Quem nunca ouviu da avó ou de um tio essa frase "ah, os velhos carnavais é que eram bons!"? E dá-lhe a falar de pierrôs, colombinas, melindrosas, batalhas de confete e escolas de samba "de verdade". Só que eu tenho uma teoria: aquela época não era melhor, eles pensam assim porque eram mais novos e ainda não tinham visto tudo.
Falo isso porque cada vez que assisto a TV na época do Reinado de Momo - termo que, aliás, acaba com o glamour de qualquer monarquia - fico com a impressão de que já vi aquilo antes.
Reportagens sobre a Bahia, sobre o frevo em Pernambuco, a correria das escolas de samba para aprontar alegorias, o que comer e beber para se manter alimentado e hidratado durante a "folia", os blocos de rua, as fantasias criativas (quantas versões de um Darth Vader serão necessárias para que essa fantasia deixe de ser criativa, aliás?), tudo é rigorosamente igual ao que passou no ano anterior e no outro e no outro.
As bebedeiras, o movimento nas estradas, os engarrafamentos, os supermercados lotados (eventos que, diga-se de passagem, se unidos à varrição da casa de praia poderiam virar um enredo chamado "A Peregrinação Anual da Classe Média Praiana" ou algo assim).
Por falar em enredo, adoraria ver o que aconteceria com as escolas de samba se proibissem de falar sobre Bahia, Amazônia, África e Jorge Amado. Porque as únicas coisas que são menos surpreendentes do que esses enredos são os carros alegóricos que sempre quebram e as rainhas de bateria que passam a impressão de, juntas, possuírem um QI de 0,5.
Tenho quase certeza de que se as emissoras resolverem passar um VT de qualquer carnaval passado ao invés de transmitir ao vivo o desse ano, ninguém vai notar a diferença (exceção às escolas de samba de São Paulo, que sempre inovam falando de temas tão interessantes quanto óculos escuros, guaraná Dolly e nuggets).
O resto do Brasil não foge muito à regra. Quem não sabe que em Salvador o carnaval dura mais de uma semana, que em Olinda todo mundo passa quatro dias fingindo que adora frevo e que no final da festa o "bloco dos garis entra na avenida"?
Mais clichê mesmo só comentaristas de desfile de fantasias e entrevistadores tarados nos bailes (que sempre passam a impressão de estarem acontecendo sem cessar numa espécie de universo paralelo desde os anos 70).
E o amedrontador é saber que ano que vem vamos assistir a tudo isso outra vez, com um monte de gente se espantando como se estivesse diante de uma novidade de cair o queixo.
Não é a toa que até hoje verdadeiros exércitos de soldados do "pavê ou pacomê" repetem sem cansar a piada da Mangueira entrando.
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1 Comentário:
Esqueceu de falar das emissoras que fazem cobertura das micaretas. Eca.
Não é à toa que essa é uma das épocas do ano em que mais se consome bebidas alcoólicas. Passar por isso sóbrio não é pra qualquer um.
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