Sorria, hoje é dia das, dos, de...

Postado em 12 de jun. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Hora do almoço. Na TV do restaurante de comida a quilo a repórter fala de dentro de um shopping center, mostrando escadas rolantes entupidas e lojas cheias de clientes, avisando que o comércio ficará aberto até depois da hora para dar tempo dos atrasados comprarem seus presentes.

Algum diretor de alguma associação de lojistas diz que o movimento cresceu desde o ano passado e a reportagem termina com dicas de presentes.

Natal? Dia das Crianças? Dia das Mães? Dos pais? Não, dia dos namorados, mas tanto faz, essas reportagens não mudam mesmo. Meu medo é começarem a exigir troca de presentes no tal dia do amigo também.

Longe de mim falar mal de consumismo. Ninguém precisa de um iPhone, por exemplo. Você pode ter qualquer outro telefone que entre na internet, baixe jogos e aplicativos, tire fotografias, seja tocador de MP3 , faça ligações e não tenha uma maçã desenhada na parte de trás. Mas e daí? Eu adoro o iPhone do mesmo jeito, sem precisar mesmo.

O negócio é que certas datas viram obrigação. Por exemplo, o que me impede de ganhar chocolates no Natal? Será que o Papai Noel não enche o saco dos especiais com filmes no estilo "O Espírito do Natal Passado" e da Simone cantando "Então é Natal" e preferiria aparecer, sei lá, no dia das crianças?

E o dia dos namorados é assim também. Uma repetição de clichês que começam nos desesperados buscando alguém (ou qualquer coisa) em sites de encontros e termina em restaurantes japoneses lotados.

Quem decidiu que dia dos namorados é pra ser passado num restaurante japonês, aliás? Sim, porque existem outros restaurantes também, mas parece que aquela coisa de sopa de missô com peixe cru e gengibre te faz parecer mais sexy.


Está certo que pegar a gatinha e parar numa barraca de angu não é muito legal, mas e se você estiver afim de comer cheeseburger? Qual é o problema? Vamos combinar que a refeição principal da noite jamais será no restaurante mesmo.

Nunca precisei do dia 12 de junho pra comer sushi nem pra dar uma calcinha comestível pra minha namorada, mas tem gente que parece que liga um botão: agora é hora de ser romântico.

Daí o sujeito (ou a guria, tanto faz) corre para comprar um presente (o impostômetro avisa que o preço dos relógios tem 54% de taxas embutidas) e ainda precisa inovar. Nada de best-sellers, nada de camisas sem graça, nada de sapatos, óculos também não, porra, e se os fósseis de T-Rex não são tão fáceis de achar, como surpreender?

Fazer uma compilação de músicas num CD vai fazer você parecer pão duro. Se colocar a compilação num pendrive vão achar que você comprou no Paraguai. Você termina parcelando aqueles brincos na Monte Carlo Jóias mesmo e sua namorada vai te dar alguma coisa comprada numa tabacaria. Pronto, resolvido.

Quer dizer, nem tanto. Depois dos presentes e do sushi,  tem sempre as filas nos motéis.

Sério, o que é aquilo? As pessoas ficam dentro do carro ouvindo Good Times 98 e esperando as outras desocuparem os quartos como se não soubessem que dali a alguns minutos vão deitar numa cama ainda meio quente. Se vivêssemos num país onde o sexo precisasse de cupons de autorização tudo bem, mas em se tratando da terra do "sexo até na rua", pra quê isso?

Não sei se alguém já avisou, mas você pode ir com as sua namorada para um motel sem fila no dia 13, quando todos os babacas já terão ido pra casa. Sem contar em como é estranho todo mundo saber exatamente o que você foi fazer na rua nesse dia, até os seus avós.

Mas pior do que esses clichês só mesmo a auto-ajuda dos encalhados que corre solta nessa época. Aquela história de que dia dos namorados é só um e a periguete-que-ficou-pra-titia tem "quatro dias pra zuar no carnaval" ou então a velha frase "antes só do que mal acompanhado".

O fato é que se você passou (ou vai passar) o dia dos namorados sozinho, isso obviamente pode ser sua opção, mas também pode ser que tenha sido opção dos outros, como aquela sua ex-namorada que  colocou como status do Facebook a frase "antes só do que naquela companhia", que no caso é a sua companhia, sabe como é?

É uma data que até facilita alguns rompimentos:

- O problema não é você, sou eu. Eu não consigo achar um presente a sua altura, por isso quero terminar tudo.

Pensando bem, isso sim, seria surpreendente.

2 Comentários:

Isabel postou 11 de junho de 2012 às 11:26

Muito bom! Parece que essas datas definem o comportamento que devemos ter. Não basta ser apenas uma data comemorativa, tem uma série de procedimentos a serem cumpridos. Se furar um deles, vem aquela sensação de frustração. Acho legal trocar presentes sem precisar ficar no vermelho por causa disso, ou fazer um lanchinho diferente em casa sem precisar mofar na fila do restaurante. :)

Fane postou 12 de junho de 2012 às 08:16

Concordo plenamente.
O pior ainda é aquele casal que só tem comemoração em datas marcadas. Tal como fazer sexo no sábado, flores no aniversário e motelzinho no dia dos namorados. Os outros dias são sem graça.
Essa datas ainda rotulam nosso comportameno e influenciam as pessoas, seja pra parecerem algo que não são ou só pra esquentar a economia mesmo.

 
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