Sim, eu te acho feio

Postado em 22 de dez. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Tente responder sinceramente: quanto tempo você acha que o mundo duraria sem a mentira e a hipocrisia? Sem as pessoas enganarem umas às outras até sobre os seus hálitos?

Se você respondeu sinceramente, parabéns, você então sabe que a mentira e a hipocrisia são elementos de equilíbrio social , já que sem elas provavelmente você não se daria bem nem com a sua mãe.

Imagine viver sem dissimulações, sutilezas, disfarces e gentilezas? Sem todos estes códigos sociais que nos impedem de agir como hienas no Serengeti?

Seria como estar rodeado por bêbados e crianças. Sim, porque ninguém será mais cruel do que uma criança quando o assunto for dizer a verdade. Se você estiver fedendo, elas dirão. Se você tiver a cabeça grande, vão te chamar de cabeção.

E um adulto bêbado é praticamente uma criança. Ele sobe em mesas, fala alto, precisa de alguém para levá-lo para casa e possui a desconcertante sinceridade que é necessária para virar pro chefe durante a festa de natal e dizer:

- Sabe a sua amante? A Amandinha da criação? Pois é, ela confirmou o que todo mundo pensava, que esse seu nervosismo todo é por causa de complexo de pau pequeno.

Convenhamos, se nem aquele seu emprego mixuruca resistiu a isso, não seria o mundo, que é muito mais complexo, que resistiria.

Se você não acredita em mim, faça o teste você mesmo.

Escolha um daqueles cretinos que você é doido pra se livrar mas nunca soube como, porque além de chato, ele se faz de gente boa.


Puxe uma conversa com ele, comece falando de alguma namorada que te traiu (se não tiver uma, além de merecer um lugar no livro dos recordes, você poderá inventar uma história), diga como foi horrível mentirem para você, como ficou traumatizado e toda essa bobagem sentimental.

Quando sentir que chegou ao clímax e que ele tem total empatia contigo, pergunte sem rodeios:

- Você concorda comigo? Não é melhor que digam logo a verdade?

Ele, por ser um cretino, terá em mente um verdadeiro arsenal de lugares-comuns e frases feitas, e responderá algo do tipo:

- Claro! Prefiro uma verdade dolorida do que uma mentira que me iluda, prefiro a verdade sempre, doa a quem doer!

Nesse momento a bola estará no alto para você cortar bem no peito dele:

- Que bom você achar isso, porque eu te considero um chato, inconveniente, que dá em cima da minha mãe, vive me pedindo dinheiro emprestado e não paga, tem um nariz de tucano e, apesar do voto ser secreto e morarmos no Acre, tenho quase certeza de que votaria no Maluf se tivesse chance.

Se a "verdade dói", você acabou de dar um chute no saco dele.

E isso vale para tudo.

"Você vai fazer essa mímica escrota de novo?", "Tia, você está tão gorda que a empada é que deveria te comer", "Thayllah Jullyany? Puta nome de favelada, hein...", "O que? Você cortou o cabelo? Não foi uma ratazana faminta que fez isso?", "Sim, eu te acho feio".

Pouca gente encararia isso na boa.

Porque sabe como é, as pessoas adoram a verdade, mas só pra ficar. Na hora de se apaixonar todo mundo gosta mesmo é da mentira.

6 Comentários:

Mauricio Carmo postou 22 de dezembro de 2010 às 07:52

Acho que sinceridade é como sorvete. Todo mundo gosta, mas não de todo tipo. Acho que é interessante quando se tem sinceridade solicitada. Esse tipo de sinceridade é aquela que faz brigar, mas reatar depois.
www.decibelcriativo.blogspot.com
@DecibelDesign

□■ ℓiv..☆ postou 22 de dezembro de 2010 às 11:17

É incrível quando a pessoa começa a perceber o jogo de montar cenários confortáveis para si e para os outros. Eu percebi isso já bem grandinha. E desde então, comecei a me perguntar, "será que sem algumas mentiras, seria mesmo impossível a convivência?" Atualmente, penso que sim! Como o autor ressalta no post acima, devido a complexidade do mundo, SIM, seria impossível! O interessante é que depois de acessar esse raciocínio eu adquiri mais poder de ação, eu me impliquei mais na minha vida, comecei a projetar bem menos nos outros e a ser mais responsável pelos meus medos, fracassos, mentiras e vitórias! Para alguns pode parecer óbvio, no meu caso foi um grande passo! Suspeito que quando você começa a compreender os limites e preços do "jogo de conforto social", você se torna capaz de vivenciar sentimentos e administrar suas próprias mentiras de uma forma mais genuína e salutar!

Porém, ser tão direto e VERDADEIRO como no post acima, exige muita coragem e um movimento contrário imenso, que vai colidir de forma letal com aquilo que somos moldados a ser: carentes de reconhecimento, de aceitação... É BEM DIFÍCIL!!! E de modo algum, pode ser feito de forma generalizada, mas na medida certa (a qual eu não sei) faria uma diferença positiva. Eu luto sempre para ser mais genuína, as vezes consigo, as vezes não... Mas não desisto, não tenho dúvidas que isso faz bem!

No mais... Ao autor:
Parabéns pelo texto, já acompanho suas colocações no Twitter. Bom poder ver alguém contra a correnteza, sempre nos faz refletir e não ser tão "folha seca"! Quem sabe para o ano que vem não surge um texto aí sobre "tipos de mentiras", "sinceridade contextualizada"... Se contextualizar, é sinceridade? Qual a mentira que faz bem?

Li Fonseca postou 22 de dezembro de 2010 às 11:35

Ah como o mundo seria bom , se pudessemos dizer apenas a verdade. principalmente para aqueles q merecem ..rsrsr

Adorei!

solange baumer postou 23 de dezembro de 2010 às 06:51

E somos treinados desde crianças nessa arte,quando recebemos aquele presente ridículo e nossos pais fazem aquela cara de "sorria e agradeça",prometendo com os olhos uma bronca fenomenal se disséssemos que não queríamos bem aquela coisa...
Mas fazer o que né?
Ótima postagem.

Heliud postou 23 de dezembro de 2010 às 15:47

É uma pena que as pessoas prefiram viver sempre na eterna ilusão de que todos gostam dela e de que são bem aceitas na sociedade ao invés de descobrir e aceitar que todos somos seres imperfeitos e que o mundo não é um conto de fadas!a realidade é dura mesmo, mas é extremamente necessária! gostei do seu blog.

@tthiagosouza postou 30 de dezembro de 2010 às 10:12

"A verdade realmente liberta?" Essa é a pergunta que esse post lança.

 
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