A brincadeira já está até batida: eu vou no show da Amy Winehouse, mas será que ela vai?
Não me refiro às especulações mórbidas sobre o destino da cantora, mas à pura e simples disposição dela realmente entrar no palco de corpo e alma. Ontem, dia 11 de Janeiro de 2011, no Rio de Janeiro, a resposta foi sim.
Miss Winehouse dançou, sorriu, conversou com a platéia, tascou beijos em um de seus backing vocals e soltou a voz como todos ali torciam para que fizesse. Amy é magnética. Talvez seja esse o maior adjetivo que eu consiga pensar sobre ela.
Uma garota inglesa branca, franzina, com um cabelão esquisito, um rostinho pequeno, aquela maquiagem estranha, meio cambaleante (fake ou não, já que não parecia estar bêbada) e cantando músicas que parecem feitas para alguma cantora negra americana, tudo isso tinha tudo para dar errado, mas com ela não dá.
Sua presença no palco, correndo desajeitadamente, fazendo suas dancinhas engraçadas e principalmente, interpretando suas canções, dão mais do que certo, simplesmente encantam, magnetizam a platéia.
O show de abertura que antecedeu o de Amy, apenas serviu para reforçar em mim essa impressão. Janelle Monae é uma cantora performática, tem atitude, também tem um vozeirão e faz um show quase perfeito.
Mas todo o esforço de Janelle, pulando, ficando praticamente de cabeça pra baixo, trocando de figurino, dessarumando o topete a la Grace Jones e até pintando um quadro no palco, somente servem para demonstrar o tamanho do talento e da estrela de Amy Winehouse.
Ela ainda está longe de sua melhor forma, ainda esquece partes de algumas letras, ainda passa aquela estranha sensação de que pode abandonar o palco e ir embora a qualquer momento, não troca de figurino, não pinta nenhum quadro e nem precisa disso.
Basta meia Amy Winehouse para colocar as coisas nos seus devidos lugares. Ela é uma estrela - não me peçam para usar a palavra diva, porque peguei nojo depois daquela famigerada campanha publicitária de sabonete - uma cantora dessas que surgem aqui e ali com intervalo de décadas.
Quando começa a cantar, por mais clichê que isso seja (e é), o local estremece.
Algo percorre nossa pele causando arrepio. Você sente o que ela canta como se fosse um carinho, um afago ou um tapa na cara. Ouvir suas canções ao vivo é quase como entender o que se passa naquela cabeça genial e conturbada, é compreender suas dores, é se incorporar nela.
O show de 83 minutos durou tempo bastante para que ela cantasse tudo que as pessoas que estavam lá queriam ouvir, como "Rehab", "Valerie", "You know I'm no good", "Love is a unholy war", "Just Friends", "Back do Black" e as minhas duas preferidas, "Wake up alone" e "Love is a losing game".
Parece que seus dois primeiros shows - em Florianópolis e no dia anterior, na mesma arena no Rio - serviram como um aquecimento depois do longo período de inatividade e que, aos poucos, ela vai retornando à boa e velha forma. Tomara.
Torço sinceramente para isso, porque o cenário de aridez e mesmice musical merece bem mais Amy Winehouse e bem menos rappers, gostosas que cantam e bandas de moleques.
Dá vontade de dizer: se cuida, garota, nós precisamos de você.
Ela é uma artista única, sua arte é tão marcante que consegue se sobrepor até mesmo aos seus escândalos, que não são poucos. Vê-la em ação é compreender porque seu sucesso independe de bebedeiras, barracos, paparazzis, polêmicas.
Seu negócio é música, música da melhor qualidade. E ontem, ela conseguiu me fazer sentir privilegiado por tê-la assistido ao vivo e poder contar isso para sempre.
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7 Comentários:
Feliz de quem tem o privilégio de ir a um show dela, principalmente à um em que ela própria também estava presente. Vc é um abençoado!!!
Abraços
Ah, que sorte a sua. Chapada ou não, Amy merece atenção - e não pela curiosidade "divertida" de vê-la tropeçando pelo palco, mas, sim, porque ela é uma artista como poucas. Tenho fé que as coisas ainda vão se ajeitar na sua cabeça e ela vai nos dar um novo disco que a coloque de volta nos trilhos, musical e mentalmente falando. Abraço!
Sou suspeita a falar, mas vou falar mesmo assim, gostei da opinião à respeito da cantora e do show e particularmente quando falou que dá vontade de dizer: "se cuida, garota, nós precisamos de você", tenho que te dar total razão, achei essa sua fala sensivelmente linda! rsrs Para mim Amy Winehouse é a Janis Joplin da geração 2000! Uma baita compositora, intérprete de sua música e com a voz mais ocnquistante atualmente! A foto postada é sua? Gostei também. Abraço!
Cara, é exatamente isso que eu penso dessa mulher, como gostaria de poder ir à um show dela. Enquanto a mídia massiva só perde tempo falando da vida autodestrutiva que ela leva, 90% das pessoas que sabem da existência da Amy nem imaginam o quão autêntica e perfeita ela é musicalmente.
O que falta hj em dia nos artistas não é talento, é autenticidade, se entregar de corpo e alma à música, e isso, com drogas, ou bêbada, ou lúcia Amy Winehouse tem de sobra!
"Algo percorre nossa pele causando arrepio. Você sente o que ela canta como se fosse um carinho, um afago ou um tapa na cara. Ouvir suas canções ao vivo é quase como entender o que se passa naquela cabeça genial e conturbada, é compreender suas dores, é se incorporar nela."..................
Celebridades como esta cantora e vários outros como Keith Richards,
criam um laço de afetividade e conhecimento, além da lógica:magia pura!...
A arte supera a razão e artistas são realmente estrelas caídas do céu!
Parece um poema sua crônica de hoje. Bravo!
Aqui em Florianópolis reclamaram do tempo de duração do show, cerca de uma hora. Na minha opinião "meia horinha" de Amy valem infinitamente mais do que, sei lá, quatro horas de Claudia Leite por exemplo.
Adriane,
A foto não é minha, não. Até tirei algumas fotos lá, mas muito de longe e mesmo no modo TV a qualidade não ficou lá essas coisas.
Peguei essa na internet mesmo, se não me engano é do show de Florianópolis (pela roupa parece ser).
Beijos
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