Metrô Rio, o trem que engarrafa

Postado em 26 de jan. de 2010 / Por Marcus Vinicius

"Atenção: estamos parados aguardando a normalização do tráfego à nossa frente".

Quem anda de metrô diariamente no Rio de Janeiro provavelmente já ouviu essa frase dita por aquela mesma voz feminina que passa a viagem inteira nos dando ordens, "Ceda o lugar", "Não ande com a mochila nas costas", "Respeite o 'Carro das Mulheres'", "Ajude os idosos", "Vá para o meio do carro", "Não segure as portas", etc, etc.

Se você não anda diariamente também ouvirá, porque é praticamente impossível usar o serviço e não ficar preso entre uma estação e outra nesse bizarro e escandaloso "engarrafamento" de trens.

Outro adicional que a concessionária de Daniel Dantas (que cobra uma das passagens proporcionalmente mais caras do mundo) te oferecerá são as paradas bruscas, duas, três e até mais por viagem, dependendo da distância que você percorra.

Mas tudo isso seria fichinha caso o Metrô Rio não tivesse se esmerado nos últimos meses para avançar ainda mais no seu padrão de (não) qualidade. Some-se a estes problemas citados outros como plataformas entupidas de gente devido ao aumento do intervalo entre os trens, a consequente superlotação das composições e, cereja no bolo, o calor infernal que passou a fazer dentro delas porque o ar-condicionado não funciona direito.

Eles dizem que é porque esse sistema de ar foi feito para refrigerar trens que andam sob a terra (duh) e que como a Linha 2 do metrô carioca é toda sobre a superfície, o ar-condicionado não suporta o calor.

Estranho por duas razões muito simples:

  1. Isso não acontecia antes, mesmo na Linha 2.
  2. Esse calor infernal também vem como brinde para quem usa a Linha 1, toda debaixo da terra como um bom metrô pede.

E aí? E aí nada. O que temos é o "diretor de relações institucionais" do Metrô Rio, senhor Joubert Flores, dizendo que não é bem assim e que tudo isso vai melhorar, um dia, mas só a partir de 2011 que é quando começam a chegar os novos trens que eles compraram.

Este senhor é, como bem lembrou o Artur Xexéo em sua coluna semanal, uma espécie de ilusionista que trabalha para a concessionária. A plataforma está entupida de gente e ele é capaz de dar uma entrevista ali mesmo dizendo que tudo está dentro do limite. Algum jornalista pega um termômetro e registra 35º dentro de um vagão e ele declara que "o ar-condicionado está funcionando muito bem". Os atrasos são constantes e irritantes, mas ele diz que "tudo funciona somente com pequenos atrasos".

Talvez seja mesmo uma questão de ponto de vista. Talvez a culpa seja mesmo dos usuários que ao invés de pensarem na temperatura dentro dos trens como "sauna gratuita", na superlotação do sistema como "oportunidade de fazer novas amizades" e nos constantes atrasos como "excelente hora para pensar na vida", ficam aí reclamando de barriga cheia porque tem o privilégio de pagar uma passagem que custa R$2,80 (e todo ano sobe, sem falha, sem atraso, sem precisar esperar 2011) para usufruir de um serviço de bosta.



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É curiosa essa relação do metrô com o carioca, como também lembrou o Xexéo, porque tínhamos orgulho dele. Sobre a terra continuávamos a ser uma cidade caótica, infernizada pela informalidade e pela ilegalidade, favelizada, suja, abandonada pelos governos que sucediam-se no seu método de abandono, mas debaixo da terra tudo corria bem.

O metrô era limpo, rápido, confortável, pontual, enfim, era tudo o que não se espera do Rio de Janeiro.

Hoje, esse estranho sistema de concessões no qual o Governo do Estado constrói estações e extensões e entrega para uma empresa privada (mal) administrar nos presenteia com tudo que já vemos em cima: caos, desrespeito, desconforto, atrasos, preços altos.

Até uma estranha modernização dos trens que já existem me parece fora da realidade, já que está substituindo os assentos de fibra de vidro atuais por uns estofados, totalmente inadequados para um serviço de transportes que nos finais de semana fica cheio de banhistas, voltando da praia encharcados de água do mar. Sem contar um visual horroroso digno de pastelaria de chinês que algumas estações ganharam após uma reforma visual inútil.

E nessa crônica diária de degradação da assim chamada "Cidade Maravilhosa", o metrô é apenas mais uma dentre tantas coisas que os cariocas terão para sentir saudades de um passado cada vez mais distante.

7 Comentários:

Luís Guilherme Fernandes Pereira postou 26 de janeiro de 2010 às 05:32

Mandou bem. A concessão da MetrôRio deveria ser cassada imediatamente.

Unknown postou 26 de janeiro de 2010 às 06:16

Quero ver qual será o passe de mágica que usarão pra resolver tudo isso até a tal Olimpíada e Copa...
Com certeza só um passe de mágicas...
Graças que moro no sul,e aqui mesmo a passagem custando 2,30 pra andar míseros quilômetros,a coisa ainda funciona!

Isabel postou 26 de janeiro de 2010 às 06:33

Antigamente o metrô era uma boa opção para fugir do caos do trânsito (para aqueles que tinham esse privilégio), mas hoje em dia deixa muito a desejar. Espero que as olimpíadas sirvam de estímulo para uma melhora significativa não só do metrô, mas de todo o transporte de massa do Rio de Janeiro. Por exemplo: no verão, todos os ônibus deveriam circular com ar-condicionado, sem aumento no valor da passagem (que já é bem cara...).

Bruno. postou 26 de janeiro de 2010 às 08:24

Talvez você preferisse um comentário construtivo e inteligente como os de acima, mas quando leio alguns dos teus textos (que acho ótimos, não me entenda mal), eu rio tanto que só me restam comentários como este: hahahahahahahahahahahaha
"O metrô era limpo, rápido, confortável, pontual, enfim, era tudo o que não se espera do Rio de Janeiro." haha a MELHOR FRASE!!! Abraços.

SukaTsu postou 26 de janeiro de 2010 às 10:40

Nessas horas é que dou graças a Deus por ter abandonado o Rio de Janeiro e voltado a viver no interior de SP.
Praticamente não uso o transporte coletivo daqui porque vou pro trabalho, em outra cidade, de carona solidária (somos cinco rachando a gasolina) e no dia-a-dia optei por moto-táxi, um serviço que me leva de onde estiver para aonde quiser por um preço razoável.

Silvio Araujo postou 26 de janeiro de 2010 às 12:07

Concordo plenamente com a crítica ao Metrô do Rio. Ultimamente venho utilizando mais o metrô, devido a mudança de trabalho, e tenho ficado bastante decepcionado, mesmo porque lembro bem daqueles tempos em que, de fato, o Metrô era tudo aquilo que você disse: confortável, pontual, limpo, seguro, etc.
Entretanto, tudo isso me fez lembrar um post de uns meses atrás no Twitter: "Tá reclamando do atraso na condução porque? até parece que você tá querendo chegar logo no trabalho...". Portanto, amigos, relaxem e aproveitem o atraso: é mais um motivo de desculpas pro seu atraso do dia-a-dia...

Luís Guilherme Fernandes Pereira postou 27 de janeiro de 2010 às 12:22

Silvio, foi o que o Lula disse. Ficava feliz quando alagava porque não tinha que ir trabalhar. Eu gosto de sair depois do trabalho, ir até o centro do Rio, ou até outro bairro (trabalho e moro em Botafogo).

 
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