Na cena, ele tenta impressionar uma garota com uma dança que aprendeu na TV, pensando que estava assistindo uma aula de dança comum, quando na verdade estava vendo o National Geographic. O mais bizarro é que ao ver aquela estranha dança sendo feita pelo cara que está saindo com a garota mais popular da escola (ninguém sabe até então que ela foi para para isso), todo mundo no baile começa a imitá-lo, fazendo o mesmo papel ridículo sem imaginar que aquela dança era na verdade parte de um ritual da África.
Não são raras as vezes em que estou em alguma festa ou boate e me lembro disso. Mas há uns dois anos a coisa tomou proporções surreais, quando fui convidado para uma festa de "gipsy punk", isso mesmo, "punk cigano". Na época era modinha no Rio de Janeiro e fui lá conferir.
A tal fusão de estilos nem me assustou tanto, visto que depois do "samba reggae" e do "samba rock", qualquer cruzamento de "cruz credo" com "deus me livre" pra mim é normal.
Chegando na festa, o que me impressionou de cara foi a certa quantidade de caras usando bigodes ao estilo Bill Butcher (personagem de Daniel Day Lewis em "Gangues de Nova York), bigodes aliás bem parecidos com o do líder de uma das bandas cultuadas do estilo. Mas a coisa ficou mais interessante ainda.

Em uma das salas do local onde estava rolando a festa, tocava uma espécie de música folcórica do Leste Europeu, uma mistura de forró, polka e quadrilha de festa junina. E, aí sim, a coisa ficou surreal, porque a tal sala estava entupida de gente, formando rodinhas, dançando aquela ciranda da Cortina de Ferro e levantando as perninhas como se simulassem um Cancan dos Balcãs.
Nada contra, afinal, se a pessoa quiser fazer a dança do siri no meio da praça ao meio dia o problema é dela, mas me faz pensar que o brasileiro é um dos maiores "marias vai com as outras" que existem no mundo.
E nem pense em tomar essa crítica como "defesa da cultura nacional", porque não é nada disso. Sou partidário da idéia de que quanto mais batuque existe num país, menos saneamento básico está disponível. O que espanta na verdade é que se aquela dancinha estilo quadrilha de festa junina fosse efetivamente quadrilha de festa junina, pouca gente "descolada" ia achar "descolado" dançar.
Mas como é um lance trazido pela onda "gipsy punk balcânica", vale até dançar cancan-balalaika-carimbó.
Tenho pra mim que alguns gringos tem essas idéias mais ou menos assim "Já sei! Vou pegar uma dança estranha e exótica, misturar com música folclórica da minha terra, inserir umas batidas eletrônicas e uma guitarra distorcida e ir vender lá no Brasil, eles compram qualquer idéia mesmo!".
Sei que outros países também sofrem com esse problema, mas talvez seja em menor escala, e também não é problema meu. Mas o Brasil com certeza está no Top 3 desse mimetismo cultural, certeza.
Não que aqui já não exista um grande estoque de lixos como rebolation, axé e funk, mas não custa nada importar mais alguns, não é mesmo? Por isso qualquer dia não se espante se ver por aí a "dança do tamanduá brasileiro".
E pior, vai arrumar um fã-clube extenso.
3 Comentários:
Também presenceio manifestações corporais um tanto enfadonhas, algumas são ditas expressões artísticas e outras expressões do próprio ridículo que as pessoas se submetem...No Brasil,o surgimento dessas "danças" é frequente, não só pela mistura cultural e étnica,clima tropical, exibicionismo corporal, mimetismo cultural....Tudo isso. impulsiona para um êxtase mental e coletiva,libertinagem, conquista, enfim o ser humano acaba por vezes,mostrando sua face animal e irracional...Tem muita coisa de bom gosto, outras totalmente descartáveis...A criação ou recriação, nem sempre tem um bom resultado...imagine num país subdesenvolvido..
Abrass!
Nem dá pra defender o povo brasileiro dessa acusação: infelizmente existe a cultura de que tudo que vem de fora é bom e/ou melhor do que o que criamos por aqui.
Pode ser música, dança, filme, qualquer coisa. O único produto nacional que é defendido como sendo o melhor do mundo são as novelas, especialmente as da vênus platinada.
Como se, com tanto lixo produzido aqui, precisássemos importar lixo cultural...
Admiro aquelas pessoas que sabem exatamente que ritmo é uma música só de ouvir os primeiros acordes. Pra mim, a diversidade de ritmos e de rótulos é tanta que preferi classificar de outra maneira: 1- música que eu gosto;2 - música que eu não gosoto e pronto.
As dancinhas é que são um capítulo à parte. De boquinha da garrafa, passando por éguinha pocotó até o rebolation, cada uma mais ridícula do que a outra. Mas tem quem goste e chame isso de "manifestação cultural".
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