Risco de vida ou risco de morte? O único risco é o de encher o meu saco

Postado em 29 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Que o brasileiro não é um povo muito dado a pensar, os BBBs, a disseminação de funk, pagode e axé music estão aí como prova, mas isso não deixa de ser incômodo.

Nosso idioma já vem sendo esquartejado pelo mau uso, pelo desapego com qualquer norma, pela deglutição de esses e erres, nos já famosos "as criança" ou "eu sou o compradô", mas parece que não há limites para a estupidificação do idioma (e nem estou falando da reforma ortográfica estupradora de hífens e tremas).

Nosso linguajar não é grande coisa, nossas construções não são um primor, o idioma falado é espancado sem pena em praça pública, linchado como se fosse um batedor de carteiras de velhinhas aposentadas. Entre bordões de novelas, expressões sem pé nem cabeça e letras de música idiotizantes, o povo brasileiro vai se metendo no terreno baldio da indigência cultural.

Mas tudo bem, temos problemas maiores para cuidar.Uma Copa do Mundo e uma Olimpíada vêm aí e precisamos preparar nossa festa para receber os turistas com muito batuque, caipirinhas e superfaturamentos.

Porque falo isso? Porque conseguimos errar até quando acertamos. O Brasil é aquele time que ganha de 4x0 mas ainda assim é eliminado da competição, porque levou de 5 em casa. Nesse caso, a derrota no jogo de ida é a idiotização até do que está correto formalmente.

Primeiro foram os gerúndios. Conseguimos pegar o idioma pátrio que mal conhecemos, juntar com outro idioma estrangeiro que todo mundo finge que conhece, enfiar tudo no liquidificador dos manuais de telemarketing e transformar esse milk shake de gerúndio na saúva da Língua Portuguesa.


Como não sou grande conhecedor de gramática (apenas procuro escrever direito e tento consultar manuais quando tenho dúvidas) me sinto um daqueles casais nos filmes "Sexta-Feira 13", caminhando no matagal do idioma e morrendo de medo de cometer um deslize e ser atacado por um "vamos estar escrevendo" de uma hora pra outra.

Faço aqui uma confissão: peguei medo do gerúndio e esse medo está me transformando quase num português que só diz "estou a escrever", "estou a correr", "estou a evitar o gerúndio como o tinhoso foge da cruz".

Mas outra coisa me incomoda ferozmente, mais do que limão na Coca-Cola: o tal "risco de morte".

Algum professor de gabinete numa tarde de tédio resolveu queimar o "risco de vida" na fogueira da estupidez. Talvez já sabendo que o brasileiro adere a tudo o que não presta tal qual uma manada de bois de piranha, resolveu que dizer "risco de vida" era equivocado, afinal "ninguém se arrisca à vida" e sentenciou: o correto é "risco de morte".

A imprensa aderiu, a brasileirada começou a repetir e não demorou muito pra alguém que usasse o "risco de vida" fosse taxado de ignorante (ou como diria um monte de gente por aí, "ingnorante").

Só que uma rápida pesquisa na internet (lembram que não sou professor de português?) demonstra que risco de vida é uma elipse que contém - meio escondido, tal qual o último neurônio atuante da maioria das pessoas - a expressão "risco de perder a vida".

O tal "risco de morte" é errado? Não. É inclusive primo do outro, da família da mesma regra. Mas não é possível que a civilização tenha regredido tanto a ponto de ninguém se dar conta do quanto é ridículo escrever isso e ainda por cima corrigir quem ousa dizer o outro.

Aliás, quem usava "risco de vida" em suas obras era um tal de Machado de Assis, que no Brasil dos reality shows e do gerundismo provavelmente seria chamado de "ingnorante".

Pensando bem, acho que a civilização regrediu sim.

8 Comentários:

Rinaldi postou 29 de agosto de 2011 às 08:19

perigo de morte faz bem mais sentido! :) e deixa um certo teor "puta merda, faz mal mesmo" :)

Gustavo Ca postou 29 de agosto de 2011 às 16:31

Gerúndio certo é o do presente. "Estou ...ndo." Gerúndio feio é o do futuro. "Vou estar ...ndo." Já fui redator e fiz uns trabalhos de revisão e aprendi a ser tolerante com certos erros, pq as pessoas não tem obrigação de ter o dicionário todo na cabeça, mas tem outros que são agressivos mesmo, dá pra perceber a diferença entre uma pessoa desleixada ou que só desconhece alguma regra. Agora, em casos como o risco de vida ou risco de morte, prefiro buscar uma terceira alternativa.. algo tipo "tá com um pé na cova", hehe..

mvsmotta postou 29 de agosto de 2011 às 16:49

Simples e direto, né não?

Abraços!

Ivna postou 31 de agosto de 2011 às 07:57

Ja tava na hora de alguem reclamar desse termo ridiculo. Aprovado!

