- Pô, desculpa aí, Cisper...
- Não tem desculpa, não, mano.
E o sujeito seguia implorando por desculpas. Cisper era um sujeito famoso pela sua violência. Enforcava gatos, espancava fracotes, pendurava vira-latas nos fios de alta-tensão e era pichador. Quer dizer, não era bom negócio se meter com aquele Chuck Norris do Tremembé.
No final, depois de muito implorar, finalmente ouviu a sentença:
- É o seguinte, mano: "tu" vai lá e escreve assim no muro "Desculpa aí, Cisper".
Falou assim mesmo, sílaba a sílaba "des-cul-pa a-í Cis-perrrrr", com forte sotaque paulistano. O pecado? O cara tinha pichado o apelido dele no mesmo muro que Cisper já tinha grafitado.
Sabe o que essa história tem que eu jamais esqueci? Simples: nesse mundo de absurdos inacreditáveis, nunca descobri se era ou não verdade. Me foi contada pelo primo de um amigo que era tão valentão que se fosse num bairro mais pobre, tirava o tênis e saltava do carro descalço por medo de ser roubado.
Mas foi um desses casos que a gente ouve e fica pra sempre na memória, que vai acrescentando detalhes. Hoje, pra mim, o Cisper já é um cara meio mulato, que usa boné, nem forte e nem fraco, mas com um bigodinho de meter medo. O cara que fazia o pedido falava fazendo biquinho quando pronunciava o "Cis" de "Cisper" e a conversa se deu numa rua cheia de concreto e vazia de árvores, meio escura, no meio da fumaça da noite de um subúrbio de São Paulo.
É incrível como nossa mente consegue imaginar o inimaginável e tornar real.
Outra história quem me contava era um colega de escola. Dizia que conheceu um garoto de 3 anos chamado João Gabriel. O que teria de especial o pentelho de 3 anos? Simples: já nasceu falando.
Aliás, falando só não. Já nasceu chamando o médico que deu-lhe a palmada de filho da puta, a enfermeira de gostosa e o resto da molecada do bercário de "bando de filhos da puta". Com 1 ano já tinha cabelo no peito e no suvaco, com 2 já tinha voz grossa e aos 3, idade que o meu amigo o conheceu, ele disse assim para uma professora tentava fazer com que ele cantasse "atirei o pau no gato":
- Vou cantar essas babaquices não, vai à merda.
Foi inevitável a minha mente imaginá-lo tal qual fez com o Cisper.
Meio gorducho, cara de mau-humorado (com pinta de membro da família daquele ditador norte-coreano, só que sem os olhos puxados), cabelo no suvaco (claro) e jeito de que poderia me dar um chute nas canelas a qualquer momento.
Torci sinceramente para que nenhum vazamento nuclear não noticiado tenha realmente produzido tal figura, afinal, era impossível existir uma criança assim.
Mas caso eu estivesse errado, de uma coisa eu tinha certeza: João Gabriel é filho do Cisper. Nem precisa fazer exame de DNA.
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1 Comentário:
Isso me fez reviver o monte de Cisper que me cercou a infância inteira..
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