Feliz Ano Novo!

Postado em 29 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Este blog entrará de férias assim que virar o ano e só retorna no dia 15 de janeiro, já de baterias recarregadas e pronto para mais histórias e reclamações de toda ordem.

Um ano que começou com um livro (a coletânea Eu Amo Escrever), passou por outro (a também coletânea O Tempo de Cada Um) e terminou com mais um livro (desta vez só meu, com o mesmo nome do blog), pode ser considerado bastante produtivo.


Que em 2013 possamos ter mais coisas para reclamar e falar mal (porque isso é sinal de que estamos vivos e pensando, logo, bem), que possamos viajar muito, conhecer gente nova (mas só gente legal, de cretinos já bastam os que nos assolam diariamente e são bem conhecidos) e que ao fim de mais um ano, antes de mais nada, possamos estar juntos aqui novamente, contabilizando mais vitórias do que revezes.

Sim, porque quem gosta de perder é torcedor do Íbis.

Amigos, um feliz 2013 com muita saúde, paz, felicidade, muitas viagens e poucas malas.

Um abraço e obrigado pela companhia em mais um ano. Até breve!

Confessa: nem você sabe o que isso aí que você usa quer dizer

Postado em 27 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Nossa roupa diz muito sobre nós. E nem falo da moda propriamente dita, que pode determinar se você é uma pessoa estilosa ou um brega indigno de ser até mesmo cumprimentado na rua dependendo da tendência da vez.

Numa noite de ano novo, por exemplo, basta a cor e já te identificam. 
Branco, quer paz. Vermelho, amor. Amarelo, dinheiro. Preto, você é só um cretino que quer causar polêmica, e por aí vai.


E quando a camisa que você usa quer passar uma mensagem específica? Quando frases, imagens e números pretendem dizer algo sobre a pessoa que está usando aquela peça de roupa?

Algumas são bem claras: virgindade é doença, vacine-se aqui. Rock in Rio, eu fui. Pode ser simplesmente propaganda, como "Mercadinho Tanajura" ou "Papelaria Aritana", o que, aliás, não difere muito de usar um "Cavalera" ou "Osklen" estampado no peito, com o detalhe de que nestes casos você paga (caro) para fazer propaganda dos outros.

Tal qual acontece com times de futebol, onde cada torcida faz questão de dizer que sua camisa é um "manto sagrado", o que eu não concordo muito, afinal, "mantos sagrados" não deveriam feder a jaula com apenas 5 minutos de uso.

Blusas de bandas de rock também são fáceis de identificar: ali vai um sujeito que curte 5 marmanjos com tanta força que usa até as fotos deles numa blusa. Se for menininha fica menos estranho, mas quem sou eu pra falar? Logo eu, que tenho camisetas do Kiss e dos Smiths.
Mas até aí, tudo bem. Gostando ou não, concordando ou não, cada um desses casos (times de futebol, frases engraçadinhas, propagandas, bandas de rock), tudo isso diz claramente qual é o espírito da coisa, spo que algumas camisetas são tão aleatórias que parecem não dizer nada.

Faça um passeio por uma dessas grandes lojas de roupas e tente ler aleatoriamente o que eles escrevem nas blusas. Já vi coisas como "Califórnia Café - New York" (???), "Bonaire Netherlands 3.73", "Moscow Surf Club 89", "Bungee Jump Saara", "Tijuana Disco Night 1974", entre outras.

Certa vez achei um cartoon que tentava adivinhar como esses nomes eram escolhidos. Um sujeito tirava um papelzinho num sorteio e saía "Disco Club", daí rodavam um globo terrestre e onde o dedo parasse era o nome da cidade, tipo "San Jose" e por fim um macaco cagava em cima de uma tabela de números e eles decidiam que a estampa seria "San Jose Disco Club 1983".

Pode ser assim mesmo ou então o cara pode colocar uma roda de hamster, contar as voltas que o hamster dá e com isso decidir que o número estampado vai ser "3607". Depois colocaria um mapa mundi colado na parede e pediria para pra uma criança de 5 anos atirar uma gelatina ali, onde a gelatina grudasse seria o nome da cidade.

Pronto, dessa forma chega-se à maravilhosa estampa "Calcutá-Búzios 3607".

O sistema ainda pode funcionar de diversas formas, como contar as pessoas num vagão do metrô, ligar no Discovery Channel e ver o primeiro animal que aparecer e, finalizando, juntar o primeiro com o segundo nome de cidades com nomes duplos.

Chegaríamos assim a estampas como "Hippo 59 New Paulo" e "Golfinho 179 Buenos de Janeiro".

E tão certo quando haveria alguém para comprar, seria o fato de que todos os compradores não fariam a menor idéia do que aquela porra quer dizer.

O mundo não vai acabar, porque o mundo já acabou (e segue acabando, sem necessariamente acabar mesmo)

Postado em 20 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

"Apesar de baterem de frente com os defensores do apocalipse maia, os cientistas não afirmam que a vida humana vá durar para sempre. Ao contrário, eles sabem que a história dos Homo sapiens, e da civilização que conseguiram construir no terceiro planeta do Sistema Solar, terá de chegar ao fim - em um futuro ainda distante. Daqui a um bilhão de anos, a radiação solar deve aumentar de intensidade a ponto de queimar o que estiver vivo e evaporar toda a água da Terra. Se o homem conseguir bolar algum jeito de sobreviver, em quatro bilhões de anos a Galáxia de Andrômeda deve se chocar com a Via Láctea, causando uma série de colisões estelares. Se a Terra passar incólume, em cinco bilhões de anos o Sol se tornará uma estrela gigante vermelha, e consumirá o planeta em suas chamas."

Revista Veja On Line

Lendo uma reportagem na internet, o trecho acima chamou bastante a minha atenção. Não que eu seja um desses defensores de teorias apocalípticas e realmente esperasse que o mundo fosse terminar no dia 21/12/2012, mas porque esse assunto volta e meia retorna na forma de alguma profecia de Nostradamus, de algum guru com um bando de seguidores que esperam um tsunami de Coca-Cola ou uma chuva de pererecas, ou então de evangélicos pentecostais que juram que serão os únicos salvos.

O que sei de concreto é que depois de vinte e um de dezembro de dois mil e doze o mundo (por extenso fica bonito, né?) continuará por aí, mas que a quantidade de reportagens, de gente falando sobre a tal profecia maia e de piadinhas cretinas sobre o assunto com certeza vão fazer muita gente desejar que tivesse acabado mesmo.

Mas a verdade é que seria muito chato caso esses entusiastas do fim do mundo (sim, alguns falam com tanta animação que só podem torcer por isto) tivessem razão.

Note, não acho que o Congresso brasileiro, que a quase totalidade dos políticos sul-americanos, que a axé music, o pagode de corno, o funk carioca, as pizzas com borda recheada, os engarrafamentos e os programas de TV aberta fariam falta.

Não sentiria muita saudade também de contas na caixa de correio, cretinos travando escadas rolantes, gente que não diz "por favor" e nem "obrigado" e dias com qualquer temperatura acima de 25 graus.

Só que nem alguém tomado por um pessimismo existencial completo, por uma misantropia incurável ou por um catastrofismo mastodôntico poderia dizer que o fim do mundo como conhecemos não seria uma pena.

Primeiro porque você sempre pode mudar de cidade, se aposentar, escolher um restaurante melhor, atirar cretinos no oceano. Depois porque ainda que seja cheio de coisas com imenso potencial de estragar o nosso dia várias vezes ao dia, o mundo também tem seu charme.



Imagine que saco não existir mais a feirinha da Liberdade, o Coliseu de Roma, os sanduíches do Cervantes (quem não conhece, pesquise), as loiras e morenas com roupas de praia. Um beijo de filho, um colo de pai, um carinho de mãe, uma briga de irmão.

As praias ao redor do mundo, os parques temáticos, as cidades que nos dão tudo o que podemos querer (Nova York, Londres, Paris, Milão, Tókio com suas japinhas lindas e Lisboa, a mais linda de todas).

As músicas de Mozart, Smiths ou Billie Hollyday. Os filmes do Tarantino e do Woody Allen. Esperar o próximo "Senhor dos Anéis" ou simplesmente descobrir que no apocalipse não tem zumbis. Muito chato.

Brigadeiro, bolo de abacaxi, café com leite, limonada e sorvete de menta. Beijo na boca, primeiro encontro, milésimo encontro, encontros para a vida inteira. Falar mal dos outros, reclamar de tudo, falar bem só do que merece (muito).

Isso tudo sem a garantia de que nada muito melhor ficaria no lugar. Quem sabe entre alienígenas também façam micaretas e até com músicas piores, sem contar que seres com corpo de polvo e cabeça de Lady Gaga dançando a "Boquinha da Garrafa Alien" não deve ser uma cena muito legal de assistir.

De mais a mais, o fim do mundo é uma coisa muito relativa. Nosso mundo acaba ano a ano, conforme o tempo passa, vamos envelhecendo e o que conhecemos vai sendo substituído por coisas novas não necessariamente muito melhores só por serem novas. 

E nem é tão glamouroso assim um apocalipse. Sejamos honestos : nada te garante que você seria um dos 15 sobreviventes que passam um filme inteiro fugindo de zumbis. Pela lei das probabilidades você provavelmente estaria andando em círculos, vestindo farrapos e balbuciando coisas como "cérebros".

No final das contas, se pensarmos bem e olharmos tudo à nossa volta, com pessoas tratando bicho que nem gente e gente que nem bicho, com a necessidade de apelos tão bizarros quanto "por favor, jogue o lixo no lixo" (o que por si só já joga toda a teoria de Darwin pelo ralo) e todos os comportamentos idiotas, mal-educados e inconvenientes que os seres humanos acham perfeitamente normais, o mundo já acabou mesmo.

Só não precisou ser destruído para que isso acontecesse.

Stalkers de crachá, sim, eles podem existir

Postado em 18 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Sempre acreditei que alguém que precise usar uma pulseirinha VIP, não é VIP coisa nenhuma. Vê se o Bill Gates ou a Hillary Clinton precisam disso para serem tratados como VIP.

A mesma coisa se dá com crachás e identidades funcionais. Não imagino a Dilma ou o Obama precisando mostrar o crachá no ponto eletrônico todos os dias pela manhã para que os deixem entrar em seus gabinetes.

Mas como você não é um presidente (e provavelmente nem é o chefe), eles te dão um crachá para te identificar, tudo isso a despeito daquelas palestras onde dizem que você é muito importante para a "equipe".

Certas empresas chegam ao ponto de dividir os crachás por cores. Funcionários de carreira têm uma cor, temporários outra, gente da diretoria usa o dourado, a raia miúda usa um prateado, provavelmente turmas de cartões de cores diferentes não se misturam e rola até um sentimento de traição (quase como mudar de time e virar casaca) quando ocorre uma promoção e o sujeito troca de cor.

Já  li numa reportagem que algumas pessoas até saem na rua mostrando seus crachás com orgulho. Umas somente para mostrar que estão empregadas, que estão "encaixadas" no que se espera delas em sociedade. Outras porque trabalham em alguma empresa admirada, tipo a Apple ou a Petrobras.

E assim chego onde queria: esse hábito de sair por aí com o crachá no pescoço.

Será que eu sou muito desconfiado, tenho uma mente engenhosa, sou um stalker em potencial, ou mais alguém já pensou nas implicações de sair por aí com alguns dados da sua vida em exposição pública?

Imagine só: o sujeito está no metrô e vê uma bela loira de mini-saia e coxas roliças. Paquera, faz gestos lascivos, procura chamar a atenção, mas nada. Daí percebe que ela está usando um crachá da "Lobistas Ordinários Consultoria" e que seu nome é Bianca Silva.


Depois de uma rápida pesquisa no Facebook ele descobre que a Bianca Silva além de trabalhar na Lobistas Ordinários Consultoria também mora em Niterói, tem 29 anos, adora cachorros, torce para o Vasco e curte viajar para cidades de praia.

De posse desses dados o maluco do metrô pode até fingir que estudou no Jardim de Infância com ela, que provavelmente acreditará na sua história. Imagino o sujeito se dá bem, rola alguma coisa entre os dois e um tempo depois ele resolve se abrir:

- Lembra quando a gente se conheceu?

- Claro, no Jardim de Infância, não foi? Incrível a gente ter tanta coisa em comum e eu não lembrar de você direito. Adoramos praia, cachorros e o Vasco.

- Então, na verdade eu te vi no metrô, peguei seu nome, te adicionei no Facebook e usei seus dados para fingir que somos almas gêmeas.

- Como é que é?

- Pois é. Eu sou flamenguista, detesto areia e prefiro iguanas.

- Olha, eu poderia te perdoar por agir que nem um serial killer, por não torcer pelo mesmo time que eu e até por não gostar de praia, mas preferir aquelas lagartixas a cachorros é demais.

- Tudo bem, está tudo acabado entre nós, boa sorte, viu? Tudo de bom e tal...

- Assim tão fácil?

- Não leva a mal, mas é que tô de olho na Tatiana Souza, que trabalha como auxiliar de marketing na "Galinho de Quintino Assessoria Esportiva".

Converse de A para B. Deixe o C, o D, o E, o E e o resto do alfabeto pra lá

Postado em 13 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

Papo reto. Conversa de "a" com "b". Bater a real. Mandar na lata. Ser direto.

Não conheço uma pessoa que não diga que prefere resolver tudo assim. É quase tanta gente quanto as que mentem dizendo que preferem resolver tudo assim. Claro, porque dizer verdades na cara dos outros é muito legal até que alguém diga umas na sua. Mas isso já é sabido.

Outra coisa que também é sabida é que não há uma pessoa que não diga que detesta indiretas. É quase tanta gente quanto as que adoram usar esse tipo de recurso para se comunicar com as pessoas à sua volta.

Só que indiretas são como um tiro de escopeta, você mira num alvo e geralmente acerta 10, ou o que é pior, mira num alvo e só erra o alvo, acertando outros 10. 

São vários recursos, desde aquelas pessoas que falam bem alto num ambiente, esperando que seu recado atinja o destinatário:

- Ai, detesto mulher que não se toca e vem trabalhar vestida com roupa de ir em casa de swing...

O problema era com a sua colega de trabalho que pretendia ir vestida de Mulher Samambaia pra uma visita a um cliente, mas no fim quem te responde é a outra, que até então você achava que era mais sem sal do que brigadeiro de colher:

- Como é que é? Swing? Quem te contou isso? Olha, antes de julgar, saiba que depois de 10 anos de casado é preciso apimentar a relação!



Até quem é mais sutil e fala através de parábolas, de frases de efeito ou de generalidades que servem para qualquer coisa tendem a errar o alvo. Foi esse, aliás, o dispositivo que tornou a Lei das Carapuças uma das três leis que mais pegaram no Brasil, junto com a Lei de Gérson e a Lei de Murphy.

E como em praticamente tudo, a internet serviu para amplificar o que já era ruim. Redes sociais são o paraíso dos mal entendidos.

Não sei qual é a lógica das pessoas se incomodassem com alguma coisa e não dizerem simplesmente algo como "tô puto com o meu amigo que me deu bolo", "tô com raiva do meu namorado que olha pra tudo que é bunda que passa" ou então "Lucinha, deixa de ser filha da puta e para de sair com homem casado".

Esse negócio de "a vida é assim, amigos são amigos até que somem", "amores vem e vão e quando vão, olham a bunda alheia" ou "cada um faz aquilo que espera receber em troca", além de não dizer nada para praticamente ninguém, te faz parecer um maluco que andou lendo muito Paulo Coelho ou Palavras de Osho.


Ninguém tem saco para aturar um guru falando que nem o Yoda o tempo todo.

Porque se você resolver dizer algo como "acho que certas pessoas poderiam deixar de lado toda a sua vergonha ou covardia de falar o que pensam e se dirigir aos amigos de uma forma que cada um entenda o que cabe a cada um do seu baú de lamúrias e indignações", pode ser que não te entendam muito bem.

Agora, se você disser simplesmente "galera, deixem de boilice e parem com essa merda de dar indireta porque isso aqui não é salão de manicure", garanto que todo mundo vai entender o recado.

Fica parecendo menos aquelas conversas de telefone sem fio ou de rádio-amador - "Tá me copiando? Tem muita interferência, estou passando numa zona de interferência, tá entrecortando tudo!" - e passa a ser uma comunicação mais clara, tipo "te falo o que penso, você me fala o que pensa, a gente sai na porrada, dá umas voadoras, cai de bunda no chão e pronto, passou".

Copiou? Pois é.

Câmbio e desligo.

Não tem problema, amigo, pode demorar o quanto quiser, eu tenho todo o tempo do mundo. Not.

Postado em 11 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Tem gente que apóia regimes genocidas e tem gente que fica parada na frente da porta do vagão do metrô, mesmo sem pretender saltar nas próximas 10 estações.

Essas pessoas f
ormam o que eu chamo de "a parede dos cretinos", que não encontra correspondente nem no muro de Berlim nos seus tempos mais duros.

Gente assim é irmã gêmea ou pelo menos parente daquelas que atravancam filas de restaurante a quilo, escolhendo uma a uma as ervilhas que vão colocar no prato. Já se deparou com alguém assim? Tenho certeza que sim (a menos que você seja um deles).


Você está lá esperando pacientemente com um prato na mão (restaurante a quilo, aliás, é a versão paga daquelas filas de sopa gratuita), doido para pegar sua comida de uma vez e, de repente, percebe o cretino uma ou duas pessoas à sua frente.

Pega 7 ovos de codorna. Não 5 e nem 10, mas 7. Um a um. E depois começa a despejar molho rosé neles. De novo um a um. Dali parte para o bobó de camarão, onde passa longos minutos catando os camarões. Mas ele não se contenta só em catar, ele precisa escolher.

- Não, esse está muito pequeno. Esse só tem a cabeça. Esse eu não fui com a cara.

E você ali, tentando manter sua fúria sob controle. No final, ele ainda pára na churrasqueira e pede para aquele sujeito suado e com um avental imundo ali de dentro meia lingüiça de frango, duas asas de galinha, 6 corações (só 6, o sujeito deu 8 e ele mandou devolver 2) e um ovo com gema mole.

No final das contas você deseja ardentemente que ele pegue pelo menos uma salmonela comendo aquele ovo.



Provavelmente esse cara é da mesma família daquelas pessoas que decidem o filme que vão ver justamente quando chega a vez delas na bilheteria:

- Esse filme aí é do 007?


- É sim Senhora.

- E qual é a história, hein?

E a mulher da bilheteria, nervosa, com medo de ser linchada por 50 pessoas impacientes na fila:


- Não sei, mas tem números, deve ser algum filme de matemática.

- Ah não, muito chato, tem algum de arte conceitual europeu passando?

Essa família dos empata-foda é numerosa.

O patriarca dela com certeza é um desses coroas que dirigem um Galaxie 1970 em uma via expressa bem devagar, como se estivesse puxando um cortejo fúnebre, causando um pequeno engarrafamento de uns 100 quilômetros na hora do rush.

E eles se espalham, seja no aeroporto na hora de pegar as malas ou de guardar a bagagem de mão no avião (abre a mochila, tira o lap top, fecha a mochila, coloca no bagageiro, abre de novo, pega o fone de ouvido e nisso a fila para entrar no avião já está no saguão, quase no setor dos táxis).


Também supermercado pagando uma conta de R$27,90 com moedas de 10 centavos, ou na fila do banco, quando resolve conversar com o caixa sobre o sol do final de semana enquanto contas de luz, água e gás aguardam impacientemente para serem pagas.

Isso quando não estão por aí atravancando escadas rolantes ou ocupando uma calçada inteira com um carrinho de feira.

Eles estão por toda parte.

Com certeza foi para lidar com gente assim que inventaram meditação zen, bolinhas anti-stress e o Rivotril, mas ainda acho que um campo de concentração seria muito mais divertido.

Virar livro

Postado em 6 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Qualquer pessoa que começa a rabiscar palavras no papel e descobre que gosta disso, sonha em um dia escrever um livro.

Não é fácil, claro. Antes você precisa se encontrar na prosa, na poesia, no romance, no estilo, no timming, na gramática e, principalmente, encontrar quem o publique.

Nisso blogs facilitaram muito a vida, afinal, você não precisa estar impresso para ter contato com leitores e saber se a sua obra pode te levar um passo adiante ou se é melhor se matricular num curso de violão.

Na internet a interação é imediata, as críticas, os elogios, os esculachos, tudo isso vai te moldando, te aprimorando, desenvolvendo seu senso crítico. Quando comecei esse blog, não sabia direito do que ia falar.

Tanto que quem ler suas primeiras postagens e comparar com as de hoje, vai notar uma clara mudança. Se de início eu queria fazer um "blog-blog", cheio de links no texto e preocupado com esse mundinho chamado "blogosfera", logo vi que aquilo não me levaria onde eu queria: ao livro.

Passei a tentar (veja bem, TENTAR) fazer literatura. Antes de postar, pensava assim: isso caberia num livro, numa revista ou numa coluna de jornal? Se a resposta fosse "sim", ganhava vida.

E foi através de um concurso das lojas Cantão e da editora Livros Ilimitados que tudo começou a se tornar realidade.


Inscrevi (na verdade inscreveram) uma crônica minha retirada aqui mesmo desse blog e, ao final de um processo seletivo que contou com milhares de textos, fui selecionado como um dos 10 vencedores e publicado em uma coletânea.

Tal experiência me animou e assim entrei em mais uma coletânea da Editora Multifoco chamada "O Tempo de Cada Um", onde mais um texto desse blog pulou do mundo virtual para a "velha mídia impressa", tão desprezada em palavras e tão desejada por quem as escreve.

Não tenho como negar: é muito bom.

Mas faltava o meu livro. Aquele com meu nome na capa e o resto todo meu, da primeira à última página.

Mais uma vez a Cantão e a Livros Ilimitados (posso chamar essa dupla de gênio da lâmpada) realizou meu desejo e me convidou para fazer parte de um novo selo onde finalmente eu teria um livro pra chamar de meu.

Realização? Sim. Final feliz? Sim e não. Mais não do que sim.

Agora vem a preocupação de descobrir se todas aquelas palavras valem o peso do papel e da tinta. De toda forma, foi divertido escrever cada uma delas, reler cada uma delas e agora descobrir que elas podem colocar meu nome em várias prateleiras por aí.

E pensar que tudo começou aqui nesse blog.

Por isso agradeço a cada um de vocês que visitou isso aqui uma ou mil vezes, que comentou ou não, que repassou um link ou simplesmente me enviou um inbox no Twitter ou Facebook dizendo que gostou do que eu escrevi. Sem nada disso, não existiria o resto.

E para que eu continue agradecendo, deixe de ser pão duro e compre seu exemplar.

Vendas aqui: http://www.livrosilimitados.com.br
E em todas as grandes livrarias. Sério, nunca pensei que pudesse dizer isso um dia.

O que que tá olhando?

Postado em 4 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

O que é bonito é pra se mostrar, logo, para se olhar, certo? Depende. Nem tudo o que a gente olha é bonito e nem tudo o que é bonito dá pra olhar.

Quem já viu animal atropelado em estrada sabe bem do que eu estou falando (ou aquele vídeo bizarro que você quer parar de olhar mas simplesmente não consegue). Suas retinas já estão ardendo só de ver aquela cena do sujeito se cortando com uma faca, do moleque vomitando dentro de um capacete de astronauta ou do tubarão quase pegando o surfista, mas ainda assim você continua olhando.

E isso é um problema. Pense em você sentado num restaurante e chega aquele casal, cada um com mais de 100 quilos, em roupas de banho. Você nem é de reparar nessas bobagens, sabe que cada um pesa o quanto quiser e o fizer feliz, mas aí eles resolvem colocar 3 quilos de rondelli ao molho branco com arroz a piamontese e sorvete no mesmo prato e começam a comer bem na sua frente.

Agora me diga como desviar a visão desta cena sem que o olho volte a encarar tudo de novo automaticamente?

Dois homens se encarando geralmente dá no mesmo. Nunca entendi direito o porque, mas homens em geral têm esse problema com outro olhando. Frases como "o que que tá olhando?" ou "tá me encarando?" são normais desde a infância. Pode ser aquela idéia de que o outro está dando mole e assim ferindo sua masculinidade ou então ser entendido como tentativa de intimidação.

A impressão que dá é que o simples olhar é um ato de desafio. Dizem que em presídios a primeira coisa que os presidiários aprendem é a só olhar com o canto do olho, pra não provocar ninguém. 

Mas o curioso em toda essa fixação dos homens com outros olhando para eles, é que, para saber isso, você precisa estar olhando o outro também. Quem começou? Porque ninguém parou? Aí rola aquela situação:

- Porra, aquele sujeito tá me encarando qual é a dele?

E o outro sujeito de lá pensando:

- Qual é a daquele mané? Não para de me olhar por que, cacete?



Assim duas pessoas saem na porrada porque uma achou que a outra era meio parecida com o Michael Jackson depois da segunda ou terceira troca de cor.

Outra situação em que não desviar o olhar pode trazer problemas é quando estamos diante de alguma gostosa. Mulheres especialmente têm essa disfunção cognitiva que as leva a pensar que vão sair na rua com uma micro saia e um macro decote e ninguém vai encarar.

Uma gola "V" que bate no umbigo e a senhorita puta porque o sujeito não faz eye contact. Porra, pendura uma foto do King Kong cagando na testa que talvez você consiga desviar a atenção, do contrário, maneira no decote (ou deixa os outros se divertirem).

Mexer? Talvez. Passar a mão? Definitivamente não. Mas olhar, só os fortes resistirão. 

Metrô lotado, 18:00 horas, você jogando seu Fórmula 1 no celular e de repente vê algo vermelho. Quando sua visão começa a desembaçar vê também que no meio daquele minúsculo vestido vermelho tem peitos e bunda de fazer inveja a uma temporada inteira do BBB.

O seu carrinho bate, o Felipe Massa vence a corrida e você só descobre que está encarando quando um fio de baba cai da sua boca ao mesmo tempo em que a voz do metrô avisa que já se passaram duas estações depois da sua.

E esse é o menor dos seus problemas, porque a moça poderia estar acompanhada do namorado dela, que ignora aqueles princípios como "o que é bonito é pra se olhar" ou "os outros que olhem, ela está comigo mesmo" e resolve te chamar para um duelo de canivetes em pleno vagão, quando você só sabe lutar usando sabres de luz.

Aliás, problema mesmo nem é o namorado dela estar do lado, é a sua namorada estar por perto e resolver pedir o canivete do sujeito emprestado para fazer alguma coisa bem pior.

Faça o que quiser, mas faça longe de mim

Postado em 29 de nov. de 2012 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Não sei você, mas desde pequeno eu aprendi que existe lugar e hora certa para tudo. Tudo bem que isso não quer dizer que eu sempre segui esse ensinamento, mas pelo menos não posso alegar desconhecimento da regra por todas as vezes nas quais a quebrei.

Tenho aliás a leve suspeita de que não estou sozinho nessa. Pode ser fruto da minha imaginação, mas sempre que saio na rua vejo um monte de gente se comportando como se não conhecesse a regra da "hora e lugar certo" ou pelo menos cagando solenemente para ela.

Só que a minha idéia de fazer o que bem entender na hora errada ou no lugar errado se resume a pequenas transgressões meio idiotas como comer sobremesa antes do prato principal ou sair da aula de spinning na academia para fumar na calçada.

Mas tem gente que prefere dar uma caprichada. 

No cinema, por exemplo. O cinema é uma arena da incivilidade humana, um raio-x do verdadeiro eu de cada um potencializado pelo quase anonimato daquele ambiente escuro. Daí que se levar um saco de dois quilos de pipoca e um tonel de guaraná para a sala de exibição não é nada demais, se passar uma mensagem de texto enquanto ainda estão exibindo os traillers (apesar do aviso de desligar celulares ter rolado há uns dez minutos) não mata ninguém e ainda que dar uns beijinhos na namorada seja perfeitamente normal, o aprofundamento desses comportamentos é sim, um exagero do fora de hora e de lugar.

Uma vez sentou um sujeito do meu lado com um uma BATATA INGLESA. Isso mesmo, uma batata assada recheada de requeijão e bacon. Tirando a bomba de colesterol, o cardápio do cidadão me fez passar meia hora do filme com medo de uma batata quente cair literalmente no meu colo.

Quase perguntei: a turma da feijoada com chorinho não veio?



Casos iguais em exagero são o casal que transforma a fileira M, assentos 4 e 5 em quarto de motel ou a mulher que resolve atender o celular no meio do Festival de Cinema Búlgaro para conversar sobre o último capítulo da novela, como se falar aos sussurros não incomodasse do mesmo jeito que subir na poltrona e encenar um número do É o Tchan. 

Trepar na praia é outra coisa que pode ser legal. Numa praia deserta no Caribe, em Tuvalu, mas fazer isso em Ipanema, no meio do verão e justo na hora em que milhares de patetas se reúnem para bater palmas para o por-do-sol, aumenta sua chance de terminar algemado e com certeza não vai ser porque seu parceiro curte um sexo mais "hard".

Existem exceções, claro. Duas coisas que não têm hora em nem lugar certo (a menos que você esteja sozinho trancado num quarto com a luz apagada) é palitar os dentes e tirar meleca. Só que apesar de tantos livros de etiqueta e conselhos de avó dizendo isso, tem gente que parece ter compulsão por enfiar um palito na obturação rachada, tirar aquele fiapo de guacamole que sobrou do nacho e ficar analisando para ver se é abacate mesmo.

E nada, nada nesse mundo vai me convencer de que é normal parar num sinal, olhar para o lado e ver um sujeito com metade do antebraço calmamente enfiado no nariz.

Não é possível que exista hora e local adequados para fazer isso (ainda que seja um chamado da natureza, o que, convenhamos, não deveria ser). Mandou mal nessa, natureza.

Pior talvez só os sem noção de festa. Esse tipo de pessoa tem algum defeito genético que a torna incapaz de diferenciar situações e reuniões sociais. Quase todo mundo já foi a algum batizado na vida, em uma despedida de solteiro, numa festa de formatura, num baile de debutantes, num casamento, aniversário.

Cada uma dessas ocasiões tem um código de conduta mais ou menos estabelecido que até admite exceções, mas nada muito radical. Daí que se você terminar uma festa de casamento descalço ou então tomar um pileque numa formatura e subir no palco para fazer karaokê do Reginaldo Rossi, tudo vai estar mais ou menos dentro do aceitável.

O sem noção de festa não quer pequenas transgressões, ele gosta de encher o saco mesmo. É um cara capaz de achar que é boa idéia acender um baseado num batizado às 10:00 da manhã ou encher a cara e tirar sua avó para dançar kuduro no lanche de domingo.

Alguém assim pararia até uma choppada de faculdade para pedir um minuto de silêncio em nome das baleias minke.

Aí alguém pode chegar e dizer: eles poderiam estar roubando, matando, se candidatando a deputado.

E eu responderia: tudo bem, até poderiam, mas seria bem melhor se estivessem fazendo isso tudo aí bem longe de mim.

No inferno ou então na pqp, por exemplo.

Carrinho de supermercado fake tem pernas curtas

Postado em 27 de nov. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

Seu carrinho de compras diz muito sobre você. 

Assim como o livro que você está lendo no momento (supondo-se que você leia, já que não ler nada também diz muito sobre você), o que carrega para o caixa do supermercado pode dar uma boa idéia do tipo de pessoa que você é.


Daí que certas vezes é perfeitamente normal que você sinta que está sendo julgado enquanto alguém encara aquele monte de caixas de BIS, garrafas de Mineirinho e pacotes de Skiny que você está comprando. Praticamente dá pra ver no olhar da velhinha comprando ingredientes pra fazer uma canja:


- Que isso, hein, meu filho, nem uma maçã ou uma rúcula pra contar história!


Dizem que o segredo é não fazer compras com fome. Tudo bem, mas e se nem depois de um rodízio de pizzas eu consiga achar um suco de soja com gosto de vômito de camelo apetitoso? Tenho que comprar mesmo assim?


Vivemos sob intensa pressão social para demonstrar hábitos saudáveis. Se você não gosta de brócolis, tem que gostar de abóbora. Se não gosta de nenhum dos dois, pelo menos uma pêra de vez em quando tem que comer. Essa pressão é que gera aquelas situações onde você chega numa lanchonete, pede um cheese-quadruplo-cheddar-bacon, batata-frita e onion rings e pra rebater um suco de laranja.


É sua cota de alimentação saudável no meio daquele oceano de gordura saturada.


Só que essas situações podem se complicar um pouco mais, principalmente quando envolvem o assunto que permeia a cabeça dos homens durante 99% do tempo: sexo. Futebol e automóveis ocupam o resto, mas deixa isso pra lá.


Sabe quando você sai com uma garota lá pela terceira ou quarta vez e por isso já tem um pouco de intimidade? Então, é mais ou menos aí que você resolve se soltar um pouco e resolve pedir um filé duplo a Oswaldo Aranha com ovos de gema mole. Só que ela continua pedindo uma salada de alface e um copo d'água, tal qual no primeiro, no segundo e no terceiro encontros.


Nesse momento você se sente como um viking convidado para o chá das cinco no Palácio de Buckingham.


Pois saiba que isso pode acontecer também no supermercado e com resultados imprevisíveis e até mesmo surpreendedores.


Digamos que você tenha comprado o box de DVDs da saga Guerra nas Estrelas e tenha ido ao mercado se abastecer de gordices para passar a madrugada assistindo aquilo. Entra no supermercado imaginando que ali é o cenário da caçada do homem moderno. No lugar da lança e do tacape, um cartão de crédito como arma (e o melhor, a caça já vem embalada).


Vai jogando M&Ms, hot-pockets, amendoins, Doritos, uma barra de 2 quilos de chocolate, Coca-Cola de 600 ml, um Guaraná de 2 litros, um pote de doce de leite e dois Danettes de chocolate branco. Aí, de repente em um dos corredores do mercado você se depara com a maior gata.



Pense aí no seu tipo preferido de mulher. Morena, loira, olhos verdes ou azuis, coxas grossas, peito pequenininho, peituda, japonesa, marombada, magrinha, imagine uma gata com o seu número e a veja bem ali na sua frente. Você com aquele carrinho cheio de porcarias, ela com uma daquelas cestinhas cheia de kani, kiwis, suco de uva, alfaces, tomates, um pacote de pão integral com grãos, peito de peru e uma ricota.

Ela te dá uma olhada, você percebe que está com um fio de baba escorrendo e disfarça, ela sorri, você acha que ela percebeu a baba e lembrou do tio de 96 anos, ela sorri de novo, você começa a ficar nervoso e finalmente, ela diz algo que parece com um "oi", mas você ainda acha que pode ser um "cuidado, eu tenho gás de pimenta na minha bolsa".


Resumindo: ela te deu mole.


Imediatamente você nota que seu carrinho pode denunciar que ali está um nerd babaca que assiste Stars Wars e come porcarias a noite toda e ainda que isso seja verdade, ela não precisa descobrir tão cedo. Vai tirando uns biscoitos, coloca umas bananas no lugar, joga fora o chocolate, substituí por um ramo de folhas verdes que você não sabe se é espinafre ou bertalha, devolve o refrigerante e coloca um suco de clorofila com aroma de lima da pérsia no lugar e assim vai tentando limpar seu filme.


Já com o carrinho mais digno de apresentação, chega perto dela e puxa conversa:


- Oi, quer dizer, você me disse oi ali atrás, né?


- Disse sim, oi de novo.


- Ah, que bom, pensei que você fosse me ameaçar com gás de pimenta.


- Por que diabos eu faria isso?


- Deixa pra lá, é brincadeira só...e aí? Mora aqui perto?


- Mudei tem uns meses.


- Eu sempre venho aqui nesse mercado, tudo aqui é fresco e tal...


Vão conversando até que ela, olhando pro seu carrinho, já na fila para pagar, diz:


- Você gosta mesmo desse suco de clorofila?


- Adoro, sou super natural, tá vendo? Verduras, legumes, nada de comer bobagens.


- Nem uma cerveja?


- Muito raramente, sabe como é, não pode abusar.


- Ai, eu adoro, de preferência todo dia. Ainda mais acompanhada de uma pizza.


- Sério? Nem parece, tô vendo na sua cesta, você também é natureba, né?


- Isso aqui? Não, isso é pra minha prima que mora comigo, ela é que curte essa comida sem gosto, não usa desodorante e nem nada industrializado. Eu odeio essas coisas de hippie.


- Mesmo? Caramba, quem diria...ia te chamar pra gente ir num rodízio de saladas e tudo...


- Cruz credo, te achei bonitinho, mas a gente jamais daria certo. Essas coisas que você come têm gosto de meia velha, eu preciso de uma besteira de vez em quando pra ser feliz.


Nesse ponto você pode continuar bancando o Capitão Salada ou contar a verdade e se passar por um psicopata mentiroso que persegue mulheres em supermercados analisando as suas compras. Melhor então desencanar e tentar não perder totalmente a viagem:


- É...mas quem sabe você me ap
resenta pra sua prima, né?

Tolerância é a palavra de ordem

Postado em 22 de nov. de 2012 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

O tolerante detesta intolerância.

Ele não tolera esse tipo de coisa. O tolerante curte essa coisa misturada de opiniões, credos, raças, ideologias, religiões, culturas, desde que, é claro, não ofenda o seu conceito de mistura.

Marcha da Maconha, pelo direito de todo mundo acender seu braço de judas em paz numa praça de alimentação de shopping, o tolerante adora. Cigarro mentolado não. Cigarro mentolado não pode nem passar do estacionamento.

Tabagismo é coisa de gente feia e má. Gente que cedeu aos apelos da indústria, gente que não quer entender os malefícios do fumo, enfim, essa corja que não dá pra tolerar de jeito nenhum.

Outra coisa absurda é crucifixo em repartição pública. O estado é laico e isso ofende quem não tem religião (ou quem odeia religião, tanto faz) e o tolerante não tolera isso. Nada de imagens religiosas em locais públicos, a menos, é claro, que sejam santos católicos se beijando em cartazes da "parada gay".

Parada gay com imagens de santos se beijando a prefeitura pode até patrocinar, afinal, isso não é religião. Tudo bem que nem todo mundo é gay, tudo bem que além de laico o Estado também é assexuado (ou deveria ser), mas seria muita intolerância alguém ser contra o contribuinte bancar a festa.

Quer dizer, você pode até ser contra, mas desde que fique dentro do armário e não conte isso pra ninguém. É até bom porque já vai treinando, afinal, qualquer dia ser contra isso vai dar cadeia.

É que em nome da tolerância mandamos prender quem disser que é contra o conceito de tolerância.. Assim todo mundo cala a boca e pronto, resolvido o problema.


E se você acha isso meio estranho, o que diria então de feministas que reclamam que mulher não é só peito e bunda mas vão protestar na rua contra isso mostrando peitos e bundas? Incoerência? Não, meu amigo, tolerância. Tolere.

Senão corre o risco de ser chamado de machista, estuprador em potencial e quem sabe até de eleitor do pagodeiro Netinho.

Um tolerante não se importa tanto com o conteúdo quanto se importa com a forma. Negros são afro-descendentes, gays são homoafetivos (até que inventem um nome novo), gente que escreve errado não é gente que escreve errado, mas vítima de preconceito linguístico e por aí vai.

A tolerância não conhece limites na arte de impor limites ao que os outros pensam.

Quer irritar um tolerante sem nem precisar fazer muito esforço? Basta começar alguma frase usando expressões como "minha empregada", "os serviçais do hotel" ou então "o populacho".

Não interessa o que venha depois, você pode até completar isso tudo com "é bonita", "são legais demais" e "é que sabe ser feliz", porque ainda assim o tolerante vai ter um ataque na sua frente, estrebuchar no chão e provavelmente até te chamar de filho de profissional do sexo.

Afinal, sabe como é, "puta" o tolerante não diz. Nem quando sente vontade.

O show sou eu (not)

Postado em 13 de nov. de 2012 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Ir a um show é um evento na vida de qualquer um. Ninguém sai de casa para ver um artista do qual não goste nem um pouco (a menos, é claro, que esteja indo arrastado por alguém que goste muito, o que também não deixa de ser um evento, só que por razões diversas).

Mas ainda que o motivo da sua ida seja a sua tia, fã de bolero, que te obrigou a acompanhá-la numa sessão de "Os Grandes Clássicos da Fossa", já que está ali mesmo você pelo menos quer ver o que se passa no palco (nem que seja pra rir).


Agora pense num artista que você gosta muito. A ponto de ter colecionado revistas quando era adolescente, discos de vinil quando estava no segundo grau e possuir toda a discografia no seu iPod. Anos e anos esperando que ele viesse fazer um show na sua cidade e finalmente esse dia chega.


Você já acorda ansioso, doido para chegar a hora de ir para o show. Sai de casa, enfrenta engarrafamento, chega no local e tem que driblar flanelinhas, vendedores de cerveja e cambistas, entra numa fila, toma um baculejo dos seguranças, fica em pé esperando o atraso habitual e, no final das contas, só quer uma coisa: ver o artista em ação.


Só que nesse momento algo falha. 


O som está bem equalizado, o lugar nem está muito quente, o vocalista da banda está de bom humor (já deu até o famoso "boua noitche" e usou uma camisa da Seleção), mas algo te impede de curtir aquele show numa boa.


E este algo tem nome, aliás, tem vários nomes, mas uma só definição: é o mala da platéia.


O mala da platéia gosta de BERRAR as músicas junto com o artista, só pra mostrar como conhece todas as letras e é mais fã do que todo mundo, e como você deu o azar de ficar logo na frente (ao lado ou atrás dá praticamente no mesmo), é obrigado a ouvir aquele karaokê urrado nos seus ouvidos, ao invés do som da banda.


Sim, por incrível que pareça o mala da platéia sempre nasce com cordas vocais abençoadas e nunca, nunca fica rouco ou com dor de garganta.


Se fosse só isso já seria ruim, mas tem mais.


Geralmente o mala da platéia tem uma cara metade: a mala da platéia.




Ela estará acompanhada de vários amigos ou de um namorado brutamontes que estarão sempre prontos a colocá-la sobre os ombros para ficar ali agitando os braços e torcendo para aparecer em algum momento no DVD do show. E caso não ocorra uma súbita chuva de latas de cerveja e garrafas d'água de fazer inveja ao Carlinhos Brown, ela ficará ali até um pouco depois do bis.


Mas o que emperra tudo é que não adianta muito você trocar de lugar. Malas de platéia são como gremlins, se multiplicam numa progressão impossível de prever e prevenir.


Você sai de perto do sujeito que berra e cai atrás da pentelha no ombro do namorado. Sai de perto dela e se vê no meio de uma rodinha de amigos que achou uma boa idéia fazer uma guerra de cerveja durante a execução de "Rock and Roll All Nite", foge da turma da cerveja e acaba parando perto de uma louca que dança batendo cabelo e agitando os braços como se estivesse num enxame de abelhas.


Tudo bem que todos esses malas citados (e outros tantos esquecidos) têm todo o direito de estar ali. Pagaram ingresso, são cidadãos amparados pela Constituição, essa lenga-lenga toda, mas fica realmente difícil abstrair.


Você pensa positivo (afinal, é um de seus artistas favoritos ali), tenta se concentrar no show, nas músicas, no telão, no baterista, na dançarina e quando finalmente está quase conseguindo...leva uma braçada, ou toma um empurrão da turma que resolveu fazer pista de porrada num show do Tony Bennet. Pode ser também que sinta algo quente no pé e descubre que alguém achou boa idéia mijar no meio da pista.


E esse é justamente o pior em relação aos malas de show: eles terminam roubando a cena.


Chega um momento em que eles incomodam tanto que você não consegue mais prestar atenção em nada além deles ali, enchendo seu saco.


Nessa hora você tem duas certezas: foi bom ser revistado pelo segurança no início, porque se te deixassem entrar, sei lá, com um garfo ali, provavelmente ele já estaria espetado na orelha de alguém.


A segunda certeza é que alguém ali foi roubado e você deveria pagar couvert artístico para o mala, já que ele acabou roubando o show, ou então ele é que deveria devolver o dinheiro que você pagou no ingresso.

Acompanhadores de Seriados Anônimos

Postado em 8 de nov. de 2012 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Sem que muita gente se dê conta disso, uma revolução não tão silenciosa acontece nos costumes das pessoas. Se há um tempo atrás todo mundo só acompanhava novelas, hoje alguns seriados de TV (que um dia já foram apelidados de "enlatados") vão lentamente tomando o espaço.

Para essa nova geração globalizada e conectada (só tem uma palavra que detesto mais do que conectada: antenada) baixar um episódio e depois assistir no computador é o equivalente a sentar na frente da TV todo dia depois do jantar.

Claro que multidões ainda acompanham as novelas das 8 (ou 9, sei lá, a última vez que acompanhei uma novela a grande questão era "quem matou Odete Roitman?"), mas temo que no futuro veremos velhinhos obcecados por Walking Dead, Game of Thrones ou discutindo os velhos episódios de Sons of Anarchy no bingo do final de semana.

Creio que pelo fato de alguns seriados terem uma variedade de temas muito maior do que "núcleo de gente rica - núcleo de gente pobre - mocinha - galã - vilã (ou vilão)", que é a base de qualquer novela que se preze, terminam agradando mais a uma geração que se acostumou a ter 600 canais de TV disponíveis e não 6 como era até um tempo atrás.

O problema é que alguns desses modernos "enlatados" parecem que foram psicografados pelo autor de "Redenção" (pra quem não sabe essa foi uma novela com míseros 594 capítulos e que durou "só" dois anos).

Nem falo de "Lost", aquele seriado que enrolou tanto que transformou seus fãs quase em dependentes químicos, vagando por aí repetindo "só mais um episódio, só mais um episódio", mas de outros com igual disposição para nunca concluir nada, nem uma mísera história paralela.

Tudo bem que você não tenha esclarecimentos necessários para entender o que se passa no final de um capítulo. Tudo bem até que você continue sem saber se aquela loira que anda com uns dragões pousados no ombro que nem o papagaio do Capitão Gancho vai virar rainha ou churrasco, mas que tal alguma informação conclusiva ao final de três temporadas inteiras? Nah, pra quê?

Pegam o conceito do "gancho", que nada mais é do que deixar algo suspenso para fazer o espectador ter interesse em acompanhar o próximo episódio, e transformam uma sessão de tortura mental só comparável a ficar trancado num quarto ouvindo discos do Molejo durante 48 horas.


Aí você se vê acompanhando uma história que vai se desenrolando assim:

Episódio 1 - A mocinha está perdida numa estrada no deserto fugindo de zumbis, encontra um médico bonitão, um policial aposentado malvado e uma criança perdida.

Episódio 2 - Eles andam por uma estrada deserta fugindo de zumbis, o médico se afasta do grupo para procurar um carro para irem mais rápido, o policial acha uma caverna para eles se esconderem enquanto isso, a menininha vê algo.

Episódio 3 - Eles entram na caverna, a menininha berra, o policial saca sua arma, a mocinha seca o suor sedutoramente, o espectador fica pensando "quem será que vai pegar essa gostosa, o velho ou o bonitão?".

Episódio 4 - O médico acha um carro, a menininha tinha visto um gato (não se sabe ainda se o gato é zumbi ou normal), o policial dorme encostado numa pedra, a mocinha pergunta pelo médico.

Episódio 5 - Um grupo de homens vestidos de Bozo passa correndo, a menininha brinca com o gato, o médico aparece com o carro, um grupo de zumbis aparece.

Episódio 6 - Eles descobrem que os zumbis perseguiam os Bozos mas resolvem fugir do mesmo jeito, acham uma dançarina espanhola que estava trancada na mala do carro, a menininha brinca com o gato.

Episódio 7 - A dançarina conta que era casada com um imitador do Elvis que virou zumbi, um dos Bozos volta e diz que o restante do grupo foi dizimado, eles dão falta do policial aposentado que dormia, um cachorro zumbi aparece e resolve perseguir o gato.

Episódio 8 - O Bozo remanescente, a espanhola, a menininha, a mocinha e o médico correm desesperados numa estrada no deserto, um zumbi vestido de Elvis os persegue junto com 10 Bozos zumbis e um cachorro zumbi.

Episódio 9 - Eles se deparam com uma fazenda aparentemente abandonada mas depois descobrem que não estava abandonada. São recebidos a bala pelo Chris Rock e por um sósia do Stallone, o policial aposentado estava lá e ninguém sabe como ele chegou ali já que estava dormindo numa caverna. Todos discutem, mas são interrompidos por um Evis e um Bozo zumbi.

Episódio 10 - O grupo passa o tempo em volta de uma fogueira conversando sobre a insustentável leveza do ser. O Elvis zumbi argumenta que a humanidade está muito cheia de cabeças-ocas e que o mundo precisa de mais cérebros.

Fim de temporada.

Cenas da próxima temporada - Os personagens correm numa estrada no deserto perseguidos por zumbis no que parece ser uma gigantesca roda de hamster apocalíptica.

Enquanto isso os fãs da série andam de um lado para o outro, pálidos, pensam seriamente em fazer uma greve de fome e com olhos injetados e uma baba no canto da boca perguntam:

- Afinal, o que aconteceu com a porra do gato?

Desculpa, é que eu estava com fome

Postado em 6 de nov. de 2012 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Tem gente que não gosta de barulho, que detesta lugar cheio, que fica de mau humor se sentir calor. Tem quem não goste de quem cutuca, de engarrafamento ou de filme francês.

Cada um tem suas preferências e muitas vezes a gente nem as escolhe, elas simplesmente vêm de fábrica. E dentre as muitas pessoas que sofrem por ter sentimentos incompreendidos estão as que não gostam de cachorro, as que não gostam de chocolate e as que preferem gatos, nessa ordem.

Só que alguns comportamentos mereciam salvo-conduto perante a condenação geral, as reações exacerbadas e a reprovação colérica. Como disse aí em cima, certas coisas são originais de fábrica, já vêm com a gente desde o nascimento e, portanto, são mais fortes do que nós.

Nosso humor quando estamos com fome, por exemplo, é um desses.

Veja bem, não estou falando daquela fome que vemos pela TV na Somália ou na Etiópia, aquela fome que tira tanto a dignidade que, como dizia Nelson Rodrigues, o sujeito pode levar até um tapa na cara que não vai reagir. Essa fome é "casta e mansa, não ama e nem odeia".

Falo daquela fome pré-Burger King ou pós-praia-indo-pra-churrascaria. Aquela fome que não ama, mas que certamente odeia.

Esse tipo de fome é capaz de transformar uma pessoa com o temperamento de uma carmelita de pés descalços num daqueles personagens vingadores do Clint Eastwood.


Por isso não é muito difícil acompanharmos de perto cronologias parecidas com essa:

10:30 - "Depois de um delicioso café-da-manhã, vamos passear para conhecer Paris".

11:00 - "Como Paris é linda, pessoas bonitas, jardins floridos, um metrô eficiente, bistrôs lotados, a Torre Eiffel".

12:00 - "Já visitamos dois museus, fomos a uma galeria, tiramos fotos de flores e estátuas, nos divertimos vendo as crianças correndo nas margens do Sena, tudo perfeito".

12:40 - "Disseram que vendiam baguetes por todos os lados, mas até agora não vi nenhuma".

13:35 - "Fomos ao Louvre, gostei da pirâmide de vidro, achei a tal da Monalisa OK, infelizmente a cafeteria estava fechada para reforma".

14:10 - "Tomamos o metrô rumo a Saint-Lazare e depois um trem para ir nos Jardins de Monet, o metrô é eficiente mas parece que ninguém que anda ali toma banho, desejei ser uma vaca para pastar aqueles jardins".

15:40 - "Agora vamos em outro museu não sei de quê e nem pra quê, mas vamos visitar mais essa merda, acho que esse povo aqui perde tanto tempo construindo museus que esquecem das porras dos restaurantes".

16:00 - "OK, agora chega, quero voltar pro Brasil, lá pelo menos tem a Feira dos Paraíbas e eu posso comer buchada de bode até explodir".

16:15 - "Já mandei minha companhia de viagem tomar no cu, a guia turística para a merda e estou deitado no meio da pista da Avenida Champs Elysees em protesto. A polícia chegou, já ligaram pedindo para a minha mãe tentar me convencer a sair daqui, mas só levanto dessa bosta se me derem pelo menos um croissant".

17:00 - "Finalmente me deram croissants, tarteletes, coq au vin e até aquela nojeira de escargot (que eu comi com gosto), não sei porque, mas voltei a achar Paris tão linda, com pessoas bonitas, jardins floridos, um metrô eficiente, bistrôs lotados, a Torre Eiffel".

17:10 - "Acho que já pedi desculpas para todas as 378 pessoas que ofendi, mas também, quem manda elas não terem um pedaço de pão com manteiga quando mais se precisa dele?".

Os problemas de comunicação inerentes às refeições

Postado em 30 de out. de 2012 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários


Todos os conflitos que o homem cria poderiam ser resolvidos caso não houvessem tantos problemas de comunicação.  Tudo bem, talvez nem todos, mas a grande maioria deles.

Quando quis castigar os homens no Gênesis, O Criador resolveu fazer com que todos falassem línguas diferentes, assim os homens jamais poderiam se entender novamente. Tudo bem que depois ele aliviou o castigo e permitiu a proliferação dos CCAAs, Brasas e Culturas Inglesas, mas pro ser humano não se achar espertinho demais outra vez, ele também criou o mau entendedor.

O mau entendedor pode falar o mesmo idioma do seu interlocutor e ainda assim a comunicação será tão truncada quanto se um falasse farsi e o outro gaélico irlandês. 

Nos casos menos graves a pessoa não consegue pescar uma ironia, um sarcasmo, uma piada sutil ou mesmo uma figura de linguagem, daí se alguém diz:

- Nossa, minha mãe ficou com um nó na garganta no show do Roberto Carlos.

O idiota responde:

- Sua mãe se enforcou por causa do Roberto Carlos?

E ainda faz aquela cara de espanto que só os palermas têm.

Só que nem sempre são exageros assim que entram para a enciclopédia dos problemas de comunicação, tente pedir uma Coca-Cola sem limão para ver como eu estou falando a verdade.

O limão na Coca-Cola pra mim faz tanto sentido quanto colocar queijo parmesão na Coca-Cola ou colocar uma batata frita na Coca-Cola, mas por alguma estranha razão isso virou regra e hoje você praticamente precisa implorar para não vir um limão de brinde.

- E para beber?

- Uma Coca, por favor.

- Com gelo e limão?

- Não, só com gelo, por gentileza.

- Só limão? - Note aqui que a presença do limão virou uma regra tão forte que o sujeito acha melhor tirar o gelo, se for para tirar alguma coisa.

- Não, chefia, só com o gelo e sem o limão.

- Prefere então uma laranja? - Sim, agora é a laranja que inventaram para o guaraná que entra em campo.

Nesse momento você já está ajoelhado no chão do restaurante, fazendo uma mímica de talibã rezando misturada com dança da chuva:

- Não, meu amigo, eu te juro por tudo nesse mundo que só quero mesmo uma Coca-Cola com gelo e nada mais.

- Tá bom, tá bom, já entendi. Uma Coca só com gelo.

E dali a cinco minutos chega a sua Coca-Cola. Com limão. E sem gelo.

Acontece o mesmo com as azeitonas na pizza e a salada no sanduíche  "Sem azeitona" e "sem salada" parecem se transformar em "azeitonas extra, por favor" e "com bastante salada" no ouvido do garçom.

O problema é que a comunicação nunca te favorece, mesmo quando você quer pedir para acrescentar algo e não tirar.


Sei que redes de fast-food são conhecidas pela padronização e que, hoje em dia, até serviços considerados mais "personalizados" envolvem uma certa produção em série que faz as porções serem praticamente idênticas e o gosto dos produtos ser o mesmo no Rio de Janeiro e em Trípoli.

Também sei que os atendentes falam todos com aquela linguagem robotizada "Boa noite, Senhor, seja bem vindo, obrigado, um bom lanche" que parece esconder algo como "morra, maldito consumidor de junk-food". 

Todos treinados para falar igual, se comportar igual e te servir do mesmo jeito, mas, porra, custa caprichar no sundae?

Não adianta chegar num Mc Donald's e oferecer propina, favores sexuais ou mesmo ameaçar o atendente com uma pistola d'água, que você jamais conseguirá um sundae diferente do sujeito que veio imediatamente antes de você ou do que virá imediatamente após.

- Capricha nesse sundae, aí, hein, meu chapa - Nesse momento você apela para a simpatia e para aquele sentimento de "atendente de botequim" que pode estar escondido debaixo daquele uniforme e do bonezinho com um "M" amarelo bordado.

- O Senhor vai querer qual sabor?

- Caramelo, mas pô, dá uma incrementada nessa calda aí, tudo bem?

Sem nem olhar na sua cara ele continua:

- Com ou sem amendoim?

- Com bastante amendoim, coloca aí uma quantidade imoral de amendoim, por favor.

Já te entregando o sundae:

- Boa tarde e um bom lanche, Senhor.

E quando você olha, vê o mesmo sundae que viria caso tivesse chegado ali chamando ele de filho da puta, só que sem o cuspe.

Finalmente tem a questão do preço. Tudo tem seu preço, claro, mas nem sempre o preço combina com o que seria o valor real do produto. Se você estiver no meio do deserto e quiserem te vender uma lata de Soda Limonada por 50 reais, provavelmente você achará o preço justo perante a situação, mas numa praia de uma cidade pesqueira te cobrarem 200 reais por um peixe, cria aquele mal estar no estilo "estou sendo feito de babaca".

Você até tenta argumentar, dar uma melhorada, mas nessas horas a comunicação dificilmente ajuda:

- Quanto é a anchova?

- 200.

- Posso parcelar no carnê?

-...

- Sério, se eu pagar em dinheiro você não diminui isso?

- 200 é no dinheiro, meu amigo, eu só aceito dinheiro.

- Porra, mas 200 reais por um peixe? Vem com um jet-ski de brinde?

- Alugando um jet-ski sai tudo por 300. E aí? Vai querer?

Chega a ser incrível como esse casamento do ouvido de mercador com o desejo do consumidor dá tão certo.

Menos pra você, é claro.
 
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