Acordei num dia em que os tablóides de 0,50 centavos não traziam nenhum escândalo ou frase de duplo sentido estampados, a Luciana Gimenez resolveu fazer medicina na Universidade Estácio de Sá e abandonou seu programa de variedades, a turma do Pânico cansou de fazer sempre a mesma coisa e foi apresentar um programa sobre hermenêutica na TV Cultura e a novelinha Malhação saiu do ar, depois que um dos atores de sua primeira temporada teve o primeiro neto.
Era um Brasil diferente, o Magazine Luiza vendia estantes para livros e as crianças não entendiam como alguém um dia realmente pôde gostar de "Ai, se eu te pego", sem falar em micaretas, que hoje só podiam ser vistas no Museu do Mau Gosto, junto com uma reconstrução cenográfica da Gaiola das Popozudas.
Curiosamente, o brasileiro não ficou menos brasileiro por isso, continuava com essa tendência genética a falar alto e trazer sempre uma gargalhada histérica pronta para ser disparada a qualquer momento, mas pelo menos parou de consumir toneladas de entulho no café, almoço e jantar, o que já era grande coisa.
Tiriricas ainda passeavam pelo Congresso, afinal, velhos hábitos não morrem facilmente, mas o cidadão médio cansou de ver sempre a mesma coisa, num loop de "É o Tchan", "Rebolation", "Bonde do Vinho", "Brasil Urgente" e "A Fazenda".
Das novelas, sobrou só a das oito, mesmo assim a título de preservação do patrimônio, já que apenas senhorinhas que já passaram dos 70 anos ainda assistiam aquilo.
Diziam que foi algo que os americanos colocaram na água, alguns suspeitaram de vazamento na usina de Angra, mas o fato é que eu achei bem legal o que vi.
Mas o mais pitoresco, o que mais chamou minha atenção, foi a velha casa do BBB. Algumas pessoas moravam ali, paredes de vidro e pequenas passarelas guiavam os visitantes sobre aquele zoológico humano.
Alguns atiravam um contrato para a capa da Playboy para uma moça, que em troca fazia gracinhas dentro de uma piscina, tal qual uma foca ou um golfinho em troca de um peixe.
O impacto foi tanto, que tive que perguntar a uma daquelas pessoas que observavam o porque daquilo tudo, e a explicação mostrou que eu estava realmente sonhando:
- Sabe o que é, moço, é que a audiência do BBB caiu, ninguém mais votava em paredões, ninguém comprava o pay-per-view, então resolveram tirar o programa do ar, só que esqueceram os BBBs presos aí dentro da casa.
- Que isso, e ninguém soltou?
- Nada, o Eike Batista comprou a casa de porteira fechada, com os participantes dentro e tudo, cercou e começou a cobrar ingresso, dizem até que foi por isso que passou o Carlos Slim como o homem mais rico do mundo.
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9 Comentários:
Zoológico de pessoas... a explicação mais correta pra esse negócio chamado BBB.
Pena que foi só sonho, continuamos neste enorme pesadelo...
Sonho bem longe de se tornar realidade. Ótimo texto.
To cansado de ler textos assim. Pessoas que se acham mais cultas e inteligentes que as outras pelo gosto musical, pelos programas que assitem ou pela quantidade de museus que já visitaram.
Mas Augusto,
É justamente isso que faz alguém ser mais culto ou não.
Abraços!
"Curiosamente, o brasileiro não ficou menos brasileiro por isso, continuava com essa tendência genética a falar alto e trazer sempre uma gargalhada histérica pronta para ser disparada a qualquer momento..."
Se o sonho fosse meu, isso também não existiria mais.
Quem dera o mundo melhorasse assim
E se as coisas fossem assim realmente, todos iríamos nos acostumar dessa forma diferente. Beijo
Francielle,
É que até sonho tem limite, né? Rsrsrs
Marcus
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