Thiago postou 19 de outubro de 2011 às 10:04

concordo contigo em relação à precipitada rejeição do "risco de vida". eu também prefiro esse termo. discordo, contudo, quanto à sua visão imobilizadora da língua. a língua é um organismo vivo e, como tal, se transforma. isso não é, a rigor, nem bom nem ruim: é o que é. por exemplo, "por causa que", apesar de não gostar desta expressão, vai se incorporar, mais cedo ou mais tarde, à língua vernacular. pode apostar nisso. existe uma outra coisa (e por essa, sim, até tenho um certo apreço) que também veio para ficar: o uso não redundante do plural. afinal, para quê pôr artigo definido/indefinido, substantivo e predicados todos na forma plural se é muito mais objetivo (e completamente compreensível) variar apenas o primeiro elemento? "as cadeira vermelha". o artigo já cumpre, por si só, a função de indentificar a pluralidade contida na sentença. mas imagino que esse tipo de mudança seja ainda tão terrível para nós quanto, em sua época, a língua de camões fora para o latim.

Thiago postou 19 de outubro de 2011 às 10:05

concordo contigo em relação à precipitada rejeição do "risco de vida". eu também prefiro esse termo. discordo, contudo, quanto à sua visão imobilizadora da língua. a língua é um organismo vivo e, como tal, se transforma. isso não é, a rigor, nem bom nem ruim: é o que é. por exemplo, "por causa que", apesar de não gostar desta expressão, vai se incorporar, mais cedo ou mais tarde, à língua vernacular. pode apostar nisso. existe uma outra coisa (e por essa, sim, até tenho um certo apreço) que também veio para ficar: o uso não redundante do plural. afinal, para quê pôr artigo definido/indefinido, substantivo e predicados todos na forma plural se é muito mais objetivo (e completamente compreensível) variar apenas o primeiro elemento? "as cadeira vermelha". o artigo já cumpre, por si só, a função de indentificar a pluralidade contida na sentença. mas imagino que esse tipo de mudança seja ainda tão terrível para nós quanto, em sua época, a língua de camões fora para o latim.

Unknown postou 5 de julho de 2012 às 20:22

Vou tentar novamente esclarecer, e ver se vocês tem coragem de

publicar a verdade.
Aonde canta o galo, já me perguntaram. Uma discussão, infrutífera,

pois já se consagrou na língua. Até no estrangeiro, além mar,estou

convencido que nunca antes neste (imitando o maior convencido Lula)

existia tal expressão. Como dizem alguns críticos, nem na Bíblia,

Constituição Federal. dicionários mais detalhistas da língua, foi

encontrando, segundo meus críticos. Incluindo citação de Machado de

Assis ou como da revista Veja e do "Observatório da Imprensa " no

artigo "antes de morre pela palavra" para ser consultado. Só porque

foi um brasileirinho, inculto, deu no que deu. Aí o pobre professor

Pasquele,TV Cultura para quem enviei esta sugestão à dez anos mais ou

menos,e também a rede globo, que resolveram divulgar a minha sugestão

de mudança. Se fosse um grande literato, ou escritor, tudo seria

pacífico, mas como não se conhecia o autor daquilo que se denominou

"pérola" de um tal professor, assessor da alta cúpula da rede globo,

e ignorante que não tinha o que fazer (este último foi correto),

criou-se a polêmica. Uns defendendo, outros ...
No resumo, é que todos, agora, já empregam normalmente, sem discutir,

sendo matéria até de vestibular, e sugestão de se mudar a própria

Constituição Federal. Brinco em dizer, a quem procurou muito sobre

ela, que nem no livro dos mortos, egípcio inexistia a expressão.

Abraços eduardo de sbc que inventou a expressão "risco de morte"!

(se puder publicar, obrigado por poder esclarecer um pouco a

curiosidade dos que lhe escrevem)

Unknown postou 5 de julho de 2012 às 20:24

Vou tentar novamente esclarecer, e ver se vocês tem coragem de

publicar a verdade.
Aonde canta o galo, já me perguntaram. Uma discussão, infrutífera,

pois já se consagrou na língua. Até no estrangeiro, além mar,estou

convencido que nunca antes neste (imitando o maior convencido Lula)

existia tal expressão. Como dizem alguns críticos, nem na Bíblia,

Constituição Federal. dicionários mais detalhistas da língua, foi

encontrando, segundo meus críticos. Incluindo citação de Machado de

Assis ou como da revista Veja e do "Observatório da Imprensa " no

artigo "antes de morre pela palavra" para ser consultado. Só porque

foi um brasileirinho, inculto, deu no que deu. Aí o pobre professor

Pasquele,TV Cultura para quem enviei esta sugestão à dez anos mais ou

menos,e também a rede globo, que resolveram divulgar a minha sugestão

de mudança. Se fosse um grande literato, ou escritor, tudo seria

pacífico, mas como não se conhecia o autor daquilo que se denominou

"pérola" de um tal professor, assessor da alta cúpula da rede globo,

e ignorante que não tinha o que fazer (este último foi correto),

criou-se a polêmica. Uns defendendo, outros ...
No resumo, é que todos, agora, já empregam normalmente, sem discutir,

sendo matéria até de vestibular, e sugestão de se mudar a própria

Constituição Federal. Brinco em dizer, a quem procurou muito sobre

ela, que nem no livro dos mortos, egípcio inexistia a expressão.

Abraços eduardo de sbc que inventou a expressão "risco de morte"!

(se puder publicar, obrigado por poder esclarecer um pouco a

curiosidade dos que lhe escrevem)

 
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