Os cretinos ainda te transformarão em indie

Postado em 21 de dez. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Descobrir qualquer coisa é muito bom, que o digam os velhos navegadores.

E o exemplo deles é perfeito para o que quero contar, afinal, eles chegaram em terras paradisíacas, de natureza exuberante, riquezas e nativas de peitos de fora e, passado algum tempo, essas terras paradisíacas viraram isso que hoje é o Brasil, ou seja, um país de natureza exuberantemente degradada, riquezas espoliadas e nativas de peito de fora.

Essa referência também lembra outro conceito que quase todo mundo gosta de repetir, o de que "antigamente tudo era melhor". Veja, não duvido, realmente é possível que antes fosse melhor do que agora (que será melhor do que depois), mas muito disso conta com dois fatores que considero primordiais: a nossa memória falha e o número infinitamente menor de pessoas que viviam no mundo.

Aquela época legal e perfeita que você tanto sente falta provavelmente era a mesma merda de hoje, só que já passou tempo suficiente para você não lembrar dos detalhes.

Outra coisa que nos leva erroneamente a pensar que antigamente era tudo melhor se deve ao fato de que existiam menos pessoas no mundo, logo existiam menos cretinos.

E assim finalmente chego onde queria: que é bom gostar de músicas, autores, filmes, lojas, restaurantes e mais um monte de outras coisas que quase ninguém conhece.

Pense naquele bistrô escondido que você achou por acaso enquanto estava perdido procurando uma livraria num bairro distante. Te serviu um sanduíche delicioso, café de primeira qualidade e ainda por cima fazia cupcakes que derretiam na sua boca.

Até que algum crítico de gastronomia foi lá, o local saiu num caderno dominical de algum jornal com um daqueles títulos medonhos como "Lugares que farão sua cabeça nesse verão" e pronto!


Você chega lá e tem uma fila. E na fila tem aquelas famílias cheias de sacolas da Casa&Video, batendo boca porque o filho preferia ir no Mc Donald´s. O sanduíche vem frio, o café fraco demais e os cupcakes acabaram, porque alguém acabou de pedir 50 para viagem pelo telefone.

E isso acontece com quase tudo. Como aquela banda que você conheceu por causa de uma ex-namorada e que vocês ouviam em ociosas tardes de sábado, mas que de repente apareceu na MTV, entrou nos Top 10 da Jovem Pan, foi remixada pelo Memê e agora toca até nas aulas de spinning da sua academia.

Ou então aquele autor bukowskiano que você assistiu numa palestra junto com outras 4 pessoas na última bienal e que de uma hora para outra - sem que você saiba ao certo porque - passou a ser citado frequentemente em perfis de Orkut e a ter frases mais repetidas por sabujos do que a Clarice Lispector.

Nada é tão bom que 200 mil fãs enchendo o saco com isso o tempo todo não tire a graça. O U2 que o diga.

É gostoso saber que certas preferências são só suas (ainda que isso não seja muito bom pra conta bancária deles), ou então compartilhadas com alguns poucos.

O que ajuda muito essa tarefa é o fato da maioria das pessoas gostar mesmo é de lixo. Caso contrário, trios elétricos é que seriam indie.

No fundo acho que não enjoo das coisas, eu não gosto mesmo é das pessoas que passam a gostar delas.

Tá bom, tá bom, eu confesso: sou um pouco indie mesmo, mas a culpa não é minha, é deles.

4 Comentários:

Nerd Losers postou 21 de dezembro de 2010 às 08:41

Sua opnião é fato pra mim. Não gosto de "preconceituosos-nostálgicos", mas ser indie, virou lugar comum, mas nos vemos obrigados a sê-lo por causa "deles" como você falou. Obrigado pelo texto.

Rondinelli postou 21 de dezembro de 2010 às 09:00

Eu tb não gosto de rotular e criticar, mas detesto quando uma coisa vira moda e TODO MUNDO FAZ, isso me irrita muito. Eu acabo fugindo do lugar pra não ser importunado pela multidão de imbecis.

Priscila Leandro Pacheco postou 21 de dezembro de 2010 às 12:42

haha Concordo plenamente. A sensação de não estar junto da massa é algo bem agradável...
Só nao curto indies pseudo-intelectuais...

Gustavo Ca postou 22 de dezembro de 2010 às 06:43

"Nada é tão bom que 200 mil fãs enchendo o saco com isso o tempo todo não tire a graça" - Exato! Ter alguns gostos particulares faz bem, principalmente se vc é uma pessoa que gosta de ficar sossegada no seu canto. Tbm evito essas coisas que viram moda/mania, tudo o que as pessoas correm atrás em rebanho.

 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo