Senhor Marido, Dona Esposa

Postado em 2 de dez. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Pra começar quero deixar claro que acho que todo sujeito que chame a esposa de "patroa" merece ser demitido por justa causa.

Mas é fato que muitos homens por aí se referem à esposa por apelidos românticos como "Dona Maria", "polícia" e até - nesses casos mais graves - "patroa".

Mas esse é apenas um dos muito sinais de que o cara virou o "marido", uma entidade meio universal e que consegue broxar a maioria das relações.

Para ser justo, preciso admitir que esse é um crime conjunto, uma associação. Todo "marido" precisa de uma "esposa", por mais redundante que isso possa parecer. E não tem nada a ver com o casamento, que por vezes pode ser uma doença tão grave que chegam a se referir a ele como "contrair núpcias", mas com a postura que ambos assumem depois do enlace.

Durante o namoro a maioria das pessoas procura impressionar o outro. Sair para lugares diferentes, planejar viagens, surpreender, não deixar que a barriga saia da já inaceitável condição de "pochete" para virar uma "mochila de camping", entre outras coisas. Mas basta vir o casamento e assistimos uma verdadeira transformação nessa relação de tênue equilíbrio.

Dos sábados de amor sem limites e domingos de praia e soneca no meio da tarde eles passam lentamente aos rodízios de pizza, festas infantis e ao temível futebol na TV. Ela que não podia passar de shortinho na frente dele agora continua não podendo passar, só que para não atrapalhar a visão da cobrança de penalties.


E aquelas sextas-feiras em que ele esperava ansioso pra ver qual programação ela inventaria - que podia ser uma exposição legal, um filme cult ou até um queijos e vinhos - agora viraram um jogo semanal de buraco com alguns vizinhos em que todos passam a noite na empolgante atividade de falar mal dos outros e conversar sobre o colégio dos filhos enquanto bebem cerveja e se empanturram de amendoins e Doritos.

De uma hora pra outra eles percebem como tudo mudou. Ela olha para o lado e vê o Homer Simpson, ele olha pro lado e vê a sua tia que fritava pastéis em todas as festas da família.

Quais seriam os próximos passos nessa descida da ladeira? Fazer suas necessidades enquanto o outro toma banho? Um na frente do outro discutindo sobre a conta de telefone? Ela passar a chamá-lo pelo sobrenome? Essa aliás é uma das coisas que mais me assustam quando vejo certos casamentos, a mulher falando do marido usando o sobrenome.

- Você não sabe a última que o Almeida aprontou...

- O Duarte gosta das camisas dele muito bem passadas.

- Eu acordo cedo todo dia para preparar o café com leite do Meireles.

O equivalente é ele chamá-la de "mãe". Porra, dá licença, ela pode até ser mesmo mãe dos seus filhos, mas para ele não pode nunca, jamais, de forma alguma ser a "mãe". Porque como é que funciona isso? Chega a noite e ele vai pra cama e come a "mãe"? Não dá, simplesmente não dá.

As pessoas se largam tanto durante um casamento que desde a sabedoria popular até qualquer artigo de revista vagabunda que fale de traição, todos apontam como primeiro sintoma a pessoa se cuidar melhor.

A mulher volta a cortar o cabelo e a tingir eventuais mechas brancas, o cara raspa aquele bigode ridículo e entra para uma academia, ela volta a fazer as unhas, ele deixa de usar cuecas furadas, ela fica menos disponível, ele passa fatalmente a desejá-la mais por conta disso (o que o fato dela aposentar as calcinhas bege também ajuda bastante), enfim,  voltam a agir como se fossem namorados - só que agora de um suposto "outro(a)" - e saem do papel de "marido" e "esposa".

Já ouvi por aí que se o namoro é tão bom, se o segredo dos casais felizes é se manterem eternos namorados, não existe nenhuma razão para mudar esse status e casar, o que só complica tudo.
Os mais radicais resolvem isso correndo pra alguma casa de swing, trocando chifres em comum acordo. Outros se divorciam, passam a agir totalmente ao contrário do que faziam quando eram "marido" e "esposa" e algumas vezes até se apaixonam de novo num eventual reencontro, quando podem olhar um para o outro sem o peso daqueles papéis.

A verdade é que tudo isso é muito mais culpa nossa do que do outro, entende? É uma troca. Ela vê seu bigodinho de escova de pia e passa a usar aquelas calcinhas bege da avó, você se frustra porque ela agora não quer mais dar umazinha na volta da praia porque está preocupada com o almoço e se vinga passando o resto da tarde vendo televisão, ela te chama de "Sampaio" e você começa a chamá-la de "patroa", e por aí vai.

Melhor nem começar.

6 Comentários:

Luana Pires postou 2 de dezembro de 2010 às 09:47

Com toda certeza esse texto é racional, e a racionalidade nos fazem realista d+, e até chatos d+, pq fica chato imaginar q o casamento tornem homem e mulher completamente diferentes entre si no começo, para depois cairem numa igualdade "besta", affffffffff, gostei do blog, siga os meus.
http://enteramigas.blogspot.com
http://enternamoda.blogspot.com
PS: se isso não incomodar sua masculinidade, rs.

Maria João postou 2 de dezembro de 2010 às 09:50

Texto ótimo. Sou casada, semana que vem faz um ano. Desde o pedido de casamento, eu exigi que ele fosse meu namorado para sempre e que se um dia ele virasse meu marido eu cairia fora. Mas não tem jeito. O casamento é um Big Brother eterno. Todos os participantes lutando pela liderança, e de vez enquando você quer eliminar o concorrente! aeiuhuiaeh A convivência é um teste de paciência.
Calcinha bege e cueca furada é o ó!
Mas como disseste, é uma troca. Cabe ao casal investir na relação, isto é, não deixar a paixão esfriar, comprar lingerie nova, fantasias, sair pra passear naquele lugarzinho deserto... e principalmente, respeitar a intimidade do outro. O cara é teu marido! Se um invadir a privacidade do outro, daqui a pouco estão se tratando como irmãos.

Unknown postou 2 de dezembro de 2010 às 12:23

Ufa! Lendo teu post descobri que meu casamento ainda tá longe do fim, haja visto que ainda nos tratamos de "amor e amorzinho" mesmo depois de 18 anos. Mas a rotina é inevitável, os anos vão se somando, as crianças vem e é impossível não falar sobre a escola e as traquinagens e nem evitar o cansaço ao final de um dia de trabalho, fraldas, mamadeiras e o escambau. Mas dá pra sair da rotina de vez em quando e isso é fundamental para manter um casamento. É possível ser feliz depois de muitos anos juntos, mas é preciso acima de tudo não ter preguiça!

Abraços!!! Você é genial sempre!

Anônimo postou 2 de dezembro de 2010 às 17:34

Casamento é uma palavra que está fora da minha vida. Que estorinha mais louca essa inventada pela sociedade. De unir duas pessoas com hábitos diferentes, educação e manias opostas. E ainda querem que seja eterno enquanto dure ? Está frase já revela que está fadado ao fracasso.
Se o namoro está bom, se ainda estão enamorados e sentindo saudades. Pra que matá-la se enfiando um por dentro da vida do outro ?
Por isso que vira patroa, papai, mamãe, Almeidas e ect. Acaba o encanto ...

Abraço

Unknown postou 2 de dezembro de 2010 às 20:34

Vinicius," começaria tudo outra vez,,," Concordante com tudo, em cada detalhe da rotina terrível que é viver a 2. Mas, casei 3 vezes: a primeira entre namoro e casório 12 anos e só tive filhos com ele. Magoei e fui magoada;acabou a paixão, como não traio, fim.
O segundo parece a música do Guilherme Arantes, Cheia de Charme, todo o tempo, o tempo todo.Transei 3 anos inteiros, mas acabou.Ele me chamou de Dona Encrenca e 5 anos depois fui sua amante.O terceiro, 16 anos mais velho que eu,mentiroso nato, mesmo assim insisti e estamos há 10 anos : casa-separa. Dizem que não sei amar, já paguei 2 divórcios e desisti. Enfim estou só , "parei de brincar" e apaixonei-me por mim!

Hulda Melo postou 3 de dezembro de 2010 às 19:11

Será por isso que tenho medo de casamento? De tudo acabar com um costume.. Óh vida! eu ri.. um fato constatado.

Beijos (:

 
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