Seu álbum de fotos tem mais em comum com o estômago de um urso do que você imagina

Postado em 26 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Dizem, não sei se é verdade, que os esquimós tem uma estranha forma de hospitalidade. Quando um visitante chega lá no seu iglu, o esquimó oferece duas das coisas mais valiosas que possui para compartilhar com o visitante: um jantar à base de gordura de foca e a sua esposa, a Sra. Esquimó.

Na concepção dele, carnes cruas e banha, além da própria Sra Esquimó (que provavelmente passa alguns meses sem banho) são dois presentes irrecusáveis, desses que transformam uma negativa numa ofensa grave.

Tudo bem que seja raro alguém conhecer algum esquimó (A Bjork não conta), mas frequentemente nos vemos agraciados com honras que, se não fosse para não melindrar os outros, recusaríamos na maior felicidade.

Por exemplo: visitar recém-nascidos no hospital e responder coisas como "você acha parece mais com o pai ou com a mãe?". O que dizer numa hora dessas? "Porra, sei lá, bebê é tudo igual"? Aí vira aquele papo de deputado baiano "ah, parece com o pai, mas tem os olhos da mãe e o queixo do avô".

Provar da comida alheia é outra dessas honras que eu faço questão que me "incluam fora" delas.

Alguém te chama pra um almoço na casa da avó, que cozinha "melhor que a Nigella", mas quando você chega lá descobre que o mais próximo daquelas comidas da TV ali é o humor da velha, que é pior do que o do Gordon Ramsay.

E pra piorar ainda tem o bife de fígado com quiabo pra encarar, sem contar que no final você ainda tem que encenar aquele "hummmm", que só é completado mentalmente: "ummmma bosta".


Quer ver outra honraria dispensável? Formaturas. Ficam os formandos lá levantando cartazes com piadas internas cada vez que algum nome é chamado para pegar o diploma, as famílias tirando milhares de fotos, aquela fila interminável de nomes e você lá, de saco cheio, imaginando se pelo menos vai rolar algum coquetel depois (ainda que ele fosse útil mesmo é antes, porque só bêbado pra achar graça naquilo).

Mais chato mesmo só os álbuns de fotografia. Veja, não sou um monstro sem coração que despreza as memórias alheias, nada disso. Acho legal ver as fotos dos outros com 1, 2, 3, 4, 5 anos, aquela clássica foto sentado no vaso quando criança, os móveis, roupas e cortes de cabelo da época do mouse de bolinha, enfim, é legal e tal.

O mesmo vale para fotos daquela viagem à Europa, quando seu amigo visitou 14 países em 18 dias e no final nem ele mais lembra direito se aquela fonte que aparece na fotografia fica em Lisboa, Budapeste ou Amsterdã. Ainda assim é legal ver fotos aleatórias de lugares diferentes.

Mas tudo tem limite.

Depois de 100 fotos do baile de debutantes, depois de ver a tia bêbada, o avô bêbado e até a vizinha bêbada, você começa meio que encher o saco. O mesmo para aquelas 500 fotos de golfinhos em Fernando de Noronha. Sim, porque golfinhos são legais, Fernando de Noronha é lindo, mas ninguém tem saco para 500 fotos da mesma viagem, nem que fosse uma viagem ao centro da Terra.

Fico pensando no que o esquimó deve dizer:

- Gente esquisita...só mostram umas figuras sem parar e nem me oferecem uma gosma pra comer ou a esposa pra consumir durante o processo...

3 Comentários:

Maria Fernanda postou 26 de agosto de 2011 às 10:51

OS esquimós ainda tem o intuito de evitar que o visitante morra de frio... e as fotos lindas da barriga mole da sua tia na praia? Tem como objetivo o que?!

Ravick postou 26 de agosto de 2011 às 12:21

Bom, por isso evito visitar pessoas que viajaram recentemente.

Gustavo Ca postou 27 de agosto de 2011 às 06:22

Recusar é uma arte e uma vez aprendida proporciona uma bela satisfação consigo mesmo.

 
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