a fila de mijões que se formava no muro da finada discoteca Help (futuro Museu da Imagem de do Som), que além de depósito de catadores de lata, virou dormitório de mendigos e banheiro a céu aberto.

Mas nenhuma festa é completa sem uma trilha sonora. E a Orla de Copacabana - este retrato fiel da tão comemorada "miscigenação" brasileira - tem música (ruim) para todos os gostos.

De um lado um botequim com pessoas transformando a calçada em churrascaria. Só faltava o fogo de chão, porque mesas, cadeiras e um carro aberto tocando um pagode horrível no último volume estavam ali compondo o ambiente.

Foto tirada de onde eu estava, adivinha se esse carro tocava música boa ou ruim

Mas isso é pra quem é mais "de raiz". Os mais aventureitos poderiam acompanhar a performance de dois grupos fantasiados de índios, com pintura de tribo amazônica, roupas de índio americano enfeitadas com fitinhas estilo aquelas do Bonfim e tocando músicas andinas. Mais miscigenado do que isso, só se tivesse cota para negros ou algum dos "indígenas" fosse gay.

A praia em si é um espetáculo à parte. Os sempre presentes turistas italianos, que interpretam o tempo inteiro o papel de turistas italianos, estavam lá, é claro. Eles e seus galanteios que, se fossem em português, com certeza seriam cantadas de pedreiro.

Mas tudo bem, eu devia estar de cabeça quente por causa do "delicioso" calor de verão, então resolvi dar um mergulho no mar, que até foi agradável depois que consegui desviar da montanha de lixo que se amontoava na parte mais rasa, pequenos monumentos à educação dos banhistas em forma de copos de plástico, latas de cerveja, garrafas e até fraldas.

Pensei comigo mesmo "ah, é esse trecho que está ruim" e resolvi caminhar um pouco mais, pra ver se a coisa ficaria melhor. Andei, andei, andei e para aliviar o calor paguei 3 reais por uma chuveirada num dos quiosques Orla.

Saindo de lá, me corrija se estiver sendo muito exigente, vi uma coisa meio estranha: equatorianos que vendiam souvenirs do...Equador. Em Copacabana.

Perto dali crianças se divertiam a valer na piscininha artificial de uma língua negra formada por águas que vinham sabe-se lá de onde. Entre coqueiros, redes de volei e grupos de pagode que se apresentavam nos quiosques, um cartão postal da cidade era representado ali na areia: a Baía de Guanabara.

Pensei em continuar passeando, mas uma briga de bêbados por motivo desconhecido e uma discussão de namorados motivada por ciúme - com direito à menina dizendo pro namorado que se ele era ciumento "o pobrema era dele" - me sugeriram que talvez fosse a hora de voltar para o apartamento onde estava passando o dia, bem perto da praia.

Passei o resto da tarde telefonando para a Polícia Militar e para a Guarda Municipal, reclamando dos mijões, da churrascaria na calçada, da música alta e até da possibilidade de um enfrentamento com barras de ferro em plena luz do dia, mas, ao que parece, as forças de segurança e "ordem" do Rio de Janeiro estavam ocupadas verificando se todo mundo pagou o IPVA.

Ninguém apareceu, só uma coisa surgiu: a certeza de que qualquer civilização é praticamente inviável acima de 40º de temperatura.

Você jamais saberá a fórmula correta para terminar um namoro com alguém

Postado em 19 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 17 Comentários

Dizem que tão importante quanto começar algo, é saber terminar. Sei lá, acho isso totalmente válido se estivermos falando de um curso de inglês, uma faculdade ou mesmo daquela aula de 45 minutos de Spinning, mas não concordo muito quando se trata de relacionamentos.

Não adianta dizer que é preciso ter maturidade, que gente civilizada acaba virando amigo, entre outros clichês, porque como quase todo clichê essas idéias são perfeitamente plausísveis na teoria e totalmente anti-naturais na prática.

Claro que ex-namorados, noivos, maridos e esposas podem (e na medida do possível, devem) manter uma relação civilizada após o término da relação, mas o problema fica aí nesse "após".

Modestamente acredito que um período de adaptação, uma espécie de buffer zone, deve existir até que algum Buda incorpore em ambos e eles possam se enxergar novamente como pessoas, e não "aquele filho da puta que me largou por aquela lambisgóia loira" ou então "aquela vaca que dava mole pros viados da academia".

Num primeiro momento, eu não consigo acreditar em comportamento civilizado. Tudo bem que pratos quebrados, gatos enforcados e ex-PMs contratados para dar um "corretivo" no outro são inaceitáveis.

Mas uma atitude tipo "tomara que ele(a) se arrependa para eu ter o gostinho de dizer que agora quem não quer sou eu" é bem mais natural do que "Ah, você vai me abandonar para estudar ratha yoga com sua amiga lésbica por quem você descobriu que é perdidamente apaixonada? Legal, vamos tomar um café?".

Mas o busílis disso tudo é: como terminar? Qual o momento exato para você dizer pra pessoa o famoso "não é você, sou eu". Ora, primeiro que pra essa frase ser completamente honesta, ela deveria vir acompanhada de um "sou eu que não te aguenta mais" ou algo parecido e depois, bem, quem leva o fora sabe que é com ele sim.

É na hora de formalizar o acordo, no qual um entra com o pé e o outro com a bunda, que mora o perigo.


E não deixa de ser uma tarefa complicada avisar a alguém - assim como ouvir de alguém - que aquela pessoa não faz mais parte dos seus planos, que a sua empresa resolveu explorar outros mercados e que o portfólio dela não se encaixa mais no seu perfil de atuação.

É cruel saber que você não está mais a altura das aspirações de alguém. E pior do que ser trocado por outro, é te trocarem por nada mesmo.

Terminar um relacionamento é quase como demitir a pessoa, só que, pra piorar, ela não tem direito nem a fundo de garantia e seguro desemprego.

E pra resolver isso as pessoas nunca sabem direito como proceder. Você pode se fazer de desentendido e soltar a novidade numa hora totalmente imprópria: "Duas coca-colas, por favor, a minha sem limão e também sem essa moça aqui como namorada" ou então "pode passar o pão, por favor? Ah, agora estou namorando o Olavo".

Existe quem prefira inventar alguma briga: "Você não quer assistir Rambo III comigo pela vigésima vez? Sabia, jamais vamos dar certo, não te quero mais".

Tem quem prefira inventar uma situação catastrófica: "Descobri que tenho uma doença genética que fará com que todos os nossos filhos sejam cantores de axé, precisamos terminar de qualquer jeito".

E há também quem seja frio o suficiente para fazer isso por e-mail ou SMS: "De: Fulana@toemoutra.com.br Para Cicrano@clubedosrejeitados.org Não sei se você chegou a ler o memorando, mas nós não namoramos mais, Att, Fulana".

Ou então algo do tipo "SMS de Fulano: Oi, gata, qr dzer ex-gata td bem?Deixa eu te flar 1 coisa,naum temos + nd 1 c o outro,tô com a Lu, Bjus".

A própria inexistência de uma maneira indolor de fazer isso já demonstra como a coisa é complicada, ou você ainda iria tomar aquele sorvete com sua colega de faculdade se soubesse que dali a 2 anos e meio estaria num bar, enchendo a cara, pentelhando o garçom e seus amigos e chorando as pitangas porque a colega de faculdade virou a Bete, o amor da sua vida, que te largou só porque você passava o final de semana inteiro jogando World of Warcraft, ao invés de sair com ela?

Se a gente soubesse que um dia ia terminar - e principalmente, terminar mal para nós - ninguém começaria nada, essa é a verdade.

Mas se isso acontecesse, o que seria dos traidores, dos canalhas, das volúveis e de todo o tipo de gente cretina com a qual nos deparamos em nossas desventuras amorosas?

E pior, o que seria da indústria de filmes, de bebidas, de soníferos, do teatro, e até desta pobre criatura que agora vos escreve, que estaria completamente sem assunto?

Os pés na bunda ajudam a movimentar a economia e a cultura mundial. E se isso não for um fato, que pelo menos lhe sirva de consolo.

Filhos, se não souber como tê-los, melhor nem fazê-los

Postado em 17 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Há um tempo eu morei num prédio que tinha assim, 387 apartamentos por andar. E nesse universo tão amplo, você encontra todo tipo de pessoa. Os aposentados, as gostosas que trabalham fora o dia inteiro, os solteirões, as mães separadas com sua prole, os estudantes, enfim, tem de tudo.

Nesse especificamente, quem mais chamava a minha atenção era um casal aparentemente normal com duas filhas na casa dos 7 ou 8 anos. Primeiro porque todos os apartamentos eram de quarto e sala e eu imaginava a logística (beliches, verticalização, aproveitamento japonês do espaço) para acomodar 4 pessoas num espaço de uns 40 metros, mas tudo bem, presídios e certas habitações populares tem bem menos do que 10 metros por pessoa.

Mas isso é apenas curiosidade. O que me impressionava e me preocupava era o resto.

E o "resto" era o comportamento dos pais das garotinhas, que 99% do tempo eu considerava abominável.

O sujeito nunca, reforce aí na sua mente o nunca porque era nunca mesmo, cumprimentava as pessoas. Seja na portaria, seja na garagem ou mesmo naqueles momentos desconfortáveis no elevador, qualquer um que virasse para aquele jumento sem ferraduras e desse um "bom dia" ou "boa noite" era solenemente ignorado.

A esposa já era menos arredia, porém igualmente bizarra. Usava elevador para descer do primeiro andar para o térreo (nem precisaria dizer que pra subir era a mesma coisa, né?) e apesar de falar com os vizinhos, trazia no semblante aquele astral de que sempre tinha acabado de dar uns sopapos em alguém ou que se não deu, ainda iria dar.

Ele era magro, ela era gorda que nem um bolo de noiva. E as meninas eram simplesmente encantadoras.

Sério, dessas garotinhas que qualquer um ia adorar ser pai e mimar, tanto que nem sei como puderam sair tão bonitas com a mistura de genes daqueles dois estrupícios.

No entanto, nunca vi um gesto de carinho sequer dos dois para com as filhas (e olha que eu encontrava com eles toda hora, porque viviam na portaria, na calçada, perambulando pelas áreas comuns).


Ele fazia grosserias inomináveis para elas na frente de qualquer um. Já o comportamento da mulher com as filhas pode ser resumido numa vez em que a assisti saindo do elevador na frente de uma delas e soltando a porta do elevador em cima da guria.

Mas porque contei tudo isso? Porque talvez para as duas meninas, os pais dela - que na minha opinião são dois pais de merda - sejam excelentes. Sabe como é, a realidade delas é essa. Se você anda de Fusca a vida inteira, vai pensar que o melhor carro do mundo é o Fusca, ainda mais se a "vida inteira" for só 8 ou 9 anos de idade.

Por mais filhos da puta que nossos pais sejam, por mais cretinos que aparentem ser para a vizinhança, eles nunca serão esse horror todo para nós. A menos que seus pais sejam da seita do Charles Manson ou algo parecido, no fundo, eles sempre terão alguma razão.

Pergunte isso para os parentes do Sarney. Todos dirão que ele é um santo.

Mas o comportamento meio agressivo, meio displicente daquele casal com suas duas filhas, me leva sempre a pensar: porque certas pessoas procriam? Ou melhor, porque é permitido que certas pessoas procriem?

Nós realizamos concursos públicos para qualquer cargo de meia tijela. Fazemos exame psicotécnico, físico, pesquisa de antecedentes.

Até para tirar uma carteira de motorista precisamos provar que sabemos que o sorvete é para ser levado à boca e não à testa, mas para multiplicar a espécie a coisa é literalmente uma farra, qualquer um entra.

E que ninguém venha com conversa mole de "direito", "generalização" ou "preconceito" pra cima de mim, porque nada pode ser mais importante do que gerar uma vida e criar um indivíduo, dando amor, educação, carinho e proteção.

Criar bem um filho é uma tarefa tão complexa que acho que até ser astronauta envolve menos responsabilidade do que isso.

Por isso acho que é melhor que as pessoas comecem a prestar mais atenção nessa questão, sei lá, dar um jeito de esterelizar os palermas, ou então mandar todos eles pro espaço.

O seu "Show de Truman"

Postado em 14 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Quando Jim Carey estrelou o famoso filme "Show de Truman", a internet já existia, mas a explosão das redes sociais ainda estava longe de acontecer. Por isso, todo mundo achava um absurdo aquela realidade retratada, na qual um indivíduo era monitorado por câmeras, mantido num ambiente fabricado e observado por todo o mundo.

Óbvio que a realidade imita a ficção mas não é uma cópia fiel desta, e não seria diferente neste caso. Ninguém vive numa bolha, com atores no lugar da esposa e da família (se bem de que tem famílias por aí que mereciam um Oscar), num cenário totalmente artificial.

Mas nos aproximamos bem disso. Por onde vamos, existem câmeras tomando conta de tudo o que fazemos, a internet móvel conectou o mundo inteiro de uma forma como jamais aconteceu, a moderna tecnologia facilitou mais você ter um amigo em Tóquio do que no andar debaixo (ainda mais porque em Tóquio você não sente o desodorante vencido do cara e ele tem como te pedir dinheiro emprestado).

Quanto à invasão de privacidade mostrada no filme, bem, essa nós mesmos nos encarregamos de proporcionar.

É o maior barato comprar um computador novo, viajar para a Europa, trocar de carro, ir pro motel com a namorada, mas é realmente necessário que tudo isso não seja apenas contado, mas relatado nos mínimos detalhes via Twitter, Blogs e outras ferramentas?

O pior é alguém mandar uma mensagem assim "indo comer pizza no centro de Milão, um abraço para os que vão almoçar no quilo aí no Centro do Rio" e depois ainda dizer "só estava falando de uma pizza, não sei porque disseram que eu queria me mostrar...".


Ora, não sabe mesmo? Vamos combinar que uma das melhores partes do sucesso é poder esfregá-lo na cara dos outros, mas não sejamos fingidos a ponto de dizer que isso nem passa pela nossa cabeça. Passa sim.

Estou em Milão, consegui chegar aqui, vou comer uma prosaica pizza e vou esfregar isso na cara de todo mundo que vai pra um restaurante de balança na hora do almoço, antes de voltar pra ralação.

E isso vale para um carro zero, para o seu iPad, para as fotos da sua namorada gostosa que sabe-se lá porque resolveu te dar mole, para sua coleção de bonecos Playmobil, para sua nova Harley Davidson.

Quer esfregar isso na cara dos seus seguidores no Twitter e amigos do Orkut/Facebook? Faça.

Um dia é da caça, outro do caçador, mas não diga que não está fazendo isso, porque você deixa de ser alguém que está exercendo seu sagrado direito de tirar onda com a cara dos outros e passa a ser apenas um babaca encharcado de falsa humildade.

Até as furadas e situações onde a pessoa literalmente toma no rabo são, de alguma forma, transformadas em experiências de sutil glamour.

Não adianta, na internet todo mundo enfeita. É igual levar um tombo na frente dos outros. Você levanta dali dizendo que nem doeu, que está tudo bem, até brinca com a situação e depois se tranca no banheiro, xinga, fala todos os "ais" que não falou na hora e finalmente pode perder a pose.

Tem quem adore compartilhar minimalismos da sua vida e transforme até o ato de tomar um cafezinho numa crônica da vida diária. É a tal "metafísica do cotidiano" de Drummond reduzida, tal qual um molho, a 140 caracteres e diminuída com muito miguxês.

Confesso que já fui assim - mas só em parte, porque nem tenho tanta coisa pra tirar onda - mas resolvi parar, porque de gente tomando conta da minha vida já bastam os porteiros do meu prédio.

Seu roommate é seu futuro ex-amigo

Postado em 13 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Quem já dividiu apartamento com outras pessoas seja porque estudou fora ou simplesmente porque quis um pouco mais de liberdade, sabe muito bem o que eu digo: é uma situação com propensão a dar merda em 99% das ocasiões.

Quase todo mundo é muito legal até que passe a conviver contigo debaixo do mesmo teto. Pense na quantidade de casamentos desfeitos e você concordará comigo.

Um roommate é como um cônjuge sem direito a sexo (se bem de que essa informação é controversa sob vários aspectos, já que nada impede o sexo entre roommates e nada garante o sexo entre cônjuges).

Amizade de bar, coleguismo casual e até mesmo companheirismo de longa data são a versão fraternal do namoro: depois que casa, dá cagada.

Muitos casos eu mesmo presenciei ( nunca vivi porque sempre morei na casa dos meus pais e depois, sozinho). Grandes amigas, daquelas que trocam até namorados entre si, vão morar juntas e em seis meses já se odeiam mais do que uma pessoa que assiste BBB detesta livros.

Mas o legal mesmo são aqueles apartamentos que juntam três, quatro, cinco amigos. Todo mundo se dá relativamente bem, mas não há amizade que resista a um sujeito lavando roupa na pia da cozinha porque o tanque entupiu, a uma cueca usada - talvez até com uma freiada de caminhão de brinde - jogada no sofá da sala ou ao esperto que come seu biscoito Bono todo dia e coloca um de chocolate da marca Tremembé no lugar.


O primeiro sinal de que aquele amor dos tempos de mudança - quando todos vão recolhendo mesas na casa de praia dos pais, almofadas na casa da avó, pegam televisão e geladeira emprestada de algum tio e se juntam para comprar um fogão - está indo pro ralo, é o aparecimento das etiquetas na geladeira.

Sabe como é, o dia de fazer compras juntos e toda a diversão de ir "zuar" no supermercado virou uma chatice semanal, então cada um compra o que bem entende. Só que sempre tem o sujeito que prefere gastar seu dinheiro com maconha, CDs ou doações para alguma ONG, do que comprar gêneros alimentícios.

Mas como ele precisa comer, come tudo que é dos outros. A tática então passa a ser cada um comprar o seu e colocar uma etiqueta com seu nome e até um aviso "se comer, morre". Dá-se a multiplicação dos requeijões, manteigas e caixas de leite, cada um de uma pessoa diferente.

Quartos compartilhados com camisinhas usadas do dia anterior também contribuem para que aquele seu amigo gente boa (e que você tinha certeza que daria um bom colega de apartamento) se transforme no maior cretino da face da terra. De repente você acorda e se vê morando com o Carlinhos Brown, o Ivo Meirelles e o Dado Dolabella.

Mas não são eles, é a convivência. A convivência e as manias que todo mundo tem, mas que ficam escondidas dentro de casa, num canto do quarto, e que se escancaram quando a casa e o quarto estão logo ali no final do seu corredor.

É quando descobrimos que nosso colega de apartamento gosta de criar animais na área de serviço, que coa o café da manhã com a meia usada no dia anterior ou simplesmente é um folgado que "esquece" de pagar a conta de luz quando era a vez dele, só porque "teve" que viajar pra Búzios no feriado e gastou todo o dinheiro que tinha.

Ao dividir apartamento é quase certo que você vai subtrair suas amizades. Pode ser algo tão ruim, que chega a ser até pior do que esse trocadilho.

Ela foi!

Postado em 12 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

A brincadeira já está até batida: eu vou no show da Amy Winehouse, mas será que ela vai?

Não me refiro às especulações mórbidas sobre o destino da cantora, mas à pura e simples disposição dela realmente entrar no palco de corpo e alma. Ontem, dia 11 de Janeiro de 2011, no Rio de Janeiro, a resposta foi sim.

Miss Winehouse dançou, sorriu, conversou com a platéia, tascou beijos em um de seus backing vocals e soltou a voz como todos ali torciam para que fizesse. Amy é magnética. Talvez seja esse o maior adjetivo que eu consiga pensar sobre ela.

Uma garota inglesa branca, franzina, com um cabelão esquisito, um rostinho pequeno, aquela maquiagem estranha, meio cambaleante (fake ou não, já que não parecia estar bêbada) e cantando músicas que parecem feitas para alguma cantora negra americana, tudo isso tinha tudo para dar errado, mas com ela não dá.

Sua presença no palco, correndo desajeitadamente, fazendo suas dancinhas engraçadas e principalmente, interpretando suas canções, dão mais do que certo, simplesmente encantam, magnetizam a platéia.

O show de abertura que antecedeu o de Amy, apenas serviu para reforçar em mim essa impressão. Janelle Monae é uma cantora performática, tem atitude, também tem um vozeirão e faz um show quase perfeito.

Mas todo o esforço de Janelle, pulando, ficando praticamente de cabeça pra baixo, trocando de figurino, dessarumando o topete a la Grace Jones e até pintando um quadro no palco, somente servem para demonstrar o tamanho do talento e da estrela de Amy Winehouse.

Ela ainda está longe de sua melhor forma, ainda esquece partes de algumas letras, ainda passa aquela estranha sensação de que pode abandonar o palco e ir embora a qualquer momento, não troca de figurino, não pinta nenhum quadro e nem precisa disso.


Basta meia Amy Winehouse para colocar as coisas nos seus devidos lugares. Ela é uma estrela - não me peçam para usar a palavra diva, porque peguei nojo depois daquela famigerada campanha publicitária de sabonete - uma cantora dessas que surgem aqui e ali com intervalo de décadas.

Quando começa a cantar, por mais clichê que isso seja (e é), o local estremece.

Algo percorre nossa pele causando arrepio. Você sente o que ela canta como se fosse um carinho, um afago ou um tapa na cara. Ouvir suas canções ao vivo é quase como entender o que se passa naquela cabeça genial e conturbada, é compreender suas dores, é se incorporar nela.

O show de 83 minutos durou tempo bastante para que ela cantasse tudo que as pessoas que estavam lá queriam ouvir, como "Rehab", "Valerie", "You know I'm no good", "Love is a unholy war", "Just Friends", "Back do Black" e as minhas duas preferidas, "Wake up alone" e "Love is a losing game".

Parece que seus dois primeiros shows - em Florianópolis e no dia anterior, na mesma arena no Rio - serviram como um aquecimento depois do longo período de inatividade e que, aos poucos, ela vai retornando à boa e velha forma. Tomara.

Torço sinceramente para isso, porque o cenário de aridez e mesmice musical merece bem mais Amy Winehouse e bem menos rappers, gostosas que cantam e bandas de moleques.

Dá vontade de dizer: se cuida, garota, nós precisamos de você.

Ela é uma artista única, sua arte é tão marcante que consegue se sobrepor até mesmo aos seus escândalos, que não são poucos. Vê-la em ação é compreender porque seu sucesso independe de bebedeiras, barracos, paparazzis, polêmicas.

Seu negócio é música, música da melhor qualidade. E ontem, ela conseguiu me fazer sentir privilegiado por tê-la assistido ao vivo e poder contar isso para sempre.

Por favor, olhe pra mim, eu tenho mamilos

Postado em 11 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Todo mundo tem mamilos. Algumas pessoas possuem até três ou quatro, um excedente que precisa ser removido no cirurgião plástico.

Todo mundo também nasceu nu, depois é que chega alguém, nos cobre e dá início a toda uma indústria do erotismo baseada simplesmente em devolver-nos à nossa condição básica que é a de sermos pelados.

No entanto, mesmo sabendo disso, a falta de um acesso mais universalizado à putaria - ou seja, os tempos pré-internet - mobilizou milhões de dólares em revistas, fotonovelas e filmes do Buttmann, escondidos num canto proscrito das locadoras de vídeo.

Jamais esquecerei quando eu era moleque, com meus 11 ou 12 anos, como era uma verdadeira aventura comprar as edições da Playboy ou da Ele&Ela com a Luiza Brunet, Cláudia Egito, Monique Evans ou Vanessa de Oliveira.

Chegava na banca já intimidado por aquele aviso no plástico que envolvia as "revistas de sacanagem": proibida a venda para menores de 18 anos.

Mas o jornaleiro precisava comprar o leite dos filhos, então fazia vista grossa, só que um pequeno tratrinho era necessário:

- Bom dia, me dá um Jornal do Brasil e um Recruta Zero, por favor.

- Claro, aqui está, mais alguma coisa?

- Ah sim, uma Playboy pro meu pai também.

E assim eu ia feliz para casa, folhear e me divertir com aquelas imagens de xoxotas, peitos, coxas e bundas, que depois eram devidamente escondidas no fundo do meu armário, atrás das calças compridas e debaixo da caixa com os gibis do Recruta Zero.

Hoje a coisa melhorou, quer dizer, ficou mais fácil. Um moleque que mal passou dos 8 ou 9 anos dificilmente conseguirá navegar pela internet sem que uma dupla de mamilos ou uma calcinha fio dental pulem em cima dele inesperadamente.

É uma situação tão descontrolada que existem softwares para uma navegação segura, que certamente se tornarão um obstáculo quando o moleque virar um rapazinho de 12 anos.


Existe o Red Tube, o You Porn, o Porn isso, X- aquilo. É um sem número de sites com vídeos variadíssimos, que atendem a quase todos os fetiches que a mente humana consegue criar (e olha que não são poucos).

E ai entra a minha dúvida cruel: o que, além de carência e de uma necessidade quase lancinante de atenção e aprovação (ainda que falsa ou na forma de grunhidos e elogios de punheteiros virtuais) leva uma garota a ficar se expondo em fotos, vídeos no You Tube ou nessas câmeras ao vivo que viraram febre na internet?

Algum moderninho vai me chamar de careta, vai dizer que eu tenho inveja ou então que só falo mal porque nenhuma delas quer me dar alguma coisa, mas vamos ser honestos: baseado puramente no exibicionismo virtual, elas dão alguma coisa real para quem?

Desculpem os avançados, mas sexo virtual pra mim é o mesmo que não fazer sexo. Qualquer atividade que não envolva troca de fluídos e até mesmo o risco de alguma doença venérea pra mim pode ser qualquer coisa, menos sexo.

Ficar vendo o peito de uma garota lá de São Paulo e babando ovo dela como se eu tivesse saído daquele buraco dos mineiros chilenos, simplesmente pelo direito de ver o outro peito, é uma idéia muito estúpida na minha humilde opinião.

Um bom exemplo é no Twitter, onde existe o tal "lingerie day", no qual garotas e caras colocam fotos de calcinha, sutiã e cueca (nem sempre nessa ordem) durante um dia inteiro. Qual o propósito? Esqueça os homens, simplesmente me recuso a emitir opinião sobre machos de cueca, foquemos as meninas.

Nada do que elas mostrarem ali será diferente do que aparece todo dia em páginas de revistas, na novela das oito e até no Programa da Xuxa, pra que então? Carência, necessidade de atenção, urgência por uma bomba de encher pneu de bicicleta acoplada ao ego.

Não nego que um monte de sujeitos chamando de "gostosa", "maravilhosa", entre outras coisas deva fazer bem às frustrações do dia a dia, mas aquelas moças que enfeitavam as Playboys que eu comprava quando era moleque ganhavam muito mais do que elogios em troca da exposição.

Para essa turma das câmeras, dos showzinhos ao vivo e das fotos de calcinha, sobra somente a invasão da privacidade (às vezes em níveis comparáveis a um exame ginecológico) e a fama de "putinha da internet".

Sim, rotulo mesmo, porque não vai ser a inteligência que vai chamar a atenção nessa hora, ainda que muitas delas sejam inteligentes.

Não subestime o poder de um monte de pêlos pubianos. Nenhuma tese de mestrado ou teoria sobre a origem do universo é páreo para eles.

E pros expectadores? Esses ávidos onanistas que fazem de tudo para ver uma nesga de mamilo, uma fatia de virilha, um naco de bunda, como se vivêssemos ainda no tempo das anáguas?

Não sobra nada, no máximo, uma punheta mal batida.

Rotina boa é a dos outros

Postado em 10 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Bom humor e pensamento positivo são duas coisas importantes, porém meio super-valorizadas. Não adianta querer mentir, depois de um tempo o otimismo se resume basicamente em torcer para que não dê nenhuma cagada.

Eu sei que sou meio ranzinza, mas sinceramente, essa é a atitude mais condizente com a rotina que somos fatalmente obrigados a encarar quando chegamos na tal idade adulta.

A rotina é mais ou menos como um desses telejornais noturnos. Para ser honesto mesmo, o William Bonner jamais poderia começar o Jornal Nacional com um "boa noite", ele deveria dizer algo como "olha, eu sei que vou estragar o seu dia com notícias de merda, mas tente abstrair se puder".

Mas nesse ponto eu já estou falando do final do dia, como se não existisse o resto dele antes disso.

Você já acorda com aquele despertador te sacaneando. Sim, porque faz um som estridente ou então toca alguma música do rádio, quando na verdade deveria é ter uma voz cavernosa dizendo "acorda aí, não tem jeito. E não me xingue, porque foi você que me programou".

Depois você enfrenta um engarrafamento dirigindo, dentro do ônibus ou um engarrafamento de pessoas num trem ou metrô. E o ponto alto dessa parjornada será o almoço, onde você troca sua mesa cheia de trabalho acumulado por uma velha meio gorda de uns 70 anos catando ovos de codorna e atrasando a fila do restaurante a quilo.

Costumo dizer: me chame de filho da puta, mas não me chame pra um restaurante de comida a quilo.


Na volta pra casa, outro engarrafamento, programação meia-boca na TV e ir dormir pra começar tudo de novo.

Quem diz que rotina é uma coisa maravilhosa só pode ser amante da Angelina Jolie ou então deve ser o próprio Brad Pitt, porque a rotina deles, sim, deve ser maravilhosa, mas a minha e sua são é bem mais ou menos.

Quando conheci Fernando de Noronha não tirava da cabeça que aquele ilhéu (habitante de lá) que nos servia de guia devia achar um saco a sua rotina, que com certeza todos os turistas ali invejavam.

Não podia deixar de imaginá-lo de manhã, reclamando com a esposa em casa:

- Aqueles golfinhos de merda, as mesmas tartarugas de bosta, sem contar esse sol filho da puta!

Fazer a mesma coisa todo dia é um saco, ainda que existam poucas alternativas para isso caso você não ganhe numa loteria, receba uma herança ou resolva virar hippie.

Um dia você descobre que existe algo de errado na sua vida quando a sua maior ambição é passar o dia sem levar nenhum esporro ou sem ter que dar nenhum esporro em alguém.

Pra piorar tudo, você espera o final de semana ansioso e no final das contas se vê em casa, à toa no sábado de noite, porque preferiu ver o Supercine do que ir naquele barzinho de música ao vivo escutar algum pentelho tocando Raul Seixas.

E no final das contas sabe onde tudo termina? Numa segunda-feira. De novo.

Tira os pés do sofá, e se fosse na Olimpíada?

Postado em 7 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Um dos meus tios morava com a minha avó - relevem esse fato - e sempre dizia que deveríamos visitá-los mais, porque ao invés de pão com manteiga, o lanche teria queijo, presunto e com sorte até uma geléia.

Sabe como é, visita precisa ser bem tratada.

Quem nunca saiu correndo pela casa, recolhendo roupas, sacolas, copos, pratos e tudo quanto é coisa que estava espalhada, espanando móveis com a mão, rearrumando almofadas, só porque o interfone tocou anunciando a chegada de alguém que você não esperava?

Isso é normal se você está aproveitando um final de semana de ócio e aquele primo pentelho aparece de repente com a esposa e a sogra, mas não é muito saudável caso você viva rodeado de lixo, comendo miojo e resolva dar uma faxina na casa e se alimentar com algo que tenha menos sódio e corantes só porque alguém resolve te visitar.

Falei tanto para chegar no assunto principal: o Rio de Janeiro, é claro.

A indagação "e se fosse na Olimpíada?" passou a fazer parte do vocabulário da maioria dos cariocas.

Se falta luz, água, o trânsito complica mais ainda, a coleta de lixo é irregular, se tem entulho na calçada, esgoto a céu aberto, arrastão nas praias, camelôs invadindo as calçadas, enchente, vazamento de gás, se o metrô continua atrasando, se o preço do pãozinho aumenta, tudo isso é acompanhado pelas tradicionais reclamações e mais a dúvida cruel: e se isso acontecesse na Olimpíada?

Como se tais problemas não fossem inaceitáveis com ou sem um evento mundial, com ou sem a vinda de turistas, com ou sem os "olhos do mundo" voltados para a cidade.

Durante o Panamericano de 2007, a cidade resolveu seus problemas como o sujeito que estava em casa e o primo chegou de repente. Havia um rio fedorento perto da Vila do Pan? Colocaram essência na água. Sério, isso é true story.

O trânsito da cidade é caótico? Deram férias nas escolas do município, ponto facultativo para os funcionários públicos, pintaram umas faixas seletivas por onde as delegações iriam passar e pronto, o problema foi "resolvido".


Por 15 dias, é claro.

A Olimpíada de 2016, ainda que gere algumas obras de maior porte, continua passando a impressão de que o Rio de Janeiro é muito mais pra "inglês ver" do que para "carioca ver".

Já que um sistema de transportes menos medíocre, águas e ar menos poluídos, uma cidade mais limpa e organizada e sensação de segurança, deveria, pelo menos em tese, ser algo feito para todos, turistas e moradores, mas muito mais para os moradores, o que não parece ser o caso.

Não sei você, mas eu não consigo imaginar o governo de certos países mais desenvolvidos - olha o complexo de vira-lata aí - pensando assim: tudo bem, vamos sediar um evento mundial, acho que é hora de remover esses lixões da cidade, cuidar do exército de mendigos e meninos de rua que vivem em nossas calçadas, tapar buracos no asfalto e aproveitar para melhorar a merenda escolar.

É como uma pessoa que só escova os dentes quando vai beijar alguém. Deu nojinho, né?

Pois saiba que sem as Olimpíadas, provavelmente o Rio de Janeiro continuaria com a sala desarrumada, alguma cueca pendurada no ventilador, poeira em cima dos móveis e o pior, tártaro e placa bacteriana pra não botar inveja em nenhum anúncio de creme dental.

Quem é você por trás do seu avatar?

Postado em 6 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Por trás de cada sacada bem humorada, de cada piadinha cheia de timming, de cada verve irresistível, existe uma alma que deseja apenas um abraço.

Pode ser o aplauso de uma multidão, um texto repassado numa corrente de emails, um elogio no Twitter, mas depois do dinheiro e do poder, o que o ser humano mais adora e persegue loucamente é aprovação.

O tal "reconhecimento" da sociedade que vem na forma de ser considerado um bom vizinho, um colega de trabalho prestativo, um bom samaritano, tudo isso esconde um buraco negro chamado ego.

O problema é que esconde outras coisas também, como psicopatias, carências, frustrações, avarezas, taras, loucuras, manias.

Todo mundo é importante na internet. Duvida disso? Então pense que é difícil achar alguém no Orkut ou no Facebook com menos de 100 "amigos". No Twitter então, ter 500 seguidores é uma baba, quase todo mundo consegue.

Quer dizer, virtualmente seríamos todos vereadores de Varre e Sai, cidadezinha no Rio de Janeiro onde com 173 votos você se elege para a Câmara Municipal.

E não pense que a falta de um poder real ou econômico diminui a importância disso.


Delete um "amigo" do Orkut ou deixe de seguir alguém no Twitter e conheça alguns dos ataques de fúria e mágoa que isso pode originar. Não precisa acreditar em mim, puxe pela memória que certamente você vai lembrar de alguém que te interpelou perguntando algo como "porque você me deletou do seu Orkut?".

A coisa é levada tão a sério que existem aqueles que anunciam que vão deixar de seguir alguém em redes sociais, como uma espécie de comunicado à praça ou fato relevante:

"Vou dar unfollow em Fulano porque ele só fala sobre sua coleção de discos do Wando"

Agora pense rápido: poucas atitudes denotam mais carência do que isso, né? Imagino o sujeito dizendo uma coisa dessas e já rezando para que dali a alguns minutos o Fulano que deixou de ser seguido poste em algum álbum uma foto de joelhos, mãos postas e a legenda: por favor, eu imploro, não deixe de me seguir!

Só que tal qual quem faz a pergunta "posso te pedir alguma coisa?" jamais espera receber como resposta um simples "não", e como alguém que diz "gosto de quem fala a verdade", alguém que anuncia que vai deixar de seguir alguém em uma rede social jamais está preparado para um singelo "foda-se". E isto é um fato.

Negar para alguém a importância que ela jura que tem é o equivalente a um soco no estômago, ou melhor, a um tapa na cara.

E todas aquelas pessoas equilibradas, gente boa, concatenadas e maduras põem-se a falar mal de você, fazer bonecos de vodu e tentar resetar a senha do seu email, Twitter, Facebook e até do Sex Shop.

Tal qual aquele sujeito que vai num Mc Donald's e metralha todos os clientes só porque a atendente serviu uma Coca Zero ao invés da Light, temo pelo futuro da humanidade caso as rejeições virtuais tomem o mesmo caminho.

A moral da história é a seguinte: convém não irritar muita gente por aí, afinal, você nunca sabe se quem está por trás daquele avatar é o Jason, o Freddy ou Jack, o Estripador, que podem inclusive estar num mau dia, depois de terem sido recusados no Beautiful People.

Você é onde você nasce

Postado em 5 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 12 Comentários

Você nasce em um lugar e acaba ganhando de brinde praticamente todos os estereótipos que acompanham seus conterrâneos. Nem vou me deter muito falando do argentino catimbeiro, do americano metido a dono do mundo, do alemão nazista, do inglês com chapéu coco, do francês fedendo a queijo.

Deixo isso tudo para os viajantes de plantão, mesmo porque aqui no Brasil a gente tem um bocado de estereótipos que, sozinhos, já dão assunto suficiente.

Um carioca, por exemplo, tem duas opções: ou nasce com uma camisa listrada, um chapéu Panamá e batucando num pandeiro ou então com uma prancha de surf, um dragão tatuado no braço e a estranha tendência de responder qualquer pergunta, afirmação ou mesmo um simples "bom dia" com um "úhúúú!".

Não tem nada mais deslocado no mundo, nem um cérebro na casa do Big Brother , do que um carioca que não curta nem samba, carnaval,  praia ou calor.

Já um paulista que troque o programa de assistir pousos e decolagens de avião por um ensaio de escola de samba é praticamente um E.T. Paulista precisa ser meio estressado, apressado, fingir que gosta de trabalho (porque gostar mesmo...) e preferencialmente urbano.

Tenho pena de quem nasce em São Paulo com vocação pra preguiçoso. São Paulo não combina com uma rede na varanda e muito menos com chinelos de dedo, ainda que alguém deva fazer uso desses ítens por lá.

E, claro, não poderia esquecer dos mineiros. Todo mundo que conhece um, tem certeza de que ele vem de alguma cidade chamada Pirapora ou qualquer coisa "do Norte" ou "de Dentro". Pindamonhangaba do Norte, Nhambiquara do Norte, Jamburuzinho de Dentro.

Baseado no que pensam cariocas, paulistas e demais brasileiros, para se comunicar os mineiros necessitariam de um vocabulário curtíssimo, composto em sua maioria por interjeições como "uai", "sô", "êta ferro" e a onipresente "trem".

Acrescente a isso um chapéu de palha, um capim na boca e um queijo no bolso ou na mochila e temos aí o que se espera de todo mineiro.


Os demais etados brasileiros tem suas particularidades, mas elas se diluem no imaginário nacional, transformando qualquer lugar ao norte do Espírito Santo - que é uma espécie de Acre da região Sudeste - apenas em "Nordeste", com cactus, calangos, chapéu de couro estilo Lampião e chão rachado.

Conheço gente que quase desmaiou ao descobrir que João Pessoa tem tantos prédios quanto a Barra da Tijuca.

Exceção à Bahia, claro, que só tem gente vestida de branco com lenço na cabeça - vendendo acarajé ou fazendo barulho no Filhos de Gandi - e micaretas.

A região Norte é simplesmente "o mato". Para o resto dos brasileiros os poucos índios que habitam por lá passam o dia entre três atividades básicas: colher frutas, pescar e correr das onças.

O último grande reduto dos estereótipos é o Rio Grande do Sul. Mas aí é um caso esquizofrenia estereotipal. Porque se os gaúchos adoram reforçar os próprios mitos com suas cuias de chimarrão mesmo sob um sol de 40º, o resto do Brasil continua reforçando o mito de que lá é um depósito de mulheres gostosas e homens afrescalhados.

Claro que é um exageiro, afinal, Pelotas não é menos "fresca" do que Campinas ou a Farme de Amoedo, em Ipanema, mas qual seria a graça de não imaginar que todo gaúcho anda de bombacha, faz churrasco até em apartamento e usa uma calcinha fio dental escondida?

Brincadeiras à parte, o brasileiro já é um gigantesco estereótipo, deitado em berço esplêndido, afinal, quem mais teria Pelé, mulata e Carnaval para lhe fazer sombra?

Associada Júnior do Setor de Calçados, reportar rotina 3

Postado em 4 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Eu estava numa dessas lojas de departamento que vendem desde cuecas até bicicletas, passando por chocolates, DVDs, brinquedos e talvez até um ou outro deputado, quando escutei o aviso sinistro:

- Associada Júnior do Setor de Calçados, reportar rotina 3.

"Reportar rotina 3", essas palavras ficaram se repetindo na minha mente enquanto eu tentava imaginar o que seria a tal rotina 3. Pensei em tudo, desde bombas de fabricação caseira até "cliente surtado com machado na seção de video-games" ou "coroa desgovernada sem roupa na seção de cama, mesa e banho", mas no fim conclui que deveria ser algo tão sem graça quanto ligar para o telecheque ou passar algum cartão de crédito.

Nunca entendi direito essa mania que certas empresas - tudo bem, quase todas - tem de criar nomes difíceis para coisas simples. Talvez seja para dar uma enfeitada num trabalho sem graça, para criar um jargão que mantenha o cliente sempre às escuras, tomado de uma reverência que só se tem com o desconhecido.

Creio que ficar sentado esperando que alguém "finalize o procedimento A-2" seja uma aventura muito mais tensa do que simplesmente esperar que tirem fotocópias da sua identidade, daí essa fixação por termos que apenas enfeitam o que é comezinho.

Ainda lembro quando telefonei para uma agência de turismo para confirmar um orçamento e ouvi a mocinha me perguntar, solene:

- Quantos PAX, Senhor?

Mais tarde fui avisado que "pax" é a sigla para "passageiros". Tudo bem que isso economize oito letras e talvez padronize internacionalmente o termo, mas eu precisava ter contato com isso porque mesmo?

Outra cousa que me deixa intrigado é a mania de criar novos nomes para trabalhos tão antigos quanto as anáguas ou o rapé. Empregada doméstica assim vira "secretária do lar", balconista vira "atendente" e funcionário vira "associado".


Nestes ainda se compreende a intenção de conferir mais importância ao cargo, mas o que dizer do bom e velho cabeleireiro ter virado "hair stylist", a recepcionista se transformar "hostess" e quase todo mundo passar a ser "designer" ou "personal" alguma coisa.

É desgner de piscina, de sofás, de almofadas, de jardins, de banheiros, de jóias (pobre do velho ourives).

E tem também o personal trainner (verdade seja dita, este, pelo menos, é o original), personal-stylist, personal-fritador de pastéis, personal-engraxate, enfim, tem personal para tudo. Tem até um personal-shopper, que se encarrega de fazer compras pra você (talvez quem precise de um desses nunca se casou e deu um cartão de crédito pra esposa).

Se você estiver desempregado, não se preocupe, você sempre poderá dizer que é DJ ou que "tem projetos em andamento" ou algum curso ou "consultoria" pra fazer.

Já alguém que teve algum sucesso, mesmo que breve, em qualquer atividade (vale ex-BBB, deputado cassado, ex-amante de jogador de futebol), pode ganhar dinheiro dando palestras. Sempre existirá um idiota disposto a ouvir o que outro idiota tem para dizer sobre algum assunto idiota.

Mas a grande verdade é que se o segredo do sucesso é fazer o que se ama, deveriam nos pagar para dormir, viajar e ir à praia, afinal de contas, seria genial passar 11 meses de férias e depois negociar a venda de 15 dias de trabalho com o chefe.

Você sabia que eles olham pra mim?

Postado em 3 de jan. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Dificilmente alguém que já esteve num relacionamento com uma mulher - incluo aí até as lésbicas - deixou de ouvir a frase que dá título a este singelo texto.

Fazer ciúmes está no script de qualquer relacionamento maduro, saudável e estável que conhecemos. (nos relacionamentos imaturos, doentios e cheios de altos e baixos tem isso e mais todo um arsenal de novela das oito).

O que as mulheres não entendem é que o mesmo argumento que elas usam para desqualificar a maioria dos homens, o famoso "homem dá em cima de qualquer baranga/perua/galinha", pode ser usado para desconstruir a cena de provocação de ciúmes delas.

Se basta não ser muito gorda, muito feia, muito caída, muito galinha e nem muito mal vestida - as muito vulgares não entram nessa conta porque homem adora mulher com cara de puta - para que alguém dê em cima, então o fato de alguém ter dado em cima de você não é lá algo muito digno de nota, concorda?

A gatinha está passeando na rua, voltando do almoço e aí passa algum Don Juan de calçada e lança um "nossa, que princesa...". Ela finge que não ouve, não dá a menor atenção, mas fica com um pedaço do ego hipertrofiado de alguma forma, porque chega pro namorado mais tarde e conta "até minhas amigas percebem como os homens me olham na rua".

Concordo que isso faz bem pro ego, mas o que ela não percebe é que aquela provavelmente foi a 36ª cantada que aquele indivíduo deu em alguém naquela semana.

Entre outros, existem homens que gostam de futebol, existem homens que gostam de namorar sério, existem homens viciados em chats de internet, existem homens que viram políticos para enriquecer, existe o Eike Batista e existem homens que passam cantadas em mulheres na rua.

É quase um vício, faz parte de algum código do DNA, mas ele é assim e nada o fará mudar.

Claro que alguns são mais grosseiros - "te chupo toooooda" - e outros mais sutis - "nossa, que belo sorriso", mas todos fazem parte da categoria dos que passam cantada em mulher na rua. E eles estão espalhados por aí, por isso não é difícil encontrar com algum deles.


As mulheres tem uma vantagem sobre os homens: são eles que precisam dar em cima delas.

Ainda que algumas tomem a iniciativa - e invariavelmente assustem os caras - a regra é clara: elas dão mole,  eles chegam em cima. Só que o "dar mole" não é necessariamente um pré-requisito para "chegar em cima", o que gera sempre as maiores confusões.

Mas no final, elas escolhem.

Por isso não acredito na velha máxima que diz que "mulher gosta é de dinheiro". Muitas adoram dinheiro, todas adoram o conforto que o dinheiro traz, mas a maioria gosta sim de homem bonito ou inteligente ou rico ou poderoso ou todas as coisas anteriores.

E o fato delas gostarem de homem bonito e também de dinheiro não impede que casem com um feio rico e arrumem um amante pobre, mas isso é outra história.

Você pode ser famoso como o Bono, você pode ser bonito como o Jude Law, você pode ser poderoso como Vladimir Putin, você pode ser rico como o Sultão de Brunei, mas dificilmente você será tudo isso e é aí que elas te pegam para fazer ciúme.

Porque o homem facilmente esquece que ela está com ele porque quer (supondo que você não a mantenha num porão, acorrentada e comendo três refeições por dia que são servidas sempre que ela não está "de castigo").

Você pode não ser bonito, mas é rico, pode não ser rico, mas é inteligente, pode não ser inteligente, mas é famoso, pode não ser famoso, mas é atlético, pode não ser atlético, mas tem potencial ou pode não ser nada disso, mas ela estranhamente ficou contigo - talvez até porque queira roubar seu rim enquanto você dorme -mas saiba que seja qual for o motivo, ela provoca ciúmes para chamar sua atenção.

De alguma forma ela acha que você precisa tratá-la melhor, valorizá-la mais, parar de usar essas camisetas do Voivod que você usa desde que tinha 13 anos, assistir menos TV durante o sexo, enfim, alguma coisa que mostre o seu empenho na relação - e que ela quer tanto, que até recorreu ao estratagema de criar uma situação de insegurança em você para tentar conseguir.

Provavelmente no fundo ela gosta mesmo é de você, quer ficar contigo e se quisesse mesmo te trocar, só avisaria quando você já estivesse mais descartado do que pneu careca em borracheiro ou camisinha em casa de swing.

Mas você deve estar sempre preparado para a possibilidade dela simplesmente ser uma cretina ou de que realmente esteja pensando em partir pra outra ou em te trair, nesse caso é uma boa hora para você reavaliar aquele mole que a secretária do seu psicanalista te deu, afinal, se o negócio é ser imaturo e perder o equilíbrio emocional, ciúme e traição combinam perfeitamente com vingança.
 
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