Geralmente começa com uma matrícula em aulas de dança do ventre, uma palestra num centro de macrobiótica ou um panfleto de um templo hare krishna.
De repente ela troca o nome pra Julia Fatula ou Sarah Madhava e pronto, é o que basta. Assim, sem mais nem menos, ela vira uma garota "zen". Pára de comer picanhas aos domingos, de beber cervejas às sextas e o sexo das tardes de sábado só rola se for voltado na direção de onde o sol de põe em Calcutá (e com a cama trocada por uma esteira).
Papos cabeça, frases desconexas, cabala-vodu-tarô-zoroastrismo.
Se você diz que está com calor, ouve como resposta algo como "o equiíbrio dos chacras transcedentais precisa estar em harmonia com a existência do arhat". E pensar que você só queria uma cerveja gelada.
Mas o problema é que não foi apenas sua reclamação sobre o tempo que gerou aquele ataque-zen, qualquer coisa que você diga recebe como resposta uma lição, uma moral da história, uma frase sobre aceitação-privação-sublimação-reinvenção de alguma coisa, desde a vontade de comer um chocolate até pisar num cocô de cachorro na rua.
Você passa a viver na companhia de um cruzamento de Paulo Coelho com Baby Consuelo.
Sem contar a transformação da casa dela numa filial do Mundo Verde. Os móveis são arrumados de acordo com o que algum livro de feng shui mandou, o que terminou colocando a mesa de jantar no banheiro social e o sofá na área de serviço, sem contar os incensos, a música indiana, as estátuas de Budas, Ganeshas, os cristais e até um boneco do Batman vestido com roupa de árabe.
Pedir um simples milk shake vira um suplício:
- Vamos tomar um milk-shake?
- Procure a resposta nas vibrações do entorno do seu bodhisattva...
- Tá, baunilha ou Ovomaltine?
- Habib, o seu eu te dirá isso na hora certa.
- Caralho, pelo menos me diz se quer grande, médio ou pequeno?
- Na verdade prefiro um suco de clorofila.
E assim coisas stress, carne vermelha, rock pesado e fast food passam a fazer quase tanta falta quanto o ar que você respira (sem controle de respiração e nem Yoga, porque você está de saco cheio disso).
Não é à toa que namorar uma economista do mercado financeiro ou uma caixa de banco fã do Iron Maiden passou a ser sua obsessão.
Se não der, que seja pelo menos uma gerente do Burger King.
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4 Comentários:
Marcus,
Achei ótimo isso: "Você passa a viver na companhia de um cruzamento de Paulo Coelho com Baby Consuelo.", eu já tive uma experiência parecida com isso e quase pirei, no caso era ELE o zen da história. É aquela história de que nada em demasia dá certo, dps dessa trágica experiência eu percebi que nem com o gerente do Burger King eu daria certo. É preciso equilíbrio sempre.
Bom, gostei bastante desse texto de hj, tem um toque irônico sensacional.
Abraço,
Gleici.
Excelente texto! Já passei por privações bem semelhantes, mas o rapaz não era Zen, era viciado em malhação (vigoréxico).
Ah! Eu já fiz dança do ventre e ainda curto os prazeres mundanos.
Haha.. lembrei do Chaves, a dona Florinda e sua máquina de lavar na sala..
Qualquer comportamento compulsivo ou desequilibrado causa incômodo... Mas realmente, essa galera zen é um pé no saco! Eu moro na Chapada Diamantina, e aqui é um reduto desses bichos-grilos! O pior de tudo é aguentar o olhar profético deles quando olham pra você... Como se estivessem vendo sua aura! Dá vontade de soltar uma bufa e perguntar que cor tem!
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