Os veículos de imprensa e a política

Postado em 6 de mai. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Faz um tempo que eu escrevi aqui sobre a postura de blogs, portais, jornais e revistas frente a qualquer eleição que aconteça em qualquer país. Contei (e demonstrei com fotos) que nos EUA os jornais declaram apoio abertamente e que isso é uma coisa boa, visto que os leitores e eleitores não são enganados com a falsa neutralidade que vemos aqui no Brasil.

Hoje, 5 de Maio de 2010, é dia de eleições gerais no Reino Unido. Eles votarão a nova composição do Parlamento e o partido que conseguir maioria ou formar uma coalizão, indicárá o primeiro-ministro.

Como sou fissurado em processos eleitorais de forma geral (até eleições na Irlanda, na África e na Ucrânia), fui ler algumas notícias sobre o dia da eleição e me deparei com essas duas capas que reproduzo abaixo:




Pra quem não sabe inglês, explico rapidinho: o The Sun traz em sua manchete os dizeres "Em Cameron (líder do Partido Conservador) nós confiamos, é nossa única esperança". Já o Daily Mirror traz em sua primeira página a seguinte convocação: "Primeiro-Ministro? Tem certeza? Não deixe que David Cameron  engane você, vote no Partido Trabalhista".

Como vocês podem notar, nenhuma pessoa que possua pelo menos duas sinapses comunicantes terá dúvida alguma sobre qual partido este ou aquele jornal apóiam.

Aqui no Brasil temos esse apoio velado, essa coisa cínica da "isenção" que na verdade não existe. Alguns veículos são claramente opositores ao governo. Outros, fingem uma neutralidade.

Órgãos de imprensa, ou pelo menos muitos destes órgãos de imprensa, necessitam de verbas federais que chegam em forma de anúncios, logo não podem adotar postura independente em relação ao governo. Só que não podem exagerar no apoio, senão, quando e se houver uma troca no poder, a torneira fecha.
Então eles transitam naquele terreno meio doido em que para elogiar um, precisam elogiar o outro e para falar dos defeitos de um, precisam achar algum defeito no outro.

"Serra fez um ótimo discurso na pré-convenção do PSDB". "Dilma conseguiu concluir brilhantemente pelo menos uma das 300 frases que iniciou em seu pronunciamento para os líderes do MST".

"Ato de Centrais Sindicais pró-Dilma recebeu milhões de estatais em patrocínio e Lula discursou pedindo votos para ela". "Prefeito de Camboriú pagou uma coxinha para Serra e ele disse que fumantes são idiotas".
E por aí vai.

Não seria melhor que os jornais fizessem como nos EUA e no Reino Unido e tirassem de uma vez a máscara?

Tenho certeza que a democracia não precisa de simulacros para ser forte, precisa apenas de transparência.

7 Comentários:

Anônimo postou 6 de maio de 2010 às 09:07

Basta assistir qualquer telejrnal global.Se for o que passa antes do Jô então...Dá vontade de vomitar,após a tentativa forçada de fazer a intragável Dilma descer goela abaixo.
E chamam as eleiçoes de "festa da democracia".Que democracia, é uma dança das cadeiras e estão la sempre os mesmos sobrenomes.A política do Brasil precisa ser "oxigenada", ventos que tragam gente nova.De verdade!Não essa corja de "Acm´s Netos","Sarney´s filho´s(a´s) e assim por diante!
Mas se depender da imprensa isso não vai acontecer nuncaaaaaa!

Augusto postou 6 de maio de 2010 às 10:52

Mas algumas revistas no Brasil assumem sua postura. Digo algumas porque imagino que deva ser mais de uma, pois a Carta Capital em 2006 assumiu apoiar o candidato do PT na ocasião o Lula, o que não fez dela chapa branca, muitos artigos de criticas ao governo são feitos.
Essa tática de não assumir em quem é seu apoio explicito é para dar aquele ar de fonte idonea. Mas lógico que escondido existe uma campanha de difamação do opositor ao candidato da revista um apoio ao mesmo é uma velação de todos os escandalos e dados negativos do seu governo. Então fica claro o seguinte não da pra ler Caros Amigos e achar que ela vai falar bem do José Serra e mal da Dilma tão pouco a Veja e a Folha de São Paulo vão fazer o contrario ou mostrar que o número de homicidios no estado de São Paulo subiu 23%.

Antonio postou 6 de maio de 2010 às 10:58

Se as eleições na Inglaterra derem Conservadores será por pura incopetencia dos Labour. Na década de 80 Margaret Thatcher conseguiu a proeza de transformar um país de 1º mundo em um dos mais desiguais da Europa. Uma geração yuppie crescente e uma outra totalmente marginalizada fez com que os conservadores perdessem seguidas vezes e merecidas. Vejamos se as eleições tendem para os conservadores, afinal a Europa adora ir para direita e para o conservadorismo em épocas pós crise, veja só o Nazismo e vários Fascismos na Europa pós 1929...

rabiluca postou 6 de maio de 2010 às 13:16

Grande materia. Parabens pela forma com que aborda o tema. Concordo plenamente com o que você propoe

Danilo B. postou 6 de maio de 2010 às 13:58

Não concordo. É melhor que a imprensa faça esse apoio mascarado do que assumidamente.

O povo é burro e a imprensa é interesseira, quando não é ingênua. Se a imprensa começa a fazer campanha para um determinado candidato, o povão vai na onda e acaba elegendo um candidado de merda.

Aqui na minha cidade (Barueri, de Rubens Furlan - aquele que chamou os caras do CQC de babacas) funciona assim: todos os jornais e revistas de Barueri só mostram as coisas boas da cidade e nunca, em hipótese alguma, falam mal do Furlan e seus aliados. E o motivo é simples: a prefeitura "compra" todos esses jornais e revistas publicando anúncios de página inteira na contra-capa desses veículos.

Se formos seguir a sua linha de raciocínio, daqui uns dias alguns jornais e canais de TV vão estar influenciando as pessoas a seguirem e pagarem dizímo para determinada igreja.

OOOOPS, ISSO JÁ ACONTECE! Hahahaha

SukaTsu postou 6 de maio de 2010 às 15:02

Acho que tem que ser um jogo de cartas abertas. Quem quiser que apóie quem achar mais competente, ou menos incompetente.
Só não acho correto o que acontece aqui em Guaratinguetá - SP, onde a maioria do Secretariado está envolvido de forma direta ou indireta com os órgãos de comunicação da cidade. É uma pouca vergonha, uma verdadeira "puta falta de sacanagem", como diz a família Restart.
Apoio é uma coisa. Rabo preso é outra, muito diferente!!!

Darlon postou 25 de setembro de 2010 às 16:10

A criatividade é a filha da crítica. Não pode haver nenhum tipo de cerceamento à liberdade de expressão, seja errônea ou não. Deve estar nas mãos do cidadão o poder de selecionar notícias e veiculos comunicativos que informem e fiscalizem acertadamente os políticos em geral. A única forma de controle deve ser, como disse Plínio de Arruda em um debate, o controle remoto da mão do cidadão.

 
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