O lado bom

Postado em 20 de mai. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Quem nunca ouviu de outra pessoa que precisava se esforçar mais para "ver o lado bom das coisas"? Acho que todo mundo. Os livros de auto-ajuda incutiram essa mentalidade de estação de tratamento de esgoto nas pessoas.

Faz lembrar até daquele filme "Mad Max", onde o baixinho que ficava em cima do "Blaster" formando a dupla "Master-Blaster" dizia "Cocô não! Energia!" direto das profundezas da sua fossa-usina.

Se formos pensar bem, tudo que demanda esforço demais para mostrar um "lado bom" talvez não tenha lado bom algum. Maquiar o lado mau não vale.

Digo isso porque um dos maiores calhordas do mundo é o otimista inveterado, aquele cara que te vê na rua, empurrando uma Brasília velha, pau da vida e vira pra você e diz "Pense positivamente, você está fazendo exercício!".

Não estou defendendo aqui uma visão negativa sobre tudo, não é essa a questão, o que defendo é uma análise isenta dos fatos e, se formos realistas, essa análise geralmente nos levará a um certo mau humor.

Óbvio que a única saída para o desespero parece ser atirar-se de uma ponte, então ele não é desejável, mas também acredito que a negação está longe de nos salvar. O primeiro passo para você melhorar qualquer situação é sentar, respirar fundo, olhar decididamente para o horizonte e declarar: "Estou na merda!".

Tendo consciência disso, você pode até não saber pra onde quer ir, mas com certeza saberá onde não quer ficar. É ou não um começo?

Eu sei que o mundo precisa contribuir um pouco, ainda que ele pareça ter sido construído para frustrar cada uma das suas espectativas. Mas não pense que você é a pior pessoa do mundo por isso, porque nem sob esse aspecto você é melhor do que ninguém. O mundo distribui pauladas a esmo, como um guarda municipal dispersando manifestação de camelôs, e não está muito interessado em quem apanha. Você é apenas um dano colateral.

O mundo é cão, não duvide disso. Mas não pense num poodle, ele está mais para um pitbull que toma anabolizante. Ciente disso você pode se defender.

Frases como "só depende de você" ou "fracassos são oportunidades" são platitudes ditas como se fossem um "abracadabra". Não, não depende "só de você", depende de que te reconheçam também. E fracassos são só isso mesmo: fracassos. Excelentes oportunidades para você descobrir tudo o que nunca mais quer para si.

"Pense positivo!". É, realmente, isso resolve tudo. O sujeito que acabou de ser assaltado acordou de manhã pensando assim "Tomara que me roubem 10 mil reais!", por isso que aconteceu, quem mandou ele não pensar em ganhar a Mega Sena, não é verdade? Se querer fosse mesmo poder, a Mega Sena sempre seria dividida entre todos os apostadores.

Infelizmente (infelizmente mesmo) dependemos das outras pessoas para que nosso valor (caso exista) seja reconhecido. Pobre e mal-sucedido é interesseiro, rico e bem sucedido tem bom networking. É assim que funciona.

Certas espectativas são como essas regressões de vidas passadas. Não conheço uma pessoa que faça essa experiência e não diga que foi um príncipe, um gladiador famoso, um mago, uma sacerdotisa. Incrível, mas parece que não existiam ladrões, prostitutas e verdureiros no passado.

Essa história de "mirar alto" parece mais coisa de quem joga pedra em avião. Às vezes é isso aí mesmo, não tem muita "coisa guardada pra você" em lugar algum e só quem descobre ou entende isso é que resolve ir e pegar por conta própria.

Ninguém gosta de sofrer, se "sofrimento nos ensina" prefiro morrer analfabeto, mas encarar as coisas com um pouco de realismo (diriam pessimismo) evita decepções e colabora na perspectiva.

Sabe quando você está na praia, vê uma gostosona e pensa "nunca daria mole pra mim" e ela não dá mesmo? Pois é. Você aprendeu que a vida não é um filme.

Mas o que diferencia o otimista do pessimista nessa situação é que o otimista que leu "O Segredo" vai mentalizar que está se dando bem com a gostosona, chegar em cima dela, levar um toco e pensar "pelo menos tentei, mirei alto, algum dia consigo porque está guardado pra mim".

O pessimista olharia em volta e veria a priminha da gostosona (que se não é tão boa mas pelo menos dá um bom caldo), chegaria em cima e como todo mundo só quer saber da prima bonita, suas chances de se dar bem seriam multiplicadas de forma considerável.

Moral da história: seja um pouco mais pessimista que a vida te deixará menos na mão. Algumas vezes literalmente.

4 Comentários:

@Angel_Azevedo postou 20 de maio de 2010 às 12:36

O mundo sempre teve essa "síndrome de Pollyanna", fazendo o jogo do contente pra justificar seus grandes fracassos. Mas na real? Esse pensamento não serve pra M* nenhuma. A vida é a vida...como ela é

Alexandre Vasconcellos postou 20 de maio de 2010 às 12:46

Não lembro como te achei no twitter e/ou neste blog, mas seus textos são excelentes!

Reflexão nua e crua de uma das grandes merdas da vida contemporânea: a facilidade que temos em acreditar nos mitos que nós mesmos criamos.

Como dito no Clube da Luta, "você tem que aceitar a possibilidade de que Deus não gosta de você", o que não tem nada a ver com a fé de ninguém.

Boa reflexão, cara!

Ju Whately postou 22 de maio de 2010 às 07:45

Eu acho que td na vida está baseado na expectativa que criamos das coisas.

É aí que sua reflexão se encaixa. Quanto maior a ilusão, maior o tombo e a decepção.

Por isso concordo contigo. Qto mais realista, menor o sofrimento. Mas, nem por isso, menor o aprendizado.

Até pq o aprendizado tem a ver com vontade de aprender e não com a quantidade de sofrimento imputada na situação, né?

Convenhamos, qta gente sofre, sofre e não aprende merda nenhuma?

Pra mim, qto mais claro, melhor a visão. E no escuro, a única coisa que aprendi foi que uma topada no dedinho dói pra porra!

merry postou 26 de maio de 2010 às 10:28

Boa... a gente cria uma
projeção das coisas e depois quer que dê certo, maluquices individuais. A única coisa é que mesmo pessimistas temos que manter o bom humor senão nos tornamos chatos. E chato ninguém quer por perto.

 
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