Romantismo: teoria e prática

Postado em 10 de jul. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Quase todo mundo já se emocionou com alguma cena romântica. Seja numa dessas comédias água com açúcar, num filme épico de batalhas e amores sofridos, em novelas, romances, sempre aparece um gesto grandioso, uma atitude fofa, uma declaração efusiva que faz a pessoa pensar "porque não acontece comigo?" (se você nunca passou por isso convém fazer um exame de DNA para ver se não é parente da Miranda Priestly ou do Darth Vader).
E a resposta para a sua pergunta é: porque você não iria querer. Simples assim. Você não iria querer de verdade aquilo.
Afinal, pense bem: você no seu emprego, atolado entre planilhas de Excel e ligações pro fornecedor que atrasou a entrega do papel ofício e, de repente, entram no seu escritório um palhaço, um duende, um burro, um pipoqueiro, um vendedor de algodão doce e 20 mulatas do Sargentelli cantando ao som da bateria do Salgueiro "êêêê, a Luciana ama muito você!".
Numa comédia com o Adam Sandler isso termina em sorrisos, beijos e aplausos dos seus amigos do trabalho. Na vida real isso termina com você se explicando no RH, terminando o namoro por SMS e ostentando para sempre o apelido de "Mc Dia Feliz".
Você pode ter achado o maior barato um cara parando tudo durante uma perseguição de zumbis para declarar o amor pela namorada, tendo o cuidado de procurar uma rosa num canteiro para dar para ela de presente enquanto estoura um cérebro de um morto-vivo e declama Shakespeare, mas tenho certeza de que na eventualidade de um apocalipse zumbi, você iria querer mesmo é estar ao lado do Rambo e não do Romeu. 
Conheci uma menina que arrumou um admirador. O cara sempre a cumprimentava no elevador até que se apresentaram, disseram onde trabalham, essas coisas. Tentando impressionar a garota, ele teve a brilhante idéia (possivelmente retirada de algum filme) de mandar flores de hora em hora com um convite para o cinema mais tarde. 
Na primeira hora ela achou lindo, na segunda hora ela achou legal, na terceira hora ela pensou que ele tinha TOC porque o cartão vinha sempre com a mesma coisa escrita "cinema mais tarde?" e depois da sétima hora ela já estava ligando para a delegacia anti-sequestro, com medo de terminar em algum episódio do CSI. 
O fato é que não sabemos lidar com essa coisa de romantismo dramático. Romeu e Julieta nos tempos de hoje e na vida real seriam considerados uns chatos. Imagina você no motel com a menina, querendo arrancar a calcinha dela com os dentes (ou você com seu namorado no motel, querendo que ele arranque a sua calcinha com os dentes) e tendo que parar para recitar que "rosas são vermelhas, violetas são azuis...". Não rola.
Parece que fomos programados para não exagerar na dose do romantismo. Uma dúzia de rosas, o cara é romântico. Duas dúzias de rosas, ele quer impressionar. Três dúzias, tudo bem, ele é meio esquisito. Dez dúzias, por favor, alguém me empreste uma escopeta.
Se quer te ver todo dia, é grudento. Se só quer te ver no final de semana, é distante. Se quer dormir depois do sexo, é um animal que só quer te usar. Se fica conversando horas depois do sexo, é um pentelho que não te deixa dormir depois de te comer. Se você se abre demais, curte uma discussão de relação e quer usar o outro como analista. Se não se abre é uma geladeira insensível que deixa o outro tateando no escuro. 
Como podem perceber, a linha é tênue, mas ela nunca favorece alguém que manda uma trupe de palhaços para apresentar uma mensagem ao vivo no escritório do outro.
Fica a dica.

5 Comentários:

@noramacedo postou 10 de julho de 2012 às 11:12

Romantismo excessivo pode mesmo parecer toc ou psicopatia, mas o mundo real e a ficção seriam bem sem graça sem eventuais declarações exageradas e apaixonadas! Entre o romântico e o desprovido de romantismo, o primeiro tem sem dúvidas maiores chances de ser e fazer alguém feliz! Putz, romantizei... rs

Isabel postou 13 de julho de 2012 às 11:33

Muito bom!

Paola postou 14 de julho de 2012 às 00:50

E vc Marcus, em qual perfil se encaixa?

mvsmotta postou 14 de julho de 2012 às 04:58

Como posso saber? Os outros é que tem que dizer por mim. :P

Anônimo postou 30 de novembro de 2014 às 07:23

gostei do tom irônico dado ao texto,não há dúvidas que um romantismo exagerado acaba com a libido de qualquer pessoa, porém, o amor é sempre romântico paciente,mas em nossa situação atual priorizamos o prático o real o concreto. É A REALIDADE.

 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo