O show sou eu (not)

Postado em 13 de nov. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Ir a um show é um evento na vida de qualquer um. Ninguém sai de casa para ver um artista do qual não goste nem um pouco (a menos, é claro, que esteja indo arrastado por alguém que goste muito, o que também não deixa de ser um evento, só que por razões diversas).

Mas ainda que o motivo da sua ida seja a sua tia, fã de bolero, que te obrigou a acompanhá-la numa sessão de "Os Grandes Clássicos da Fossa", já que está ali mesmo você pelo menos quer ver o que se passa no palco (nem que seja pra rir).


Agora pense num artista que você gosta muito. A ponto de ter colecionado revistas quando era adolescente, discos de vinil quando estava no segundo grau e possuir toda a discografia no seu iPod. Anos e anos esperando que ele viesse fazer um show na sua cidade e finalmente esse dia chega.


Você já acorda ansioso, doido para chegar a hora de ir para o show. Sai de casa, enfrenta engarrafamento, chega no local e tem que driblar flanelinhas, vendedores de cerveja e cambistas, entra numa fila, toma um baculejo dos seguranças, fica em pé esperando o atraso habitual e, no final das contas, só quer uma coisa: ver o artista em ação.


Só que nesse momento algo falha. 


O som está bem equalizado, o lugar nem está muito quente, o vocalista da banda está de bom humor (já deu até o famoso "boua noitche" e usou uma camisa da Seleção), mas algo te impede de curtir aquele show numa boa.


E este algo tem nome, aliás, tem vários nomes, mas uma só definição: é o mala da platéia.


O mala da platéia gosta de BERRAR as músicas junto com o artista, só pra mostrar como conhece todas as letras e é mais fã do que todo mundo, e como você deu o azar de ficar logo na frente (ao lado ou atrás dá praticamente no mesmo), é obrigado a ouvir aquele karaokê urrado nos seus ouvidos, ao invés do som da banda.


Sim, por incrível que pareça o mala da platéia sempre nasce com cordas vocais abençoadas e nunca, nunca fica rouco ou com dor de garganta.


Se fosse só isso já seria ruim, mas tem mais.


Geralmente o mala da platéia tem uma cara metade: a mala da platéia.




Ela estará acompanhada de vários amigos ou de um namorado brutamontes que estarão sempre prontos a colocá-la sobre os ombros para ficar ali agitando os braços e torcendo para aparecer em algum momento no DVD do show. E caso não ocorra uma súbita chuva de latas de cerveja e garrafas d'água de fazer inveja ao Carlinhos Brown, ela ficará ali até um pouco depois do bis.


Mas o que emperra tudo é que não adianta muito você trocar de lugar. Malas de platéia são como gremlins, se multiplicam numa progressão impossível de prever e prevenir.


Você sai de perto do sujeito que berra e cai atrás da pentelha no ombro do namorado. Sai de perto dela e se vê no meio de uma rodinha de amigos que achou uma boa idéia fazer uma guerra de cerveja durante a execução de "Rock and Roll All Nite", foge da turma da cerveja e acaba parando perto de uma louca que dança batendo cabelo e agitando os braços como se estivesse num enxame de abelhas.


Tudo bem que todos esses malas citados (e outros tantos esquecidos) têm todo o direito de estar ali. Pagaram ingresso, são cidadãos amparados pela Constituição, essa lenga-lenga toda, mas fica realmente difícil abstrair.


Você pensa positivo (afinal, é um de seus artistas favoritos ali), tenta se concentrar no show, nas músicas, no telão, no baterista, na dançarina e quando finalmente está quase conseguindo...leva uma braçada, ou toma um empurrão da turma que resolveu fazer pista de porrada num show do Tony Bennet. Pode ser também que sinta algo quente no pé e descubre que alguém achou boa idéia mijar no meio da pista.


E esse é justamente o pior em relação aos malas de show: eles terminam roubando a cena.


Chega um momento em que eles incomodam tanto que você não consegue mais prestar atenção em nada além deles ali, enchendo seu saco.


Nessa hora você tem duas certezas: foi bom ser revistado pelo segurança no início, porque se te deixassem entrar, sei lá, com um garfo ali, provavelmente ele já estaria espetado na orelha de alguém.


A segunda certeza é que alguém ali foi roubado e você deveria pagar couvert artístico para o mala, já que ele acabou roubando o show, ou então ele é que deveria devolver o dinheiro que você pagou no ingresso.

2 Comentários:

Isabel postou 13 de novembro de 2012 às 11:12

Os malas estão por toda parte: em cinemas, restaurantes etc. Mas parece que são nos shows que eles ficam mais "soltinhos". O pior é voltar pra casa e lembrar mais deles do que do artista que queríamos tanto ver...

Jaciana Melquiades postou 13 de novembro de 2012 às 11:38

Acho que estamos caminhando pra um mundo cheio desses malas!!!! Eu torço sempre pela chuva de latas!!!

Seu blog é muito bacana!!! Parabéns!

 
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