O dia seguinte

Postado em 25 de mai. de 2010 / Por Marcus Vinicius

O Brasil passará esse ano por dois eventos que prenderão a atenção de toda a sua população, um é a Copa do Mundo que se realizará na África do Sul e o outro são as eleições em Outubro.

A Copa é quase uma unanimidade, todos sabem por quem vão torcer. A eleição não e, no entanto, infelizmente vejo em torno dela também apenas isso: torcida.

Temos um presidente da república que há muito abdicou da liturgia do cargo para se transformar em cabo eleitoral. Nada contra um mandatário no exercício da função ter um candidato próprio para sucedê-lo, mas existem limites que a prática republicana impõe e estes já foram chutados lá pros confins do Maranhão faz tempo.

Essa postura não-presidencial de Lula é notória e três ou quatro multas do TSE à sua pessoa estão aí para não me deixarem mentir, mas o que mais me incomoda em todo esse processo carnavalesco que se tornou a eleição de 2010 é a falta de preocupação total com o que acontecerá no dia seguinte a ela.

Dilma Rousseff não tem biografia e nem cacoete de presidente. Passa diariamente por um processo de modelação, tal qual uma alegoria de escola de samba. Os dias passam e o "carnavalesco" vai ordenando à sua equipe que coloque um paetê aqui, uma miçanga acolá, um jogo de luzes num canto, uma fumaça pra causar ilusão de ótica no outro e a alegoria vai tomando forma para o "grande espetáculo". Tudo feito sob medida para impressionar os jurados.

Só que todo carnaval tem a sua quarta-feira de cinzas e o Brasil não vai terminar no dia 3 de Outubro. O sol vai nascer no dia 4 e sob as toneladas de confetes e serpentinas da "festa da democracia" restará a pergunta fatal: e agora?

Bom, se a vontade imperial de Lula valer ele terá batizado sua sucessora. Haverá festa nas hostes petistas, os movimentos sociais vão se ouriçar, a "militância" vai se declarar vitoriosa e um país estará aguardando o seu destino.

O problema é que este "país" não parece estar nos planos do partido. O partido, que aparentemente está acima do país para os petistas, terá sim um destino, um futuro, que é o poder pelo qual ele existe, que é um fim em si mesmo. Mas o país não. O país estará aí, órfão de algo que vá além do dia da eleição.

Porque não tem muito mais para sair de onde veio essa candidatura da Sra. Dilma Rousseff. A candidatura é o plano em si. Uma vez feito vencedor, estará concluído.

Seria então uma continuidade da obra de Lula? Que continuidade, se a sua obra em já é uma continuidade do que foi feito em anos anteriores? Dilma não está se apresentando para dar continuidade ao que é feito no país e sim para dar continuidade a um mandato que foi impossível para seu chefe estender legalmente. Ela é a tentativa do terceiro mandato que não pôde vir.

A partir do momento que sentar na cadeira de presidente não terá mais o que fazer além de ser guardiã do legado pessoal de alguém a quem sucedeu, ser uma espécie de meirinho para que seu partido leve a termo uma guinada à esquerda que a sociedade não apóia e ser também um "entre - Lulas". E tudo isso nada tem a ver com o que será feito do Brasil nos anos que se seguirão. É tudo voltado pra dentro da cúpula, do politburo das bananas.

E algo de tal importância parece que será decidido como numa torcida de Copa do Mundo. Não vejo muita gente preocupada realmente com o país e sim com o seu "time". É um tal de "venceremos!" ou "vamos ganhar e mostrar pra eles no dia da eleição!".

Será que alguém que esteja fora da máquina partidária, do colchão assistencialista das "bolsas" e ainda assim se declara eleitor de Dilma Rousseff parou sequer cinco minutos para pensar nos quatro anos seguintes que terá para conviver com a culpa e as conseqüências de ter ajudado a alçar ao posto máximo de seu país alguém que provavelmente será um mero veículo de execução de idéias de gente como Antônio Palocci, José Dirceu, José Sarney, Renan Calheiros e outros tantos?

Porque esse tipo de "vitória" não é igual à de uma escola de samba ou de um time de futebol, que a pessoa vai comemorar com bandeiras na rua e no dia seguinte vai seguir sua vida normalmente, como se nada tivesse acontecido. Esse dia seguinte é bem mais longo.

Mas parece que não tem muita gente se dando conta disso.

3 Comentários:

marcela blume postou 25 de maio de 2010 às 12:14

Marcus, seu texto é bem legal, mas...até que ponto a sua verdade será ouvida?
Eu, sinceramente, já desisti dos brasileiros, eleitoralmente falando.
Um bom presidente é sempre assistencialista e que mantém o Brasil longe do cáos econônico. Todos os outros problemas como violência (também sou do Rio e tenho MEDO de andar nas ruas), educação (para que se você pode ser presidente sem estudo?), saúde (é luxo!)... são simplesmente esquecidos se você ainda pode comprar sua tv LCD em 500 prestações nas Casas Bahia para assistir a Copa!
Sinceramente também não quero votar no Serra e votar na Marina é votar na Dilma...
É triste não ter opções e a certeza que o dia seguinte, que você não queria, vai durar 4 ou 8 anos...

PriAliança postou 25 de maio de 2010 às 17:33

Marcus, sua acidez me delicia!

"Porque esse tipo de "vitória" não é igual à de uma escola de samba ou de um time de futebol, que a pessoa vai comemorar com bandeiras na rua e no dia seguinte vai seguir sua vida normalmente, como se nada tivesse acontecido. Esse dia seguinte é bem mais longo."

Muito importante lembrar disso. Eu mesma vou lembrar e passar a mensagem adiante, obrigada!

Marcela, não desista ainda! Uma democracia plena exige cidadãos autônomos; a autonomia só se consegue pela educação baseada na convicção, nunca na coação. E nosso Brasil, além de muito verdinha em termos de democraçia, passou muuuuito tempo vivenciando a autoridade gocernamental por coação. Elementos históricos que duram muito tempo exigem muito tempo pra serem descontruídos. Talvez eu e você não vejamos a democracia chegando ä sua plenitude aqui (não vou dizer minha idade, ok?), mas como educadora estou fazendo a minha parte pra que meus alunos lutem por ela.

E eu não acredito que Marina e Dilma sejam a mesma coisa. Acho Marina bem radical e Dilma bem "guiada". Mas concordo que Serra é uma péssima opção. Chega de estado mínimo, pelamordedeus.

merry postou 26 de maio de 2010 às 09:58

Adorei o texto e concordo contigo e com os dois comentários também. Sem opções ficamos numa sinuca de bico.Opção: Não votar?
Terrível a situação...

 
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