O aniversário nosso de cada ano

Postado em 27 de dez. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Depois de uma certa idade, as pessoas não deveriam mais dar "parabéns" quando a gente faz aniversário, mas dizer alguma coisa como "bem feito" ou então "de novo?".

Fazer aniversário seria muito mais legal se a gente não precisasse envelhecer durante o processo.

Tudo bem que a alternativa a fazer aniversário é não fazer nenhum, e como não sabemos o que acontece depois dessa, preferimos não passar pra tal  "melhor" antes da hora, mas ficar mais velho não é definitivamente o maior evento da vida de ninguém, por isso tentamos atrasar o processo física e mentalmente o quanto podemos.

Fazer aniversário pressupõe ficar mais maduro com o tempo, ser menos impulsivo, saber mais das coisas, se afastar da adolescência, das inquietudes, gostar de canja de galinha, começar a ouvir Roberto Carlos,Frank Sinatra e a reclamar dos impostos.

Mas e se a gente não acha isso muito legal? E se a gente quer continuar usando calças curtas, falando bobagem com os amigos, enchendo a cara, vomitando o banheiro todo e consumindo Bis, pizza dormida e Coca-Cola quente no café da manhã?

Você vai me dizer "e daí?" e eu te respondo: você acha mesmo que ninguém vai te chamar de "Peter Pan"?

Vivemos para cumprir um papel na sociedade, essa é a verdade.


Se antes dos 18 cada aniversário é um passo rumo a uma liberdade maior, depois dos 18 essa liberdade vai lhe sendo tomada como se você fosse um presidiário que violou a condicional.

Aos 15 podemos sair de casa e voltar depois da meia-noite, mais ou menos aos 16 começamos a saber o que é o sexo, aos 17 já podemos beber uma cerveja na frente dos nossos pais sem levar um tapa na cabeça, aos 18 vem a carteira de motorista e a liberdade quase total e por aí vai.

Mas logo em seguida começam as cobranças: faculdade, estágio, trabalho. E mais adiante o sucesso profissional, casamento, filhos.

"Casa quando?", "E quando vem o primeiro bebê?", "Os filhos já foram pra faculdade?", "Cadê os netinhos?", a única pergunta que não fazem (mas pensam) é: "Não acha que já tá fazendo hora extra aqui nesse mundo, não?"

E quando você menos espera, acorda um dia e percebe que trabalho, contas, obrigações e outras exigências do seu "papel na sociedade" te fazem ter a mesma liberdade que você tinha aos 15, ou seja, quase nenhuma.

A diferença é que ninguém te sustenta, ou seja, era melhor ter 15 e correr batendo a porta do quarto, colocando um rock a todo volume só para encher o saco dos seus pais. Hoje se você fizer isso provavelmente te acharão meio maluco e, com sorte, você só vai levar uma multa do condomínio por perturbação da ordem.

Você tem mais de 40 anos, resolve aprender a surfar e alguém com certeza vai dizer "não tá meio velho pra isso?". Você tem 60, morre de depente e dirão "nossa, mas era tão novo!".

Resumo: para  "estar vivo" você permanece novo por bastante tempo, mas para "viver", logo fica velho.

O que sobra é que os primeiros aniversários se parecem muito com os últimos: você mesmo pouco liga para a festa que os outros fazem quando completa 1 ou quando faz 90 ano e entende muito pouco do que se passa à sua volta em ambas.

Aquele monte de gente sorrindo, comendo, bebendo, cantando "parabéns pra você" e pensando quietinhas entre um brigadeiro e um cajuzinho:

- Será que esse moleque um dia vai ser médico ou engenheiro?

- Acho que o vovô quer competir com o Niemeyer...

PS: O autor deste blog fez aniversário ontem (26/12), daí a reflexão (estimulada por um amigo) sobre aniversários. Mas não precisa dar parabéns e nem dizer "bem feito", OK?

10 Comentários:

Moreira Pistori Dourado Gabaldo postou 27 de dezembro de 2010 às 08:49

puta texto genial! muuuito bom, mesmo!

Unknown postou 27 de dezembro de 2010 às 08:55

Cara é mto fácil se identificar com um texto tão realista e sincero, sempre uso argumento parecidos, qdo me questionam a respeito, da hora ou idade certa pra se fazer as coisas, a hora certa é qdo acontece!!! Além do mais não é justo deixar de aproveitar as coisas boas da vida pq se está mto jovem ou velho? Minha idade está na minha cabeça e não na quantidade de velinhas que sopro!!!

Unknown postou 27 de dezembro de 2010 às 08:58

è impressão minha ou todo capricorniano fica um tanto reflexivo a contragosto de fazer aniversário ou comemorá-lo!?

mvsmotta postou 27 de dezembro de 2010 às 08:59

Mo,

Não sei se todos são assim, sei que eu sou. Rs

Abraços!

Unknown postou 27 de dezembro de 2010 às 09:04

Além de mim, tu és o 2º capricorniano que compartilha dos mesmos sentimentos.

Uma abraço

Riselda postou 27 de dezembro de 2010 às 09:05

Putz!Adoreio a paralelo que vc fez sobre o 1º aniversário e fazer aniversário aos 90 anos. http://www.contracorrenteza.com/2010/12/o-aniversario-nosso-de-cada-ano.html
Quanto a festa de aniversário,depois dos 40,é boa pq ninguem mais diz:Com quem será,com quem será,que fulano(a)vai casar?",oh que coisa mais chata!Parabéns pelo blog. bjs e feliz aniversário! rss...

Unknown postou 27 de dezembro de 2010 às 09:50

Não sei se sou meio alienada, mas gosto de fazer aniversário. Fico também reflexiva a respeito do que já conquistei e o que ainda falta fazendo uma comparação com o tempo que supostamente me resta. Acho que o que me aborrece mesmo em envelhecer é saber que tenho cada vez menos tempo, a despeito de ter cada vez mais sonhos. Mas curto aniversariar. Não faço festas, aqui temos o costume entre amigos de quem quiser comemorar o aniversário alheio, tem necessariamente que carregar sua bebida e o que pretende comer. Fazemos só uma "junção" pra beber um pouco e jogar conversa fora.
Eu diz aniversário no mês passado, 40 anos. Me acho jovem demais e capaz de realizar muitas coisas, aliás é só me dizerem que não posso para o meu empenho quadruplicar. Mas ao mesmo tempo, já fiz tantas coisas, já vivi tão intensamente que me pergunto se Deus não vai se confundir achando que já vivi uns 80 e me levar antes da hora.
A propósito: parabéns e... bem feito!
Abraços e beijos e meu agradecimento pela agradável companhia neste ano. Feliz ano novo pra você!

Anônimo postou 27 de dezembro de 2010 às 13:10

Bom se entre estar vivo velho ou morto novo. Prefiro ficar velha aproveitando meu tempo por aqui, visto que a passagem é rápida e a linha de chegada é sem aviso.
Acho que pelo seu texto percebe-se que pensas igual.

Abraços.

Gustavo Ca postou 27 de dezembro de 2010 às 16:24

Parabéns, a Terra deu mais uma volta ao redor do sol desde o dia em que vc nasceu.

Isabel postou 28 de dezembro de 2010 às 04:17

BEM-FEITO, HAHAHAHAHA!!!!
:)

 
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