Porque não é legal namorar com você mesmo

Postado em 21 de ago. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Não existe nada melhor do que detestar alguma coisa junto de alguém.

Acredito muito nessa teoria, afinal, é muito mais divertido se relacionar com alguém que detesta as mesmas coisas que você do que de quem gosta das mesmas coisas que você. Gente que se junta para falar mal de alguma coisa é uma conversa. Gente que se junta para falar bem, é um fã-clube.

Mas como tudo na vida, isso funciona até certo ponto. Gente que pensa e age como nós é legal, pero no mucho. Sempre que penso nisso lembro de um episódio do Seinfeld em que ele conhece uma mulher que era sua xerox.

Fazia as mesmas piadas, gostava dos mesmos lugares e até era viciada em cereal. Só que depois do encantamento de primeira hora ele acabou enchendo o saco e se justificou dizendo que era como namorar a si mesmo. É aí que o "pero no mucho" aí de cima começa a valer.

Essa história de "amar a si mesmo" é muito legal e vende livros de auto-ajuda que é uma beleza, mas quando você começa a amar literalmente você mesmo, ou seja, a só gostar pessoas totalmente iguais a você, isso pode ser um problema.

E não estou falando de auto-abuso-sexual, masturbação na frente do espelho ou algo parecido, mas de você terminar descobrindo que sua companhia não é tão legal assim...pra você mesmo.

Não é porque alguém é irônico, sarcástico, cheio de tiradas ácidas que vai gostar necessariamente de alguém assim. Rola competição e você terminaria sem um alvo para as suas ironias, sarcasmos e tiradas, já que o casal vai carecer de uma "vítima".

Alguém mau humorado, que reclama do trânsito, do tempo,das horas, do barulho, dos outros, geralmente não é chegado em gente mau humorada. Normalmente um cara assim também não vai gostar de bem humorados hard (aquela vibe de vendedor da Chilli Beans o repele), mas nem por isso vai curtir rabugentos que nem ele.

Nosso mau humor é nosso, não tem como se ver livre dele sem toneladas de Prozac, mas o dos outros é fácil se livrar: basta um pé na bunda.


E tive certeza disso quando conheci uma menina bonitinha (bonitinha mesmo, mas só bonitinha) que era assim, igual a mim , irônica, sempre com algo sarcástico para falar sobre tudo (até sobre mim) e no final das contas achei ela um porre.

A experiência foi como trancar o Silvio Santos e o Galvão Bueno num almoxarifado, ou pior, era como ser trancado com os dois ali. Ela tinha opinião sobre tudo (igual a mim), sempre um fora bem dado para qualquer pergunta cretina (igual a mim) e acabou me mostrando como todas as minhas namoradas eram umas santas por aturarem alguém como eu.

Outra coisa curiosa é que quase todo mundo acha que deve ser o maior barato namorar uma garota igual a um amigo seu. Confesso que também já fui atraído pela idéia. Imagina só: assistir futebol, jogar vídeo games, fazer concurso de quem fala a palavra mais longa arrotando, gostar de carros, ver seriados comendo Doritos e o melhor, que é o fato de ainda por cima ela ter peitos.

Tudo funciona muito bem, com vocês dois transando que nem coelhos e fazendo trocadilhos babacas e piadas escatológicas juntos, até que um dia vocês estão tomando café da manha e ela diz algo como:

- A sua ROSQUINHA, você gosta com LEITE?


Nesse ponto você descobre que está namorando alguém muito parecido com seu melhor amigo da época do colégio e, pior, que o seu amigo criou peitos. Sim, é bizarro.

A verdade então é que para dar certo é necessária aquela dose de antagonismo que leve o outro a te dar um toque na boa de que está escrotérrima a sua fantasia de cosplay do Pac Man, e que não vai ser legal passear com ela no shopping, ou que adicionar molho chilli no sexo só é uma boa idéia num filme do Tarantino, jamais na...no...bem, no dos outros.

É por isso que amigos são amigos e namoradas são namoradas. A menos, é claro, que algum amigo seu de repente te convide para fazer uma sauna ouvindo Lady Gaga, mas aí já é outra história.

No fim das contas, eu que sempre achei que queria alguém que nem eu, acabei descobrindo que gosto mesmo é de alguém que não eu.

1 Comentário:

Fane postou 21 de agosto de 2012 às 11:17

Você namora um cara que odeia o que você adora, aí encontra um que ama exatamente o mesmo que você e acha aquele perfeito. Mas não é, por que fazendo a mesma coisa, querendo a mesma coisa, nunca tem novidade, não há complemento.
Você está cheio de razão!

 
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