Tenha muito respeito por quem tem o poder de cuspir na sua comida

Postado em 16 de fev. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Uma decisão que eu tomei há muito tempo é a de jamais mandar um prato de volta para a cozinha num restaurante.

O bife mal passado pode estar tão cru que vem com pêlos e mugindo, a comida pode ter uma aparência menos apetitosa do que uma tijela de Bonzo, mas eu jamais, sob hipótese alguma, chamo o garçom e peço pra levar de volta e trazer do jeito que eu queria.

Um garçom nada mais é do que um atravessador. A sua existência se baseia no fato de que um cliente não deseja ir até a cozinha do restaurante, abrir as panelas e pegar sua própria comida, como se estivesse na casa da sua tia num almoço de final de semana. Ele está ali para nos fazer sentir importantes, para dar a ilusão de que aquele almoço de terça-feira é um repasto imperial e, claro, para nos tomar 10% no final.

Outra função é evitar que você conheça as entranhas do restaurante. Notou como usei o termo "entranhas", que não remete a algo propriamente aconchegante? Sim, porque apesar daqueles avisos que dizem que a cozinha está "franqueada para a sua visita", acredite, na maioria das vezes ela não está.

E acredite também que nem você gostaria de fazer essa visita. Imagine a cena - não totalmente impossível - do cozinheiro com um esparadrapo no polegar, um avental mais sujo do que macacão de gari, monocelha, camiseta regata, suando e coçando a orelha com uma tampa de caneta Bic enquanto mexe num caldeirão de sopa. Perdeu o apetite, não é? Está aí mais uma explicação para a existência do garcom.


  É aí que começam seus problemas (e os dele). Como já disse, o sujeito que serve a sua mesa é um intermediário. Ele vai até você, fica sabendo o que você precisa, vai até a pessoa que fornece o que você precisa e volta trazendo o que você precisa, ou seja, a comida.

Ele não está na sua cabeça para adivinhar que você gosta do seu peixe fresco, mas não tão fresco a ponto de vir num balde nadando, e não faz a sua comida, a ponto de ter culpa porque o seu omelete não veio tão bonito quanto o da foto do cardápio. Mas como é a parte visível de tudo o que ocorre longe do seu olhar, ele é que vai ouvir seus desaforos.

Isso sem contar clientes que dão xilique por tudo:

- Nunca fui tão humilhado na minha vida! Pedi calda de chocolate e colocaram de caramelo!

Numa situação dessas, você estará lidando com a frustração de alguém que não fez a cagada (no caso a comida), mas que está levando toda a culpa pelo ocorrido. Não esqueça que ele não pode te mandar para onde deseja, já que o cliente "tem sempre razão", nem brigar com o cozinheiro, que pode ostantar um título de "chef" ou pelo menos andar com facas por aí o dia inteiro, o que o transforma em alguém com quem não convém muito se meter.

Por isso, durante todo o trajeto de volta para a cozinha, o garçom estará puto, chateado e sem tempo para uma sessão de análise onde descarregaria toda a sua raiva. O que sobra para ele então?

Sua comida. Já se perguntou o que pode acontecer com ela numa situação dessas? Vai por mim, de tudo o que já imaginei, cuspe é lucro.

Por isso um conselho - que se fosse bom venderiam - mas que te dou mesmo assim, sem nem cobrar gorjeta: jamais irrite um garçom.

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