Se tem uma coisa que eu detesto é que chamem a minha atenção. Deve ser coisas de encarnações passadas, trauma de uma infância dividida entre as salas de aula e a sala da cordenadora, problema com autoridade, sei lá.
Mas o fato é que depois de adulto passei a respeitar um monte de regras só para não ter que aturar ninguém vindo falar comigo e me pedir para não ultrapassar a faixa amarela, não entrar naquela festa de formatura para a qual eu não fui convidado, não colocar a garrafa de whisky no bolso e tentar sair sem pagar e por aí vai.
Mas tem gente que nãoé assim e por isso acaba levando um esporro de vez em quando. E o mais incrível é a diversidade de reações de uma pessoa para a outra ao ser devidamente esculhambada.
O primeiro tipo é o que se faz de desentendido. Pode ser apanhado no meio da maior cagada do universo que nunca vai passar recibo:
- Hã? O quê? Ninguém me avisou que se eu faltasse uma semana sem trazer atestado médico eu seria demitido.
Existem aqueles que simplesmente ignoram o que a outra pessoa diz, como se não tivessem a menor obrigação de saber alguma regra, de cumprir alguma regra e muito menos de ser repreendido por não cumpri-la:
- A Senhora poderia, por favor, colocar o cinto e permanecer sentada até a aterrissagem?
- Não, obrigada, eu já tenho um cinto Channel aqui, pode me trazer uma água sem gás?
Os que mudam de assunto também são bem interessantes, talvez bem lá no fundo eles fiquem um pouco envergonhados e esse seja o motivo de desviarem o foco, mas talvez eu esteja sendo otimista:
- Cara, preciso te dizer que é uma atitude totalmente escrota e sem noção você se aproveitar que eu estava em coma para tentar agarrar a minha namorada no quarto do hospital.
- E o Vascão, hein? Será que esse ano vai?
Um tipo bem curioso é o que se sente realmente culpado. Ele sofre, chora, pede desculpas, exagera tanto que acaba invertendo a situação:
- Eu quero morrer! Me perdoa, por favor! Se eu pudesse escolher entre nunca ter nascido e viver isso que estou vivendo agora, preferia não ter vindo a este mundo! Eu sou um verme, não valho nada,merecia ser chicoteado em praça pública, como você vai me perdoar? Como? Como?
- Porra, Guto, eu só te perguntei se foi você que comeu meu Miojo, desculpa, mano, não queria te deixar assim, sério, me desculpa? Por favor?
Mas ninguém supera o sujeito que é partidário da teoria da "melhor defesa é o ataque". Ele está completamente errado, ele não tem razão alguma, ele merece totalmente levar um esporro e ser submetido á execração pública, só que tem um problema: ele grita mais alto.
- Você é um filho da puta que roubou seu sócio, nunca pagou nem a sua parte da conta, fala mal de todo mundo pelas costas, avança sinal vermelho e agora me diz que me drogou e roubou meu rim pra vender no mercado negro e pagar um cruzeiro pra Aruba? Sério, o que você acha que eu deveria fazer contigo?
- QUER DIZER QUE VOCÊ NUNCA AVANÇOU UM SINAL VERMELHO NA VIDA? VAI TOMAR NO CU, SEU HIPÓCRITA!
E isso tudo só serve pra mostrar que pedir desculpas até pode ser uma virtude, mas que a verdadeira virtude é não fazer nada que te leve a tomar esporro e ter que pedir desculpas depois (ou agir que nem um babaca).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 Comentários:
Maaaaaaaaaaais que verdade! eu mesmo conheço pessoas desse tipo, e pra mim, a pior é a última, que acha uma desculpa esfarrapada pra não pedir desculpas e admitir seu erro. Porra, errou, o mínimo é RECONHECER.
xx, S.
Mas enquanto não somos tão evoluidos a ponto de não cometer atos dignos de serem repensados, é do bom tom, ainda fazer uso do pedido de desculpas! ;)
Roberta Ricchezza
Mas enquanto não somos tão evoluidos a ponto de não cometer atos dignos de serem repensados, é do bom tom, ainda fazer uso do pedido de desculpas! ;)
Roberta Ricchezza
Opa! legal seu texto. Sabe, sempre fui assim e até pouco tempo o era. Contudo, cometer erros é muitas vezes algo inevitável, e saber como agir numa hora dessas, ainda mais quando se é assim (pisa-se em ovos para não cometer erros e não levar esporro)é super difícil, porque de tão desacostumado a levar esporro dos outros você acaba desacostumando a ter que pedir desculpas por algum vacilo que deu. Observei também que a maioria das pessoas que dão esporro nas outras, principalmente em público, ficam meio ridículas com a atitude, quando você "baixa as calças" pra elas, e eu aprendi a fazer isso, não por medo, mas pela satisfação interna impagável da cara de "acho que exagerei" imbecil que a pessoa fica quando isso ocorre. Mas aí também tive que aprender a pisar no meu orgulho. Por mim, sem problema, não morri por causa disso e ainda passei a me divertir (de forma um pouco cruel, admito) com esse tipo de situação.
Postar um comentário